sábado, 21 de setembro de 2013

Profundamente Minha: Capítulo 1 — Abrindo o coração

Yes!! Agora é pra valer! Vamos que vamos para mais um capítulo com nosso moreno perigoso!! Preparem os corações porque nossa saga favorita está oficialmente de volta! 
Obrigada pelo carinho e compreensão de todos os leitores! Vamos que vamos! 

"Ver-te é um sopro de ar que me inspira, me alimenta, me excita, me tranquiliza, me perturba, me mata... tenha pena de mim...”.
— Ingryd Andrade

Mas senhor Cross, nós tentamos de tudo. Refizemos os cálculos várias vezes. Conferimos os orçamentos com os fornecedores e as contas não batem. A equipe não sabe mais o que fazer”.
Fraqueza.
Se há uma coisa que me deixa puto quando se trata dos meus negócios é quando alguém que trabalha para mim demonstra fraqueza. Meu dinheiro é resultado de muito esforço e, portanto, tem um grande valor. Eu me pergunto se estava sob o efeito de alguma droga ilícita quando incumbi a esses incompetentes a tarefa de cuidar de um dos empreendimentos mais caros da minha empresa.
“Você já me deu essa desculpa. Não quero tentativas e sim resultados. Quero que vocês façam valer cada centavo que lhes pago para trabalhar para mim”. Minha voz sai calma, quase serena. E é aí que mora o perigo.
Minhas ordens e exigências são expressas nos gestos, nos olhares, no tom gélido de voz. Não preciso me irritar, não preciso ser grosseiro ou agressivo. Sou o dono do meu próprio universo, e quem vive nele sabe muito bem que se deve dançar conforme a música. Uma linha fora, um passo em falso, uma derrapada. Eu só preciso de um deslize do infeliz para extirpá-lo, sem chance de retorno. Só os melhores trabalham para mim. Não admito erros, trapaças ou mentiras.  E essa situação no Arizona está sendo mais incômoda do que o esperado.
“S-senhor, estamos fazendo o nosso melhor...”. E lá vinha a ladainha de sempre.
Ao mesmo tempo em que estou atento às lamúrias desse idiota, minha mente vaga para outro cômodo da casa, mais especificamente meu quarto, onde meu anjo adormece tranquilamente em meio aos lençóis amassados e revirados após uma noite de sexo selvagem.
Quando acordei, ela estava ali, com suas costas roçando meu peito enquanto meus braços adornavam possessivamente sua cintura. Seus longos cabelos dourados estavam revoltos, exalando aquele aroma cítrico que me deixa em estado letárgico. Sua respiração estava calma e estabilizada. Após os conturbados acontecimentos da noite anterior, Eva precisava de um descanso. Precisava se sentir amada e querida. Mas eu também necessitava dela.
Os primeiros raios de sol iluminavam timidamente o quarto, chegando à nossa cama, deixando a figura de Eva ainda mais angelical. Os reflexos amarelados ressaltavam a cor alva de sua pele e deixavam seus cabelos ainda mais brilhosos, como se uma áurea de glória a adornasse. Eu tinha um anjo em meus braços. Um ser mágico que me fazia esquecer tudo, principalmente a miséria fodida que foi minha infância e adolescência.
Quando ela põe seu olhar penetrante e expressivo sobre mim, eu me sinto exposto e vulnerável, mas de uma forma boa. Não é necessário colocar minha máscara de indiferença com ela. Não preciso ser Gideon Cross, o playboy bilionário implacável nos negócios e inatingível. Basta ser eu mesmo. E isso é algo que ela adora. Eu não entendo, mas aprecio. É bom não ter que fingir o tempo todo, poder contar com alguém que me conheça de verdade, que me queira apesar de tudo.
Olhei para o relógio e vi que ainda era cedo, então me levantei para me arrumar e a deixei descansando mais um pouco. Delicadamente me desvencilhei de seu corpo pequeno e cheio de curvas. Ela se remexeu e resmungou um dialeto incompreensível, franzindo a testa, e virou de bruços. Assim que se aninhou ao meu travesseiro, suas feições suavizaram imediatamente e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. As cobertas deslizaram para a curva de seus quadris, deixando suas costas nuas completamente expostas, e a luz do sol, já um pouco mais forte, intensificou o brilho de sua pele e de seus cabelos. Uma visão maravilhosa. Meu coração acelerou só de olhá-la ali, tão linda, tão vulnerável e serena. O que sinto por Eva é impossível de se descrever, impossível de se dar nome. Mas é tão forte que dói. Mesmo inconsciente, ela demonstrava seu amor por mim, que não podia ficar sem mim.
Levá-la comigo para o Arizona estava nos meus planos desde que marquei a viagem. Tê-la por perto é o mesmo que respirar. Além disso, havia a ameaça de um reencontro que quero evitar: o de Eva com o maldito Nathan Barker. Ele está por aí, e a essa altura, com certeza sabe de meu relacionamento com ela, assim como todo o país. Os paparazzi vivem nos seguindo, e sempre estão saindo notas sobre nós nos tabloides. Dessa, forma ele tinha informações um tanto privilegiadas dos passos de Eva. Ben, chefe da segurança do Crossfire, ainda não conseguiu nenhum rastro daquele bastardo. Ele se move como um fantasma, não deixando uma mísera pista sobre seu paradeiro, mas continuaremos procurando. Uma hora ele terá que aparecer. A única coisa que posso fazer no momento é evitar a todo custo que esse monstro chegue perto do meu anjo novamente. Eu a protegeria com minha vida se fosse preciso. Eva sou eu. Sem ela, não sou nada. Se algo de ruim lhe acontecesse eu não me perdoaria nunca, sabendo que poderia ter evitado. Mas também me culpara para sempre, por não conseguir prever. Por isso devo protegê-la. Para que no fim, eu não perca a razão da minha existência. Eu apenas vagaria nesse mundo como um morto-vivo, porque meu coração com absoluta certeza iria parar de bater.
Tomei um banho quente e relaxante, me sequei e fui ao closet me vestir. Escolhi um Tom Ford três peças cinza chumbo e sapatos Oxford pretos. Uma gravata cinza clara e uma camisa branca e eu já estava pronto. Antes de sair do quarto, dei mais uma olhada para minha cama. Eva ainda conservava a mesma posição, não se movendo um centímetro do lugar. Sorri. Ela se encaixa tão bem aqui, como se sempre tivesse pertencido a esse lugar, como se a minha cama sempre tivesse sido sua. Esse apartamento foi meu refúgio e a solidão era minha companhia constante. Eu não era feliz, mas tinha uma vida confortável e isso bastava. Então apareceu o furacão Eva, que me virou pelo avesso, deixando rastros de caos por onde passou. E foi nesse instante que percebi o marasmo que era minha vida antes de sua chegada. Quando Eva não está, nada tem sentido, nada tem valor. E a solidão se torna um verdadeiro incômodo. Eu a quero aqui, em cada canto desse apartamento, em minha vida. Pelo resto dos meus dias.
Me aproximei cautelosamente e dei um beijo leve em seus cabelos. Ela suspirou pesadamente, mas não acordou. Saí do quarto evitando fazer qualquer ruído (mesmo sabendo que seu sono é bem pesado) e caminhei obstinadamente até a cozinha para preparar seu café. O cheiro de café fresco é capaz de despertá-la até de um coma. Mas assim que pisei na sala meu celular vibrou no bolso da calça. Era Bernard, responsável pela analise de contas do empreendimento no Arizona. Respirei fundo, fui ao escritório atender e até agora estamos nessa conversa inútil. Ele continua a se lamentar pelo que está acontecendo, justificando o comportamento patético do grupo e nisso, descubro que, se eles tivessem me deixado a par de tudo no começo, quando ainda era um “pequeno imprevisto”, essa crise já poderia estar resolvida. E isso faz meu sangue ferver.
“Não interessa se a situação não aparentava ser tão grave no começo”, digo incisivo. “Eu devo ser informado de tudo. Você disse que sua equipe poderia resolver sem precisar me envolver e agora está tentando se justificar. Meu nome está em jogo, minha empresa, minha reputação”.
E-eu entendo, senhor. Estamos traçando estratégias para evitar que coisas assim que repitam e vamos pedir uma nova análise das contas. V-vou providenciar...”.
De repente sinto minhas costas queimarem. Uma eletricidade conhecida percorre meu corpo. Todos os pelos do meu corpo se eriçam e meu coração dispara. Essas reações só podem significar uma coisa: Eva. Sinto seus olhos me analisarem minuciosamente, como que para guardar cada detalhe. E com certeza ela deu uma bela conferida na minha bunda. Sua tara pelos meus ternos é muito engraçada: é como se eu visse uma criança fascinada por estar num parque de diversões pela primeira vez.  Quando estou nu, ela me devora com seu olhar. E meu couro cabeludo nunca sai ileso. Pode até não parecer, mas Eva tem umas mãozinhas bem pesadas. Seja durante um beijo ou durante uma trepada frenética, meus cabelos são puxados e repuxados a ponto de me fazerem sentir algumas pontadas um pouco dolorosas. Não que eu esteja reclamando, claro.
Mantenho-me de costas, encarando uma Nova York banhada pela luz do sol. Sei que ela gosta de me admirar, não como as outras, que vivem deslumbradas pela minha aparência, mas com um sentimento de arrebatamento, de deleite, de contentamento. Lembro-me da segunda vez em que Eva esteve em meu escritório, no dia seguinte à noite em que todas as minhas defesas foram derrubadas pela nossa transa na limusine. Ela ficou parada, me olhando por um tempo, parecendo fora de órbita. Quando perguntei o que era, suas palavras me surpreenderam: “Você é muito bonito, Gideon”. Eu nunca havia ficado desconcertado pelos elogios de uma mulher, mas Eva me desarmou completamente. Ela sempre me desarma. Sempre me surpreende. E é por isso que sou completamente obsecado por essa mulher.
Pensar nisso me faz querer olhá-la também. Giro sobre os calcanhares e a encaro. Ela está encantadora, como sempre. Irradiando vida e beleza. Seus olhos continuam sobre mim, sem se desviar. Seu corpo estremece levemente e sua boca rosada se entreabre como se estivesse diante da oitava maravilha do mundo. Um leve rubor se espalha por suas bochechas. E Eva corando é uma coisa linda de se ver. Sua mente trabalha a todo vapor em torno de um pensamento que a faz sorrir um sorriso lindo, meio debochado, típico de seu jeitinho brejeiro.
Continuo a conversar com o incompetente do outro lado da linha, minha expressão de insatisfação por seu péssimo trabalho não ameniza mesmo com a visão de Eva. Mas seu sorriso me deixa intrigado. Tenho saber o que ela está pensando. A intensidade dos meus sentimentos me abate com toda a força e a irritação é substituída pela luxúria. Eu quero comê-la. Eu quero deitá-la sobre minha mesa e fodê-la, vendo seu corpo se perder em espasmos de prazer, sua pele umedecer de suor e se avermelhar pela sensação febril causada pela fricção de nossos corpos. Quero nossas carnes se chocando forte, suas dobras mastigando meu pau duro de desejo. E eu a quero agora, nesse instante. Vejo seu corpo estremecer mais uma vez: ela sabe exatamente o estou pensando. Nós somos perceptivos às emoções um do outro, nunca temos que verbalizar o que estamos sentindo. Eva passou a me conhecer melhor do que ninguém. Ela lê o meu olhar com uma facilidade impressionante, e isso me excita ainda mais.
“Vejo você no sábado as oito”. Digo ao incompetente, desligo o headphone, arrancando-o da orelha e o jogando de qualquer jeito sobre a mesa. Meu desejo por Eva é tão primitivo ao ponto de me deixar mais bruto que o normal.
“Vem aqui, Eva”, digo no meu típico tom autoritário que ela conhece bem.
Seu corpo estremece novamente, mas recua. “Não temos tempo para isso, garotão...”. E ela sai para o corredor.
Sua atitude me deixa mais intrigado. Mas é claro que não adianta fugir. Eu não a deixaria escapar de mim nunca mais.
“Ah, meu anjo, você nunca vai aprender”, resmungo balançando a cabeça e indo atrás dela.
Eva não pode ir muito longe, já que uma passada minha equivale a três dela. E no momento seguinte a prenso contra a parede do corredor que dá acesso a cozinha.
“Você sabe o que acontece quando tenta fugir, meu anjo”. Mordo seu lábio inferior e alivio a dor com uma lambida. “Eu pego você”.
Seu corpo relaxa e se rende à proximidade do meu. A necessidade que Eva tem de se submeter a mim é algo quase fisiológico. Ela precisa de alguém em quem confiar. Alguém que possa protegê-la e amá-la. Enfim, ninguém cuidaria dela melhor do que eu. E isso é um fato. Eu conheço seus medos, seus desejos, e sei até que ponto posso ir com ela sem que se afaste, principalmente na hora do sexo. É como se, naturalmente, eu soubesse exatamente o que a faz se sentir segura. Ela entende que eu jamais passaria dos limites intencionalmente. Eu seria um monstro se fizesse isso. Eva foi violentada dos dez aos quatorze anos e passou por um aborto espontâneo. Obviamente esse sofrimento lhe deixou marcas e sua estrutura emocional foi profundamente abalada, deixando-a exposta a crises constantes de baixa autoestima. Eu também havia sido abusado sexualmente e talvez por isso tenha uma percepção clara daquilo que lhe faz bem e do que pode prejudicá-la.
Abro um sorriso ao vê-la me encarando com aquele olhar de devoção. Esfrego meu nariz contra o dela suavemente.
“Você não pode sorrir para mim daquele jeito e me dar as costas. No que estava pensando enquanto eu falava ao telefone?” A curiosidade está me matando.
Ela abre um sorriso malicioso. “Em como você é lindo. Penso nisso o tempo todo. Ainda não me acostumei”.
Um sentimento de possessão me invade e agarro a parte de trás de uma das suas coxas e estreitando ainda mais o contato de nossos corpos. Balanço os quadris devagar de forma a provocá-la. Meu companheiro está pronto para a ação.
 “Não vou deixar você se acostumar.”
“Mesmo?” Seu corpo todo se arrepia ao meu toque. “Não acredito que você queria outra mulher obcecada no seu pé o tempo todo”.
“O que eu quero”, sussurro, agarrando seu queixo e acariciando seu lábio inferior com o polegar, “é que você se mantenha ocupada demais pensando em mim para poder pensar em qualquer outra pessoa”.
Ela solta um lento e trêmulo. Seu desejo por mim é nítido, e não estou muito diferente dela, mas Eva é mais transparente. Eu nunca me cansaria de olhar para essa mulher. Eu nunca me cansaria de seus olhos penetrantes, de sua voz doce, do gosto altamente viciante de seus lábios, de seu corpo delicioso. Não sei como pude viver sem ela durante tanto tempo.
“Gideon”. Ela murmura, deliciada. E depois desse chamado, sou incapaz de resistir.
Soltando um gemido suave em resposta, cubro seus lábios nos meus num beijo luxurioso e apaixonado... Tanto que esqueço completamente o mundo lá fora. Esqueço meus problemas, esqueço as preocupações. Eva ocupa minha mente por completo.
Como já é de se esperar seus dedos se emaranham em meus cabelos a fim de me manter imóvel para retribuir meu beijo. Adoro quando ela faz isso, adoro a forma como sua língua ataca a minha, insaciável. Nosso contato físico sempre é muito intenso, muito prazeroso e, acima de tudo, necessário para ambos.
Aperto seu corpo em um abraço possessivo. “Adoraria passar o fim de semana com você em uma ilha no sul da Flórida... sem roupa”.
“Humm... Parece ótimo”.
E a ideia tem muito mérito, mas preciso ir ao Arizona para resolver esse problema do hotel resort.
Ainda com os lábios nos dela, digo que tenho negócios para resolver nesse fim de semana.
“Negócios que você deixou de lado para ficar comigo?”
A forma como coloca essas palavras, como se fosse um estorvo para mim, me deixa incomodado. Como ela pode pensar que o tempo que passamos juntos me atrapalha? Pelo contrário, me faz sentir melhor e mais forte.
“Pago um salário muito generoso a algumas pessoas para poder ficar com você”. Minha voz sai com um resquício de irritação.
 “Obrigada. Agora vamos tomar café antes que a gente se atrase”. Desconversa.
Percorro seu lábio inferior com a língua e a solto.
“Quero decolar amanhã às oito da noite. Não precisa levar muita coisa. O Arizona é quente e seco”.
Eva fica perplexa com o fato de termos que ir para o outro lado do país. Já prevendo que talvez ela queira discutir isso, viro as costas e vou para o escritório pegar meu paletó e o celular e assim dar-lhe um pouco de tempo para digerir a notícia.
Quando volto encontro-a na cozinha preparando meu café. Assim que termina, vai à geladeira e pega uma garrafa de leite.
Ela me encara e começa a dizer que deu sorte porque precisa conversar com Cary nesse fim de semana e... O quê? Mas que merda é essa? Ela acha que vai ficar aqui com esse irresponsável?
“Você vai comigo, Eva”, digo enquanto ponho o telefone no bolso de dentro do paletó e o penduro em um dos banquinhos do balcão.
Soltando um suspiro, ela despeja o leite em seu café. “Pra fazer o quê? Ficar lá deitada sem roupa, esperando você voltar do trabalho pra me comer?”
Cautelosamente pego meu copo para viagem e dou uma bebericada no café. “Vamos brigar por causa disso?”
“Você vai dar uma de cabeça-dura? Já conversamos sobre isso. Não posso deixar Cary sozinho depois do que aconteceu ontem à noite”. Ela põe o leite de volta na geladeira. “Você vai cuidar dos seus negócios e eu vou cuidar do meu amigo. Depois vamos cuidar de nós dois”.
“Só vou voltar no domingo à noite, Eva”. Vejo seu corpo retesar e sua face se contorcer um pouco. Ela pensa da mesma forma que eu.
Sei muito bem o quão ruim isso pode ser tanto para mim quanto para ela. Nós temos uma obsessão incontrolável pela presença um do outro. A simples ideia de não podermos nos ver ou nos tocar por longos períodos de tempo aumentaria as inseguranças e neuroses resultantes de nossos traumas do passado, o que poderia ser prejudicial para nossa sanidade. Ficar longe de Eva é algo que não posso suportar.
“Você também não gostou nadinha da ideia”, digo baixinho. “Quando domingo chegar, estaremos desesperados”.
Ela sopra o café e dá um gole. Sua expressão pensativa me diz que provavelmente sua cabecinha linda está procurando por uma alternativa.
“Isso não é exatamente saudável, Gideon”. Como assim?
 “Quem disse? Ninguém sabe o que é passar pelo que nós passamos”. Ela sabe que estou certo.
 “Precisamos trabalhar”, diz se esquivando mais uma vez.
Adoto minha postura irredutível. “O que nós precisamos é que você venha comigo”.
“Gideon”. Começa a bater o pé. “Não posso abrir mão da minha vida por sua causa. Se eu for obediente e compreensiva o tempo todo, você vai ficar de saco cheio rapidinho. Até eu vou ficar de saco cheio. Não custa nada a gente passar dois dias resolvendo outras questões, mesmo que seja contra a nossa vontade”.
O quê? Teimosa como uma mula empacada do jeito que é e vem me falar de compreensão? Sério? “Você não consegue ser obediente e compreensiva nem metade do tempo”.
“Olha só quem fala”, rebate.
Então lanço meu maior argumento, o qual ela não poderia retrucar. “Você tem aparecido bastante ultimamente, Eva. Não é segredo pra ninguém que está em Nova York”. Os paparazzi vem nos cercando sempre que podem, apesar de manterem distância. “Leve Cary junto se for preciso. Vocês podem quebrar o pau enquanto resolvo o que tenho que resolver antes de te comer”, brinco tentando amenizar o clima.
Mas ela capta minha mensagem. Eu não a deixaria a mercê de Nathan Barker nem fodendo, não importa o que eu tiver que fazer. Nossa relação veio a público e com ela a possibilidade desse crápula desgraçado ressurgir das cinzas para atormentar a vida de Eva.
Olho para o relógio. “Está na hora, meu anjo”.
Apanhamos nossas coisas e descemos ao térreo pelo elevador privativo. Antes de entrar no Bentley, Eva cumprimenta Angus, que corresponde sorrindo verdadeiramente. Ele realmente gosta dela. Meu motorista é muito sério no trabalho, sempre discreto, sempre passando despercebido quando a situação lhe pede. Normalmente ele corresponde aos comprimentos com um simples aceno de cabeça, mas Eva exala uma magia, espalhando alegria e descontração pode onde passa, e essa é uma das milhões de coisas que amo nela.
Como sempre, Nova York está barulhenta. Suas ruas submersas num mar de carros, taxis e pessoas. A cidade pulsa como um organismo vivo.
Já perfeitamente acomodados no banco de trás do Bentley e a caminho do trabalho, sinto a pequena mão morna sobre a minha me dando um leve aperto.  Eva sugere que ela e Cary viagem para Las Vegas, já que minha preocupação é deixá-la sozinha na cidade.
Isso me deixa indignado. Eu dei a opção de levar Cary, não dei? Qual o problema? Será que...
 “Você acha que tenho alguma coisa contra Cary?” verbalizo meu pensamento. “É por isso que não quer ir com ele para o Arizona?”
“Quê? Não. Acho que não.”
Ela diz mais alguma coisa, mas minha mente só consegue processar sua primeira frase.
“Você acha que não?” pergunto indignado.
Então explica que ele pode achar que não pode contar com ela porque estamos passando muito tempo juntos. E reitera que tenho que superar meu ciúme de Cary, pois ele é como um irmão para ela e, portanto, parte permanente de sua vida.
Não que eu tenha ciúme de Cary como um possível rival. Longe disso. O que me deixa puto é ele querer a atenção da Eva o tempo inteiro, a ponto de arruinar meus momentos com ela.
“É isso que você fala para ele sobre mim?”
“Eu não falo nada. Ele sabe. Estou tentando fazer um acordo aqui...”.
“Eu não faço acordos”, pontuo.
Eva começa a argumentar que num relacionamento é preciso saber como ceder. Cansado dessa discussão e com raiva de Cary, interrompo seu discurso dizendo que concordo com a sugestão dela, porém eles terão de se hospedar em um de meus hotéis e ela só poderá sair escoltada por uma equipe de seguranças.
Ela fica aturdida com minha concessão repentina, porém relutante, e não diz nada. Eu a encaro com uma sobrancelha arqueada, deixando claro que essa é a única opção disponível.
“Você não acha meio exagerado?”, replica. “Cary vai estar comigo”.
Ah, claro. É muito seguro Eva estar com seu melhor amigo muito querido, que também é um autoflagelador drogado e que teve a coragem de fazer uma orgia no meio do apartamento dela. Sim, porque ele é muito responsável e a protegeria muito bem.
“Você tem que entender que não confio mais nele para garantir sua segurança depois do que aconteceu ontem à noite”. Essa é minha palavra final.
Eva tem que entender que o controle total e absoluto das situações é algo que faz parte de mim e eu nunca abrirei mão disso. Estou tentando protegê-la, e mesmo que ela fique insatisfeita, é assim que a banda toca e fim de papo.
Por fim ela acaba cedendo e pergunta qual o meu hotel.
“Tenho mais de um. Pode escolher”. Viro meu rosto para janela a fim de ocultar a raiva que crepita dos meus olhos. “Scott vai te mandar a lista por e-mail. Quando decidir, é só avisar que ele cuida de tudo. A gente pode ir e voltar no mesmo avião”.
Sorte de Cary não estar na minha frente nesse minuto ou ele seria um homem morto. Empata foda do caralho.
Eva murmura um agradecimento, mas deixo claro que isso é desnecessário, já que não estou nada feliz com essa decisão. Porra, eu queria que ficássemos juntos. Eu perdi o fim de semana com ela porque aquele filho da puta desequilibrado pisou na bola por se sentir sozinho e perdido? Ele já ouviu falar em terapia? Até eu estou fazendo!
Ela pega o copo de café da minha mão e o coloca no porta-copo junto com o seu. Em seguida pula no meu colo jogando seus braços sobre meus ombros, dizendo o quanto minha concessão é importante para ela.
Como sou um namorado compreensivo, não é? Eu deveria ganhar um prêmio por isso. Essa mulher me deixou mole demais.
 “Eu sabia que você ia acabar me deixando maluco assim que pus os olhos em você”, confesso.
Ela dá uma risada, como se lembrasse daquele dia. “Caindo de bunda no saguão do prédio?”
“Antes disso. Lá fora”.
“Lá fora onde?”, pergunta, franzindo o rosto.
Então conto do dia em que a vi virando a esquina. Meus braços automaticamente envolvem sua cintura a apertando de maneira dominante, reivindicando minha posse sobre ela. Contei cada detalhe daquele dia, das coisas que pensei quando a vi cair sentada no chão do lobby. Minha voz sai sussurrada e rouca de tesão apenas de lembrar a força da atração e do desejo que senti naquele momento. Eva já está se remexendo no meu colo e engolindo em seco. A eletricidade tão conhecida entre nós pesa o ambiente.
“Quando vi você pela primeira vez, só consegui pensar em sexo. Sexo selvagem, de rasgar os lençóis”, admite.
“Eu percebi”, acaricio suas costas com ambas as mãos. “E percebi também o jeito como me olhou. Você viu quem eu era... o que havia lá dentro. Conseguiu enxergar através de mim”.
Seu olhar analítico me deixou desnorteado por dentro. O caos se instalou em mim. Ela viu minha sede de poder e controle, a força que faço para reprimir meus sentimentos obscuros e atribulados.
Puxo-a pelos ombros até nossas testas se tocarem. “Ninguém nunca tinha me visto antes, Eva. Você foi a única”.
Todos esses anos de solidão, de dor, de tristeza se tornaram pequenos perto do que tenho vivido com Eva, mesmo que as consequências desse sofrimento ainda perdurem, não são suficientes para me afastar dela.
Todos se enojariam do verdadeiro Gideon, o desprezariam. Então criei essa redoma de aço ao meu redor, para me proteger. Eu precisava ser alguém e me tornar autossuficiente. Criar uma persona temida, forte e inacessível foi a melhor opção. Minha obstinação no trabalho me realizou profissionalmente e me deu subsídios para manter meus muros de pé. Consequentemente, todos temem, idolatram e admiram Gideon Cross. Mas com um simples olhar Eva destruiu esses muros com a força de uma dinamite. Ela ama ao Gideon que escondi nas profundezas do meu ser, aquele Gideon que há muito tempo não se manifestava. Aquele menino frágil, ferido, amargurado, traumatizado e destruído que jurei nunca mais ser. Esse Gideon soube, pela primeira vez, o que é ser amado de verdade.
“Eu nem me dei conta. Você parecia tão... seguro de si. Nem imaginei que tivesse causado algum efeito em você”, diz surpresa.
“Seguro?”, eu nem me lembrava como se respirava naquele momento. “Eu estava morrendo de tesão. E continuo assim até agora”.
“Nossa. Obrigada”, ela parece ainda mais surpresa.
“Você se tornou indispensável pra mim”, sussurro. “Agora não suporto a ideia de ficar dois dias sem você”.
Ela segura meu queixo e me dá um beijo cheio de ternura. “Eu também te amo”, murmura com a boca colada à minha. “Não suporto ficar longe de você”.
Toda vez que Eva diz que me ama, um calor gostoso e reconfortante se espalha em meu peito e meu coração se comprime. Retribuo seu beijo com paixão tentando, através dele, manifestar todos os sentimentos que não consigo verbalizar. Agora a mulher que tenho em meus braços não é a amante que me deixa duro de tesão e me torna um animal na cama, mas sim o meu sonho realizado, o meu maior tesouro, a razão pela qual existo. Eu a seguro com gentileza e carinho. Quando o beijo acaba, encostamos nossas testa, ofegantes.
“Eu nem fazia seu tipo”, provoca, na intenção de quebrar o clima tenso antes de começarmos a trabalhar.
E isso me lembra da conversa que tive com Corinne no jantar de ontem.
O Bentley estaciona e Angus sai do carro a fim de nos dar privacidade, deixando o motor e o ar-condicionado ligados.
“Sobre isso...” recosto a cabeça no assento e respiro fundo. Não vai ser fácil. “Corinne ficou surpresa ao ver você. Não era o que ela esperava”.
O maxilar de Eva trinca na hora. Como eu suspeitava a simples menção do nome de minha ex-noiva a deixa possessa de ciúmes.
“Porque sou loira?”
“Por que... você não se parece em nada com ela”.
Eva respira fundo, como se tivesse perdido o fôlego. Seus olhos se arregalam, porém se desviam dos meus e ela começa a sair de cima de mim.
Eu a seguro firmemente pelas coxas para mantê-la no lugar e explico que não acredito que Corinne estivesse certa sobre suas suposições, afinal eu não estava procurando mulheres como ela.
“Não estava procurando nada, na verdade, até encontrar você”, digo. O corpo de Eva relaxa visivelmente e ela percorre a lapela do meu paletó com as suas mãos.
Meu rosto se torna uma carranca. Eu nunca parei para pensar nisso antes do comentário de Corinne. E mesmo depois de tentar analisar a situação, eu mesmo ainda não entendo afinal as duas são polos distintos, tanto na aparência quanto no comportamento.
Alisando o vinco que se formou entre minhas sobrancelhas, Eva comenta que pode se tratar mais de um padrão do que uma preferência e sugere que eu converse com o Dr. Petersen sobre isso na nossa consulta de hoje. 
“Eu queria ter mais a dizer depois de tantos anos de terapia, mas não tenho. Existe um monte de coisas sem explicações entre nós, não é mesmo? Ainda não faço ideia do que foi que você viu em mim”.
“O grande mistério é o que você viu em mim, meu anjo”, respondo em voz baixa, amenizando a expressão do rosto. “Você sabe quem eu sou e me quer tanto quanto eu quero você. Todas as noites, vou dormir com medo de que você não esteja lá quando eu acordar. Ou que assuste você... com os meus sonhos...”.
Meu maior medo é que meu passado fodido destrua nossa relação. Com os outros obstáculos eu posso lidar sem problemas, mas esse está fora do meu controle. Mesmo o tratamento com os remédios e a terapia não garantem um resultado plenamente satisfatório.
“Não, Gideon...”.
“Posso até não falar dos meus sentimentos da mesma maneira que você, mas sou seu. Você sabe disso”, sussurro num fio de voz.
“Sim, eu sei que você me ama”.
“Sou louco por você, Eva”. Com a cabeça inclinada para trás, puxo-a e lhe dou um beijo doce e suave. “Eu mataria por você”, sussurro. “Abriria mão de tudo o que tenho... mas não desistiria de você. Esses dois dias são o limite. Não me peça mais que isso. Não consigo ceder mais”.
Eva é minha força, minha resistência, minha gravidade. O mundo pode estar contra nós, mas não pretendo desistir. Não importam os meios, nem quando ou como os utilizarei. E também não temo as consequências. Só sei que farei o que for preciso para mantê-la ao meu lado.
Eva me encara emocionada, seus olhos brilhantes e cheios de afeto. Ela dá um breve sorriso, se aproxima de mim e sussurra bem perto da minha boca.
“Só preciso de dois dias, garotão, e vou te recompensar muito bem por eles”.
O desejo carnal em mim é despertado pelo tom de voz sexy e cheio de promessas.
“Ah, é? Está querendo compensar sua ausência com sexo, meu anjo?” pergunto divertido.
“Sim”, admite sem a menor vergonha. “Muito sexo. Parece funcionar muito bem com você”.
Essa mulher me mataria de um ataque cardíaco se eu não tivesse uma saúde de ferro. Gostosa, fogosa, linda, sexy, gostosa, divertida, debochada, teimosa... Eu já disse gostosa?
“Ah, Eva...” sussurro, pronto para começar a receber essa compensação.

E é isso aê gente!! O que acharam?? Aproveitem esse clima momentâneo de paz porque a chapa vai esquentar já no próximo capítulo. E quem leu o livro sabe bem o que vem por aí. A qualquer momento vou por algum spoiler do próximo capítulo no grupo, ok? Beijos e até semana que vem!