sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Profundamente Minha: Capítulo 2 — Caos

Oi gente! Como combinado, mais um capítulo. Quero avisar, para não haver mais dúvidas, que os capítulo serão postados TODAS AS SEXTAS FEIRAS, ok? Se der, eu posto mais um, mas eu NÃO PROMETO NADA!

DUAS COISAS IMPORTANTES: Primeiro - meu sobrinho nasceu! Nathalie Graf Guide, minha relações públicas/amiga/irmã acabou de dar à luz ao pequeno Arthur! Parabéns, flor! Esse capítulo é dedicado a você! E em comemoração teremos capítulo nesse domingo! \o/\o/

Segundo -  O capítulo está forte, então segurem os estômago e o coração!


Boa leitura!
“Não é bom dizer mentiras; mas quando a verdade puder trazer uma terrível ruína, então dizer o que não é bom também é perdoável”.
 —Sófocles

Estou atolado de trabalho. Tenho que adiantar tudo o que puder antes da viagem. Mas estou com ótimo humor. São os efeitos de um sono tranquilo ao lado de um anjo. Só Eva é capaz de despertar meu melhor lado. E não há nada que possa estragar meu dia. Acabei de deixá-la no andar de baixo e já estou morrendo de saudades. Talvez o fato de saber que ficaremos sem nos ver por dois dias esteja pesando para isso. Quando ela não está perto, fico com a sensação de que algo está faltando, fico agitado e inseguro. Chega a ser sufocante. Eu ainda vou dar um soco em Cary Taylor. Depois de ontem ele passou a encabeçar a lista de pessoas na quais eu quero bater. Filho da mãe.
“Bom dia, senhor Cross”, cumprimenta Emma com um sorriso de oitenta dentes.
“Bom dia, Emma”, respondo educadamente.
Assim que me vê, Scott se levanta com o tablet em mãos pronto para começar mais um dia.
“Bom dia, senhor Cross”.
“Bom dia, Scott. Quero que envie para o email da senhorita Tramell a lista de hotéis que possuo em Las Vegas. Organizes os trâmites da viagem e reserve um dos jatos da empresa. O primeiro destino será Las Vegas e depois Phoenix. Assim que estiver tudo pronto venha até minha sala”.
“Sim, senhor”.
Entro no escritório, tiro o paletó e o penduro no cabide. Hora de trabalhar.
/***/
Quando me assusto já está no horário de almoço. Chamo Scott pelo interfone e ordeno que peça hambúrguer com batatas fritas refrigerante. Estou numa vontade absurda de comer bobagem. Influência de Eva. Adoro o fato de ela comer sem culpa, sem aquelas neuroses patéticas com o peso. Meu anjo se aceita apesar de tudo. As mulheres com quem me deitei viviam controlando a alimentação exageradamente para manter o corpo em forma, e Corinne foi uma delas. Uma das infinitas vantagens de um corpo como o de Eva é ter onde pegar; é gostosura em abundância. Todas as vezes que olhos para aquelas curvas acentuadas meu pau endurece e minha boca saliva. Mas a melhor parte de tudo isso é que posso desfrutar de tudo aquilo sozinho! Nada me falta nem à mesa e nem na cama. Só de pensar nisso, sinto um arrepio de desejo.
Meu telefone apita em cima da mesa. É uma mensagem de Eva. Mas o que...
*EU DARIA TUDO PARA CHUPAR O SEU PAU AGORA.*
Puta que pariu! O que é isso? Meu pau fica mais duro ainda. E tenho muita coisa para fazer. Diz para mim como alguém pode se concentrar depois de receber uma mensagem dessas? Meu corpo começa a se sacudir. O tesão vem com força total. Isso não pode ser uma brincadeira. O sexo entre nós não é diversão, é uma forma que temos de nos conectar, é a forma como demonstramos o que sentimos um pelo outro. É bom que Eva não esteja fazendo piada com isso.
Pelas câmeras de segurança, vejo que ela está no elevador, acompanhada de Megumi, sua colega de trabalho. As portas da cabine se abrem e essa é minha chance. Ligo para seu celular e a vejo pegá-lo para atender.
Oiê”, diz toda animada.
“Eva”, minha voz sai baixa e rouca, quase como um rosnado.
Ela diminui a velocidade de suas passadas até estancar de vez. Nenhuma palavra sai de sua boca e assim permanece por alguns segundos. Mantenho-me rígido e mudo. Ela sabe muito bem que não preciso explicar minha vontade.
Tudo o que desejo nesse momento é estar dentro dela, estocando forte, fundo, até alcançar seu útero.
Ouço-a engolir em seco. “Gideon...”.
“Você queria minha atenção... E conseguiu. Quero ouvir você dizer essas palavras”.
Não posso. Agora não. Te ligo mais tarde”. O saguão está lotado de gente. E eu sei que ela está vermelha.
“Se esconde atrás do pilar”.
Imediatamente ela começa a olhar ao redor procurando por mim, então deve ter se dado conta que estou ligando do escritório e percorre os olhos pelas paredes em busca das câmeras de segurança e quando as encontra, sinto seu olhar incandescente sobre mim, exalando sedução e luxúria. Ela continua parada.
“Rápido, meu anjo. Sua amiga está esperando”.
Eva se esconde atrás do pilar que fica de frente para a câmera.
“Agora fala. Sua mensagem me deixou de pau duro, Eva. O que você vai fazer a respeito?” pergunto num tom grave.
Ela leva a mão à garganta e olha rapidamente na direção de sua amiga, e levanta o dedo pedindo um minuto. Em seguida se vira de costas para ela e responde:
Quero chupar você”.
“Pra quê? Só pra mexer comigo? Pra me provocar, como você está fazendo agora?”
Eu realmente espero que isso não seja uma brincadeira dela. Ela sabe que precisa levar a sério minhas necessidades sexuais. Eu não sou um caso qualquer.
Não”, diz voltando seus olhos para câmera. “Pra fazer você gozar. Adoro fazer você gozar, Gideon”.
Expirou com força diante de suas palavras. De alívio e de tesão. “Um agrado, então”.
Isso”.
“Que ótimo. Porque pra mim você é preciosa, Eva, e nossa relação também. Mesmo essa necessidade de foder o tempo todo é inestimável pra mim, porque envolve sentimento”.
Para mim, o sexo nada mais era do que uma válvula de escape, um alívio momentâneo do desejo natural. Nada mais. Mas com Eva é diferente. Sempre é. Apesar da nossa transa ser sempre selvagem, ela envolve mais do que a satisfação do corpo: é a confirmação do nosso amor.
Sim”, suspira. “Envolve sentimento”.
“Você pode ter o que quiser depois do trabalho, meu anjo”. Meu tom de voz se torna mais grave, mais áspero. “Enquanto isso tenha um bom almoço com sua amiga. Vou pensar em você. E na sua boca”.
Sinto minha cueca se apertar sobre meu membro.
Eu te amo, Gideon”. Sussurra sensualmente e desliga.
Largo o telefone no gancho e antes que eu alcance o banheiro para tentar me acalmar e me recuperar do efeito devastador causado pelas últimas palavras de Eva a voz de Scott soa pelo interfone.
Senhor Cross, há um rapaz na recepção que deseja falar com o senhor”.
Franzo o cenho estranhando o tom de voz dele. Me encaminho de volta para o interfone.
“Ele tem hora marcada?”
Não, senhor. Mas acho que talvez queira falar com ele. É sobre a senhorita Tramell”.
Meu corpo enrijece. Dessa vez de pavor.
“Qual o nome dele, Scott?”
Nathan Barker”.
Não.
Minha cabeça mal registra as palavras de Scott. Meus ossos gelam, meu estômago se revira e uma súbita náusea me abate. Não consigo proferir nenhuma palavra. A única coisa que me vem à cabeça é que o monstro que destruiu a infância de Eva está aqui, no prédio onde ela trabalha, respirando o mesmo ar que ela. Muito, muito perto dela. Fecho meus olhos e esfrego as têmporas com o polegar e o indicador.
Senhor Cross?” chama Scott.
“Mande-o entrar”, digo recuperando minha voz. “Assim que esse... homem entrar avise a Ben que ele está aqui, e peça-o para mobilizar a equipe de segurança. Vigilância reforçada”.
Imediatamente, senhor”.
Respiro fundo e me recomponho. Ativo o botão que deixa opaca a parede de vidro que separa minha sala do restante do andar, a fim de evitar olhares curiosos. Coloco a máscara impassível, recosto meus quadris à mesa, cruzo os braços e espero. Meus olhos fixos na porta.
De repente ela se abre revelando a figura franzina e mediana de Nathan Barker. Seus cabelos castanhos estão cortados, não há sinal de barba em seu rosto. Seus olhos castanhos são fundos, opacos, frios, distantes. A pele branca está mais pálida do que o normal. Suas roupas não poderiam ser mais simples: calça jeans e camisa azul clara. Em um dos pulsos, uma pulseira de ouro delicada, quase feminina. Nas mãos um envelope pardo. À primeira vista, não me parece nada ameaçador. Na verdade, ele é bem normal, passaria despercebido em qualquer lugar. Não lembra em nada o monstro que Eva descrevera. A diferença física entre nós é gritante. Ele não teria chance alguma contra mim. Encaro-o bem nos olhos, numa postura rígida, quase pétrea, transpirando ódio por cada poro.
“Gideon Cross”, sua voz é morta.
“O que quer?”
“Bom dia, em primeiro lugar, muito prazer. Sou Nathan Barker. Sei que devo estar atrapalhando seu horário de almoço, e peço desculpas”.
Esse imbecil está tirando sarro de mim?
“Escute, eu não gosto de rodeios. Quero saber o que está fazendo aqui”. Digo ríspido, porém controlado.
“Ora, quanta hostilidade”, responde com ar de deboche. “Estou apenas sendo educado como minha querida e finada mãe me ensinou. Não vai me convidar para sentar e me oferecer algo?”
“Vá direto ao ponto”, digo entre dentes. Esse filho da puta está me irritando.
“Vejo que está se recusando a utilizar de sua polidez comigo. Tudo bem. Vamos logo ao que interessa”, diz sentando-se no sofá. No mesmo sofá onde eu e Eva tivemos nosso primeiro contato íntimo. Essa lembrança aperta meu coração. Desencosto-me da mesa e fico de frente para o desgraçado.
“Preciso de dois milhões de dólares para sumir”.
Começo a gargalhar. “É mesmo? E o que eu tenho a ver com isso?”
“Bom, você vai me dar esse dinheiro”.
Olho bem para ele. “Acha mesmo que vou te ajudar? Quem você pensa que sou? Algum tipo de idiota?”
Nathan arqueia uma das sobrancelhas e me lança um olhar desafiador. “Talvez mude de ideia quando der uma olhada no conteúdo do envelope”.
 “Acha mesmo que vou cair nessa?”
“Veja por si mesmo”, diz colocando o envelope em cima da mesa.
“Não vou tocar nessa porcaria”.
“Tudo bem”, ele se levanta. “Eu mesmo te mostro”.
Ele pega o envelope de volta, o abre e retira dele uma fotografia, colocando-a cuidadosamente em cima da mesa, e dá dois passos para trás. Não consigo ver direito o que é... 
Mas que porra é essa?!
É...
Meus olhos se cravam na foto e sinto o sangue sumir do meu rosto. Uma garotinha loira, magrinha e miúda está deitada sobre a cama, nua, amordaçada, com as mãos e os pés amarrados aos estrados da cama e de pernas abertas. Seus olhinhos cinzentos estão lavados de lágrimas e seu rosto vermelho é o retrato do desespero. Uma sensação de dormência abraça meus músculos. Meu estômago se revira, minha cabeça dá um solavanco e meu coração perde uma batida.
Eva...
 “Essa é uma das minhas favoritas”. Uma voz me tira do torpor.
Lentamente levanto meus olhos para dar de cara com o sorrisinho cínico desse monstro.
“Sabe, tem muito mais de onde veio essa, muito mais. Algumas, inclusive, estão dentro desse envelope. Às vezes as uso para me masturbar, mas depois de muito pensar, resolvi dar outra finalidade a elas”.
Imediatamente fecho minha mão em punho, esmigalhando a foto. Uma fúria assassina cresce dentro de mim.
“Desgraçado”, meus dentes estão cerrados.
“Ah, Cross. Não sei por que está assim. Você sabe como é difícil resistir. Ela é uma putinha incrível, não é? O gosto de Eva é uma delícia”.
Ouvir o nome de Eva na boca dele foi o estopim e antes de me dar conta meu punho acerta em cheio a bochecha direita de Nathan, fazendo-o se desequilibrar, escorregar no tapete e cair contra o sofá, arredando-o do lugar de costume.
“NUNCA MAIS, EU DISSE, NUNCA MAIS OUSE DIZER O NOME DELA, ESCUTOU? NÃO TENTE CHEGAR PERTO DELA, NÃO FAÇA NADA. MANTENHA DISTÂNCIA DELA, SEU DESGRAÇADO!”. Berro apontando o dedo em sua direção.
“Ah, que comovente”, diz se levantando meio tonto, e limpando o sangue que escorre de sua boca. “Está defendendo sua namoradinha? Ela também te enfeitiçou, não é? Com aquela boquinha apetitosa e a bocetinha apertada. Hum... lembro bem da sensação de comê-la”.
Vejo tudo vermelho e parto para cima dele. Nós caímos no chão e dou outro soco, dessa vez no nariz. Mas antes que eu tenha a chance de desfigurá-lo sou tirado de cima dele. Me debato violentamente para tentar me soltar, mas é inútil.
“SEU FILHO DA PUTA! DESGRAÇADO! IMBECIL!”
“SENHOR CROSS, ACALME-SE!” A voz grave de Ben soa alta em meus ouvidos. Só assim me dou conta do cenário ao meu redor.
Scott e Emma estão parados no batente da porta, de olhos arregalados. Um segurança imobiliza Nathan, que está com o nariz e a boca sangrando, com um corte no supercílio e a camisa azul suja de sangue. Ben segura firmemente meu braço esquerdo e seu filho, Charlie, que passou a integrar o time de seguranças do Crossfire recentemente, segura o direito. Ele é tão alto quanto o pai e é uma montanha de músculos.
“Como você é mal educado, Cross”, debocha o bastardo. “Mas eu lhe perdoo por esse pequeno deslize. Então, negócio fechado?”
Olho para Ben e Charlie em um claro sinal para que me soltem. Receosos, eles largam meus braços, mas se mantêm por perto. Respiro fundo e adoto minha postura gélida.
“Acho que você esqueceu com quem está se metendo, mas tudo bem, eu perdoo esse pequeno deslize”, repito suas palavras anteriores com sarcasmo. “Não, não tem negócio fechado. Você vai sair do meu prédio e sumir do mapa. Não ouse chegar perto de mim ou dela novamente”. Minha voz sai sem emoção alguma.
A face de Nathan se contorce numa carranca demoníaca. “Bom, então não reclame das consequências”, sussurra asperamente.
Olho dentro de seus olhos e cruzo os braços. “Veremos”. Viro-me para o segurança que está o segurando. “Tire esse homem do meu prédio pelos fundos”.
“Sim, senhor”.
“Muito bem, Cross. Esse é o seu jogo? Então vamos jogar”, diz Nathan com um esboço de sorriso nos lábios antes de ser retirado da sala. Scott e Emma ainda estão paralisados.
“Volte ao trabalho”. Ordeno a que Emma sai a passos largos, ainda um pouco atordoada. “E Scott. Eu não estou para ninguém. Se Eva vier me procurar, me interfone”.
“Sim, senhor Cross”, responde já com sua postura profissional e retorna para seu posto.
Viro-me para Ben e Charlie. “Podem ir também. Vou tomar um banho e me trocar. Assim que eu estiver composto, Ben, eu o chamarei novamente para falarmos sobre o que houve aqui”.
“Afirmativo”.
Pai e filho saem. Olho para o chão e vejo o envelope que bastardo trouxe. Recolho-o e guardo no fundo falso de uma das gavetas de minha mesa. Vou até o banheiro e me olho no espelho. Um dos punhos de minha camisa está sujo de sangue. Que ótimo. Por precaução sempre tenho uma muda de roupa extra no escritório. Começo a me despir, tirando a camisa e a colocando no cesto de roupas sujas. Tomo uma ducha e esfrego minha pele com vontade, a fim de tirar os respingos de sangue e me desvencilhar daquela presença nauseante. Como ele se atreve a vir aqui me chantagear? Quem ele pensa que é? Há muitas coisas ruins nesse mundo, uma delas é ser meu inimigo. Não há ninguém que queira isso, acredite. E Nathan Barker se tornou um alvo fácil no dia em que resolveu estuprar Eva. Quando vi aqueles olhos frios eu sabia que estava lidando com alguém desequilibrado e doente. Seu jeito de se referir a Eva me deu nojo, e ódio. Muito ódio. Se Ben e Charlie não tivessem me segurado eu o surraria até que não estivesse mais respirando! Eva não pode saber que ele esteve aqui. Ela vai ficar em pânico. E jurei a mim mesmo que ela jamais sofreria novamente.
Desligo o chuveiro, encosto a testa nos azulejos frios do Box e respiro fundo tentando manter a calma. O que fiz aqui hoje não pode se repetir. Aprendi a me manter impassível e controlado nas mais diversas situações. Mas a simples ideia de que Eva possa estar correndo perigo, faz meu sangue ferver como lava vulcânica, me deixando a ponto de explodir. Também me senti assim quando soquei o nariz daquele amigo drogado de Cary, que tentou se aproximar de Eva, totalmente fora de si. Desde que ela entrou em minha vida, os descontroles têm sido constantes. O medo de perdê-la é tão grande que meu corpo inteiro entra em estado de alerta e acabo reagindo de forma desmedida.
Saio do box, me enxugo, visto a boxer, a calça do terno extra e as meias. Calço os mesmo sapatos e saio do banheiro. Quando vou até a banqueta do bar pegar uma camisa social limpa, dou de cara com Eva. No mesmo instante levanto minhas defesas e assumo minha postura rígida.
“Não é uma boa hora, Eva”, digo vestindo a camisa. “Estou atrasado pra uma reunião”.
Ela se agarra à sua bolsa com força e continua a me encarar intensamente. Mostro-me indiferente e continuo a me vestir.
“Por que você não está vestido?”
“Sujei a camisa”. Inclino-me sobre o balcão do bar para pegar minhas abotoaduras. “Preciso ir. Se precisar de alguma coisa, fale com Scott que ele resolve. Ou então espere até eu voltar. Não devo demorar mais de duas horas”.
“Por que você está atrasado?” sussurra.
“Tive que marcar uma reunião de última hora”. Minto. Odeio esconder as coisas dela, mas Eva não precisa saber do que houve.
“Você tomou banho de manhã. Por que precisou tomar outro?”
“Por que o interrogatório?”, reajo. No que será que ela está pensando?
Sem dizer uma palavra, Eva passa por mim e entra no banheiro. Segundos depois ela sai de lá como um foguete sem ao menos olhar para mim. Mas o que...?
“Eva!”, grito. “O que foi que deu em você?"
“Vai se foder, seu filho da puta”.
“Como é?” Mas afinal qual é o problema dessa mulher?
Antes que sua mão vire a maçaneta eu a puxo pelo cotovelo. Ela se vira e... Porra! Me dá um baita tapa na cara fazendo minha cabeça virar. Um tapa muito mais forte e ardido do que o que havia me dado na festa da Vida Records. E isso me deixa ainda mais nervoso. Merda, ela tem uma mão pesada pra caralho!
“Puta que o pariu”, grunho antes de agarrá-la pelos braços e começar a sacudi-la. “Nunca mais faça isso!”
“Tira a mão de mim!” Grita raivosa.
Dou alguns passos para trás até me afastar o suficiente. “Que porra é essa?”
“Eu vi que ela estava aqui, Gideon”.
Ahn?
“Quem estava aqui?”
“Corinne!”
Franzo o cenho. Como assim Corinne esteve aqui?
“Do que você está falando?”
Ela saca seu celular e coloca a tela bem na minha cara.
“Tenho provas”.
Aperto meus olhos para olhar mais detalhadamente a foto. Sim, é mesmo Corinne saindo do Crossfire toda descabelada. Ah... Agora tudo faz sentido. Eva está com ciúmes. Meu corpo relaxa. Mas o fato de ela estar desconfiando de mim me deixa puto...
“Provas de que, exatamente?” pergunto calmo, muito calmo.
“Ah, vai à merda”. Ela se vira para a porta e joga o telefone dentro da bolsa. “Não vou te dar essa satisfação”.
Eva nunca vai aprender mesmo. Agora é que eu quero ouvi-la dizer. Eu tenho que ouvir. Espalmo a mão contra o vidro, mantendo a porta fechada, cerco-a com o corpo e me agacho, quase colando meus lábios em seu ouvido.
“Vai, sim. Você vai me dizer exatamente o que está acontecendo”, murmuro.
Ela fecha os olhos e, por um momento sou transportado de volta ao dia em que a cerquei aqui, dessa mesma maneira, e após muita insistência da minha parte acabamos quase trepando no sofá que o maldito Nathan Barker profanou com sua bunda magrela.
“Uma imagem não vale mais do que mil palavras?”, diz ela entre os dentes.
“Então quer dizer que Corinne andou beijando alguém. O que isso tem a ver comigo?” Realmente, essa historia está muito confusa.
“Você está de brincadeira? Me deixa sair”.
“Não estou achando a menor graça nisso. Na verdade, nunca fiquei tão puto com uma mulher antes. Você chega aqui fazendo um monte de acusações sem pé nem cabeça, sem a menor razão...”.
Com toda a razão!” Enfatiza quase gritando.
Ela se agacha para passar debaixo do meu braço, estabelecendo uma distância entre nós.
“Eu nunca trairia você! Se quisesse trepar com outras pessoas, terminaria primeiro!”
Eu não sei se isso foi coisa da minha cabeça ou se ela realmente disse isso. Se não tivesse sido tão real eu estaria inclinado a acreditar na primeira opção, mas ela realmente acabou de me acusar de traí-la! Me apoio na porta e cruzo os braços olhando fixamente para seu rosto bonito e corado. Depois de tudo o que venho fazendo por nós ela vem com esse papo? A indignação e a raiva se misturam dentro de mim. Meu estômago se revira pela terceira vez em menos de duas horas.
“Você está achando que eu te traí?”, pergunto num tom de voz duro e implacável.
Ela respira fundo. “O que ela estava fazendo no Crossfire pra sair naquele estado? E por que seu escritório está nesse estado? E por que você está nesse estado?”
Observo atentamente meu escritório. O tapete está um pouco embolado, o sofá está deslocado e há uma almofada no chão. Em seguida volto meus olhos para Eva.
“Não sei por que Corinne estava aqui, nem por que saiu naquele estado. Não falo com ela desde ontem à noite, quando você estava comigo”. Respondo apenas a primeira pergunta, ignorando as outras. Não posso contar a ela.
A menção do baile de ontem tem o efeito desejado, desviando o foco da conversa. Então começamos a discutir o fato de eu ter me afastado com Corinne para que ela me “apresentasse a alguém”. Eu me aproveitei desse momento para deixar tudo em pratos limpos, mas claro que Eva iria interpretar de outra forma.
“Você acha que fui com ela porque sou incapaz de resistir e estava morrendo de vontade de me livrar de você?” bufo incrédulo.
“Não sei, Gideon. Foi você que me deu as costas. Você é que precisa dizer”.
“Você me deu as costas primeiro”.
“Eu não!” diz boquiaberta.
“Não o cacete. Assim que a gente chegou, você sumiu. Tive que ficar te procurando feito um idiota. Quando encontrei, você estava dançando com aquele imbecil”.
“Martin é sobrinho de Stanton!”
Que se foda! Ele não é parente dela. Nada o impedia de dar em cima dela. Nem os primos de primeiro grau são impedidos de se envolver por causa de parentesco. E ficou nítido para mim que aquele babaca (porque, para mim ele continua sendo babaca) quer entrar na calcinha da minha namorada.
“Nem que ele fosse um padre. Ele quer comer você”.
Ela acha um absurdo meu ciúme dele e começa a se justificar por ter saído do meu lado quando o grupo de empresários veio me cumprimentar quando entramos.
“Você estava falando de negócios com seus sócios. Eu estava totalmente perdida ali”.
“Perdida ou não, seu lugar é do meu lado”.
Ela recua o rosto para o lado como se eu tivesse lhe ofendido. “Como é que é?”
“Como você se sentiria”, digo calmamente, “se no meio de um evento da Waters Field & Leaman eu desaparecesse só porque o tema da conversa era uma campanha publicitária? E, quando me encontrasse, eu estivesse dançando agarradinho com Magdalene?”
“Eu...”, ela gagueja sem saber o que dizer.
 “Meu lugar é ao seu lado, apoiando você, e às vezes só servindo de enfeite mesmo. É um direito, um dever e um privilégio, Eva, e o mesmo vale pra você”.
Quem foi mesmo que disse ontem que relacionamentos são vias de mão dupla?
“Pensei que estava fazendo um favor deixando você sozinho”.
Apenas arqueio uma sobrancelha e lhe lanço um olhar sarcástico. Como ela é teimosa. Não dá o braço a torcer nem a pau.
“É por isso que você saiu de braço dado com Corinne? Pra me castigar?” pergunta cruzando os braços.
“Se eu quisesse castigar você, daria uns bons tapas na sua bunda”, ironizo.
Ela estreita os olhos. Cansado dessa discussão ridícula, explico num tom curto e grosso a minha intenção em conversar com Corinne.
“Você pediu pra ela não dizer nada sobre a história de vocês, né? Pra não demonstrar nenhuma intimidade. Pena que Magdalene estragou tudo”.
“Eu queria que você ouvisse tudo da minha boca”, me defendo.
Ela muda de assunto drasticamente, voltando a falar sobre a situação atual, afirmando que acabou de ver Corinne entrando em meu carro. Esse dado me deixa surpreso.
“É mesmo?”
“É. Você pode me explicar isso?”
“Não, não posso”. Realmente não posso.
“Então sai da minha frente. Preciso voltar ao trabalho”, atira.
Não movo nenhum músculo. Preciso saber escutar a verdade. Preciso que ela confirme que essa desconfiança é puro ciúme.
“Queria esclarecer uma coisa antes: você acha mesmo que eu trepei com ela?”
“Não sei no que acreditar. As provas mostram que...”.
Essa teoria maluca de traição está me dando nos nervos.
“Não interessa se as supostas provas incluírem uma imagem de nós dois pelados na cama”. Desencosto da porta e caminho em sua direção, reduzindo a distância entre nós. Ela dá um passo para trás, surpresa. “Quero saber se você acha que trepei com ela. Se acha que eu faria isso. Que eu seria capaz. Você acha?”
Ela começa a bater o pé esquerdo no chão, sem recuar. “Explique por que sua camisa está manchada de batom, Gideon”.
Cerro os dentes. Ela nunca saberá, mesmo que eu tenha que enfrentar essa desconfiança descabida.
“Não”.
“Quê?” diz incrédula.
“Responda minha pergunta”, exijo.
Está cada vez mais difícil ter que esconder meus sentimentos, mas vê-la chateada e, mais do que isso, desconfiada de mim me dilacera. Eu queria tanto poder dizer a verdade, mas tenho que protegê-la a qualquer custo. Eu preciso protegê-la. Num momento de fraqueza levanto uma das mãos para acariciar seu queixo delicado, mas me detenho. Se eu tocá-la, vou me render. E esse não é o melhor momento. Meus dentes trincam pelo esforço hercúleo que estou fazendo para não sentir sua pele.
Preciso que você me explique”, sussurra agoniada.
O desespero me assola. Merda, eu tenho que me segurar.
“Nunca dei motivo pra você duvidar de mim", me esquivo. Mas é a verdade. Aprendi a evitar tudo que pode me afastar de Eva.
“Está dando agora, Gideon”. Diz soltando o ar com força, com uma expressão desanimada, derrotada. “Entendo que você precise de um tempo pra conseguir se abrir completamente comigo e abordar coisas que são dolorosas. Também já me senti assim, sabendo que precisava contar o que havia acontecido comigo, mas sem me sentir pronta. É por isso que tento não apressar nada e nem arrancar nada de você. Mas o problema é que seu segredo está me magoando, e isso muda tudo. Você não entende?”
“Cacete”, sussurro baixinho. Eu odeio vê-la assim. Mesmo tão perto um do outro, é como se estivéssemos cada um de um lado do continente. Seguro seu rosto com as mãos e olho dentro dos seus olhos.
“Faço de tudo pra que você não tenha motivos pra ter ciúmes, mas gosto quando isso acontece. Gosto que lute por mim. Gosto que se importe comigo a esse ponto. Quero que seja louca por mim. Mas possessividade sem confiança é sinônimo de inferno. Se não confia em mim, não temos por que ficar juntos”.
“A confiança não é uma via de mão única, Gideon”. Rebate. A decepção estampada em seu rosto. Seus olhos me perfurando. É insuportável encará-la.
Respiro fundo. “Não me olhe assim”.
“Estou tentando descobrir quem você é. Onde está aquele homem que disse sem mais nem menos que queria me comer? O homem que não hesitou em dizer que não desistiria de mim quando as coisas ficaram ruins entre nós? Pensei que você fosse sempre assim sincero. Estava contando com isso. Agora...”. Sua voz morre.
Estreito os lábios tentando manter as palavras dentro da boca e permaneço em silêncio. Não posso dizer mais nada.
Ela agarra meus punhos e tira bruscamente minhas mãos de seu rosto. “Não vou fugir desta vez, não precisa vir atrás de mim. Acho que você precisa pensar um pouco”. E sai. Não tento impedi-la.
Quando a porta se fecha, expiro o ar com força e cambaleio para o carpete. Meu corpo está todo travado pela tensão, meus músculos parecem pesar toneladas e minha cabeça está a ponto de explodir. Respiro fundo por alguns minutos e me levanto. Termino de ajeitar a roupa, sento-me à mesa e chamo Scott pelo interfone.
Meu secretário entra um tanto constrangido.
“Quero saber de duas coisas. Sente-se”, digo secamente.
Ele se senta em silêncio.
“Primeiro. Porque Eva entrou sem ser anunciada?”
“Senhor Cross, me desculpe. Eu tentei evitar, mas ela simplesmente saiu em disparada em direção ao escritório, me deixando a ver navios. Se eu a impedisse de entrar, eu teria que me colocar à frente dela, gerando uma situação desconfortável e, consequentemente, ela suspeitaria de alguma coisa”.
Nisso ele tem razão. Além do que, eu conheço a namorada que tenho. Eva mal me escuta que dirá a Scott. E eu poderia ter trancado a porta. Na hora da raiva nem pensei direito.
Suspiro. “Muito bem. Você agiu certo. Não estou te culpando. Agora me responda outra coisa: depois que aquele... homem saiu daqui, alguém mais me procurou?”
“Sim. A senhora Giroux”.
Porra.
“Ela disse o que queria?”
“Bom, ela falou que tinha assuntos pessoais para tratar com o senhor. Eu disse que o senhor não poderia receber ninguém, mas ela se sentiu ultrajada e exigiu que eu o chamasse”.
Quanta petulância.
“O que você fez para que ela fosse embora?”
“Disse que o senhor exigiu não ser incomodado por quem quer que fosse, e me deu autorização expressa para convidar a pessoa a se retirar em caso de insistência”.
Scott parece orgulhoso do que fez. Suas feições nada denunciam, mas sei que ele não sentiu por Corinne a mesma simpatia que Eva lhe arrancou logo de cara.
“Você fez bem, Scott. Vamos voltar ao trabalho”, digo encerrando a reunião. “E, por favor, chame o Ben imediatamente”.
“Sim senhor”. Ele se levanta e sai.
Menos de dez minutos depois Ben adentra meu escritório com o semblante sério.
“Senhor Cross”, acena com a cabeça.
“Pode se sentar, Ben”. Ele assente e o faz.
“Bom, não preciso explicar o que houve aqui, mas quero agradecer a você e ao seu filho por terem me impedido”.
“Senhor Cross, não precisa agradecer. Só fiz meu trabalho. Entendo perfeitamente sua explosão. Fique descansado, ninguém saberá o que aconteceu aqui. Eu lhe garanto”.
“Eu sei disso, não estou preocupado. Não com isso. Quero saber como esse bastardo entrou no meu prédio sem eu saber”.
“Bom”, diz coçando a cabeça, um pouco desconcertado. “Eu não estava na sala de segurança no momento em que ele chegou. Eu estava... uhm... no banheiro. E quando voltei, soube que ele já havia sido revistado, passado pelo reconhecimento facial, e já estava aqui no seu andar. Scott me contatou enquanto eu estava subindo com Charlie para cá. Eu sabia as coisas poderiam... sair de controle”.
“E você agiu corretamente”.
“Desculpe pela falha, senhor. Não vai mais acontecer”, pede polidamente. 
“Ben, não peça desculpas por ir ao banheiro. Foi uma coincidência infeliz, só isso. Você não tem culpa e nem tem nada a provar para mim. Estou ciente de sua competência", digo em tom apaziguador. “Agora que sabemos onde ele está, precisamos monitorá-lo de perto. Fique atento a tudo”.
“Claro, senhor. Já tomei minhas providências”.
Então ele me explica o esquema que montou para vigiá-lo. Mesmo prestando atenção no que ele diz minha mente vaga para o vigésimo andar. Meu coração se comprime ao me lembrar do semblante triste e magoado de Eva. Mas preciso me manter firme. Ela jamais saberá que Nathan esteve aqui e muito menos que está na cidade. Sua passagem será silenciosa e não importa o que eu tiver que fazer, só tenho um objetivo em mente: mantê-la a salvo.

E então, o que acharam?? Domingo, além de postar o capítulo 3 dessa fic, vou postar o capítulo 4 de 'Toda Minha", ok? Não se esqueçam do nosso grupo, onde posto spoilers, videos, fotos, novidades e outras coisas mais: facebook.com/groups/tkfanfics  

Beijos e até domingo!

2 comentários:

Unknown disse...

Ficou ótimo!!!!!! Eu adorei!!!

Geane Santos disse...

Otimo capitulo.