sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Profundamente Minha: Capítulo 4 — Turbulências



Oi gente! Quem aí esta mais do que pronto para um novo capítulo?? Agradeço a todas as reviews, às palavras de amor e carinho tanto aqui quanto no grupo do Face!! Vocês são as melhores leitoras do mundo!!


Agora chega de blábláblá e vamos ao que interessa! 
Boa leitura!
"Os braços de um anjo, são para nos oferecer proteção. E suas asas, são para nos dar o voo que precisamos para alcançar a felicidade”.
—Pedro H. F. Soares

Pouco depois das quatro da tarde, com as mãos trêmulas peguei o telefone e disquei o ramal de Eva, a fim de lembrá-la da consulta que, como eu suspeitava, ela havia esquecido. Falei que tínhamos que sair as cinco em ponto para chegar na hora e que eu passaria em seu andar. Em contrapartida, ela me pediu desculpas por ter batido em meu rosto, mas o que ela queria mesmo era ter me perguntado o que realmente aconteceu. Eva expressou sua insatisfação em permanecer no escuro, embora eu faça isso por diversas razões e muitas delas não sejam tão altruístas. No fim de tudo, em uma coisa concordamos: conseguimos lidar com segredos, mas não com traição. Eu não sei do que seria capaz de fazer se ela se envolvesse com outro. Nosso relacionamento se tornou algo necessário e nocivo para ambos, como uma droga. Quando algo estremece o já frágil elo que nos une, tudo em nosso mundo se desequilibra. Tudo perde a importância. E parece que a tendência é que as coisas fiquem gradativamente piores.
Fiquei abalado pela nossa briga, porém furioso por ter minha fidelidade questionada. Eu nunca trairia Eva. Jamais poderia tocar outra mulher depois dela. Seria impossível para mim. E depois de tudo o que vivemos até aqui, ela não poderia duvidar.
Quando fui buscá-la pontualmente as cinco aproveitei que Mark Garrity ainda estava por ali e conversei com ele sobre a campanha da Kingsman, que, aliás, está excelente. Fiquei realmente impressionado. Mas mesmo entretido na conversa, pude sentir os olhos do meu anjo me perfurarem. Além dos segredos, há algo que ela odeia em mim: minha capacidade de ser impassível a hora que eu quiser. Isso é muito característico da minha personalidade. Eu aprendi a esconder tão bem o que se passa dentro de mim que enquanto eu conversava com Garrity eu não tinha nenhum resquício de tristeza ou angústia em meu rosto. Por dentro, eu estava um caos. Enfrentar Nathan, brigar com Eva na sequência e ainda por cima ser acusado de traição não foi fácil. Eu estava com dores pelo corpo e minha cabeça já esteve melhor. Quando a olhei para perguntar se estava pronta para irmos, foi impossível evitar o brilho no olhar e os sentimentos vieram à tona de uma vez, mas me restabeleci no mesmo instante.
Quando passamos pela recepção, Eva comentou que Megumi estava a fim de mim. Inevitavelmente todas ficam. Mas o que posso fazer?
“Até parece”, esnobei. “O que ela sabe sobre mim?”
“Fiquei fazendo essa pergunta a mim mesma hoje o dia todo”, responde Eva em voz baixa.
Eu não estava preparado para ouvir aquilo e levei um golpe tão forte que não consegui dizer mais nada. Não havia o que dizer. Por mais que eu afirme que Eva é a única que me conhece de verdade, ela não sabe nem a metade.
Nosso trajeto até o consultório do Dr. Petersen foi feito num silêncio sepulcral. Estávamos muito distantes um do outro. Angus olhava de relance para nós pelo espelho com a testa franzida. Ele notou a frieza de Eva para com ele, o que não era habitual. Ela ainda estava com raiva por causa da carona dada à Corinne. Fiquei me perguntando o que essa mulher queria e como teria sido se ela sequer tivesse aparecido no prédio.
“Senhor Cross”, chamou meu motorista com seu carregado sotaque escocês.
“Sim?”
“Encontrei a senhora Giroux saindo do Crossfire e por educação lhe dei uma carona para casa”, explicou, mais para Eva do que para mim.
“Claro, Angus. Tudo bem”. Eu disse encerrando o assunto.
Eva ouviu tudo em silêncio e continuou a olhar pela janela do Bentley, como se nada estivesse acontecendo. Ela estava muito chateada e eu odiava vê-la dessa forma.
 “Senhor Cross, senhorita Tramell”, a voz da recepcionista me desperta dos meus pensamentos. “O Dr. Petersen vai recebê-los agora”.
Não vou negar que estou nervoso, embora não demonstre. É nossa primeira consulta como casal.
Entramos no consultório saldando o doutor e nos acomodamos no sofá, em frente à poltrona na qual ele está sentado. A tensão entre nós é palpável. Eva está em uma ponta do sofá e eu na outra. A minha vontade de eliminar essa distância é bem grande.
Dr. Petersen abre a capa protetora do seu tablet e sugere que comecemos pelo motivo da tensão entre nós. Espero para que ela comece.
Damas vêm em primeiro.
Mentira.
Minha motivação não passa perto do cavalheirismo.
É que não sei como essa merda funciona e muito menos sei o que dizer.
“Bom”, Eva toma a iniciativa, “nas últimas vinte e quatro horas, eu conheci a noiva que nem sabia que Gideon tinha...”.
“Ex-noiva”, rujo.
“... descobri que ele só namorava morenas por causa dela...”.
“Não era namoro”, pontuo.
“... e a vi saindo do escritório dele nesse estado...”, completa, sacando o celular.
“Ela estava saindo do prédio”, faço questão de dizer, “não do me escritório”.
Eva abre a fotografia que tinha tirado e entrega o telefone para o doutor Petersen. “E entrando no seu carro, Gideon!”
“Angus disse no caminho pra cá que ofereceu uma carona pra ela por educação”.
“Como se ele fosse dizer outra coisa!”, rebate. “Ele é seu motorista desde que você era criança. Claro que ia te acobertar”.
“Ah, então a coisa agora virou uma conspiração?” digo debochado.
“O que ela estava fazendo lá, então?”, pergunta em tom de desafio.
“Era horário de almoço”, desconverso.
“E onde você foi almoçar?” pergunta em tom acusatório. “Posso conferir se você estava lá e ela não, e a gente resolve de vez esse assunto”.
Cerro os dentes com raiva. “Eu já disse. Apareceu um compromisso de última hora. Acabei não indo almoçar”.
“Esse compromisso era com quem?”
“Não era com Corinne”, retruco evasivo.
“Isso não é resposta!” Ela se vira para o doutor Petersen, que devolve seu telefone com uma tranquilidade assustadora. “Subi até o escritório dele pra perguntar o que estava acontecendo e o encontrei saindo do chuveiro, quase sem roupa, com o sofá fora do lugar e almofadas jogadas no chão...”.
“Era só uma almofada!” bufo indignado.
“E havia uma mancha de batom vermelho na camisa dele”, continua.
“O edifício Crossfire é sede de mais de vinte empresas”, digo friamente tentando tirar a atenção desses detalhes. “Ela pode ter ido visitar qualquer uma delas”.
“Ah, sim, claro”, diz com sarcasmo.
“Não teria sido mais fácil levá-la ao hotel?” comento no mesmo tom.
Ela toma uma respiração profunda.  “Você ainda não desocupou aquele quarto?” E mais uma vez vejo a dor e a decepção estampadas em seu rosto. Em seguida, ela deixa escapar um gemido e fecha os olhos.
Droga! Eu esqueci completamente aquele quarto. A última vez que estive lá Eva estava comigo. Eu a magoei... De novo! Se existisse uma cota de merdas que pudéssemos fazer por pessoa, eu provavelmente teria estourado a minha!
“Vamos com calma”, o doutor Petersen intervém pela primeira vez. Ele me pergunta por que eu não contei a Eva sobre Corinne e respondo que eu tinha a intenção de contar. Em contrapartida, Eva reclama que nunca conto nada a ela.
“Sobre o que vocês costumam conversar?”, questiona, dirigindo-se a nós dois.
“A maior parte do tempo eu estou me desculpando”, resmungo.
O doutor Petersen me encara. “Por quê?”
“Por tudo”, passo a mão nos meus cabelos nervosamente.
“Você acha que Eva exige demais de você?”
Eu me viro na direção dela. “Não. Ela nunca me pede nada”.
“A não ser a verdade”, corrige, virando-se para me encarar.
 “Nunca menti pra você”, digo olhando intensamente nos olhos dela.
“Você quer que ela peça alguma coisa, Gideon?”, pergunta o doutor Petersen quebrando a conexão entre mim e Eva.
Franzo a testa. Sua pergunta fica gravada em minha cabeça.
“Pense nisso. Depois voltamos a esse assunto”. O doutor Petersen volta sua atenção para Eva. “Essa fotografia me deixou intrigado, Eva. Você se deparou com uma circunstância que a maioria das mulheres considera profundamente desgastante...”.
 “Não houve circunstância nenhuma”, reafirmo sem me alterar.
“Houve a percepção de uma circunstância”, especifica o doutor Petersen.
“Uma percepção claramente ridícula, considerando nossa relação”, rebato.
Então o doutor foca em nossa relação, perguntando quantas vezes em média fazemos sexo.
Eva fica vermelha e me encara. Eu a olho não podendo conter o sorrisinho malicioso em meus lábios. Eu já disse que ela fica linda quando cora?
“Humm...” diz ela contorcendo os lábios. “Muitas”.
“Todos os dias?” O doutor ergue as sobrancelhas. “Várias vezes por dia?”
“Em média”, respondo entrando na conversa.
Ele larga o tablet no colo e olha para mim. “E esse nível de atividade sexual é seu padrão?”
“Nada no meu relacionamento com Eva está dentro dos meus padrões, doutor”.
Ela é e sempre será a minha única exceção, completo em pensamento.
“Com que frequência você fazia sexo antes de se envolver com Eva?”
Cerro os dentes e olho para Eva. Não quero responder isso, não na frente dela, pelo menos.
“Pode falar”, ela incentiva.
Diminuindo a distância entre nós, estendo a mão na direção dela, que imediatamente põe a sua sobre a minha. Eu a aperto a fim de confortá-la.
 “Duas vezes por semana”, digo com firmeza. “Em média”.
O doutor Petersen se recostou na poltrona. “Eva manifestou preocupações de infidelidade e falta de comunicação no seu relacionamento. O sexo costuma ser usado como uma forma de resolver os desentendimentos?”
É impressão minha ou estou sendo tachado de tarado sexual bem na minha cara?
Ergo as sobrancelhas. “Antes que você venha me dizer que Eva está sendo vítima da minha libido desmedida, saiba que ela toma a iniciativa tanto quanto eu. Se alguém aqui precisa se preocupar com a viabilidade de manter o ritmo, esse alguém sou eu, por causa das especificidades da anatomia masculina”.
Ele olha para Eva, à espera de uma confirmação.
“A maioria das interações entre nós termina em sexo, inclusive as brigas”, ela diz concordando.
“Antes ou depois de o conflito ser considerado superado por ambas as partes?” pergunta.
Ela solta um suspiro. “Antes”.
O doutor pega a caneta e começa a digitar na tela.
O tempo passa.
Esse homem não vai parar de digitar? Ele está escrevendo um livro no meio da consulta?
“Seu relacionamento tem esse caráter altamente sexualizado desde o início?”, ele pergunta ainda olhando para a tela.
 Eva confirma dizendo que sentimos muita atração um pelo outro.
 “Claro”. Ele volta seus olhos para nós e abre um sorriso simpático. “Ainda assim, gostaria de discutir a possibilidade de abstinência enquanto...”.
“Fora de questão”, corto. Esse cara é maluco? “Se for assim, é melhor nem começar. Sugiro que a gente se concentre nas coisas que não estão dando certo, em vez de eliminar uma das poucas que estão”.
“Não sei se está funcionando tão bem assim, Gideon”, rebate. “Não como deveria”.
“Doutor...” apoio um dos tornozelos sobre o joelho e me recosto no assento em uma postura que deixa claro que estou irredutível. “O único jeito de me fazer resistir a ela é me matando. Tente encontrar outra maneira de fazer a gente dar certo”.
/***/
“Essa coisa de terapia é uma novidade pra mim”, digo olhando para as mãos. “Então não sei bem como avaliar, mas foi mesmo o desastre que pareceu ser?”
Estamos no Bentley a caminho de casa.
“Poderia ter sido melhor”, responde Eva, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos. “Só quero tomar um banho e ir pra minha cama”. Ela parece exausta.
“Tenho umas coisas pra resolver antes de encerrar meu dia”, digo pensando em uma decisão que tomei assim que nossa consulta terminou.
“Tudo bem”. Boceja. “Por que você não faz o que precisa e a gente se fala amanhã?”
Meu corpo inteiro paralisa e por um instante não sinto nada além de uma dor lancinante no estômago. Não. Ela não pode estar nos afastando assim.
Essa foi a pior de todas até agora.
 O silêncio mórbido pesa entre nós novamente simplesmente porque não consigo abrir minha boca. Só consigo encarar Eva, que ainda mantém os olhos fechados, recostada no acento com a cabeça inclinada para trás.
Eu não quero um tempo, não quero ir sozinho para casa. Eu quero a companhia dela. Meu dia foi uma porcaria e meu maior desejo é acabar com essa distância pavorosa entre nós. Me entristece saber que ela não deseja o mesmo, e me enraivece o motivo pelo qual ela está se querendo se afastar.
Eva abre os olhos, ergue a cabeça e me encara.
“Você está me dispensando”, afirmo.
“Não, é só...”.
“Não o cacete!” Esbravejo. “Você já me julgou e me condenou, agora está me dando um pé na bunda”.
“Estou morta de cansaço, Gideon! Tenho os meus limites. Preciso de uma noite de sono e...”.
“Eu preciso de você”, interrompo. “O que mais tenho que fazer pra você acreditar em mim?”
“Não acho que você tenha me traído. Tá bom? Por mais que a coisa pareça suspeita, não consigo acreditar que você faria isso. São os segredos que estão me incomodando. Estou me doando totalmente para as coisas darem certo, mas você...”.
“Acha que não estou?” pergunto incrédulo.
Me remexo no assento, posicionando uma das pernas em cima do banco para ficar de frente para ela. “Nunca me esforcei tanto pra uma coisa dar certo na minha vida como agora”. Estou indignado. Porra! Será que ela nunca pode ao menos reconhecer que eu tenho feito de tudo por ela?
“Você não tem que fazer esse esforço por mim. Faça por você mesmo”.
“Não me venha com esse papo furado! Eu não precisaria me esforçar tanto pra me relacionar com outra pessoa qualquer”, digo com desdém.
Soltando um gemido baixinho, ela recosta a cabeça no assento e fecha os olhos de novo. “Estou cansada de brigar, Gideon. Só quero um pouco de paz por uma noite. Estou meio fora do ar o dia todo”.
No mesmo instante minha irritação se converte em preocupação total e absoluta.
“Você está doente?” Agarro delicadamente sua nuca e beijo sua testa. “Não parece estar com febre. É o estômago?”
 “Não”. E depois solta um gemido, me preocupando ainda mais.
“O que foi?” Eu a puxo para meu colo, abraçando-a bem forte. “O que foi? Quer ir ao médico?”
“É TPM”, murmura. “Vou menstruar a qualquer momento. Não sei como não percebi antes. Não é à toa que estou tão cansada e nervosa. São os hormônios”.
Fico imóvel. Nunca passei por uma situação assim na vida. Nem sei como isso funciona, afinal, nunca convivi com uma mulher tempo suficiente para saber. Nem com Corinne. Não ficávamos juntos o tempo todo. Na verdade, nos víamos apenas duas ou três vezes na semana.
Eva, que está com o rosto enfiado em meu pescoço, levanta a cabeça e me encara. Admito a ela que isso é novidade para mim porque não é um problema comum numa vida marcada pelo sexo casual. Eu sei obviamente, que as mulheres ficam com o humor muito oscilante durante esse estágio. Elas te amam em um momento e querem sua cabeça numa bandeja de prata no outro. Agora entendo seu comportamento explosivo em meu escritório.
 “Sorte sua. Agora você vai ver o que é conviver com uma mulher”, ironiza.
“Sorte minha mesmo”. Tiro os fios de cabelos soltos sobre sua têmpora, deixando meus próprios cabelos caírem sobre seu rosto. “Talvez, se eu tiver mais um pouco de sorte, amanhã você já vai estar melhor e vai voltar a gostar de mim”. Eu só espero que não demore muito.
Seus olhos brilham. “Ainda gosto de você, Gideon. Só não gosto dos seus segredos. Vão acabar com a gente”.
“Não deixe isso acontecer”, murmuro, acariciando o contorno de suas sobrancelhas com a ponta do dedo. “Confie em mim”.
“Você vai ter que confiar em mim também”.
Eu a abraço e a beijo bem de leve na boca. “Quer saber de uma coisa, meu anjo?”, sussurro. “Não existe ninguém em quem eu confie mais”.
A parassonia, meus sentimentos em relação ao meu pai, a violência sexual que sofri, embora não tenha contado com todos os detalhes, são assuntos que eu nunca conseguiria conversas com mais ninguém.
Ela enfia os braços por baixo de meu paletó e me abraça como se isso nos aproximasse mais. O calor de seu corpo e o cheiro cítrico de seus cabelos me atiça e, como resposta, sem cerimônia alguma, enfio minha língua em sua boca, provocando a sua língua com lambidas suaves, sem a menor pressa. Ela tenta aprofundar o contato e isso me acende mais. Um gemido de puro contentamento escapa de minha garganta e seu pequeno corpo treme em meu colo. Viro a cabeça, colando nossos lábios num beijo férvido, que fica cada vez mais profundo, nossas línguas numa dança lenta e sensual, se reconhecendo, se entrelaçando, se amando. Nossa respiração fica acelerada.
A mão que repousa em sua nuca a puxa mais para perto de mim e a outra se enfia em sua blusa, acariciando sua coluna. Sinto sua pele se arrepiar ao meu toque. Meus dedos se flexionam, mantendo um toque suave. Ela se arqueia em direção à minha carícia, transpirando necessidade.
“Gideon...”, geme agoniada.
Percebo que pela primeira vez o contato físico não é o bastante para mantê-la segura de nossa conexão.
“Shh”, eu a acalmo. “Estou aqui. Não vou a lugar nenhum”.
/***/
Assim que chegamos ao apartamento de Eva, tomamos um banho juntos e pedimos comida no Peter Luger. Após o jantar, vamos até o banheiro e ela faz seus habituais rituais de beleza (que particularmente me fascinam porque é algo comum, trás uma gostosa sensação de familiaridade e intimidade) enquanto escovo os dentes, observando tudo atentamente. Enxaguo a boca, dou um beijo nos cabelos dela e vou para a sala dar alguns telefonemas, a fim de checar os últimos detalhes para a viagem. Quando retorno ao quarto, Eva já está deitada, ressonando suavemente.
Aproveito a deixa, troco de roupa e da sala chamo Raul para me buscar e desço para esperá-lo na portaria. Ele chega em menos de dez minutos. Entro no carro e mando-o me levar ao hotel. Assim que chegamos, digo a Raul para ir até a área de carga/descarga para arrumar sacos de lixo. Cumprimento a recepcionista da noite com um aceno rápido de cabeça e me direciono aos elevadores.
Alguns instantes e adentro o quarto que, por muito tempo, foi o meu “matadouro”. A última morena esteve aqui apenas duas semanas antes de eu ter visto Eva pela primeira vez. Ela me trouxe um sopro de vida que, até então, eu não sabia que precisava, me fazendo enxergar o quanto fui covarde e passivo durante todos esses anos. Nunca precisei fazer muito esforço para obter o que eu queria, nem me contentar com menos do que desejo. Com apenas um olhar, um gesto de mão ou de cabeça, um cenho franzido e um tom de voz adequado para cada ocasião eu tinha tudo. Mas esse tudo se tornou nada comparado a Eva. Ela me prostrou aos seus pés sem esforço algum, se tornou essencial para mim em tão pouco tempo. Não temos nem um mês de namoro e passamos por mais altos e baixos do que um casal com anos de relacionamento. Infelizmente os traumas tanto de seu passado quanto do meu estão interferindo gravemente entre nós. Não que isso seja o suficiente para me manter longe dela. Isso nunca. Eu lutarei até o fim, esgotarei todas as minhas forças, darei o melhor de mim para que nossa relação perdure.
Hoje estou aqui para limpar mais uma mancha do meu passado. Para expurgar mais um obstáculo que me afasta de Eva. Ver a angústia em seu olhar hoje, quando mencionei o quarto durante a consulta, fez meu coração ficar em pedaços. Ela queria que eu me livrasse dele. A verdade é que eu já nem me lembrava de sua existência. Mas agora, isso tudo vai acabar.
Raul chega ao quarto com um rolo de sacolas de lixo. Eu o instruo a aguardar do lado de fora.
Começo a esvaziar as gavetas, tirando todos os brinquedos, os frascos de lubrificante e os óleos afrodisíacos. A parafernália sexual que Eva deixou em cima da cama quando foi embora continua em cima da cama, intacta. Junto tudo e coloco em um dos sacos de lixo que destaquei do rolo. E assim vou fazendo até que não sobre mais nada. Guardo as roupas reservas em uma mala que deixei aqui e quando termino, chamo Raul de volta para o quarto e o peço para que se livre de tudo. Eu tinha muita coisa guardada por aqui. Foram anos e anos na mesma rotina e, pela primeira vez em horas eu me sinto leve.
“Senhor Cross, tudo certo”.
“Ok, Raul. Leve essa mala para minha casa”.
“Sim, senhor”.
Saímos do hotel. Olho no relógio. Faltam dois minutos para a meia-noite. Eva não vai acordar tão cedo. Vou poder dormir em paz, com meu anjo do meu lado.
/***/
Estou chegando até o apartamento de Eva e Cary está abrindo a porta.
“Oi Cross”.
“Como vai Cary?” respondo educadamente.
Quando ele vai me responder escuto um grito que me gela os ossos. Cary arregala os olhos e juntos corremos até o quarto de Eva. Quando chego, presencio a cena mais assustadora que já vi: ela está gritando pela mãe, em pânico, se debatendo de um lado para o outro, jogando as cobertas e os travesseiros para todos os lados. Meu coração sofre uma pontada dolorosa e minha respiração fica pesada. Imediatamente me coloco ao seu lado.
“Acorda, Eva”, berro.
E ela abre os olhos ainda atordoada e muito agitada, tanto que acaba perdendo equilíbrio e cai da cama, fazendo um ruído de dor e medo que faz meu corpo inteiro tremer de pavor.
“Droga, Eva. Assim você vai se machucar!”
Ela respira profundamente algumas vezes e começa a engatinhar até o banheiro.
Num surto de pânico eu a levanto e a agarrou junto ao peito. “Eva”.
“Vou vomitar”, diz engasgada, pondo a mão sobre a boca.
“Eu levo você”, digo sem hesitar, conduzindo-a rapidamente para o banheiro. Levanto o assento do vaso, me ajoelho ao seu lado e seguro seus cabelos enquanto ela vomita.
“Calma, meu anjo”, murmuro sem parar enquanto a outra mão acaricia suas costas. “Está tudo bem. Você está em segurança”.
Ela vomita por um tempo. Quando termina, dá a descarga e apoia o rosto suado no antebraço, recuperando o controle da respiração.
“Gata...” Cary chama e Eva vira o rosto em sua direção.
“O que vocês estão fazendo?” pergunta desorientada.
“Acabei de chegar”, responde Cary. “E encontrei Cross entrando”.
Ela me encara. “Você saiu?”
 “Eu avisei que precisava resolver umas coisas”. Digo ajudando-a a se erguer.
“Que coisas?”
“Nada de mais”. A prioridade é ela agora. Conto sobre o quarto mais tarde.
Ela sai de meus braços e vai escovar os dentes. Sento-me na borda da banheira para tirar minhas botas.
Cary fica ao seu lado. “Fazia tempo que você não tinha um pesadelo”. Ele está com uma feição preocupada e cansada também.
Ele dá um apertão de leve no ombro de Eva. “Vamos relaxar no fim de semana. Recarregar as baterias. Estamos precisando. Você vai conseguir ficar bem?”
“Eu cuido dela”. Digo me levantando.
“Isso não significa que eu não possa ajudar”. Cary deu um beijo em sua testa. “Se precisar de alguma coisa é só gritar”. Ele olha para ela mais uma vez antes de sair.
Eva enxagua a boca e põe a escova de dente de volta no suporte. “Preciso de um banho”.
Ligo o chuveiro e começo a tirar a roupa. A distração é a melhor estratégia nesses momentos. E ao notar a forma como Eva me olha, percebo que dá certo. Ela também se despe e entra no chuveiro. Entro atrás dela.
“Está melhor?” pergunto depois de por seu cabelo de lado e lhe dar um beijo no ombro.
“Estou”, murmura.
Enlaço sua cintura cautelosamente com os braços e solto um suspiro trêmulo antes de lhe perguntar se seu sonho era sobre Nathan.
Ela respira fundo. “Talvez algum dia a gente seja capaz de conversar sobre nossos sonhos...”.
Solto o ar dos pulmões, apertando seus quadris com os dedos. “Não dá pra explicar, né?”
“É”, murmura. “Não dá pra explicar”.
 E assim ficamos, abraçados e envoltos no vapor. De repente o corpo pequenino de Eva começa e a tremer por conta dos soluços incessantes. Não...
“Meu anjo...” Eu a abraço pelas costas, meus braços bem presos à sua cintura. “Não chore... Não aguento isso. Diga do que você precisa meu anjo. O que eu posso fazer?” Me sinto tão impotente.
“Tire a sujeira de mim”, sussurra, inclinando-se na minha direção, entregando seu corpo ao meu abraço numa doce submissão. Seus dedos se enlaçam com os meus na altura da sua barriga. “Eu quero ficar limpa”.
“Você já está limpa”.
Ela respira bem fundo, sacudindo a cabeça em negação.
Isso parte meu coração ao mesmo tempo em que expande meu lado possessivo e superprotetor.
“Escute o que vou dizer Eva. Ninguém nunca mais vai encostar em você”, digo, convicto. “Ninguém nunca mais vai encostar em você. Nunca mais.”
Ela aperta meus dedos entre os seus como se me agradecesse.
 “Nem por cima do meu cadáver, Eva. Isso não vai acontecer”.
Mais do que nunca, Eva jamais poderá saber que Nathan Barker está à espreita. E ele não irá, em hipótese alguma, se aproximar de dela novamente.
Nem que para isso eu tenha que tomar medidas drásticas.


E então?? Próximo capítulo tem sexo no banheiro, sexo nas alturas, e a cena mais esperada... o lutador de sumô?? kkkkkkkk vai ficar hilário, gente!
Beijos a todas e até amanhã com mais um capítulo de 'Toda Minha'!!

Nenhum comentário: