sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Profundamente Minha: Capítulo 7 — Tormenta

Oi gente, tudo bem? Quem tá preparado pra mais um capítulo, hein?? Já aviso. Ele está muito forte, muito mesmo, incluindo duas cenas de estupro. Então não fiquem chocados, ok? Boa leitura!
"É o que eu faço. Eu afasto as pessoas de mim”.
— Nicholas Sparks, A Última Música

A manhã passou num piscar de olhos. Tive muito trabalho para por em dia e ainda preciso resolver algumas questões burocráticas relacionadas à venda de um imóvel nas proximidades do Upper East Side. Passarei boa parte da tarde em uma reunião com os compradores e nossos respectivos advogados para avaliar a situação.
Eva irá almoçar com sua mãe e Megumi. Clancy as levará ao restaurante, e minha equipe seguranças as seguirá de perto, então não estou preocupado. Tudo está na mais perfeita ordem. Mas não consigo deixar a sensação estranha que senti desde o momento em que aterrissamos em Nova York. E não é nada boa. Algo está errado, muito errado. Tudo está se encaminhando bem demais.
Pode parecer um tanto neurótico da minha parte, mas desde que comecei a me relacionar com Eva, quando as coisas estão calmas demais, é sinal de que algo está por vir, afinal, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro, nossa vida é cheia de altos e baixos e reviravoltas. Nunca estamos realmente em paz. E isso é algo que me incomoda.
Minha refeição e minha reflexão são interrompidas pelo apito do interfone.
Senhor Cross”, diz Scott do outro lado. “Ben está aqui para falar com o senhor. É um assunto urgente”.
Franzo o cenho. Ben nunca me procura espontaneamente.
“Mande-o entrar em cinco minutos”.
Sim senhor”.
Recolho os restos do meu almoço e os deposito em um recipiente ao lado do minibar. Vou ao banheiro, escovo os dentes e, uma vez recomposto, volto para minha mesa. Segundos depois Ben entra com uma feição sombria. Eu sabia que havia algo errado. Muito errado.
“Com licença, senhor Cross. Desculpe interromper seu almoço”, sua voz grave denota preocupação.
“Sente-se, Ben”, lhe indico a cadeira.
Ele o faz e nisso reparo que sua mão direita segura um envelope pardo. O desconforto que estou sentindo desde mais cedo se amplifica.
“O que aconteceu?” pergunto sem rodeios.
“Nathan Barker esteve aqui agora a pouco”.
Meu coração acelera.
Como eu suspeitava. Ele estava quieto demais.
“O que ele queria desta vez?”, pergunto calmamente.
“Ele disse que tinha uma encomenda para o senhor e que tinha algo a ver com a senhorita Tramell. Charlie estava na portaria e me chamou assim que o reconheceu”.
Merda.
“Ele não aparentava estar transtornado”, continua. “Apenas me entregou este envelope e disse que era de seu interesse”. Ele o estende para mim.
Não preciso perguntar se Ben fez as verificações de segurança no envelope. Ele fez. Eu o abro e analiso o conteúdo: um papel cartão e uma capa plástica com um cd. Nele está escrito: Vídeo nº 3.
“Você leu o bilhete ou assistiu o DVD?”
Ele se remexe desconfortável no assento e desvia o olhar do meu.
“Li o bilhete e o que Barker escreveu foi o suficiente para que eu não assistisse ao vídeo”.
Isso está cada vez mais estranho.
“Algo mais?” pergunto.
“Sim... Minutos após Nathan deixar a portaria, a senhorita Tramell chegou acompanhada de sua colega de trabalho, da senhora Stanton e seu guarda-costas”.
O pânico me domina. Ele esteve tão perto dela!
“Ela o viu?”, pergunto cautelosamente.
“Aparentemente não. A senhorita Tramell estava muito tranquila. Talvez um pouco assustada, mas nada alarmante. Mas a senhora Stanton estava à beira de um estado de choque, e o guarda-costas dela, muito sério e alerta”.
Sinto certo alívio. Com certeza Monica o viu e resolveu poupá-la.
“Mantenha a vigilância sobre ele. Não o percam de vista em hipótese alguma. Ele não pode chegar perto de Eva novamente. Deixe a equipe de seguranças que a acompanha sobre aviso. Qualquer novidade me comunique imediatamente”.
“Sim senhor. Algo mais?”
“Não, só isso. Pode voltar a seus afazeres”.
“Sim senhor”.
Ben pede licença e sai. Finalmente demonstro minha aflição. O que esse bastardo quer dessa vez? Abro o envelope novamente e retiro o bilhete.

Acho que não estou sendo muito persuasivo, mas vou facilitar as coisas para você. Digo e repito que não vou desistir de ter o que quero. Gravei um filminho muito interessante sobre Eva nesse DVD. Imagine quando cair na rede? Stanton também deve ganhar um em breve. Porque não aproveitam e fazem uma sessão de cinema juntos? De todos os vídeos caseiros que fiz esse é o meu favorito. Tenho certeza que vocês vão apreciá-lo.
Atenciosamente, 
Nathan Barker

Um arrepio macabro percorre minha espinha. Ele não está brincando e não vai parar com esse joguinho até conseguir o maldito dinheiro. Algo me diz que o que vou ver nesse DVD é ainda pior do que o que vi na foto.
Aciono o botão que escurece os vidros e abro a tela do meu computador. Coloco o DVD no drive e espero. O player abre e o filme começa a rodar. 
 Trata-se de um quarto à penumbra, mas a decoração sugere que é um quarto de menina. A câmera gira em torno do cômodo até parar no rosto de um rapaz que aparenta ter uns 15 anos. Alguns gemidos desesperados são ouvidos ao fundo.
Boa noite, senhores. Vocês assistirão agora a um belíssimo espetáculo de luxúria protagonizado por mim e por minha putinha. A pequenina Eva. Diga olá para a câmera, Eva.
Ele diz e foca a câmera na cama. Meu estômago se embrulha e meus tímpanos pulsam. Ali, uma versão mais infantil de Eva está nua, deitada de bruços, amarrada e amordaçada. Ela tenta se soltar, mas é inútil. Os gemidos vêm dela. Seus olhos sofridos estão inchados pelo choro, seu rosto está vermelho, e seus cabelos, desgrenhados.
Ah, não precisa ficar nervosinha, diz Nathan com um tom de voz tranquilo. Vai ser muito bom, você sabe que sim. Lembra quando fizemos isso da última vez? Ele chega mais perto e acaricia as costas dela. Você adorou. Gemeu alto, rebolou como uma louca e gozou lindamente nos meus dedos. Eu nunca vou esquecer o primeiro dia que comi o seu rabinho. E aperta uma de suas nádegas.
Fico paralisado de medo, como nunca fiquei, nem mesmo quando fui tocado por aquele maldito.
Em um segundo Nathan está em cima dela sussurrando coisas sujas e degradantes em seu ouvido. Ele enfia seu membro sem qualquer cuidado naquela parte sensível e Eva solta um grito abafado pela bandagem e seu corpo enrijece. É mesma sensação que senti anos atrás. Aquela dor que rasga seu corpo ao meio, que queima como o fogo do inferno e se alastra como um incêndio. Ele investe violentamente contra ela e tudo o que consigo ouvir são gritos abafados de Eva, seu desespero em querer sair dali, sua vulnerabilidade.
Mais algumas investidas e aquele monstro solta um urro gutural e goza. Eva continua a chorar descontroladamente, mesmo amordaçada.
Não consigo me mexer. Não consigo ter reação alguma. Meus olhos não se desprendem da tela. Estou completamente chocado.
De repente o vídeo é cortado e a imagem de um Nathan mais velho surge. O cenário parece ser o quarto do hotel onde está hospedado. Seus cabelos estão metodicamente penteados e suas roupas bem ajustadas. Seu rosto ainda guardando a marca do belo soco que lhe dei quando veio ao meu escritório.

Gostou do nosso filminho, Cross? Eu e Eva tivemos muitos momentos como esse. Eu adorava esporrar naquela bocetinha apertada, embora eu preferisse mais aquele cuzinho. Eu já me toquei várias vezes vendo esse vídeo. Se quiser, eu o mando na íntegra para você. Nós ficamos horas e horas daquele jeito. Eu gostaria muito de fazer isso novamente, mas a denúncia feita pela vadia que roubou o lugar da minha mãe acabou com minha vida. Eu perdi meu dinheiro, meu pai passou a me odiar, fui humilhado e expulso de casa. Fiquei sozinho. Eu queria que Eva sentisse o que senti quando isso aconteceu, mas então você apareceu com seu cavalo branco e salvou o dia. Mas, quer saber? Foi melhor assim, agora eu tenho mais para tirar dela. Se não quiser que esse vídeo vaze na internet, é melhor fazer exatamente o que vou dizer: fique longe de Eva. Saia de perto dela. Termine essa relação sem futuro. Ela é minha, sempre foi e sempre será. E eu quero o dinheiro. Dois milhões, Cross. Caso contrário, as consequências serão piores, muito piores. No verso do bilhete tem um número de telefone. Ligue-me assim que estiver com o dinheiro em mãos. E não dê uma de espertinho comigo. Estou de olho em você e nela...
E a tela escurece.
/***/
Após assistir àquele vídeo não tive mais condições de trabalhar. Pedi a Scott para remarcar a reunião. Peguei minhas coisas e fui casa. Liguei para meu personal trainer e marquei uma seção de treino pesado em minha academia particular, no porão. Eu estava com tanta raiva, mas tanta raiva que eu precisava de algo para extravasá-la de alguma forma ou eu acabaria morrendo sufocado com ela ou, no mínimo, faria alguma besteira.
As imagens estavam vivas demais em minha mente. Os gritos de Eva ecoavam em meus ouvidos, assim como as palavras nojentas que aquele ser asqueroso vomitava em seus ouvidos. Eu estava feroz naquele treino, batendo como nunca, descontando todo meu ódio e angústia nos sacos de areia. Depois comecei a treinar alguns golpes com Jerry, que estava satisfeito com meu desempenho, mas teve que me fazer lembrar quase o tempo inteiro que aquilo era um treino e não uma luta de UFC. Eu estava com instinto assassino, literalmente. Duas horas depois eu estava na ducha tomando um banho frio. Eu precisava me acalmar já que passaria a noite com Eva. Apenas o som da sua voz, a maciez da sua pele e o cheiro cítrico de seus cabelos seria capaz de me acalmar.
Assim que chego ao apartamento dela, vou direto para seu quarto. Hoje ela teve aula de krav maga e com certeza está tomando um banho de banheira tentando relaxar o corpo cheio de hematomas. Dito e feito. Há velas aromáticas espalhadas pelo cômodo azulejado. Tiro minhas roupas calmamente e sinto seus olhos queimando em minha pele. Todos os meus movimentos são graciosos e fascinantes a seu ver. Tudo o que eu faço ela multiplica por mil, como se fosse algo grande demais e importante demais. Nesses momentos eu sinto a diferença entre a forma que as mulheres admiram minha beleza e a forma como Eva a admira.
Posiciono-me atrás dela na banheira oval e rodeio suas pernas com as minhas. Seguro seus braços e a levanto, pegando-a se surpresa, e coloco-a em meu colo.
“Encosta aqui em mim, meu anjo”, murmuro. “Preciso sentir você”.
Ela solta um suspiro de prazer e se aninha em meu peito. Seus músculos tensos se relaxam. O contato físico é uma parte vital do nosso relacionamento, pois é a única maneira que nós sabemos medir nosso afeto um pelo outro. Mesmo que as palavras signifiquem muito entre nós, o toque é uma forma de concretizar esses sentimentos.
“Mais hematomas?”, pergunto com o rosto colado ao seu.
“Foi culpa minha. Minha cabeça não estava colaborando muito”.
“Estava pensando em mim?” sussurro, acariciando sua orelha com o nariz.
“Quem me dera”, murmura pesarosamente.
Algo a está inquietando. Resolvo mudar de abordagem.
“Me conte o que está incomodando você”, peço suavemente.
Ela me conta que sua mãe se assustou com algo ou alguém que estava na porta do Crossfire.
“Por um momento achei que daria de cara com meu pai. Eu estava pensando... O prédio tem câmeras viradas para a calçada, não tem?”
 “Claro. Posso conseguir as imagens pra você”, tento parecer calmo.
“Seriam no máximo dez minutos. Só quero tentar descobrir o que aconteceu”.
“Por mim já está feito”. Ela não pode nem sonhar que Nathan esteve lá e que foi ele quem deixou Monica transtornada.
Eva joga a cabeça para trás e beija meu queixo. “Obrigada”.
Roço meus lábios de leve em seu ombro. “Meu anjo, eu faria qualquer coisa por você”.
Tenho que pensar rápido em algo para fazê-la esquecer dessa ideia.
“Inclusive falar sobre seu passado?” diz de repente e meu corpo enrijece. “Não precisa ser agora”, ela emenda rapidamente, “mas algum dia. Você decide quando estiver pronto”.
“Almoça comigo amanhã? Na minha sala?” Tento mudar de assunto. Eu não quero falar sobre isso agora.
“Você vai me contar tudo durante o almoço?”
Bufo irritado com essa insistência. “Eva”.
Ela vira o rosto, agarra as bordas da banheira fazendo menção de se levantar.
“Pra mim chega”, diz e apaga a vela mais próxima com um sopro. “Vou sair”.
“Não”, digo um tanto desesperado agarrando seus seios, restringindo seus movimentos. A água respinga para fora da banheira com a agitação.
“Me larga, Gideon”, ela me pega pelos pulsos e afasta minhas mãos dela. Mas não vou deixá-la ir.
Enterro o rosto no seu pescoço, segurando-a firmemente. “Eu chego lá. Tudo bem? Só me dá... Eu chego lá”.
Eu simplesmente não posso lidar com isso hoje. O dia foi estressante o bastante para mim. Aquelas imagens ainda estão frescas em minha memória. Elas despertaram meus próprios gatilhos emocionais, me deixando completamente vulnerável e sensível. Não posso me expor assim. Eva precisa da minha força, não da minha fraqueza.
 “Podemos deixar isso de lado só por uma noite?”, pergunto em um tom de irritação, ainda com o corpo todo tenso. “Deixar tudo de lado? Só quero a sua companhia, pode ser? Pedir alguma coisa pra jantar, ficar vendo tevê, dormir abraçado... Podemos fazer isso?”
Eu preciso de pelo menos uma noite normal ao lado dela. Todo esse estresse que temos fez com que nossa relação se tornasse um campo minado.
Eva se vira para me olhar, captando minha angústia. “Aconteceu alguma coisa?”
“Só quero ficar um tempinho com você”.
Seus olhos brilham com algumas lágrimas não derramadas. Ela está decepcionada. Sabe que estou escondendo algo.
“Tudo bem”, suspira por fim.
“Estou precisando disso, Eva. Eu e você, sem nenhum drama”, eu peço passando os dedos molhados pelo seu rosto. “Me faça esse favor. E me beije”.
Ela se vira, posiciona-se sobre meus quadris e agarra meu rosto com as mãos. Inclina a cabeça até o ângulo perfeito e junta seus lábios aos meus.
Suas sucções são leves, o movimento de seus lábios é vagaroso. Em seguida sua boca dá abertura para o contato de nossas línguas. Não estou inspirado hoje. Eu quero mais, preciso demais.
 “Me beija, porra”, rujo, passando as mãos por suas costas e remexendo meus quadris sem parar. “Se você me ama, me beija”.
“Eu te amo”, garante, sem separar nossas bocas. “Não posso evitar”.
 “Meu anjo”. Agarrando com as mãos seus cabelos molhados, eu a mantenho na posição que quero e despejo todo o meu amor nesse beijo.
Após o jantar, fizemos nossa higiene e fomos para a cama. Eu ainda tenho muito trabalho para adiantar. Enquanto reviso o contrato de aluguel de uma das minhas propriedades no SoHo que Scott me enviou por email, Eva está deitada de bruços, balançando os pés e assistindo Os Caça-Fantasmas na TV. Eu já tinha assistido esse filme algumas vezes, há muito tempo. Eu achava bem divertido, mas não é nada comparado a ver Eva repetindo as falas de cada personagem do filme em voz alta. É maravilhoso passar esses momentos íntimos com ela, essa sensação de rotina, de normalidade. É como se as sequelas do nosso passado não existissem.
Há sempre algo novo para descobrir sobre ela, como seu gosto duvidoso por filmes de ação, desde as sequências de Duro de Matar e Carga ExplosivaOs Mercenários e Kill Bill. Sei que muitas mulheres não gostam de assistir filmes violentos. Mas nada sobre Eva é convencional. E ela me provou isso definitivamente quando contratou o grande Dave para ficar de olho em mim durante a viagem.
 “Você sabe todas as falas desse filme?” pergunto.
Ela desvia sua atenção da TV e me olha.
 “Talvez”, admite com um sorriso matreiro.
“E precisa dizer todas em voz alta?”
“Algum problema, garotão?” debocha arqueando as sobrancelhas.
“Não”, respondo sorrindo. Ela sempre consegue arrancar um sorriso fácil de mim.
“Quantas vezes você já viu isso?”
“Um zilhão”, ela se vira e ergue as mãos e os joelhos. “Está bom pra você?”
Levanto uma sobrancelha. O que ela está fazendo?
“Você é o porteiro?”, murmura uma das falas do filme, aproximando-se de mim com um olhar safado.
 “Meu anjo, com você me encarando desse jeito, aceito ser qualquer coisa”.
Ela me olha com os olhos semicerrados. “Você quer este corpinho?”
Ainda sorrindo, ponho o computador de lado. “Vinte e quatro horas por dia”.
Ela monta em minhas pernas, se inclina sobre mim e lança seus braços sobre meus ombros. “Me beije, criatura inferior”, grunhe.
“Ah, então é assim que as coisas funcionam? O que aconteceu com o deus do prazer? Agora sou uma criatura inferior?” entro na brincadeira.
Ela pressiona sua bocetinha sobre o meu pau rígido e remexe os quadris num sobe e desce de enlouquecer. “Você aceita ser qualquer coisa, esqueceu?”
Eu a agarro na altura das costelas e jogo minha cabeça para trás. “E o que você quer que eu seja?”
“Meu”. Deu uma mordida em minha garganta. “Todo meu”.
Eu não poderia concordar melhor com minha posição.
/***/
Eu estava dormindo tranquilamente quando senti um peso em minhas costas. Aquele cheiro inconfundível invadiu minhas narinas e trouxe de volta os meus maiores medos. Ele está aqui, de novo. Não! Não! Não!
Ele põe suas pernas entre as minhas e as prende, me imobilizando. Sua mão rasga minha cueca, me deixando nu da cintura para baixo enquanto a outra segura firmemente meus pulsos acima da minha cabeça.
“Olá, Gideon”, sussurrou asperamente em meu ouvido. “Sentiu a minha falta? Hoje vamos fazer o meu preferido. Vamos comer esse rabinho”.
Eu remexia meu corpo tentando me livrar de seu aperto, mas ele era pesado. Senti seu membro rígido roçar a entrada do meu ânus e me desesperei. Comecei a gritar por socorro, mas ninguém me ouvia.
“Calma, garoto”, disse ele soltando uma risada macabra. “Só aproveita. Eu sei que você gosta de dar pra mim. Eu sinto isso toda a vez que você goza”.
Ele estava prestes a me penetrar, no entanto, de repente, comecei a me sentir cada vez mais forte. Eu já não era mais uma criança indefesa. Eu tinha crescido. Eu era um homem. Num movimento rápido soltei meus pulsos e no segundo seguinte o imobilizei embaixo de mim. Era minha vez. Era hora do troco. Ele se debatia embaixo de mim e isso me incitava cada vez mais.
“Você ainda não sabe o que é dor. Mas vai descobrir já, já”, rugi em sua orelha.
Seu corpo paralisou e continuei investindo com força. Do nada senti um golpe duro na garganta que me fez engasgar e sentir muita dor.
“Caralho”, grunhi me afastando, completamente atordoado.
Em seguida senti uma joelhada em minha virilha que foi ainda pior.
Foi mais... Real.
Eu me encolho e caio para o lado. O susto me desperta. Quando tomo consciência do que está acontecendo vejo Eva se levantando do chão e correndo aos tropeços.
Não! Meu Deus! De novo, não!
“Eva”, grito sem fôlego. “Meu Deus. Eva. Espere!”
Mas ela não me escuta e sai porta afora.
Isso não pode estar acontecendo, não pode! Estava tudo tão bem! Eu sabia. Eu sabia que essa sensação de bem estar não duraria muito. O passado sempre levaria a melhor sobre nós. Sempre. E então escuto seus soluços, seu choro esganiçado ecoando por todo o apartamento, me matando por dentro. Sua reação é ainda pior do que da primeira vez. Eu a machuquei. De novo. Eu quis tanto protegê-la do perigo que a ronda, mas não a protegi do pior: do perigo que eu represento a ela. Dessa vez sinto que não tem volta. O DVD que Nathan me mandou trouxe a tona toda a dor e sofrimento que aquele desgraçado me causou, e, por causa dele, eu trouxe a tona para Eva todo o sofrimento que Nathan lhe causou. É tudo tão confuso, tão triste. Por mais que lutemos com todas as nossas forças, essa mancha negra em nosso passado sempre irá pairar sobre nosso presente e afetará irremediavelmente nosso futuro. Eu não queria que fosse assim, mas tenho que me afastar e mantê-la a salvo. Essa é minha prioridade.
Ligo a luz do quarto e os soluços param de repente. Ela está se escondendo, está com medo de mim. E a constatação disso me faz desabar. As lágrimas que eu queria liberar quando assisti ao vídeo vêm com toda força. Silenciosamente me dirijo ao closet de Eva, pego minha mala e coloco nela todas as minhas coisas. Dobro cada peça de roupa lentamente, guardo itens de higiene pessoal, meu laptop e alguns documentos. Visto uma camisa cinza, jeans claros e tênis, coloco minha carteira e meu celular nos bolsos da calça e pego meu chaveiro. Olho fixamente para as chaves do apartamento de Eva, pensando em tudo o que vivemos até aqui. Nunca pensei que dizer adeus fosse doer tanto. Retiro as chaves do meu chaveiro, pego a mala e sigo para a sala.
Meu coração se aperta ao vê-la encolhida no canto mais escuro da sala. Seu corpo treme violentamente e seu medo ante minha presença é nítido. Ela não se sente segura comigo, não mais.
“Eva? Meu Deus. Está tudo bem? Eu... machuquei você?” pergunto gaguejando. Eu prefiro morrer ao machucá-la.
Eu mal consigo olhá-la tamanha minha vergonha. O peso da minha desgraça se abate sobre mim. E o que mais me dói é saber que fui egoísta o bastante para continuar nessa relação mesmo sabendo que a qualquer minuto eu poderia fazê-la reviver seu passado monstruoso através do meu.
Deixo as chaves no balcão da cozinha e me encaminho para a porta. Assim que a fecho atrás de mim, meu corpo começa a sacudir violentamente na tentativa de conter o choro alto que ameaça escapar da minha garganta. Desço as escadas apressadamente e saio pelos fundos do prédio. Eu não quero cruzar com ninguém agora. Começo a correr pelas ruas do Upper West Side como um fugitivo. Eu preciso me afastar para o bem de Eva e para o meu próprio bem.

Beijos e até a próxima! 

Um comentário:

Unknown disse...

Aii q aflição! Ja estou ansiosa pelo próximo! Parabêns :-D