quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Profundamente Minha: Capítulo 12 — A sós

E aí pessoal! Preparados para mais um capítulo! Hoje tá bem romântico no melhor estilo Gideon e Eva. Espero que gostem! E muito obrigada por todo o carinho que vocês tem por essa história. Seus comentários e elogios são meu combustível para sempre me aprimorar cada vez mais!! Sem mais delongas, vamos lá! 
Boa leitura!


 “Eu quero amanhecer ao seu redor*”.
— Roberto Carlos

Depois que ela dormiu, saí de dentro dela e a puxei delicadamente para o meu colo. Seus braços se enrolaram em minha cintura e seu rosto ficou enfiado na curvatura do meu pescoço. Sua respiração estava leve, mas suas feições demonstravam seu cansaço. A noite tinha sido pesada para ambos.
Passei a viagem digerindo tudo o que aconteceu. Inconscientemente, Eva acabou fazendo comigo o mesmo que fiz com ela no jantar beneficente. Eu não tinha percebido o quanto eu a estava machucando com minhas atitudes. Mais uma vez agi pensando na minha própria conveniência, no meu próprio conforto. Mais uma vez fui um calhorda com ela, não levando seus sentimentos em consideração. Eu achava que não tinha nada demais, que era apenas um exagero, mas não. Senti na pele exatamente o que ela sente com a proximidade de Corinne.
Esse episódio me deu muito que pensar.
Você ama quem ama e não aceita menos que isso, não quer ter menos do que isso. Mas mesmo se Eva quisesse estar com Brett não significa que desistiria dela. Eu a quero para o resto da minha vida. Isso é algo que nunca vai mudar. E, francamente, eu não quero que mude. Tentei fugir do que sentia, me fiz acreditar que ela era mais uma foda conveniente, mas eu só mentia pra mim mesmo. Não quis aceitar o fato de que eu já não tinha mais para onde correr. Eu nunca deixei ninguém penetrar a barreira que construí durante a minha vida. Eva simplesmente a destruiu. Não fez esforço algum par chamar minha atenção, não precisou se jogar em cima de mim, forjar encontros ou me fazer engolir sua presença. Eu a quis no momento em que pus os olhos nela e, mesmo não admitindo, eu sabia que não haveria mais ninguém, não poderia haver mais ninguém. Só ela.
Pela primeira vez, eu me permiti... Sonhar. Com um futuro que não se resumisse apenas a mim mesmo. Nunca me imaginei casando e hoje eu vejo isso como um passo inevitável. Ser marido de alguém. Ser o marido de Eva. Sim... Isso soa muito bem pra mim. Só não soa melhor do que chamar Eva de esposa. E, quem sabe, num futuro meio distante, ser... Pai? Nossa, nisso eu realmente nunca pensei. Mas pode acontecer, não pode? Quer dizer, é o curso natura das coisas e...
Suspiro.
Essa mulher realmente me deixou muito mole.
O carro para de se movimentar. Volto minha atenção para Eva, que dorme pacificamente enlaçada a mim.
“Meu anjo”, sussurro em seu ouvido, “Acorda”.
Ela geme fechando os olhos com mais força e afundando ainda mais a cabeça em meu pescoço.
“Me deixa em paz, seu tarado”.
Solto uma risada silenciosa. Adoro até mesmo seu mau humor matinal. Dou um beijo estalado em sua testa e começo a levantar. “Já chegamos”.
Abotoo a calça e visto a camiseta preta novamente.
Ela olha pela janela e parece espantada por ver o mar.
“Onde estamos?” pergunta, admirando a passagem.
“Na Carolina do Norte”, respondo. “Levanta os braços”.
Ela obedece e coloco a regata nela.
“Preciso pôr o sutiã”, comenta já vestida.
“Não tem ninguém aqui além de nós, e vamos direto pra banheira”. Raul está no banco do motorista, com as janelas fechadas e a divisória de vidro escuro erguida para nos dar privacidade. Ordenei que ele usasse fones de ouvido e ficasse em total silêncio até que saiamos do veículo. Mas Eva não precisa saber disso.
Procuro sua saia e a acho debaixo do assento em frente ao nosso.
“Quanto tempo demorou a viagem?”
“Quase dez horas.” Envolvo suas pernas com a saia e ela se levanta, permitindo que eu a ajeite e suba o zíper. “Vamos lá”.
Desço da limusine e lhe estendo a mão. Eva pergunta se Angus dirigiu a noite toda e explico que houve uma troca de motoristas quando paramos no posto a fim de abastecer. Raul já estava a postos como eu havia instruído.
Sinto a brisa atingir meu rosto, balançando meus cabelos. O sol está alto no céu límpido, sem uma única nuvem, as ondas do mar levemente agitadas. Está tudo tão perfeito. É como estar num paraíso particular. Olho para Eva. Tê-la comigo assim, só para mim, é tão maravilhoso. Nada de barreiras, nada de interferências. Só nos dois.
Quando se vira para me encarar, tudo o que vejo em seus olhos é carinho, mas seu rosto se contorna levemente quando repara na mancha roxa abaixo do meu queixo. Ela estende a mão direita e a toca.
“Você está machucado em mais algum lugar?”, pergunta.
Agarro seu pulso e levo sua mão até meu coração. “Aqui”.
Uma ferida que está em carne viva. Eva a abriu e somente ela pode fechá-la.
“Eu sinto muito”, sussurra.
“Eu também”, beijo a ponta de seus dedos e a levo pela mão em direção a casa.
Abro a porta e entramos. Solto a mão de Eva para trancar a porta. Me viro e a vejo com um envelope em uma mão e uma chave na outra.
“A gente não vai precisar disso”, tomo a chave da sua mão e deixo na mesinha, perto da cesta de metal com o vinho. “Pelos próximos dois dias seremos eremitas”.
Ela me olha perplexa.
“Vamos”, digo, empurrando-a escada acima. “A gente abre esse vinho depois”.
“É verdade. Precisamos de café primeiro”.
A casa é uma contradição de bom gosto. Rústica por fora e moderna por dentro. As paredes de madeira são brancas e decoradas com fotos em preto e branco de conchas do mar. A mobília é toda branca, e a maior parte dos acessórios é de vidro e metal. Chega a ser um pouco chato tanta neutralidade. Pelo menos os tapetes sobre o piso de madeira nobre são coloridos e a vista para o mar é divina. Uma das coisas que gostei bastante quando vi fotos da casa foi a estante preenchida com um acervo de livros de capa dura. Eu sempre gostei muito de ler. Era uma verdadeira fuga da realidade e continuei com esse hábito enquanto estava na universidade. Infelizmente hoje já não disponho de tanto tempo para tal.
Mas o que realmente me agradou na casa foi a suíte principal. E parece que Eva compartilha da mesma opinião. Seus olhos curiosos brilham de felicidade quando encaram o espaço totalmente aberto, a não ser por duas colunas de sustentação. Buquês de rosas, tulipas e lírios brancos ocupam quase todas as superfícies disponíveis, até mesmo no chão, em algumas áreas estratégicas. No centro, uma enorme cama dossel coberta por lençóis de cetim. A vista para o mar é de tirar o fôlego.
“Você já esteve aqui antes?” ela olha para mim.
Estendo a mão e solto seu rabo de cavalo. “Não. Que motivo eu teria para vir aqui?”
O quarto do hotel — o extinto “matadouro” — foi o único lugar onde eu levei minhas parceiras sexuais além de Corinne. E aposto que isso passou pela cabeça dela.
Ainda bem que me livrei daquele lugar.
Acaricio seus cabelos com os dedos e seus olhos se fecham. Ficamos assim por alguns instantes. Lentamente desfaço nosso contato.
“Tire a roupa, meu anjo. Vou encher a banheira”.
Eu me viro para ir ao banheiro, mas sua pequena mão agarra minha camisa. Ao olhar para seu rosto eu percebo: ela está com medo de que eu me afaste.
“Não vou a lugar nenhum, Eva”, pego seu queixo com as mãos e encaro profundamente seus olhos. “Mesmo se você quisesse ficar com ele, isso não seria suficiente pra eu abrir mão de você. Eu te quero demais. Quero você comigo, na minha vida, na minha cama. Se não puder ter isso, nada mais importa. Aceito o que você quiser me dar, não sou orgulhoso”.
É a mais pura verdade. Se eu não pudesse tê-la por inteiro, eu me contentaria com a metade, desde que ela estivesse comigo.
Ela se atira sobre mim, me rodeando com seus braços, como se para ter certeza que ainda estou aqui. Sua profunda necessidade da minha presença reflete exatamente a minha obsessão dela. Suas mãos agarram firmemente minha camiseta.
 “Meu anjo”, sussurro, abaixando a cabeça e colando meu rosto ao seu. “Você também não consegue ficar longe de mim”.
E isso é muito reconfortante.
Eva ainda está emocionalmente abalada com o que aconteceu ontem, assim como eu. Assumindo minha tarefa de cuidar dela, eu a tomo nos braços e a levo comigo.
/***/
Apenas quando entrei na banheira me dei conta do quanto estava cansado. Quase rosnei de prazer ao sentir a água morna em minha pele. Eva veio em seguida. Seu corpo estava todo tenso e tratei de modificar isso no minuto seguinte, lavando seus cabelos e seu corpo.
Agora ela parece mais relaxada, com as costas apoiadas em meu peito de olhos fechados, enquanto acaricio cada pedacinho da sua pele. Por onde meus dedos passam seus pelinhos dourados se arrepiam. Eu não quero estragar esse momento de paz, mas preciso saber mais sobre o que ela e Brett tiveram. Nas minhas pesquisas sobre sua vida, não havia sinal dele. Foi uma surpresa, muito desagradável devo ressaltar, e eu odeio ser pego desprevenido, embora tenha sido necessário para me fazer enxergar a verdade.
Sutilmente, me preparo para saber a verdade.
“Me conta sobre ele”, murmuro, abraçando-a pela cintura.
Talvez não tão sutilmente assim.
Ela respira fundo. “Primeiro me diz se ele está bem”.
Bom, ela se preocupa com ele. Eu não daria a mínima se tivesse deformado aquela cara de bad boy maltrapilho. A ideia é bem atraente.
“Não sofreu nenhum ferimento grave”, digo com indiferença. “Você se importaria se ele estivesse muito machucado?”
“Claro que me importaria”, meus dentes rangem. Ele é mais importante do que eu pensava. Preciso de mais informações.
“Quero saber sobre vocês dois”, exijo.
“Não.”
“Eva...”, advirto.
“Não fale assim comigo, Gideon. Estou cansada de ser um livro aberto enquanto você guarda um monte de segredos”. Ela vira a cabeça para o lado e apoia a bochecha em meu peito. “Se tudo o que você tem a me oferecer é seu corpo, eu aceito. Mas não vou dar mais nada em troca”.
“Ou seja, você não quer. Vamos tentar ser...”.
“Eu não consigo”. Ela se inclina para frente para poder se virar e me encarar. “Olha só o que está acontecendo comigo! Eu magoei você ontem à noite. De propósito. Sem nem me dar conta disso, porque estava remoendo um ressentimento terrível enquanto tentava me convencer de que consigo viver sem saber de todas essas coisas que você não quer me contar”.
 “Estou me abrindo com você, Eva!” me sento e abro os braços em exasperação. “Você age como se não me conhecesse... como se tudo se resumisse ao sexo... mas você sabe mais sobre mim que qualquer outra pessoa”.
“Vamos falar sobre o que eu não sei. Por que você é praticamente o dono da Vidal Records? Por que odeia a casa em que foi criado? Por que tem uma relação tão distante com sua família? O que você tem contra o doutor Terrence Lucas? Aonde tinha ido naquela noite em que tive um pesadelo? O que está por trás dos seus pesadelos? Por quê...”.
“Já chega!”, grito irritado, passando as mãos pelos meus cabelos molhados. Inferno! Será que ela não entende? Eu não quero afastá-la, eu não posso. A verdade é repugnante demais e ela já fugiu tantas vezes de mim! Só a ideia disso me deixa a beira do desespero.
Ela se recosta na banheira e me observa.
“Você devia saber que pode me contar qualquer coisa”, diz baixinho.
“Ah, posso?” Lhe lanço um olhar penetrante. “O que sabe já não é suficiente para atormentar você? Quanto mais é capaz aguentar antes de sumir de vez da minha vida?”
Ela apoia os braços nas bordas da banheira, encosta a cabeça e fecha os olhos. “Muito bem, então. Vamos ser meros companheiros de cama que discutem uma vez por semana na terapia. Que bom que esclarecemos isso”.
“Eu trepei com ela”, confesso. “Pronto. Está feliz agora?”
Ela se senta tão rapidamente, derramando água da banheira. “Com Corinne?”
“Não, porra”, digo irritado. “Com a mulher de Lucas”.
“Ah...”, ela diz pensativa, mas claramente aliviada “Ela é ruiva”.
“Minha atração por Anne se baseava inteiramente na relação dela com Lucas”.
Ela franze a testa, confusa. “Mas você e o doutor Lucas já tinham uma inimizade antes desse lance com a mulher dele? Ou começou por causa disso?”
Merda, eu odeio falar disso. Ter que trazer a luz aquelas memórias obscuras.
Apoio o cotovelo na borda da banheira e esfrego o rosto. “Ele me afastou da minha família. Só retribuí a gentileza”.
“Você fez com que eles se separassem?”
“Fiz com que ela quisesse a separação”. Suspiro, tenso. Então lhe conto a verdade editada, claro, mas as memórias daquilo vêm claríssimas à minha mente.

Flashback
Eu estava completamente distraído, para não dizer entediado naquele evento. Era uma festa de gala para comemorar a inauguração de um novo hospital. Sei que poderia soar insensível, mas era como eu me sentia. Quando eu estava quase indo embora, aquela belíssima ruiva veio falar comigo, se apresentando como Anne. No início não dei muita bola para o que dizia, pelo menos não até ela mencionar o fato de ser esposa do Lucas. Então, movido pelo ódio que sentia por ele e sabendo que ficaria arrasado quando soubesse que me envolvi com sua mulher, acabei jogando meu charme e não precisei me esforçar muito. No fim da noite, fomos para o quarto de hotel que eu mantinha e transamos. Eu a levei para casa assim que terminamos. Era para ser só daquela vez. Mas, não sei como, ela descobriu meu telefone e me ligou no dia seguinte. E uma ideia passou minha mente: porque não fazer o doutorzinho sentir o gosto do próprio veneno? Seria interessante pagar na mesma moeda, vê-lo se sentir traído e abandonado, exatamente como eu fiquei. Sua decepção seria pior, porque ele saberia que a decisão de continuar o caso partira dela.
Então deixei acontecer. A gente se encontrava toda a semana, de duas a três vezes, sempre nos dias de plantões dele. Era a mesma rotina: depois do trabalho, eu a buscava em seu consultório e a levava para o hotel, passávamos horas trepando e depois eu a deixava em casa. Lucas saía sempre no mesmo horário em que ela encerrava o expediente, dessa forma, os dois nunca se encontravam em casa. Às vezes ele ligava, interrompendo nosso momento, mas ela procurava passar o menor tempo possível no telefone.
Com o tempo, fui percebendo que Anne estava diferente, parecia alegre demais quando me via, ignorava deliberadamente os telefonemas do marido e queria passar mais tempo comigo. Foi então que, numa noite, ela me pegou de surpresa:
“Eu tenho uma coisa pra te contar”, ela disse mal contendo a felicidade.
“O quê?” franzi o cenho. Durante todo o caminho até o hotel ela estava assim.
“Vou deixar o Lucas”.
Minha boca se escancarou pelo choque.
“Por quê?”
“Ora, como por quê? Pra ficarmos juntos”, ela disse como se fosse óbvio. “Esses meses me mostraram que meu casamento era uma farsa completa. Não sou mais a mesma Anne de dez anos atrás. Eu posso dizer, finalmente, que me sinto viva, feliz e você é o motivo disso. Quero ficar com você”.
Fiquei estático. Não, não era para ser assim. Eu não a queria dessa forma. Ela era só um meio para me vingar de Lucas, nada mais.
“Anne, você está confundindo as coisas. O que temos é só sexo,”. Eu disse me afastando.
Sua expressão de felicidade caiu na hora.
“Mas... Você sempre diz que me quer, sempre faz amor comigo de forma tão apaixonada, a gente sempre deu tão certo e...”.
 “Não é assim pra mim”, digo me levantando da cama e vestindo minha boxer. “O que você queria que eu dissesse? Que eu te odiava e que não te queria? Pelo amor de Deus, nós estávamos transando. No calor da excitação é comum dizer esse tipo de coisa, mas é só isso”.
Seus olhos se enchem de lágrimas. “Gideon, não! Por favor, não faça isso. Eu entendo que você não sinta o mesmo por mim, mas eu posso fazê-lo sentir, só me dê um tempo pra...”.
“Nós temos um caso há meses e eu nunca senti nada por você, o que mudaria mais algum tempo? Eu não quero isso. Não se separe do seu marido. Tente salvar seu casamento. Eu não posso dar o que você quer”. A essa altura, eu já estava vestido.
Ela se ajoelhou e começou a chorar desconsoladamente.
“Não! Não Gideon, por favor, não! Eu posso ser o que você quiser. Não precisa me amar, só fique comigo. Eu aceito o que quiser me dar, só não me abandone, por favor, eu preciso de você!”
Aquilo apertou meu coração, mas eu não podia titubear. Abaixei-me para que meu rosto ficasse na altura do seu.
“Anne, volte para o seu marido. Acabou. Angus a levará para casa”, em seguida me levantei e saí do quarto.
Desde aquele instante, eu nunca mais a vi. Angus me contara que ela rejeitou a carona e foi embora de táxi. Uma semana depois, Lucas veio tirar satisfações comigo, mas eu lhe lembrei do que ele fez contra mim e que aquilo era apenas o troco.
“Você já comprou o prédio onde tenho meu consultório, infernizou meu cunhado a ponto de fazê-lo se matar. O que mais você quer? Se queria me atingir, que fizesse isso diretamente e não usasse Anne. Ela não tem nada a ver com nossas diferenças. Você foi um monstro, Cross! Você a destruiu! E fez jus a tudo o que passou! Fique longe dela!”
Pela primeira vez na minha vida, eu senti remorso.
Fim do Flashback

Estou completamente envergonhado. Eva me encara de um jeito...
“Diga alguma coisa!”, grito não suportando seu silêncio.
“Ela achou que você estava apaixonado?”
“Não. Porra, posso até ser um canalha por ter comido a mulher de outro, mas nunca prometi nada. Queria atingir Lucas através dela, não esperava esse efeito colateral. Se fosse hoje, não teria deixado a coisa chegar a esse ponto”.
“Gideon”, suspira e sacode cabeça negativamente.
Porque ela está assim agora? Vai me recriminar?
“O quê? Por que você disse meu nome desse jeito?”
“Porque você é ingênuo demais para a inteligência que tem. Você dormiu com essa mulher um monte de vezes e ainda fica surpreso por ela se apaixonar?”
“Deus”. Jogo a cabeça para trás com um grunhido. “Lá vem você de novo com essa história”.
Eva me enfeita demais, acha que sou perfeito. E isso me deixa inesperadamente colérico. De forma abrupta, me endireito na banheira e olho diretamente nos seus olhos.
 “Quer saber de uma coisa? Pode continuar pensando que eu sou um presente de Deus para as mulheres, meu anjo. Vou ficar mais tranquilo se você achar que nunca vai conseguir encontrar alguém igual a mim”.
Em resposta ela joga água em mim. Eva detesta quando desdenho da minha aparência, mas a verdade é que nós dois somos muito parecidos nesse aspecto.
Inclino-me para frente e seguro suas mãos exigindo que ela me fale sobre seu relacionamento com Brett Kline.
“Você não me contou o que o doutor Lucas fez pra te deixar tão irritado”, desconversa.
“Contei, sim”.
“Não em detalhes”, argumenta.
“É sua vez. Desembucha”.
Eva fica em silêncio por um tempo, como se estivesse pensando no que dizer, mas aguardo pacientemente. Eu não a deixarei sair dessa banheira enquanto não me contar.
Depois de uma longa pausa ela solta. “Para Brett eu era só uma transa fácil e garantida, e aceitei essa situação, me sujeitei a um monte de coisas por isso. Nessa época, o sexo era a única forma que eu conhecia de me sentir amada”.
“Ele fez uma canção de amor pra você, Eva”, relembro.
Ela olha para o outro lado. “Mas a verdade sobre nós daria uma música nem um pouco romântica, sabia?”
“Você era apaixonada por ele?” pergunto com a respiração travada em meus pulmões.
“Eu... não”. Solto um suspiro audível de alívio. “Eu sentia atração por ele, pelo jeito como cantava, mas era uma coisa totalmente superficial. Nem conhecia o cara direito, na verdade”.
Meu corpo relaxa visivelmente. “Então era meio que... uma fase? É isso?”
Ela assente com um aceno de cabeça e tenta soltar suas mãos das minhas. Parece extremamente envergonhada pela sua confissão. Suas bochechas vermelhas e sua forma de evitar meu olhar só reforçam isso.
“Vem cá”, eu a pego pela cintura, a puxo de encontro ao meu peito novamente e acaricio suas costas. “Não vou mentir pra você. Tenho vontade de encher de porrada todos os homens que passaram pela sua vida e seria bom se você os mantivesse bem longe de mim, mas nada a respeito do seu passado vai mudar o que sinto por você. Além disso, sei que também não sou nenhum santo...”.
“Eu queria esquecer tudo isso”, murmura. “Não gosto de me lembrar da pessoa que já fui”.
Apoio o queixo em sua cabeça. “Eu sei como é. Por mais que me lavasse depois de transar com Anne, nada era capaz de impedir que me sentisse sujo”.
Sinto seus braços rodeando minha cintura e me apertando num sinal de ela não só me entende como quer me reconfortar. E, pela primeira vez em anos, eu me sinto mais seguro.
/***/
Quando vi aquele robe de seda branca na loja, a primeira coisa que pensei é que Eva ficaria muito gostosa nele. E de fato, eu estava coberto de razão.
“Por que você tem direito a roupas e eu só ganho um robe?” pergunta ao ver que estou vestindo a calça de seda preta.
 “Porque fui eu que providenciei tudo”.
“Sem-vergonha”.
“É só uma forma de facilitar o cumprimento de suas demandas sexuais insaciáveis”, justifico.
Minhas demandas insaciáveis?” Ela vai até o banheiro. “Eu lembro claramente de implorar pra você parar ontem à noite. Ou foi hoje de manhã?”
Vou atrás dela e paro no vão da porta a observando tira a toalha da cabeça. “Você vai implorar para eu parar hoje à noite também. Mas agora vou fazer o café”.
Assim que viro de costas e começo a fazer meu caminho para a cozinha ouço sua voz. “Gideon! Você está machucado! Me deixa ver isso!”
“Eu estou bem”, eu respondo já do meio da escada. “Não precisa exagerar”.
Aposto meu braço direito que ela está, nesse exato momento, se martirizando pelo que aconteceu.
Enquanto preparo nosso café, fico pensando no tamanho do meu sofrimento ao vê-la com Brett. Sinto-me aliviado em saber que ela não o amou, mas não sou ingênuo a ponto de não perceber que há um resquício de sentimento. Não que isso me afete, é normal se ter um carinho por alguém que tenha sido tão importante em sua vida, como o que sinto por Corinne, mas é só e não me afeta em nada. Assim como não posso ignorar nossa história, Eva não pode simplesmente fingir que a dela com Brett não existiu. Mas ainda assim, não quero dar chances para esse carinho virar algo maior. Por mais que agora eu esteja seguro do amor de Eva por mim, ainda há muitas coisas entre nós. A determinação que vi nos olhos de Brett em querê-la de volta não me preocupa, uma vez que já tenho uma boa vantagem em cima dele. Claro que ele vai tentar entrar em contato, se reaproximar, implorar por uma chance, mas agora tudo é diferente. Eu consigo enxergar as coisas com mais clareza, e tenho a absoluta certeza de que ele não tem chance com Eva.
Ouço passos incertos descendo as escadas, mas fico surpreso em ouvi-los se afastar. Ela está se martirizando pelo que fez e só isso é motivo suficiente para eu entender que o desejo de beijá-lo partiu da necessidade de me colocar em seu lugar para sentir o que ela sentia.
Termino de preparar nossos cafés, guardo os utensílios e pego as duas canecas fumegantes. Não preciso dar mais do que alguns passos para vê-la. Está debruçada sobre o gradil do deque. O vento balançando seus cabelos molhados, a luz do sol refletida no tecido do robe produz um efeito maravilhoso de brilho.
Linda. E minha.
Só minha.
Abro a porta de vidro e ela me encara um sorrido forçado. Sério que a intenção dela é passar felicidade? Porque poderia dar certo com os outros, mas não comigo.
“Pare de se torturar”, digo sério colocando as duas canecas sobre o gradil.
Ela suspira derrotada.
Pego seu rosto entre as mãos e a encaro. “Esse assunto está encerrado. Esquece isso”.
Sinto seus dedos passeando pelo lugar onde Brett me socou e deixou o hematoma.
“Isso precisava acontecer”, eu digo e sua boca se abre pra retrucar, mas eu a corto. “É sério. Fica quieta e me escuta. Acho que entendi o que você sente em relação a Corinne. Sinceramente, achava um exagero da sua parte. Mas estava errado. Agi como um imbecil egoísta”.
“Mas eu estou mesmo exagerando. Não tenho por que odiá-la tanto assim. Não consigo pensar nela sem sentir impulsos violentos”, tenta se explicar.
“Agora eu entendo isso. Antes não entendia”, dou um sorriso amarelo. “Às vezes só um evento dramático é capaz de me ensinar a ver as coisas de outro jeito. Por sorte, você é muito boa nisso”, brinco numa tentativa de aliviar o clima.
“Não tenta amenizar as coisas, Gideon. Você podia ter se machucado feio por minha causa”.
Ela faz menção de se virar, mas eu a pego pela cintura. “Eu me machuquei feio por sua causa, sim. Ver você abraçada com outro cara, beijando a boca dele... Aquilo acabou comigo, Eva. Cortou meu coração e me deixou sangrando. Parti para o ataque como uma forma de autodefesa”.
“Nossa”, ela diz quase sem fôlego. “Gideon”.
“Estou com muita raiva de mim mesmo por não ter entendido o que você sente por Corinne. Se um beijo já foi capaz de me fazer sentir daquele jeito...”.
Só de pensar nisso meu peito dói. Eu a abraço com força, colocando um dos braços em seu quadril e o outro em suas costas a fim de agarrar sua nuca com a mão. Eu não posso perdê-la, eu não suportaria.
“Se você me traísse”, continuo com a voz embargada, “acho que eu morreria”.
Ela beija meu pescoço. “Aquele beijo idiota não significou nada. Aliás, significou menos do que nada”.
Como ela pode dizer algo assim? Seus beijos não são apenas manifestações físicas de desejo. É no nosso contato físico que sinto a dimensão do nosso amor, que tenho a certeza de que sou amado de volta.
Agarro seus cabelos e puxou sua cabeça para trás. “Você não sabe o que seus beijos significam pra mim, Eva. Não dá para sair beijando outra pessoa e dizer que foi só uma coisinha idiota...”.
Abaixo a cabeça e junto meus lábios nos seus. O beijo começa suave e doce. Dou leves lambidas em seu lábio inferior, provocando de leve. Sua boca se abre para ampliar o contato e eu viro a cabeça para o lado enfiando a língua nela, fazendo movimentos rápidos, mas não muito profundos. Eu necessito dessa sensação maravilhosa que toma conta de mim sempre quando nos beijamos. Eu preciso sentir que estamos na mesma sintonia, preciso sentir o seu amor e, mais do que isso, eu quero que ela sinta o meu.
Seus dedos se emaranham em meus cabelos molhados aproximando mais o meu rosto a fim de intensificar o contato. Eu simplesmente amo quando ela faz isso. Sugo a sua língua e ouço seu gemido de deleite em resposta. Quanto mais nos tocamos, maior se torna minha sede por ela, pelo seu gosto. Seu corpo treme na prisão de meus braços e se aproxima ainda mais do meu. A tensão toma conta de nós e o que era para ser um beijo romântico, se transforma em um beijo ardente, sensual. Os gemidos dela se intensificam. Nossas línguas numa dança alucinante que atiça nossos sentidos, leves mordidas nos lábios que nos tiram do eixo. Por mais que nossos pulmões precisem de ar, nenhum de nós se afasta. Não dá para parar, é impossível parar. Suas arfadas e gemidos de tesão causam um efeito catastrófico em meu corpo, seus lábios me atacando de forma lasciva. Meu membro está cada vez mais duro, inchado e anormalmente quente. Posso sentir o pulsar das veias por baixo da pele sensível.
Sinto minha respiração ficar mais profunda e áspera, misturando-se à dela. Cada um de nós procurando aprofundar mais o contato. Estou completamente entregue, exposto e vulnerável ao seu toque. O calor que emana de sua pele nubla os meus sentidos, me fazendo esquecer até mesmo meu nome. Meus lábios já estão inchados e sensíveis, meu maxilar um pouco dormente, mas sou incapaz de interromper esse momento. Eu quero devorá-la, sugar tudo o que puder. Tomar tudo o que ela tem a me oferecer. Minhas mãos percorrem suas costas avidamente. Um grunhido escapa de minha garganta, um aviso de que a necessidade de chegar ao clímax está crescendo.
Desamarro o cordão de seu robe, enfiando as mãos por entre suas metades abertas para agarrar seus quadris e encravo os dentes em seu lábio inferior, para depois acariciá-lo com a língua. Ela geme em resposta, exigindo mais. Agarro suas nádegas e a puxo para cima de mim, minha ereção por baixo da calça pulsa e queima em sua barriga. Interrompo o beijo para tomar fôlego e em seguida ataco seus lábios novamente, com ferocidade. Estou quase lá.
Um tremor violento perpassa meu corpo e solto um rugido e começo a remexer os quadris. O gozo vem com força, me deixando atordoado pela gama de emoções. Solto um ruído atormentado encharcando a seda do pijama. Nunca tive um orgasmo somente com um beijo. Eva geme alto, sem descolar seus lábios dos meus. Estou completamente inebriado e, ao mesmo tempo, abalado.
Aos poucos eu a afasto, ofegante.
“Seus beijos são meus”, minha voz sai rouca e possessiva.
“Sim. Gideon...”, ela sussurra fragilizada.
Eu me ajoelho, coloco-a encostada no gradil, separo suas pernas e a chupo com ferocidade até ouvi-la gritar meu nome e sentir seu prazer líquido e morno escorrer por minha garganta.
/***/
Depois disso, tomamos uma ducha e aproveitamos para cochilar pelo resto da manhã a fim de repor as energias. Quando acordamos, fomos à cozinha preparar sanduíches, eu estava com fome, mas Eva parecia estar a séculos sem comer. Ela tem um baita.
Arnoldo estava coberto de razão. É tão bom vê-la comer. Pode não parecer nada, mas para mim é uma experiência muito interessante.
“Que foi?”, ela pergunta entre uma mordida e outra.
“Arnoldo tem razão. É divertido ver você comer”.
“Ah, cala a boca”.
Meu sorriso fica ainda maior ao ver suas bochechas enrubescerem. Eu já mencionei que ela fica adorável quando está corada?
Conversamos um pouco sobre a casa e quando termino de explicar algo sobre a viagem reparo que ela está divagando. Seus olhos estão brilhantes, suas bochechas ainda mais vermelhas. Um sorrisinho estampa seus lábios enquanto ela mastiga. Ah, mas eu conheço essa expressão.
“Você está com uma carinha de quem quer trepar...”, comento. “E depois vem dizer que o tarado sou eu”.
“Desculpa”, pede sem graça.
“Não foi uma reclamação”.
“Acho que Arnoldo não gostou muito de mim”.
Ergo as sobrancelhas. Mas que porra é essa?
“Você está com a maior cara de tesão e estava pensando em Arnoldo? Vou ter que dar uma surra nele também?”
Ela arregala os olhos. “Não. Que coisa... Só falei nisso pra desviar o foco do sexo, e porque é uma coisa sobre a qual precisamos conversar”.
Dou de ombros. “Falo com ele”.
“Acho que quem precisa fazer isso sou eu, na verdade”.
Eu a encaro curioso. Aposto que ele deve ter dito algo. “E o que você vai dizer?”
“Que ele tem razão. Que eu não mereço você e que pisei na bola. Só que estou apaixonada demais e preciso de uma chance pra provar que posso te fazer feliz”.
Bingo. Arnoldo e sua típica postura protetora de irmão mais velho. Claro que ele iria me defender, mesmo que eu já tenha idade para isso. Mas, por mais que eu seja sempre grato por sua amizade e lealdade, não queria que Eva tivesse que escutar isso, apesar de entender a postura dele. Eu faria o mesmo.
“Meu anjo, se eu fosse mais feliz do que você me faz, viraria uma pessoa disfuncional”. Pego sua mão e beijo a ponta de seus dedos. “Não interessa o que os outros pensam. A gente tem nosso próprio ritmo e está contente com ele”.
“Você está mesmo contente?” Ela pega sua garrafinha de chá gelado de cima da mesa e dá um gole. “Sei que tudo isso é bem desgastante pra você. E se essa dureza toda for mais do que a gente é capaz de suportar?”
“Essa sua conversa é bem sugestiva...”, digo arqueando as sobrancelhas, tentando quebrar essa aura de insegurança.
“Ai, meu Deus”, ela dá risada. “Você é terrível”.
Consegui! Comemoro internamente.
 “Não é isso que você costuma dizer”, continuo me divertindo com a situação.
Ela balança a cabeça e volta sua atenção para o sanduíche.
Sem me conter, confesso uma verdade que há muito vem sendo uma constante em minha vida desde que ela apareceu.
“Prefiro brigar com você, meu anjo, a rir e me divertir com qualquer outra pessoa”.
Ela demora uns instantes a mais para engolir o último pedaço de sanduíche. Quando finalmente consegue, ela dá um sorrisinho.
“Você sabe, não é? Que te amo de paixão?” seus olhos brilham de emoção.
Eu sorrio de volta, meu peito se enchendo de calor. “Eu sei”.
Depois de limparmos a sujeira do almoço, Eva diz que precisa dar seu telefonema semanal para o pai.
Sacudo a cabeça. “Sem chance. Você vai ter que esperar até segunda”.
“Hã? Por quê?” arregala os olhos.
Eu a encurralo no balcão, posicionando as mãos em torno dela e aviso que não tem telefone.
 “Sério? E o seu celular?”
“Está a caminho de Nova York, com a limusine. Estamos sem internet também. Mandei tirar o modem e os telefones antes de chegarmos”.
Ela me olha surpresa e pergunta. “Uau. Quando foi que a última vez que você ficou incomunicável desse jeito?”
“Hum...”, paro pra pensar. “Acho que nunca fiquei”.
“Deve haver pelo menos meia dúzia de pessoas surtando por não conseguir falar com você”, diz ainda aturdida.
Dou de ombros, despreocupado. “Elas se viram”.
Nossa relação é muito mais importante. Eva sempre vem em primeiro lugar.
“Então vou ter você todinho só pra mim?” ela me olha safada.
“Exatamente”. Abro um sorriso malicioso. “O que vai querer fazer comigo, meu anjo?”
Ela sorri de volta bem animada. “Vou pensar em alguma coisa, pode ter certeza”.
/***/
E quando eu estava bem achando que íamos trepar até cansar, ela me vem com a ideia de andar pela praia. Não que tenha sido uma ruim, muito pelo contrário, adoro esse lugar, mas eu tinha muitas coisas perversas em mente. Ela vestiu uma das minhas calças de pijama e enrolou até as canelas e colocou aquela regatinha branca indecente. E tenho que admitir que fiquei muito contente em ver aqueles biquinhos endurecidos sob o pano da roupa.
“Acho que morri e fui para o paraíso”, comento, olhando para seus peitos enquanto caminhamos pela areia, “onde a encarnação de todas as minhas fantasias masturbatórias de adolescência existe de verdade e é toda minha”.
Ela bate no meu ombro com o dela. “Como é que você consegue passar de deliciosamente romântico para tarado e grosseiro em tão pouco tempo?”
“Esse é mais um dos meus talentos”. E meus olhos voltam para meus mamilos. Salve brisa do mar!
Aperto sua mão e solto um suspiro meio dramático de felicidade. “Estou no paraíso com meu anjo. Não existe nada melhor que isso”.
E não tem. Realmente devemos ficar sozinhos mais vezes. A vontade que eu tenho é de sumir com ela do mapa. A realidade está tão distante de nós agora, que nem parece nossa. O estresse de outrora foi definitivamente esquecido. Desde que comecei a batalhar pela minha riqueza eu não parei um segundo para relaxar. A última vez que tinha feito isso, eu estava na Itália com Arnoldo, ou seja, faz mais ou menos 10 anos.
É. Eu sou um viciado em trabalho.
Ao olhar para Eva percebo seu rosto relaxado, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.
“Você gostou daqui”, digo.
Ela fala que sempre gostou de ficar perto da água e comenta uma lembrança que tem de uma propriedade perto do lago que pertencia ao segundo marido de sua mãe.
“... sempre pensei em comprar uma casinha perto da água pra mim algum dia”.
Solto sua mão e a abraço pelo ombro. “Então vamos fazer isso. Que tal essa casa em que estamos? Você gostou?”
“Está à venda?”
Olho para a praia já pensando em falar com o proprietário. “Tudo no mundo está à venda. Basta pagar o preço”.
“E você gostou?”
“Ela é meio morta por dentro, com todo aquele branco, mas gostei da suíte principal. O resto nós podemos mudar e deixar do nosso jeito”.
“Nosso jeito”, ela repete pensativa. “Seria um grande passo comprar um imóvel juntos”.
“Um passo inevitável”, eu corrijo. “Você mesma disse para o doutor Petersen que não vamos desistir um do outro”.
“É, eu disse mesmo”.
Caminhamos um pouco em silêncio. Realmente, a possibilidade de dividir um lugar com Eva me anima. E essa casa tem sido um paraíso particular para nós dois. Porque não comprar? Eu quero ter tudo o que tenho direito com ela. E isso só alimenta a ideia que pretendo por em prática em breve.
“Então posso deduzir que você também gostou daqui, certo?” sua voz me desperta.
“Gosto de praia”, retiro uma mexa de cabelo do rosto. “Tenho uma foto minha e do meu pai fazendo um castelo na areia”.
Ela faz uma pequena pausa. “Eu gostaria de ver”.
“Está com minha mãe”, ela ainda guarda essa foto como uma lembrança do que nossa família fora antes de tudo desmoronar. “Eu pego pra você”.
“Posso ir junto”, oferece.
Não, eu não suportaria vê-la ali novamente. Foi demais para mim da primeira vez. Respiro profundamente.
 “Posso mandar alguém buscar”.
“Tudo bem” ela beija minha mão apoiada em seu ombro. “Mas minha oferta continua de pé”.
Ficamos mais um tempo em silêncio.
“O que você achou da minha mãe?”, pergunto de repente.
Não sei por que, mas esse assunto vindo à tona me motivou a querer saber a opinião dela. Além disso, é uma forma de mostrar que estou disposto a me abrir de verdade.
Eva diz que a acha bonita, elegante, agradável. Nisso eu concordo. Elizabeth Vidal é uma belíssima mulher. Eu tive de quem puxar a aparência.
“Ela parece te amar muito. Dava pra ver nos olhos dela”, emenda.
“Esse amor não foi suficiente”, disparo. Eu não senti esse amor quando mais precisei. Até hoje ela não acredita em mim.
Eva perde o fôlego, parecendo horrorizada. “Por que não foi suficiente, Gideon?”
Só de me lembrar daqueles momentos, meu maxilar trava. Meu peito se expande em um suspiro profundo. “Ela não acreditou em mim”.
Eva para de caminhar e se vira para mim. “Você contou para ela o que aconteceu? E ela não acreditou?”
Ainda preso naquelas lembranças tento desconversar. Não quero falar sobre isso. Não importa mais, não é? É muito tarde para tentar reparar o irreparável.
“Claro que importa. Importa muito”, ela diz furiosa. “Aposto que ainda dói um bocado”.
Abaixo os olhos para ela. Não queria deixá-la estressada, essa viagem é para relaxarmos, não ficar remoendo coisas desagradáveis.
“Olha só você, toda irritada e chateada. Eu não devia ter dito nada”.
“Você devia ter me contado isso antes”.
A tensão em meus ombros cede, e abro um meio sorriso desanimado. “Na verdade eu não te contei nada”.
“Gideon...”.
“Mas é claro que você acredita em mim, meu anjo. Já dividiu a cama comigo”, digo mudando o foco da conversa.
Ela pega meu rosto com as mãos e olha no fundo dos meus olhos. “Eu acredito em você”.
Essas palavras vindas dela me desarmam. Eu devo ter feito algo de bom em algum momento para merecê-la, embora no fundo eu acredite que não. Acho que dei sorte, muita sorte.
Eu a abraço com força. “Eva”.
Ela enlaça minha cintura com as pernas e meus ombros com os braços. “Acredito em você”.
Eu me pego implorando silenciosamente para que eu não a perca.
Ficamos abraçados por um bom tempo. Reparo que a maré está subindo e começo a ir em direção à casa com ela nos braços. Assim que entramos a coloco no chão e vou até a cozinha abrir um vinho. Retorno à sala e a vejo sorridente com um livro nas mãos.
“Coincidência ou não, a série que me inspirou a te chamar de garotão enfeita essa instante”.
Abro um meio sorriso. “Então eu vou conhecer o personagem que você acha um tesão?”
Ela balança a cabeça afirmativamente e morde o lábio interior, parecendo bem empolgada com isso. Nos deitamos no sofá e ela começa a ler em voz alta enquanto brinco com seu cabelo. Escuto sua voz, mas não presto muita atenção na história. Minha mente trabalhando freneticamente.
Quando voltarmos para Nova York não será apenas para a vida real, mas para uma verdadeira selva, onde nada é seguro, nada é calmo, onde tudo se transforma num segundo. Nossa relação ainda está na corda bamba. Estamos dando os primeiros passos. Tudo isso é muito novo para nós. Lutamos todos os dias contra a torrente de problemas que aparecem para nos atrapalhar, para testar nossos limites. E por isso, me sinto mais determinado do que nunca a seguir com meus planos. Essa decisão afetará permanentemente as nossas vidas, mas eu não consigo me arrepender disso. No fim, tudo valerá a pena.
Quando a maré sobe, chegando de fato até debaixo da casa, escutamos o barulho e nos encaminhamos para o deque. Assistimos ao vai e vem das ondas que transformaram a casa em uma ilha.
 “Vamos derreter chocolate e comer com marshmallow”, sugere, inclinando-se no gradil quando abraço por trás. “A gente pode acender aquela lareira”.
Hum... Acho que podemos melhorar isso.
Mordo sua orelha. “Prefiro lamber o chocolate derretido do seu corpo”.
Ela estremece.
“Não vai me queimar?”
“Não se a gente fizer direito”.
Quando ela se vira para me encarar, eu a coloco sentada no gradil. Me posiciono entre suas pernas e a abraço pelos quadris.
Ficamos um tempo encarando o pôr do sol. A brisa sempre nos rodeando, nos embalando num clima de paz.
Eva acaricia meus cabelos com os dedos.
“Você chegou a falar com Ireland?” pergunta.
Ah, de novo esse papo?
“Não”, murmuro.
“Que tal você levá-la pra jantar lá em casa quando meu pai estiver na cidade?”
Ahn?
Inclino a cabeça para observá-la melhor. “Você quer que eu convide uma menina de dezessete anos pra jantar comigo e com seu pai?”
“Não, quero que minha família conheça a sua”.
“Ela vai ficar entediada”, argumento.
 “Como é que você sabe?”, pergunta em desafio. “Acho que sua irmã idolatra você. Com um pouquinho de atenção da sua parte, ela tem tudo pra ser uma ótima companhia”.
 “Eva”, suspiro cansado. “Cai na real. Não tenho a menor ideia do que conversar com uma adolescente”.
“Ireland não é uma garota qualquer, ela é sua...”.
“Mas é como se fosse!” franzo o cenho irritado. Quer dizer eu não saberia lidar com ela. Sempre mantive outro tipo de relação com as mulheres. Mas Ireland é minha irmã. Como se relaciona com uma irmã? E ainda por cima adolescente!
“Você tem medo dela”. Eva diz como se tivesse feito uma grande descoberta.
“Ah, qual é?!”, ironizo. Droga, ela me conhece melhor do que ninguém.
Quer dizer eu não tenho medo, só... Receio. Mas nem morto eu admito isso.
“Tem mesmo. Ela assusta você”, insiste.
“O que foi que deu em você?”, protesto. “Está cismada com Ireland. Esquece que ela existe”.
“Ela é a única pessoa da sua família com quem você pode contar, Gideon”.
 “Posso contar com você!” desconverso.
“Amor...” Ela suspira e me enlaça com suas pernas. “Claro que você pode contar comigo. Mas isso não significa que não existe espaço na sua vida para outras pessoas que te amam”.
“Ela não me ama”, murmuro. “Nem me conhece”.
“Acho que você está enganado, mas, mesmo se não estiver, Ireland vai aprender a amar você quando te conhecer melhor. É só abrir espaço para isso”.
“Já chega” digo encerrando o assunto. “Vamos voltar a falar do chocolate”.
“Gideon...”
“Não”.
“Por favor...”.
“Não”.
“Mas...”.
“Não”.
“Dá pra me escutar?”
“Sim, mas não sobre esse assunto. Ele já foi encerrado”.
“E se...”.
Lanço-lhe um olhar penetrante e ela se cala.
Porra de mulher teimosa! E pelo seu olhar, percebo que ela não vai desistir fácil.
“Então você quer falar sobre chocolate, garotão?” Lambe os lábios. “Aquela coisa quentinha e melequenta escorrendo por nossos dedos...”.
Estreito os olhos. Ela vai mesmo jogar sujo assim?
Eva passa os dedos sobre meus ombros e meu peito. “Eu até deixaria você me lambuzar todinha de chocolate. E adoraria despejar um pouco sobre você também”.
Ergo as sobrancelhas, incrédulo. É, ela vai jogar sujo. “Está tentando me subornar com favores sexuais de novo?”
 “Quando foi que eu disse isso?” pisca, fingindo-se de inocente. “Não me lembro de ter dito nada disso”.
“Está implícito na conversa. Vamos ser bem claros”, falo com um tom de voz grave. Agarro seus seios por baixo da blusa e a encaro.
“Vou convidar Ireland para jantar com seu pai porque isso vai deixar você feliz, e assim eu também fico feliz”.
Acaricio seu mamilo de forma ritmada. Ela diz um “obrigada” quase sem fôlego e geme em seguida.
 “Vou fazer o que quiser com o chocolate derretido no seu corpo, porque se eu gostar você também vai gostar. Sou eu que decido quando e como. Repita isso”.
“É você que decide...” Ela suspira alto quando abocanho seu mamilo por cima da blusa. “Nossa”.
Eu a mordo de leve e a mando terminar.
“É você que decide quando e como”.
“Com algumas coisas você pode barganhar, meu anjo, mas no sexo não existe negociação”, explico.
Continuo a sugar alternadamente seus mamilos. Suas duas mãos agarram meus cabelos em reposta.
“Com o que mais posso barganhar? Você tem de tudo”, diz já totalmente entregue.
“Seu tempo e sua atenção são duas coisas preciosas, que eu faria de tudo para conseguir”, ronrono.
Seu corpo estremece.
“Estou molhadinha pra você”, murmura.
Eu a pego pelos quadris e a tiro do gradil. “E é justamente assim que eu quero”.
Fizemos amor intensamente até perder as forças, numa deliciosa despedida do nosso paraíso.
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*Trecho da canção “Como Vai Você?”, composta por Antonio Marcos e Mario Marcos e originalmente cantada por Roberto Carlos.

ATENÇÃO PESSOAL: EU VOU FICAR SEM POSTAR ATÉ O DIA 10 DE JANEIRO, OK? PRECISO APROVEITAR MINHAS FÉRIAS! NA SEXTA VOU POSTAR UM CONTO DE NATAL! ESPERO VER TODAS VOCÊS POR LÁ!


LEMBRANDO QUE TEMOS O GRUPO DO FACE PRA VOCÊS FICAREM POR DENTRO DE TUDO: https://www.facebook.com/groups/tammykesher/

BEIJOS A TODAS!

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