domingo, 19 de janeiro de 2014

Profundamente Minha: Capítulo 14 — Só mais uma dose

Oi pessoal! Por favor, leiam, porque são coisas importantes. Não irei responder perguntas sobre o que eu já tiver falado aqui.




Primeiro: Desculpem o atraso. Choveu bastante aqui na cidade e ficamos sem internet, fora que meu bairro ficou todo alagado, tornando praticamente impossível sair de casa.




Segundo: eu sei que eu tinha prometido a morte do Nathan pra hoje, mas não vai dar. As cenas que criei ainda têm muitos furos, então tenho que trabalhar melhor nelas. Gideon cometeu um crime tão perfeito que não havia forma alguma da polícia ligá-lo a ele. Além do mais, eu tinha que separar os eventos pra não ficar aquela coisa bagunçada. O capítulo vai estar diferente, com pontos de vista intercalados, com o passo a passo daquele dia, enfim, vai estar cheio de detalhes e vai ficar do jeito que eu quero. Peço paciência.




Terceiro: capítulo dedicado a Gi Cullen pela recomendação. Adoro ver fandoms novas interagindo aqui. Valeu flor!  E obrigada às leitoras sumidas que se manifestaram nas reviews! Adorei cada uma. E, logicamente, das leitoras frequentes também. Vou responder a todas assim que possível.




Quarto: esse capítulo tá emotivo gente, lenços às mãos, por favor. E escutem as músicas pra dar o clima. Elas foram cuidadosamente selecionadas pra isso mesmo!




Quinto: vamos ter cenas de “Toda Minha” desse capítulo em diante, como flashbacks do nosso garotão! #TodasPiraNoRevival




Sexto: boa leitura!
“Amou daquela vez como se fosse a última,

Beijou sua mulher como se fosse a última”.

 —Chico Buarque

Narrador
Victor Hugo uma vez disse que a medida do amor é amar sem medida e essa é uma ótima definição para os sentimentos de Gideon. Um homem como ele, que nunca amou antes, de repente, se viu completamente apaixonado por alguém que além de não ser o seu tipo de mulher em termos estéticos, fez de tudo para evitá-lo, por mais que a tentação fosse grande.  Eva era diferente em tantos níveis e, ao mesmo tempo, tão igual, como um reflexo, como um eco. Ele se via nela. Desde a primeira vez que a encontrou, seu corpo, mente coração entraram em um acordo mútuo de dependência daquela mulher.
Mesmo que aquela relação tivesse tudo para dar errado, o amor obsessivo que sentiam um pelo outro, a necessidade de estar perto do outro, era maior que qualquer coisa e era motivo mais que suficiente para continuar lutando. Não haveria desistência. Ele poderia abrir mão de toda a sua riqueza, e até mesmo de sua própria vida, se isso significasse que ela estaria a salvo, mas era incapaz de abrir mão dela pelo que quer que fosse. Homens como ele não amavam pela metade. A entrega sempre seria total e absoluta.
Gideon ficou um bom tempo prostrado no sofá do escritório em posição fetal. Seu corpo sacudia violentamente tentando conter a enxurrada de emoções que o invadia. Pela primeira vez ele teve que fazer um esforço hercúleo na tentativa de se recompor.  Esconder seus sentimentos nunca tinha sido tão difícil como naquele momento e ele teve uma pequena amostra de como seria dali em diante, enquanto tivesse que seguir o plano. Ele sabia que sua decisão implicaria em consequências extremamente sérias e, talvez, irreversíveis, mas não tinha mais como mudar de ideia. Sua prioridade era manter o amor de sua vida a salvo, afinal não havia vida sem Eva*.
...
Gideon
Respiro fundo diversas vezes para tomar coragem e me levantar. Vou até o banheiro e me encaro no espelho. Sou a imagem do desespero. Meu rosto está deformado em uma carranca, como se tivesse levado uma baita surra. Meus olhos estão vermelhos e meu cabelo está uma bagunça.
Jamais me esquecerei do olhar sofrido que ela me lançou quando rejeitei seu toque. Só eu sei o quanto aquilo lhe feriu: eu me senti da mesma forma das duas vezes em que tive o pesadelo e acabei a atacando sem querer. Vi o medo em seu rosto, vi a forma como ela correu de mim. Foi como se milhares de facas me apunhalassem ao mesmo tempo, me rasgando a carne profundamente. Eu não queria que ela passasse por esse sofrimento. Faria de tudo para evitá-lo, mas, infelizmente, é necessário.
Fecho os olhos, me debruço sobre a pia e respiro fundo novamente. Não posso aparecer assim. Tenho que dar um jeito nisso. E rápido. Há muitas coisas a serem resolvidas.
Após vinte minutos saio do banheiro e volto para minha mesa. Vejo o interfone piscando, o que significa que Scott tentou falar comigo.
“Sim, Scott”, digo depois de pressionar o botão.
Senhor Cross, Ryan está aqui para falar com o senhor. O assunto é de caráter urgente”.
“Mande-o entrar”.
Segundos depois a porta se abre e meu assessor de imprensa aparece com uma cara nada feliz, apesar de manter-se impassível, segurando seu tablet e um papel, que mais parece um jornal.
“Com licença, senhor Cross. Boa tarde”.
“Ryan”, digo com um aceno de cabeça. “Aconteceu alguma coisa?”
“Sim, duas na verdade”.
“Prossiga”. Digo apontando para a cadeira num consentimento mudo para que se sente.
Ele se acomoda no assento.
“Senhor Cross, fomos novamente bombardeados por jornalistas. Eles querem saber sobre a senhora Corinne Giroux, com quem o senhor foi visto jantando ontem à noite”, ele diz, me entregando o tablet.
Ao olhar para a tela, sinto um aperto no coração por Eva ter visto isso. A notícia em si é totalmente tendenciosa, mas a foto não deixa dúvidas ou margens para questionamentos contrários. Corinne estava com a mão em meu braço e eu estava sorrindo, não verdadeiramente, mas, pare quem vê de fora, parecíamos um casal em total sintonia. A legenda diz:

Parece que Gideon Cross esteve matando a saudade dos velhos tempos! Ontem o playboy mais cobiçado da Big Apple foi visto jantando no Tableau One acompanhado de sua ex-noiva Corinne Giroux. O casal foi clicado em clima de intimidade e troca de olhares. Vale lembrar que Corinne é casada com o empresário francês Jean-François Giroux e Cross namora a socialite Eva Tramell, filha de Monica e Richard Stanton. A pergunta que não quer calar é: estariam eles colocando a conversa em dia como bons amigos ou ensaiando uma reconciliação? Vamos acompanhar cenas dos próximos capítulos!

A única vantagem que vejo nisso é que Nathan terá uma garantia bem concreta de que me afastei de Eva. Mas não posso deixar de pensar na dor e na humilhação que ela deve ter sentido ao ler essas notas e ver essas fotos.
Ouço um pigarro que me tira dos meus devaneios.
Volto meu olhar para Ryan.
“Não tenho nada a declarar sobre esse assunto”, digo indiferente.
“Certo”, ele se remexe desconfortável na cadeira. “Há outra nota que envolve o seu nome”, e me entrega o jornal que está segurando.
É uma publicação da comunidade gay. Na capa está uma foto de Cary relatando a agressão sofrida na sexta, incluindo especulações de que esta tenha sido motivada por homofobia. Além disso, meu nome foi associado ao de Cary por meu envolvimento com Eva. Com certeza alguém da agência de modelos abriu o bico.
“Não tenho nada a declarar sobre isso também”.
“Ok”, ele responde parecendo insatisfeito. “Bem senhor, era apenas isso. Precisa de algo?”
“Tudo pronto para amanhã?”, pergunto me referindo à festa.
“Sim”.
“Ok. Pode ir”.
Ele pede licença, se levanta e sai.
Não tem porque justificar nenhuma das notícias. Elas serão meu álibi.
Entro em contato com a direção do hospital e solicito que a mesma enfermeira que cuida de Cary no hospital seja liberada para ajudá-lo em casa e providencio o aluguel de uma cama hospitalar e uma poltrona especial para que ele fique mais confortável. Em seguida ligo para Corinne para convidá-la para festa. Radiante, ela aceita e combinamos um horário para que eu passe em sua casa.
Meia hora depois, Raúl me liga avisando que os móveis já foram entregues. Ele havia deixado a Mercedes comigo e ido para o apartamento de táxi para receber a equipe de montadores. Arrumo minhas coisas, deixo algumas recomendações a Scott e me encaminho para os elevadores com os olhos grudados nos celular. Envio uma mensagem para Sean, responsável pela equipe que monitora os passos de Eva, dispensando seus serviços. Aos olhos do outros ela não significa mais nada para mim, logo, não há motivos para continuar a vigia. Além disso, Angus estará sempre por perto.
Chego ao prédio de Eva às dezoito e trinta. Angus me ligou dizendo que Eva pedira para passar em casa. Dei a Raúl ordens explícitas para permanecer no apartamento. Sorte minha que ainda estava na Neiman Marcus fazendo compras.  Precisava de ternos e outras peças de roupas, produtos de higiene pessoal, além de ir ao supermercado comprar comida. Assim eu poderia ficar sossegado no apartamento. Aproveitei também para já encarnar o novo inquilino, vestindo roupas casuais e boné.
Entro pela porta dos fundos e subo as escadarias com parte das compras a fim de evitar as câmeras. Sorte minha que o apartamento é no terceiro andar. Ao abrir a porta fico impressionado como as coisas já estão adiantadas, mas ainda há muito que fazer. Talvez passemos a noite toda aqui. Raúl olha para mim com cara de espanto, mas logo se recompõe à sua discrição habitual, como se nada tivesse acontecido.
Chegando à porta do apartamento com as últimas sacolas, meu celular toca e atendo sem olhar o visor.
“Cross”.
Oi”.
Meu coração acelera e um arrepio percorre minha espinha ao escutar sua voz. Eu definitivamente não esperava que ela fosse me ligar tão cedo. Será que aconteceu algo?
“Espere um pouco”, peço e abro a porta, fechando-a em seguida. “Aconteceu alguma coisa?”
Não”, diz com a voz cansada e triste. “Sinto sua falta”.
Suspiro. Ah se ela soubesse a falta que me faz...
“Eu...”, quase respondo ‘eu também’, mas me contenho. “... não posso falar agora, Eva”.
Por que não? Não entendo por que está sendo tão frio comigo. Eu te fiz alguma coisa?
Tampo o bocal do celular e instruo Raúl a trocar o sofá de lugar, mas como é muito grande, ele não vai conseguir fazer isso sozinho. E tudo tem que estar pronto antes de Cary chegar.
 “Gideon. Quem está aí com você?”, escuto a voz magoada de Eva.
“Preciso desligar”.
Me diz quem está aí com você!”, exclama exasperada.
“Angus vai passar no hospital às sete. Durma um pouco, meu anjo”. E desligo.
Respiro fundo para acalmar a imensa angústia que sinto e volto para ajudar Raúl.
Terminamos tudo às 3 da manhã.  Raúl foi embora e resolvi ir daqui mesmo para o trabalho. Exausto física e emocionalmente, me deito na imensa cama dossel e não demoro muito para cair na inconsciência.
/***/
Assim que chego ao escritório ligo para o hospital e sou informado de que Cary será liberado esta tarde e a enfermeira Lindsay irá junto para prosseguir com seus cuidados. Scott acertará com ela todos os detalhes do pagamento. Fico aliviado de saber que, pelo menos isso, foi resolvido.
Depois passo o resto da manhã na sala de reuniões acertando os últimos detalhes da grande festa. Fico atento a tudo o que é dito a fim de encaixar com o que tenho planejado. Nada pode dar errado. Terminamos bem na hora do almoço.
Grunho de prazer quando volto ao escritório e vejo que minha refeição está descansando em um prato aquecido. Devoro o filé mignon ao molho de vinagre balsâmico como um morto de fome. Acabo me lembrando de Eva e seu apetite voraz por comida e penso no quanto ela adoraria esse prato. A lembrança da primeira vez que ela almoçou aqui me vem à mente de imediato e fecho meus olhos. Eu tinha finalmente criado coragem de me declarar. Lembro-me do sentimento de aflição, do êxtase que senti quando ela me aceitou, das brincadeiras. Lembro-me de cada palavra dita por nós dois naquele dia.

Eu estava tão nervoso, e morrendo de medo de ser rejeitado. Era hora de abrir o coração; não poderia e nem queria mais lutar contra o que estou sentindo. É muito forte para negar. Repassei em minha mente tudo o que eu tinha pra dizer, centenas e centenas de vezes. Não queria errar, não poderia errar! Essa era a minha grande chance!
*****
 “Eu vou te beijar, Eva”.
“Eu não...”
E a calei com um beijo. Ela até resistiu no começo, mas acabou se entregando assim que comecei a acariciar sua língua com a minha.
*****
 “Eva?”
“Você é muito bonito, Gideon”.
Isso me pegou de surpresa, fiquei até um pouco desconcertado, mas um calor enorme se espalhou pelo meu peito. Eu não poderia desejá-la mais.
“Fico feliz que goste do que vê”. Disse ainda afetado por suas palavras.
*****
“Você não me quer mais?” Perguntei num fio de voz.
“Não é isso, é que...”.
“Não como eu disse no bar”, interrompi. “Mas, de verdade”.
Ela me olhou confusa. “Do que você está falando?”
“De tudo”, me aproximei dela. “Eu quero ser seu”.
*****
“Estou acostumado a ficar no controle. Eu preciso disso. E você mandou essa ideia para o espaço na limusine. Eu não soube como lidar com isso”.
“Jura?”.
Tomado pela coragem, cheguei ainda mais perto. “Nunca fiz isso antes. Pensei que nem fosse capaz. Agora que aconteceu... Não posso abrir mão. Não posso abrir mão de você”.
*****
“O que você quer Gideon?”, perguntou calmamente. Ela estava começando a me entender. Eu a abracei e segurei seu queixo entre o polegar e o indicador.
“Quero continuar me sentindo como me sinto quando estou com você. Só me diga o que preciso fazer. E não se comporte assim quando eu fizer bobagem. É tudo novidade pra mim. Um aprendizado”.
*****
 “Você é capaz de imaginar como vai ser complicada a nossa relação, Gideon? Ela mal começou e eu já estou exausta. Além disso, tenho umas coisas para resolver comigo mesma, além do emprego novo... Da minha mãe maluca...”. Eu abri minha boca para protestar, mas ela a cobriu com seus dedos.  “Mas acho que vale o esforço, e quero muito você. Então não tenho escolha, não é?”
Senti uma euforia tão grande, que achei que meu peito iria explodir. Ela me deu uma chance! Ela disse sim! Em seu próprio jeito engraçado e sarcástico, mas isso é uma das coisas que eu adoro nessa mulher.
*****
 “Dividir você com qualquer um seria um incômodo. Está fora de cogitação. Seu corpo é meu, Eva”. Enfatizei
“E o seu é meu? Exclusivamente?”
Ah, meu anjo não estava me ouvindo. Meu corpo clamava por ela, cada membro do meu corpo queria senti-la, inclusive aquele que estava quase pulando para fora da minha calça.
“Sim”, digo animadamente, com um brilho nos olhos, “e espero que você faça proveito dele com frequência e em excesso”.
*****
“Está mesmo disposto a lidar com uma pessoa com problemas de autoestima como eu?”, perguntou, confirmando mais ainda o que Cary havia me dito. “Foi uma das coisas que me fez pensar duas vezes antes de ficar com você. Eu sabia que ficaria maluca vendo a mulherada babando por você, sem poder fazer nada a respeito”.
“Agora você tem o direito de fazer algo a respeito”.
“Você não está me levando a sério”. Balançou a cabeça e deu outra mordida no sanduíche.
“Nunca falei tão sério na minha vida”, eu disse, inclinando-me para frente, para passar a ponta do polegar no canto de sua boca e lambendo o restinho de molho que tirei de lá. “Você não é a única possessiva aqui. Eu também vigio bem de perto o que é meu”. 
*****
 “Muito em breve, Eva, vou comer você bem em cima dessa mesa”.
“Agora eu só quero um beijo”, murmurou, inclinando-se para alcançar minha boca, apoiando as mãos nos meus ombros para se equilibrar. Ela passou sua língua aveludada pelos meus lábios abertos; e depois a enfiou em minha boca para me provocar levemente. Gemi contra seus lábios, aprofundando mais o beijo e minha virilha se apertava em antecipação. Meu pau ficou instantaneamente duro e latejante.
“Muito em breve, vou me agachar aqui e chupar você bem gostoso. Talvez até quando você estiver no telefone, brincando de ganhar dinheiro que nem no Banco Imobiliário. E você, senhor Cross, vai passar pelo início e ganhar duzentas pratas”. Sussurrou com sua boca colada a minha.
*****
O elevador chegou e ela entrou passando por debaixo do meu braço. Parti no seu encalço e a cerquei como um predador, posicionando-me atrás dela para puxá-la junto a mim. Agarrei seus quadris firmemente, e meus dedos se aproximaram perigosamente de onde eu gostaria de estar. Não contente em me torturar com seu calor e com seu cheiro, ela esfregou sua bunda no meu pau, que estava a ponto de explodir. As câmeras captavam nosso momento de intimidade, provavelmente estávamos entretendo o pessoal da segurança, mas eu estava tão feliz, que isso nem me incomodou. Continuamos brincando até que o elevador chegou a seu andar e saímos.
“Até mais tarde, moreno perigoso”. Disse sensualmente, me fazendo sorrir.

Abro meus olhos e percebo que eles estão ardendo. Foi naquele dia que tive a certeza de que eu a amava. Era tão simples me manter longe de todos, ser inatingível, independente. Era seguro não ter a quem se prender. Eu não tinha pontos fracos, não tinha com o que pudessem me atingir facilmente. Agora, eu tenho Eva, que se tornou o foco da minha existência. Com ela, eu experimentei vários tipos de sentimentos que nunca pensei que poderia sentir. Ela é meu paraíso, minha força, minha gravidade. Meu tudo. A separação está doendo e vai doer mais. Vai me perfurar, vai me rasgar ao meio, vai me destruir. E tudo fica ainda pior sabendo que farei o mesmo com ela. Nós somos completamente dependentes um do outro. Quando não estamos bem, nada em nosso mundo funciona como deve.
Me levanto, jogo fora a embalagem e vou para o banheiro. Uma lágrima consegue escapar. Lavo meu rosto antes que as outras resolvam cair também. Escovo os dentes e volto par minha mesa. Assim que pego meu celular, percebo que há uma ligação perdida de Angus e uma mensagem de texto.
*A senhorita Tramell saiu acompanhada de seu chefe e recusou a carona.*
Porra, Eva! Porque diabos essa mulher não me escuta? Estou quase enlouquecendo tentando protegê-la e ela não pode seguir uma ordem simples. Será que é tão difícil?
Abro a tela do meu computador com uma leve sacudida no mouse e acesso o sistema de vigilância. Para minha sorte, Eva já se encaminha para sua baía. Enfurecido pego o telefone e disco seu ramal. Ela atende antes do segundo toque.
Escritório de Mark Garrity, Eva...”.
 “Por que é tão difícil pra você seguir minhas ordens?”, eu a corto asperamente.
Silêncio. Será que ela desligou?
 “Eva?” chamo.
O que você quer comigo, Gideon?”, pergunta secamente.
Minha respiração trava. Seu tom de voz me acerta como um soco na cara. Fecho os olhos novamente tentando conter a tristeza e o nervosismo. Fui grosso demais. Solto o ar com força e prossigo mais calmo.
“Cary vai ser transferido para seu apartamento hoje à tarde, sob a supervisão do médico e de uma enfermeira. Ele já vai estar por lá quando você chegar em casa”.
Obrigada”, diz ainda no mesmo tom de voz. Tento encerrar a ligação, mas não consigo. Minha mão aperta o telefone com força. O silêncio se instala entre nós novamente até ser quebrado por sua voz.
É só isso que você tem pra me dizer?
Claro que há um duplo sentido nessa pergunta. Mas prefiro ignorá-lo para não acabar estragando tudo.
“Angus vai levar você pra casa”. Como se fosse novidade.
Tchau, Gideon”.
Ela desliga sem esperar minha resposta.
/***/
Estou completamente ciente de que, de agora em diante, Eva e eu nos afastaremos ainda mais. Mas eu simplesmente não consigo me manter distante, por isso resolvi passar a noite no apartamento ao lado do dela. Só o fato de saber que ela está perto já alivia um pouco a saudade. Porém eu me sinto doente. Doente por não poder tocá-la como eu gostaria, de sentir seu gosto, o seu cheiro. De sentir meu membro sendo envolvido pelo calor de sua carne pulsante.
Balanço a cabeça e resolvo trabalhar um pouco. Sento-me na escrivaninha do escritório. Minha caixa de entrada já está aberta. Eu mal tenho tempo de analisar os outros emails porque o primeiro chama logo minha atenção. É... Dela. De Eva. Minha mão treme ao clicar o botão esquerdo do mouse.
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De: Eva Tramell
Para: Gideon Cross
Assunto: Meus pensamentos mais sinceros
6 de junho de 2012, 21:52
Eu não consigo te entender. Depois de tudo o que passamos naquela sexta-feira, do beijo, da briga com Brett, da sua maneira nada sutil de me fazer enxergar a verdade que estava bem diante dos meus olhos, de você ter me dado o melhor fim de semana da minha vida, reafirmando seu amor por mim, sendo meu sonho realizado, eu me pergunto o que deu de tão errado entre nós para que você se afastasse tão bruscamente. E ainda por cima se reaproximar DELA, logo DELA.
Você vive envolto em sua névoa de segredos e é incapaz de pensar em como sua indiferença afeta as pessoas ao seu redor. Eu achei que tínhamos ultrapassado mais uma barreira. Achei que, finalmente, estávamos na mesma página, que nós estávamos mais fortes. Mas então você me afasta, sem mais nem menos, tornando minha vida um inferno**.  Só não continuo porque acabaria escrevendo uma súplica. E, se você não me conhece a ponto de saber que está me magoando, uma carta não vai ser suficiente para resolver nossos problemas.
Estou desesperada por sua causa. Estou muito infeliz sem você. Fico pensando no fim de semana, nos momentos que passamos juntos e no que eu não faria para ter você de novo só para mim. Mas, em vez disso, você está passando seu tempo com ELA, e eu estou sozinha pela quarta noite seguida.
Mesmo sabendo que estiveram juntos, sinto vontade de rastejar até você e implorar por uma migalha de atenção. Um toque. Um beijo. Uma palavra carinhosa. Você fez com que eu me rebaixasse a esse ponto.
Odeio me sentir assim. Odeio sentir tanto a sua falta. Odeio minha obsessão por você.
Odeio ser tão apaixonada por você.
Eva
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Estremeço diante do impacto de sua declaração. Eu não esperava por isso. Meu peito está em chamas, como se estivesse sendo estraçalhado. Não é algo abstrato. Eu posso sentir essa dor. É físico, real. Eu mal consigo respirar. Meus pulmões estão pesando mais do que deveriam. Minha pulsação acelera, com algumas batidas falhas. Eu já me sinto despedaçado por estar longe dela e eu sei o quanto isso a machuca. No entanto, ver esse sofrimento sob sua perspectiva é pior, muito pior.
Sei que minha escolha tem um preço e, querendo ou não, Eva o pagará junto comigo. No fim sairemos disso completamente destroçados, moídos, tentando recolher os pedaços que deixarmos pelo caminho. Nossas almas, que agora agonizam as feridas que estão sendo abertas, terão cicatrizes profundas e sequelas irrecuperáveis. Mas passaremos por isso, como sempre fizemos. Sempre juntos. Tentaremos reconstruir o que sobrar.
Me levanto da cadeira e começo a caminhar pelo cômodo com os dedos repuxando fortemente meus cabelos até sentir dor no couro cabeludo. A queimação no peito se espalha por todas as células do meu corpo. A necessidade por ela cresce em medidas anormais. Essa abstinência forçada vai me matar. Eu preciso dela, desesperadamente.
Será que Eva não entende? Será que nunca entenderia? Eu a amo! Eu faria tudo, qualquer coisa, independente do que fosse por ela. Eu preciso fazê-la enxergar isso. Mostrar-lhe que estou tão devastado quanto ela. Preciso dela, ao menos uma vez, uma última dose, só mais uma. Se eu não libertar esse desejo, morrerei consumido por ele.
Saio em disparada para o apartamento dela e abro a porta usando a minha cópia da chave, que tive o cuidado de conservar. Fecho a porta silenciosamente e devagar sigo meu caminho para seu quarto, entro e o tranco à chave. O cômodo está mergulhado na escuridão, pelo que sou grato já que não seria capaz de olhá-la nos olhos.
Esta noite, nada estará entre nós. Eu a possuirei sem reservas, sem limites, sem barreiras. Eu tenho que fazer isso, para o bem de nós dois.
Tiro meu pijama e me aproximo mais da cama.
“Não tenha medo”. Falo num tom tranquilizador antes de me sentar ao seu lado. Seu corpo se move e eu me inclino para abraçá-la através dos cobertores. Não quero que ela fique assustada.
O cheiro de seus cremes de rosto e o perfume cítrico de seus cabelos se misturam em um aroma único e atordoante para os meus sentidos.
“Meu anjo” e cubro seus lábios com os meus num beijo lento e cheio de saudade.
O toque de seus dedos em meu peito causa uma reação em cadeia em meu corpo, como só ela pode fazer. Um gemido grave escapa de minha garganta e, sem interromper o beijo, começamos a arredar as cobertas para os lados. No segundo seguinte coloco meu corpo sobre o seu e desço minha boca para sua garganta enquanto minhas mãos arrancam sua camisola. Ao sentir sua pele quente sedosa tocar a minha, não resisto e abocanho um de seus mamilos, sugando-o avidamente. Apoio o peso do meu corpo no antebraço esquerdo, enfio a minha mão direita no meio de suas pernas e agarro seu sexo, deslizando um dedo para dentro de sua calcinha. Brinco com o seu mamilo, alternando entre sucções e leves mordidas, endurecendo-o e deixando-o pontudo.
“Gideon”, ela geme.
Porra, como eu senti falta disso. Poder senti-la novamente é como encontrar o oásis em meio ao deserto. Eu posso sentir suas defesas caindo, seu corpo aos poucos se curvando à ordem silenciosa que emana do meu. Deslizo minha boca aberta pelos seus seios enquanto inspiro profundamente seu cheiro.  Capturo o outro mamilo numa sucção mais profunda que a faz estremecer e seu sexo molhar ainda mais sob meus dedos. Começo a acompanhar cada curva de seu corpo com a boca, em direção ao sul, marcando o caminho com lambidas na sua barriga, forçando-a a abrir as pernas. Coloco seus pés em meus ombros e exalo o ar pela boca, fazendo com que me hálito atinja sua carne sensível. O sentimento primitivo de possessão me domina. Pressiono o nariz contra o tecido molhado de sua calcinha e solto um grunhido de prazer ao inalar a essência adocicada de sua excitação.
“Eva. Eu estou faminto”.
Impaciente, empurro sua calcinha de lado com os dedos e posiciono a boca entre suas pernas. Mantenho sua abertura encharcada toda aberta para mim com os polegares e ataco seu clitóris com movimentos rápidos e lascivos. Suas costas se arqueiam e seu gemido sai alto. Inclinando a cabeça, invisto contra seu sexo trêmulo, penetrando-a com lambidas ritmadas.
“Ai, meu Deus!” Ela quase grita enquanto se contorce de prazer. Segundos depois ela goza ferozmente em minha boca. Sugo sua entrada com força a fim de beber cada gota, remexendo minha língua dentro dela a fim de colher tudo. A pele ao redor de sua fenda molhada está toda inchada e hipersensível.
Continuo a chupá-la intensamente até que ela goza novamente. Caralho, como é bom sentir esse gosto! Meu apetite voraz por Eva nunca tem fim. Eu sempre quero mais e mais. E sua bocetinha está no ponto para me receber. Sem pensar rasgo sua calcinha e monto sobre ela. Meu pau aos poucos abre caminho por seus tecidos sensíveis até penetrá-la profundamente e... Solto um grunhido animalesco de deleite por me sentir envolvido em seu calor. Eva solta um grito de surpresa e isso atiça ainda mais meu lado animal. Eu me ergo, me apoiando sobre meus tornozelos e trazendo as coxas roliças dela sobre as minhas. Agarro seus quadris e levanto, deixando-a toda aberta para mim. Em seguida dou mais uma estocada tão profunda que seus lábios vaginais alcançam a base do meu pênis, envolvendo-o completamente. Ela geme de dor, mas seu corpo reage de outra forma e isso me agrada. Quero preencher o seu vazio, assim como quero me encaixar novamente no meu lugar, onde eu pertenço. De onde eu jamais seria capaz de viver longe por muito tempo sem me sentir um nada. O pensamento disso e o fato de, finalmente, estar nela por inteiro, me faz gozar num jorro grosso e espesso, que escorre por dentro de seu corpo. Tremo violentamente e minha pele pinga de suor. É a primeira vez que sinto o alívio tomar conta de mim em dias.
 “Foi pra você, Eva”, digo, ofegante. “Até a última gota”.
Mas eu preciso de mais. Eu a puxo de forma abrupta, fazendo meu membro escorregar para fora dela e a viro de bruços, erguendo seus quadris novamente. Aproximo minha boca de suas nádegas e começo a lamber o espaço entre elas. Eva estremece a princípio e se contrai ao sentir minha língua. Estimulo a entrada de seu traseiro com movimentos circulares lentos e delicados. Ela deixa escapar um ruído de que me parece de medo, mas relaxa em seguida, se rendendo à minha carícia. Nada mais importa a não ser nosso contato físico, nossa necessidade um do outro. Não há nada entre nós.
Agarro suas nádegas com as duas mãos, mantendo-a imóvel e arreganhada, totalmente exposta aos meus beijos. Enfio minha língua dentro dela fazendo movimentos de vai e vem. Seu corpo inteiro treme, sua respiração fica ofegante à medida que minhas carícias vão se intensificando.
“Ah... nossa”.
Ela se move em direção à minha boca, se entregando completamente, permitindo que sua última barreira seja derrubada.
Estendo minhas mãos por baixo dela e começo a massagear seu clitóris com os dedos. Posso sentir a pulsação de seu ventre, onde seu orgasmo cresce a cada segundo.
Nós finalmente chegamos ao patamar que eu desejei. Sua redenção à minha possessão. Eu posso fazer o que quiser com seu corpo e ela se entregará sem resistência alguma. Eva solta um grito abafado pelo travesseiro ao gozar em meus dedos. Seu corpo todo tenciona pelo prazer avassalador. Em seguida suas pernas cedem, e ela desaba no colchão.
Deito sobre suas coisas, abrindo suas pernas com os joelhos, cobrindo seu corpo suado com o meu. Eu a penetro mais uma vez enquanto nossos dedos se unem, nossas mãos espalmadas sobre a cama. Sua entrada está muito encharcada, então começo a investir com força contra ela, entrando e saindo facilmente, quase sem atrito.
“Estou desesperado por sua causa”, confesso ofegante. “Estou muito infeliz sem você”.
Ela se retrai. “Para de tirar sarro”.
“Meu desejo é como o seu”. Mergulho o rosto entre seus cabelos, enquanto meto nela lentamente. “Minha obsessão é a mesma. Por que você não acredita em mim?”
“Não entendo você. Isso está acabando comigo”, sua voz está embargada pelo choro.
A intensidade do seu sofrimento me desola ao mesmo tempo em que meu orgasmo explode inesperadamente. Viro a cabeça e cravo os dentes em seu ombro. Um rugido de dor e prazer reverbera em meu peito ao esporrar mais uma vez dentro de se ventre.
Relaxo o maxilar, libertando-a da mordida assim que a névoa de prazer causada pelo orgasmo intenso se dissipa. Mas continuo movimentando os quadris para fazê-la alcançar o ápice novamente.
“Sua carta me deixou sem chão”.
“Você não fala comigo... não me ouve...”. Sua voz sai entrecortada pela respiração ofegante.
“Não consigo”. Eu a aperto e meus braços como se tivesse medo de ela me afastar. “Eu simplesmente... É assim que vai ter que ser”.
 “Não consigo viver assim, Gideon”, choraminga.
“Também estou sofrendo, Eva. Isso está acabando comigo. Você não está vendo?”
“Não”. Ela está aos prantos.
“Então pare de tentar analisar tudo e comece a sentir! A sentir minhas reações”.
Esse sempre foi o problema de Eva. Analisar tudo, ser reticente com tudo. Ela deveria saber que pode confiar em mim cegamente. Nós fizemos uma promessa na noite em que nos reconciliamos em meu apartamento.
Eu a faço gozar mais uma vez. Ela solta um grito desesperado acompanhado de soluços de cortar o coração.
Eu me ergo e troco nossas posições, me deitando na cama a colocando sentada por cima dos meus quadris. Seus lábios vão direto para a pele sensível no meu pescoço, mordiscando, chupando, enquanto suas unhas arranham meu peito. A ardência e a forma selvagem como ela me toca me faz sibilar de prazer. Ela remexe seus quadris, esfregando sua vagina por toda a extensão do meu pau, repetidas vezes em movimentos de vai e vem. Minha boca se abre num ‘o’ perfeito e minha respiração sai tensa e áspera. Simplesmente me deixo levar. Eu não estou com qualquer mulher. Essa é minha mulherminha casa.
“Preciso do seu amor”, sussurro junto à pele de seu pescoço. “Preciso de você”.
E assim se seguiu o restante da noite. Nenhum de nós conseguia tirar as mãos um do outro. Eu me entreguei a ela com todo o meu desespero. Eu precisava sentir cada pedaço de seu corpo, precisava estar dentro dela o tempo todo, o máximo que eu pudesse. Eu suguei seus mamilos sensíveis, investi violentamente contra seu sexo úmido e pulsante. Dei leves mordidas em sua pele suada e febril. Aproveitei cada segundo daquele contato intenso e maravilhoso. Sua boca quente chupou o meu pau repetidas vezes com maestria, sua língua brincou com os meus testículos. Seus dentes mordiscaram meus mamilos e suas unhas arranharam minha pele deixando uma ardência deliciosa.
Estávamos doloridos, exaustos e ofegantes, porém incapazes de parar.
Deitei atrás dela, com o braço em volta de sua cintura enquanto a penetrava quando ouvi sua voz me implorando para que eu não desistisse dela. Um nó se formou em minha garganta, tornando difícil a respiração. Lágrimas silenciosas escorreram do meu rosto, que estava mergulhado em seus cabelos úmidos de suor. Tivemos um último orgasmo, o mais intenso de todos, ao mesmo tempo, gritando o nome um do outro. Eu me abracei ainda mais ao seu corpo enquanto tentava recuperar o fôlego. As lágrimas não paravam de cair.
Não dissemos mais nada simplesmente porque não havia o que dizer. Possuímos um ao outro até à exaustão.
Com o tempo sua respiração se tornou mais regular. Ela ressonava. Esperei por longos instantes, ainda com meu corpo colado ao seu, com meu membro dentro dela. Quando vi que já tinha atingido a fase mais pesada do sono, me desvencilhei de seu corpo, beijei de leve seus cabelos, e me levantei. Minhas roupas estavam num canto ao lado da porta, então não foi difícil encontrá-las no escuro. Me vesti e saí de lá, profundamente abalado.
Agora, deitado em minha cama, simplesmente não consigo dormir. A hora está chegando. Está cada vez mais perto. Separei a roupa que usarei no momento, guardando-a em um saco plástico e afiei o canivete que pertenceu ao meu pai. Uma das pouquíssimas lembranças que tenho dele. Um objeto que não tem nenhum valor sentimental para mim, mas ele dizia que um homem sempre deveria estar munido de um canivete. E, pela primeira vez, eu tive que concordar com Geoffrey. Além do mais, é um utensílio que nem minha mãe sabe que ele tinha então me livrar dele será fácil.
Forço minha mente a repassar cada um dos meus passos. Chegou a hora de me manter focado. Eu sempre soube que essa decisão seria dura. Se houvesse outra opção, e esta fosse eficiente, eu não pensaria duas vezes antes de agarrá-la.
Mas já dei os primeiros passos.
Não tem mais volta.
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*Trocadilho com o nome Eva, que significa “com vida”.
**Inventei essa primeira parte da carta, pois no livro original, ela está incompleta. 

E então, o que acharam?
Beijos e até sexta que vem!

Um comentário:

Unknown disse...

perfeito!! adorei a carta ficou mais encorpada!!! bjos e sucesso!!!