sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Profundamente Minha: Capítulo 15 — Em nome do amor

Oi gente!! Como vocês estão? Preparadas?
Que tal alguns leitores fantasminhas darem o ar da graça?? Hein? Adoro os comentários. Sei que uns comentam no Nyah ou no Wattpad, mas eu me refiro aos que eu NUNCA vi. Eu gostaria se saber o que vocês estão achando da história, ok?
Espero que gostem. Boa leitura!
“Não peca quem peca por amor”.
— Oscar Wilde

Narrador
Foi rápido e indolor. Ele mal teve tempo de dizer uma única palavra ou emitir um som de surpresa. O golpe foi preciso. Em segundos o corpo de Nathan caiu no chão do quarto num baque surdo.
...
8h23 (11 horas e 8 minutos antes do crime).
Gideon
Apesar de estar exausto física e emocionalmente, não consegui pregar os olhos. Minha mente está a todo vapor, trabalhando freneticamente nos detalhes do plano. Mas mesmo assim, traiçoeiramente, ela insiste em vagar para a tórrida e selvagem noite de amor que tive com Eva. Fecho os olhos e respiro fundo. Ainda consigo sentir o cheiro de sua excitação misturado ao aroma cítrico de seus cabelos dourados. Meu corpo protesta pela constante troca de posições, minha mandíbula dói em decorrência das sucções violentas e minhas costas e peito ardem levemente por causa dos arranhões, mas isso não me incomoda, pois eles são a prova concreta do que vivemos. Durante o banho, eu olhava completamente hipnotizado, para as marcas finas e avermelhadas em meu peito. Elas me lembram a cada momento a quem eu pertenço e me senti grato por isso. Ganhei a confiança necessária para seguir em frente.
Agora, a caminho do Crossfire, fico imaginando como será nosso reencontro. Daqui a pouco haverá uma reunião com os executivos da Kingsman para acertamos os últimos detalhes da campanha. Eva, Mark, e John Waters estarão presentes e, infelizmente, terei que tratá-la com frieza. Será muito difícil fingir que nada aconteceu, mas é preciso. Todos têm de estar convencidos de que não há nada entre nós.
O transito hoje parece mais infernal do que nunca e chego ao trabalho as nove  em ponto. Angus estaciona e antes que ele saia para abrir a minha porta eu o chamo.
“Sim, senhor”.
“Preciso que leve Eva ao consultório do Dr. Petersen hoje”.
Ele me encara em silêncio por alguns instantes, e finalmente responde.
“Entendido”.
Eu mesmo abro a porta e saio do carro, incomodado com o olhar de Angus. Ele sabe que está acontecendo alguma coisa e não me surpreendo, já que me conhece desde pequeno.
Já no escritório, Scott passa comigo os compromissos do dia e volta para sua baía. A reunião está marcada para as 10, o que me dá tempo de me preparar psicologicamente. Eu havia deixado claro para Abgail e Ellen que o evento da Kingsman não seria colocado em pauta nessa reunião, proibindo-as expressamente de mencioná-lo, já que meu objetivo é reunir apenas sócios e clientes. Além do mais, não posso correr o risco de Eva aparecer na festa ou algo do tipo.
Tento me concentrar no relatório final sobre a campanha, mas é simplesmente impossível. Eu já sei do que se trata, porém gosto de ter informações extras sobre os assuntos, assim eu posso identificar possíveis falhas e furos que, no futuro, podem desencadear crises, como a que aconteceu no Arizona.
A lembrança daquela viagem me faz sorrir. Eva me surpreendeu como ninguém. Ela é uma verdadeira contradição ambulante. Sua personalidade é forte e, ao mesmo tempo, tão frágil. Sua petulância e atrevimento andam juntos com seu lado submisso. Elegante e refinada, mas sem deixar a simplicidade de lado. E não posso me esquecer do seu lado sexy e desinibido, que contrastam com seus raros momentos de timidez. Lembro-me de quando eu a trouxe para meu escritório pela primeira vez, quando eu ainda relutava em admitir o quanto eu a amava. Nesse dia ela me mostrou todas as suas facetas em sua brava luta contra seu desejo por mim.

 “O que exatamente temos para resolver?” pergunta incrédula.
Ah, que mulher frustrante! Soltando um suspiro, conduzo-a para o sofá e me sento a seu lado.
“Suas objeções. Temos que discutir o que pode fazer você dar pra mim”.
“Um milagre”, responde petulante. Ela arreda para o canto oposto do sofá, e puxa sua saia para baixo. “Sua abordagem é grosseira e ofensiva”, acrescenta como se quisesse dizer o contrário.
Estreito meus olhos para ela.
“Posso não ser muito sutil, mas, ao menos, sou sincero. Você não me parece ser o tipo de mulher que prefere ouvir mentiras e galanteios em vez da verdade pura e simples”.
“Prefiro ser tratada como alguém que tem mais a oferecer do que uma boneca inflável”. Rebate.
******
“Você está falando sério? Ouça o que está dizendo. Por que perder tempo falando em sexo? Por que não dizer logo ‘uma emissão seminal em um orifício pré-aprovado’?”.
Uma gargalhada incontrolável escapa dos meus lábios. Minha cabeça até pende para trás. Ela é tão engraçada e espirituosa.
******
“Agora, vire-se para mim e se despeça”, ordeno.
Lentamente ela se vira e me encara. Suas feições denunciam um misto de paixão reprimida, decepção e arrependimento. Agora é a hora do ataque.
“Me beije”, peço suavemente. “Pelo menos isso”.
Ofegante, ela faz aquele movimento de lamber os lábios que me deixa louco, e me inclino para beijá-la. Seus lábios são macios e suaves. Quando ela dá um leve suspiro, aproveito para enfiar minha língua em sua boca, e saboreio seu gosto com lambidas longas e agressivas. Ela deixa a bolsa cair no chão e leva suas mãos aos meus cabelos, puxando-os suavemente para manter sua boca na minha. Um gemido gutural escapa de minha garganta e aprofundo mais e mais o beijo, chupando sua língua.
******
Coloco-a no sofá, sentindo todas as curvas de seu corpo. Inclino-me sobre ela, com um dos joelhos apoiado no estofamento e o outro pé no chão. Uso meu braço esquerdo para sustentar a parte superior do corpo, enquanto minha mão direita agarra a parte de trás de seu joelho, subindo por sua coxa. Solto um suspiro áspero e audível ao sentir a cinta-liga. Minha excitação chega ao nível do desespero.
“Minha nossa, Eva!”, digo quase sem fôlego. “Sorte do seu chefe que ele é gay”. Eu não quero que nenhum outro homem tenha acesso a ela dessa forma.
Abaixo-me e ataco sua boca novamente, estou louco para terminar o que começamos no meu sonho. Instintivamente ela abre suas pernas para acomodar o meu corpo. Minha ereção está quase pulando para fora da calça. No entanto, a voz de Scott saindo do interfone nos assusta e me ponho de pé imediatamente.

“Senhor Cross, sua primeira reunião do dia começa em quinze minutos. A senhorita Jacobs e a senhora Preston já está lhe aguardando na sala de reuniões”, dou um pulo na cadeira de susto.
Scott realmente me chama pelo interfone, num timing perfeito.
Acho que fiquei tão mergulhado nas lembranças, que nem notei o tempo passar.
“Quando a equipe da Waters Field & Leaman chegar, conduza-os imediatamente à sala de reuniões”.
Sim senhor”.
Respiro fundo algumas vezes e recupero minha pose altiva. Hora de ir.
Adentro a sala, cumprimento Abigail e Ellen e começamos a conversar sobre a pauta da reunião, o que ajuda a me distrair um pouco. De repente, meu coração começa a bater freneticamente, os pelos do meu corpo se eriçam e a velha eletricidade percorre todas as minhas terminações nervosas. A porta da sala se abre revelando a figura curvilínea de Eva, que segura algumas pastas em seu braço esquerdo. Ela está impecável em seu vestido preto justo, sem magas e decote discreto e saltos. Seu cabelo cai em ondas suaves pelo seu ombro direito e seus olhos verde-acinzentados estão brilham do que me parece ser ansiedade. Mark e John estão logo atrás. Concentro-me neles.
“Senhorita Tramell”, digo friamente estendendo minha mão para cumprimentá-la. O toque breve de nossas peles faz uma excitação instantânea tomar conta de mim. Posso ver o quanto isso a afeta, e procuro não demonstrar o quanto estou afetado. Repito o gesto com os outros dois e, em seguida, tomamos nossos lugares. Eva distribui as pastas para todos os presentes e, na minha vez, evito olhá-la.
“Podemos começar”, determino e Mark abre sua pasta.
“Se todos, por favor, puderem abrir suas respectivas pastas...”. E fico grato por ter algo que prenda o meu olhar.
Durante toda a reunião, me esforço arduamente para fugir do escrutínio de Eva. Em alguns momentos, essa distância fica tão insuportável que quase coloco tudo a perder. O fato de não poder tocá-la, de não poder beijá-la, de não poder sorrir ou olhar em sua direção é extremamente doloroso. Principalmente depois da noite que tivemos. Escuto as vozes de todos na sala, exceto a de Eva, mas não estou prestando a atenção. Eu olho ora para a pasta, ora para Mark ou para quem estiver falando, sem realmente enxergar. Minha mente está mergulhada em memórias recentes de nós dois.
Eu lembro muito bem da primeira vez em estivemos nesta mesma sala, quando a abordei daquela forma. Embora eu tenha sido um verdadeiro babaca, no fundo, eu só queria... Pertencer a ela, mesmo não admitindo.

Dois minutos depois as portas da sala se abrem me dando uma visão maravilhosa de Eva, sorrindo lindamente. Assim que me avista, suas feições se congelam e, novamente, ela se detém em seu lugar. Garrity, que está logo atrás, não vê que Eva está parada e acaba esbarrando em seu corpo, fazendo-a tombar para frente. Instintivamente a pego pela cintura antes que caia no chão. Com um impulso que, de instintivo não tem nada, eu a puxo para meu peito. Nosso contato, quase de corpo inteiro, é indescritivelmente intenso. Respiro profundamente, e sinto seus seios endurecerem em resposta. É como se meu corpo desse a ela uma ordem silenciosa. Honestamente, não sei como não estou de pau duro por esse contato.
"Olá de novo", murmuro. "É sempre um prazer topar com você, Eva".
******
Eu a indico um lugar na mesa, perto de mim, claro, e ela se volta para Garrity como se pedisse orientação. Não gostando nada disso, chego por trás dela silenciosamente. Ponho a mão em suas costas.
"Sente-se, Eva", sussurro perto de seu ouvido.
Ela obedece sem hesitar.
******
"Você está dormindo com alguém?"
Ela cora novamente, respirando fundo.
"Porque você está me perguntando isso?"
Escondo minha ansiedade atrás de uma máscara impassível e dominante. Ela parece intimidada e dá um passo involuntário para trás.
"Porque eu quero comer você Eva, e preciso saber se há alguém atrapalhando meus planos".
Ela está chocada com minha sinceridade, e dá mais um passo para trás, tentando se equilibrar. Estendo minha mão para ajudá-la, mas ela mantém distância e a empurra. Eu posso dizer que está excitada tanto quanto eu.
"Talvez eu não esteja interessada, senhor Cross".
Ela está mentindo e sabe que eu estou ciente disso. Não consigo conter o pequeno sorriso em meus lábios.
O apito do elevador a faz se sobressaltar. Ela entra na cabine imediatamente. E, seguida, se volta para me encarar.
"Até a próxima vez, Eva", digo ainda sorrindo antes das portas se fecharem

De meu assento, posso sentir a angústia de Eva por estar sendo completamente ignorada por mim.
“... e começaremos a campanha de divulgação na segunda logo pela manhã”, finaliza Garrity.
Em seguida, Waters faz algumas considerações. Abigail e Ellen se mostram impressionadas. Eu já estava ciente do trabalho de Mark. Sempre soube de seu potencial.
“Garrity, a campanha está ótima. O trabalho ficou impecável. Está tudo aprovado”.
Ele sorri satisfeito e me agradece.
“Senhor Waters, você tem profissionais realmente competentes. Estou satisfeito com seus serviços”.
“É uma honra senhor Cross”, ele diz acenando com a cabeça.
“Bom”, levanto apressadamente, sendo seguido por todos. Dividir o mesmo ambiente com Eva está me agoniando. “Creio que terminamos”.
“Sim senhor”, diz alguém cuja voz eu já não reconheço por estar mergulhado em minha própria miséria.
Dou um aperto de mãos em Garrity e Waters e, lançando um último e rápido olhar em direção a Eva, saio da sala.
/***/
15h10 (4 horas e 30 minutos antes do crime)
Tive mais duas reuniões após o almoço e acabo de encerrar a última. Preciso sair bem cedo. Arrumo minha mesa e me levanto para colocar o paletó quando Scott me interfona.
Senhor Cross, a senhorita Tramell está na linha. Devo passar a ligação?
Eu deveria rejeitá-la, mas simplesmente não consigo. Preciso ouvir sua voz, nem que seja uma última vez. Além disso, ela pode estar precisando de alguma coisa e a minha obrigação é suprir todas as suas necessidades.
“Pode passar”.
Sim, senhor”. Ouço um bipe e em seguida a voz de Scott novamente. “Senhorita Tramell na linha”.
 “Obrigado, Scott. Depois que terminar seus afazeres pode ir para casa”. Desligo o interfone e atendo a chamada.
“O que foi, Eva?” digo sem demonstrar nenhuma emoção.
Desculpe interromper”, sua voz é como música para meus ouvidos. “Pode parecer uma pergunta meio idiota, considerando o que está acontecendo, mas... você vai jantar lá em casa amanhã para conhecer meu pai?
“Vou”, respondo secamente. Para todos os efeitos, nós ainda estamos juntos. E ela precisa acreditar nisso.
Ireland também vai?
Penso por um momento. Isso vai fazê-la feliz.
“Sim”.
Certo”.
“Vou ter uma reunião hoje que vai até tarde, então a gente se encontra no consultório do doutor Petersen”, minto e fecho meus olhos apertando fortemente minhas pálpebras imaginando o quanto ela me odiará depois. “Angus leva você. Eu vou de táxi”.
Tudo bem”, diz deixando transparecer uma pontada de alívio na voz, o que parte meu coração. “A gente se vê lá, então”.
“Ok, até lá”, e desligo.
Travo minha mandíbula, com raiva. Odeio mentir para Eva assim, mas não tem outro jeito. Ela precisa de um álibi forte enquanto eu estiver no hotel.
Chamo Scott pelo interfone.
Senhor Cross”.
“Antes de ir, verifique as informações do voo de Victor Reyes. Ele está vindo de San Diego. Preciso disso para agora. Mande tudo para meu email”.
Sim senhor”.
Agora tenho que ligar para Ireland. Merda, eu nunca liguei para ela. A única vez em que tivemos uma conversa de verdade foi no dia da festa da Vidal Records. Ainda assim foi uma despedida, e a pedido de Eva.
Pego meu celular e procuro seu número na agenda. Assim que seu nome aparece, clico o botão ‘chamar’ e aguardo.
...
Ireland
Estou conversando com uma amiga no chat do Facebook quando ‘Hot N’ Cold’ da Katy Perry começa a tocar. Meu coração dispara ao pensar que pode ser Rick. Faz tempo que não nos falamos. Está cada vez mais difícil esconder nosso relacionamento, mas por enquanto não podemos fazer nada a não ser esperar.
Dou um pulo da cadeira e vou até a cama pegar meu celular que grita por atenção, olho para o visor e franzo o cenho. Eu não conheço esse número.
“Alô?”
Ireland?” diz a voz grossa.
“Sim, quem é?”
Ah... Sou eu, Gideon. Seu irmão”.
Puta que pariu!
Não consigo falar nada, não consigo sequer esboçar uma única reação. Nem em delírios mais loucos regados a maconha eu poderia imaginar que receberia uma ligação logo dele.
Ireland?”, sua voz me desperta do torpor.
“Oi?”
Ah, pensei que a ligação tinha caído”.
“N-não, eu estou bem aqui”. Digo ainda abobalhada.
Bom”, ele pigarreia. “Eu te liguei para saber se você... ahn... gostaria de ir a um jantar no apartamento de Eva comigo amanhã?”.
Fico muda novamente. Minha mente tentando processar o que acabou de ser dito. Gideon está me convidando para sair com ele?
Ireland? Você está me ouvindo?” seu tom de voz um tanto tímido me pega de surpresa.
“Sim, eu ouvi”.
Bom, tudo bem se você tiver planos pra amanhã, eu não...”. Sua voz sai hesitante e rapidamente o corto.
“Não, não! Eu não tenho plano nenhum!”, eu quase grito. Pigarreio e abaixo o tom de voz, minhas bochechas corando de vergonha. “Quer dizer, eu adoraria ir”.
Certo... eu... eu passo para te pegar as sete, tudo bem?
“Sim, claro. Eu te espero no portão”, eu sabia que Gideon, por alguma razão, odeia essa casa. Ele já está fazendo um esforço enorme em me convidar e fazê-lo se sentir confortável é o mínimo que posso fazer.
Combinado”.
Um silêncio constrangedor se instala, mas logo resolvo quebrá-lo com algo que se passa em minha mente.
"Que tipo de roupa devo usar?"
"Não vai ser nada demais. É um jantar íntimo. Só eu, você, Eva, o pai dela e Cary".
"Ah, ok”. E mais uma vez ficamos em silêncio. Não tenho ideia do que dizer.
Tenho que voltar para o trabalho”, diz ele num tom sério. “Nos vemos amanhã”.
“Ok, até amanhã. E obrigada por me convidar”.
De nada”. E ele desliga.
Num efeito retardado, suas palavras começam a fazer efeito e, finalmente, entendo o que esse convite significa: ele quer que eu participe da vida dele! O pai de Eva vai estar lá, junto com o amigo dela. Claro que sei que foi ela que o mandou me convidar, mas isso não tira a magia do momento. Eu finalmente vou poder começar a me aproximar do meu irmão!
...
Gideon
Quando saio do Crossfire, Raúl já está me esperando com a porta aberta.
“Vamos direto para o hotel. Vá buscar a senhora Giroux as quinze para as seis”, ordeno já dentro do carro em movimento.
“Sim senhor”.
 “Amanhã a senhorita Tramell irá ao aeroporto de La Guardia buscar o pai dela. Esteja em seu prédio as quinze para as cinco da manhã para levá-la”.
“Entendido”.
Minha mente vaga de volta para a conversa que tive com Ireland. Eu não tenho nada contra sua pessoa, afinal, ela era apenas uma criança quando saí de casa e ninguém lhe contou o que realmente me afastou da família. Não havia necessidade de contaminá-la com toda aquela sujeira. Achei muito atencioso de sua parte se dispor a me esperar no portão da casa, a fim de evitar que eu entre. Isso realmente me surpreendeu. Talvez ela não seja tão alienada quanto eu pensava.
/***/
18h30 (quarenta e cinco minutos antes do crime)
Narrador
A festa estava às mil maravilhas. Boa parte da imprensa nova-iorquina cobria um dos eventos mais badalados da cidade. Vários empresários, clientes das Indústrias Cross, bem como algumas celebridades, estavam presentes. Corinne não conseguia esconder sua euforia por estar na companhia do objeto de sua obsessão. Ficava o tempo inteiro ao seu lado, tirando fotos, bebendo champagne, rindo, cochichando, tentando restabelecer a intimidade de antigamente.
Por seu lado, Gideon caprichava em sua encenação, demonstrando estar satisfeito e, em alguns momentos, flertando com sua ex-noiva. Ele não se sentia nada bem em usá-la daquela forma, mas não havia outra maneira. Juntos, o casal mais bonito da festa passeava pelo salão para dar atenção aos convidados.
Mesmo que sua atuação fosse digna de um Oscar, exalando elegância, sobriedade e calma, Gideon estava queimando de agitação por dentro. Estava a cada minuto mais e mais perto de cometer o maior desatino de sua vida. Por amor.
O tempo passava lentamente, ao menos para ele. De repente, o alarme de incêndio soou e uma grossa fumaça saiu das portas da cozinha. O chef e sua equipe saíram correndo de lá. Os convidados ficaram em polvorosa e a equipe de seguranças tentava apaziguar os ânimos. Seu plano de danificar o reator da cozinha, sobrecarregando as tomadas, havia dado certo. Ele aproveitara que estava só no local para fazer isso. Ninguém achou estranho encontrá-lo ali, já que estava inspecionando tudo.
Naquele instante, Gideon começava a executar a última parte do plano.
O fim estava próximo.
...
Angus
Trabalhei para Geoffrey Cross por muito tempo. Dois anos depois de sua morte, a senhora Cross se casou novamente e passei a trabalhar para os Vidal. Gideon sempre foi um menino alegre, sorridente e brincalhão, mas perdeu tudo isso após o suicídio do pai. Ele se sentia um verdadeiro peixe fora d’água no novo lar. Infelizmente, o pequeno pagou um preço muito alto de uma dívida que não fizera. Seu jeito arredio e agressivo piorava a cada segundo, mas tudo mudou quando o senhor e a senhora Vidal decidiram procurar ajuda psicológica. Ao menos era o que eu pensava.
Quando a terapeuta chegou com seu estagiário, meus sentidos ficaram em alerta, não por ela, mas por ele. Nunca gostei daquele rapaz. Havia algo em sua postura, em sua fala, em seus olhos. Algo que me preocupava. A princípio nada de anormal aconteceu. Gideon gostava de ficar com o estagiário, somente ele conseguia acalmá-lo.
Eu via o pequeno somente quando o levava para a escola. Ele aparentava estar mais tranquilo e agradeci mentalmente pelo tratamento estar dando certo.
O Gideon foi crescendo. Os pecados de seu pai recaíam sobre ele cada vez mais e mais, razão pela qual seus surtos de violência voltaram a aparecer. E estavam piores, muito piores. O tratamento já não surtia efeito até que, de repente, uma bomba explodiu na família: ele alegou que estava sendo abusado sexualmente pelo estagiário. Mas ninguém acreditou nele. Todos pensavam que era mais um de seus surtos, mas eu duvidava. Ele não mentiria sobre algo tão sério. 

Balanço a cabeça afastando esses pensamentos. Mais uma vez meus instintos alertam que algo muito sério está para acontecer. Gideon anda muito estranho esses dias, e tem evitado bastante a companhia da senhorita Tramell, embora ainda se importe em protegê-la. Apesar de mulherengo, ele sempre teve o cuidado de garantir a segurança das moças com quem se envolvia, como uma carona para casa, por exemplo. Desde que Eva entrou em sua vida, percebi uma mudança positiva nele, principalmente por ela ter se tornado a única em sua vida. Torço para que esses dois deem certo. Particularmente, gosto muito mais dela do que de Corinne.
Desde a agressão sofrida por Cary Taylor venho notando essas mudanças em Gideon, principalmente após ter a confirmação de que Nathan estava por trás delas. No fundo, bem lá no fundo, talvez eu saiba o que está acontecendo. Mas prefiro não dizer nada. Só espero que ele tome cuidado e saiba no que está se metendo, afinal há coisas que, uma vez feitas, não podem ser desfeitas.
...
Gideon
Os bombeiros chegaram três minutos após o soar do alarme. Tentei agir com o máximo de naturalidade que esse tipo de situação exige. O coronel Richards pediu para que todos evacuassem o hotel para que eles pudessem trabalhar. Comecei a entrar e sair do hotel no intuito de verificar se havia algum dano, alguém ferido ou algum hóspede ainda nos quartos. Fui à suíte em que me instalei para me arrumar para a festa e de lá tirei a sacola preta. Pendurei meu paletó sobre o braço e coloquei a sacola dentro dele, a fim de disfarçar o volume diante das câmeras. Saí de lá e comecei a perambular pelos quartos, apenas para despistar, como se estivesse procurando algum hóspede no andar. Encontrei um dos seguranças, dei-lhe algumas instruções e descemos pelos outros cômodos. Em um momento de distração de todos, saí pelos fundos do hotel. Enquanto estive fazendo uma ronda pelas câmeras, aproveitei para ajustar sutilmente uma delas de forma que a lente focasse outro local a poucos centímetros à frente, tornando a porta dos fundos um ponto cego.
Passei pela rua de trás, que estava deserta, e comecei a caminhar para um dos becos. Achando um canto mais escuro, troquei de roupa rapidamente, vestindo uma calça jeans, blusa, jaqueta com capuz e luvas, tudo preto. Coloquei minha roupa de gala na sacola, pus o canivete no bolso e segui para o hotel onde Nathan estava.
...
Narrador
Cross estava totalmente focado no que tinha que fazer. Não havia espaços para arrependimentos ou desistência. Eva era sua vida e sua morte, seu ar, seu céu, seu inferno, seu porto seguro, sua responsabilidade, seu ponto forte e seu ponto fraco. Ela o havia acordado de um sono profundo. Iluminou seu mundo sombrio e o transformou para sempre.
Ele chegou ao hotel após quinze minutos de caminhada. Entrou pela área de carga e descarga, que estava vazia. Como possuía uma chave mestra de todas as suas propriedades e subsidiárias, não teve problemas com portas. Subiu pelas escadas e observou o movimento. Nenhuma camareira ou funcionário a vista. O sistema de câmeras de vigilância estava sendo substituído por um mais moderno. Ninguém poderia provar que esteve ali.
Andou rapidamente até achar a suíte. Colocou a sacola no chão, tirou o canivete do bolso, colocando a lâmina em riste, bateu na porta e esperou. Segundos depois a fechadura foi destrancada e a porta se abriu.
Foi rápido e indolor. Ele mal teve tempo de dizer uma única palavra ou emitir um som de surpresa. O golpe foi preciso. Em segundos o corpo de Nathan caiu no chão do quarto num baque surdo.
Gideon deu uma última olhada em seu algoz, enrolou a faca num lenço que retirou do bolso da calça, pegou a sacola e saiu. A adrenalina corria em suas veias, seu ouvido pulsava, seu coração batia à mil. Diferentes sensações lhe invadiam, mas ele não sabia defini-las. E não tinha sequer tempo de pensar sobre elas. Não naquele momento.
Gideon só conseguia assimilar uma coisa: havia acabado de cometer um assassinato. E mesmo que tenha sido por amor, nada muda o fato de que ele tirou a vida de outro ser humano. E, como toda ação tem uma reação, sua escolha cobraria seu preço.

E então? Quem vibrou com a morte do Nathan? E a Ireland, gente! Que fofa, né? Aliás, sua presença será constante daqui pra frente! E o Angus com seu faro infalível? Lógico que como ex-FBI e o escambal a quatro ele sabe que tá rolando alguma coisa. Mas enfim! Agora foi!

Quero muitas reviews, hein? Beijos e até sexta que vem!

2 comentários:

Heloisa disse...

Aí , aí...vc arrasou esperar a ter sexta...que chega rápido...

Unknown disse...

Fico feliz por vc estar levando esse trabalho a sério e por não deixar a gente na mão, mesmo sabendo que escrever assim não é fácil, especialmente quando se tem outras responsabilidades. Quando feito com amor, resulta em boa qualidade. Parabéns!