sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Profundamente Minha: Capítulo 19 — Efeito colateral

Oi gente, tudo bem? Ta aí mais um capítulo. Obrigada pelos comentários e pelo carinho de sempre. Boa leitura!




 O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor.
 — Oscar Wilde

Eu fiquei um bom tempo tentando assimilar as palavras de Ireland. Em seu jeito meigo e simples, minha irmã disse que me ama. Ela não sabe absolutamente nada de minha vida, não sabe o que me levou a sair de casa, não conhece a minha rotina, não sabe nenhum dos meus segredos, mas, ainda assim, ela me ama. E não pede nada em troca a não ser ter contato comigo.
Sempre me achei o ser mais indigno de ser amado e mesmo assim, muitas me amaram, mesmo que eu não retribuísse, uma vez que eu não me abria para esse sentimento. Eva não precisou fazer esforço nenhum para me fazer amá-la, o mais estranho foi ouvi-la confessar seu amor mesmo depois de todas as merdas que fiz. 
Então me veio a voz de Ireland: “Você é mais do que os olhos podem ver. E só quem te ama de verdade consegue enxergar isso”.
E tudo começou a fazer sentido na minha cabeça. Não importa os defeitos, os erros, o passado obscuro, as pessoas que fiz sofrer direta ou indiretamente. No caso dela, nada disso importa porque ela não sabe, mas, mesmo assim, ela me ama. Tudo se resume a aceitar o outro como é. É querer tê-lo em sua vida mesmo que esse alguém cometa alguns deslizes, simplesmente porque você terá amor o suficiente para aceitá-los e perdoá-los. Ninguém é perfeito, ninguém pode garantir que não haverá dor, lágrimas, decepções, brigas, ressentimento. Não se pode chegar ao outro lado da ponte sem atravessá-la. Sempre haverá um caminho para ser percorrido, um obstáculo a ser ultrapassado, uma dificuldade a ser superada. A felicidade não vem fácil para ninguém e hoje, mais do que nunca, eu sei disso. 
Sem sequer imaginar, minha irmã me fez enxergar o quanto eu estava equivocado em alguns aspectos, como o de não dizer a Eva que eu a amo. Fiz tantas coisas erradas no intuito de acertar, e recusei a única coisa certa que eu poderia fazer. Eu queria mostrar meus sentimentos através de gestos, mas ela só queria ter a certeza deles por três palavras pequenas. Não que elas fossem mensurar tudo o que sinto por Eva, porque não são suficientes. Mas esse foi o meu erro: pensei tanto no que eu não queria dizer e esqueci que era o tudo que Eva gostaria de ouvir.
Fui um maldito egoísta. Mais uma vez.
Ireland me fez entender também que não preciso ser sozinho. Fui tão machucado que fiquei com medo de me apegar, medo de ser rejeitado novamente. Eva apareceu em minha vida tão de repente, num momento em que eu estava completamente fragilizado e despreparado. Temi que o sentimento que estava nascendo em mim fosse amor, por isso continuei a recorrer aos métodos antigos, mesmo sabendo que eu já tinha sido modificado de forma irreversível. Nós transamos na limusine e as coisas tomaram proporções tão intensas que entrei em pânico. Fui covarde, mas só por não saber lidar com o que estava acontecendo. E eu, como um ser dominador nato, estava acostumado com as coisas que podia controlar. Desde que me tornei Gideon Cross, nada havia saído do planejado, tudo andava em linha reta, em seu devido lugar. Mas Eva chegou como um furacão. Eu tentei correr, mas já estava dentro dele. O caos já havia se instalado e não havia mais nada a fazer a não ser me deixar levar.
Eu não sou mais o que era, e mesmo que eu tentasse, jamais voltaria a ser, porque o antigo eu não era nada, não tinha para quem voltar, não tinha de quem sentisse falta quando estivesse longe, não tinha alguém com quem se importasse e que se importasse com ele. E agora, esse Gideon, que foi moldado pelo amor imensurável e profundo é quem eu sou. Um homem que finalmente descobriu seu lugar no mundo, que entendeu o propósito de sua existência e que fará de tudo para que ela valha a pena, não por si só, mas para quem dela precisa. Eva é e sempre será minha vida. Eu jamais poderia permitir que ela fosse machucada ou pior, ser tirada de mim para sempre. Eu não suportaria.
Angus, de uma forma bem discreta, mas, ainda sim, perceptível, alternava olhares entre mim e a estrada durante a volta para casa. Ele viu o quando a declaração de Ireland mexeu comigo e não havia como não ver. Assim como Eva, ela me pegou de guarda baixa, abalando minhas estruturas completamente. Se havia algum resquício das barreiras que impus tudo desabou no momento em que minha irmã proferiu aquelas palavras.
Assim que o carro foi estacionado, já dentro da garagem, saí em silêncio e fui para o elevador privativo. Minha cabeça girava. As descobertas vieram de uma só vez e ainda estava tentando entender como uma adolescente cheia de hormônios pode agir com tanta maturidade. O mais engraçado é que nunca a vi como minha irmã. Nós ficamos tão distantes, principalmente por nossa diferença de idade ser de pouco mais de uma década, que eu me sentia filho único. Só depois que Eva começou com a história de querer nos aproximar que assimilei nosso parentesco. Christopher deixou de ser meu irmão no dia em que ele viu tudo... E nada fez para me ajudar.
Tirei minha roupa e caí exausto na cama. E pela primeira vez em dias, consegui dormir bem.
/***/
A terça passou rapidamente para mim, especialmente porque tinha muita coisa para fazer. Liguei para o gerente da Crosswinds, meu resort no Caribe, e pedi para que preparassem a suíte presidencial com praia privativa para mim. Ordenei que selecionasse apenas pessoas de confiança para integrar a equipe que irá organizar tudo. Todos assinarão contratos de confidencialidade que mandei meu advogado redigir. Nada do que acontecerá ali pode sair dali. Também liguei para Carolina Herrera em pessoa, a fim de encomendar o vestido de Eva. Marquei de ir até seu ateliê das sete e meia e pedi sigilo absoluto.
Depois do almoço tive duas reuniões que me custaram a tarde toda e, enfim pude sair. Estava exausto, mas extremamente satisfeito pelo fato de meus planos estarem se encaminhando bem.
Agora estou prestes a entrar no consultório do doutor Petersen. Pretendo continuar com as consultas. Não vou desistir de Eva, essa nunca foi minha pretensão, mas por ora eu teria que disfarçar. Por isso, treinei durante todo o caminho a desculpa que darei ao caríssimo doutor.
“Senhor Cross”, a secretária chama. “O doutor Petersen irá recebê-lo agora”.
“Obrigado”. Levanto e me encaminho para o consultório.
Dou duas batidas na porta e a abro. Um olhar astuto e perspicaz me estuda enquanto adentro o cômodo.
“Gideon, como vai?” Ele se levanta e estende a mão para me cumprimentar.
“Tudo certo doutor”. Aperto sua mão e me sento na poltrona em frente à sua.
“Que bom. Vamos começar de onde paramos há exatamente duas semanas atrás?”
Isso foi uma indireta pelo fato de eu não ter avisado que não viria na semana passada. Mas não me deixei abalar, afinal, ele recebeu o valor de duas consultas para suprir esse tempo perdido.
“Sim, a semana foi tumultuada demais e acabei não tendo tempo de vir. Eva esteve aqui, suponho?” pergunto já sabendo a resposta.
“Esteve. Aliás, dois detetives vieram conferir o álibi de Eva. Nathan foi assassinado e, pelo que fiquei sabendo, estava apresentando um comportamento psicopata em relação a ela. Pressuponho que você também tenha sido chamado a depor”.
“Sim”.
“Você quer falar sobre isso?”
Dou de ombros. “Não há o que dizer. Ele está morto”.
“E o que você sente sobre isso?”
“Embora não caiba a nós decidir quem vive e quem morre, não vou ser hipócrita e dizer que não senti que a justiça foi feita”. Tento parecer o mais indiferente possível.
“Você acha que ele merecia morrer?”
“Acho que ele merecia ter pagado muito mais do que uma quantia em dinheiro pelo que fez”.
O doutor digita alguma coisa em seu tablet e em seguida se volta para mim. “Como Eva está lidando com isso?”
“Isso você deve perguntar a ela, mas imagino que esteja se sentindo aliviada”.
“Vocês não conversaram a respeito, então?”
“Não”.
“Você conheceu Nathan?”
“Ele foi até meu escritório tentar me chantagear”, ele saberá disso cedo ou tarde. “Queria que eu lhe desse dinheiro e ameaçou divulgar fotos e vídeos dele...”, respiro fundo tentando conter o embrulho em meu estômago, “... fazendo aquelas coisas com Eva”.
“Você chegou a ver alguma dessas fotos?”
“Sim”, digo num sussurro. “Fotos e um DVD”.
“Como você se sentiu?”
“Enojado. Incapaz de entender como alguém pode ser tão monstruoso”, digo relembrando o que eu mesmo passei. “Fiquei com ódio e quis acabar com ele, mas esse não seria o caminho, então contratei uma equipe para cuidar da segurança de Eva”.
O doutor Petersen me analisa atentamente e, no segundo seguinte, começa a digitar furiosamente em seu tablet. E assim ficou por um bom tempo. Meus olhos vagam pela sala até pararem em sua mesa. Então acabo me lembrando de um dia em que Eva esteve em minha casa...

FLASHBACK
Eu estava cercado de relatórios e planilhas em minha mesa. Eu pedi que a equipe responsável pelo empreendimento no Arizona me mandasse relatórios semanais dos progressos. Dessa vez eu supervisionaria tudo de perto, não deixaria um furo. Não estava disposto a perder dinheiro, e muito menos ser taxado de charlatão.
Já era tarde da noite e estava absolutamente cansado. Queria jogar toda aquela papelada para o alto e cair na cama. Eva já estava dormindo. Só de pensar que não poderíamos passar a noite juntos eu sentia um desânimo impossível de ser descrito em palavras.
Eu senti sua presença antes mesmo de vê-la e quando levantei meus olhos me deparei com uma cena sexy e deliciosa: meu anjo com os cabelos revoltos, o rosto amassado de sono, as bochechas coradas, um bico lindo nos lábios e vestindo somente meu moletom da Columbia. Ela adora essa roupa.
“Anjo, tudo bem?” perguntei preocupado.
“Não”, disse manhosa. “Eu estou com saudades de você”.
Eu me levantei, saí de trás da mesa e abri meus braços. Ela deu um sorriso enorme e veio correndo, se jogando em mim, enlaçando minha cintura com suas pernas roliças e meu pescoço com seus bracinhos. Enterrou o rosto em meu pescoço, soltando seu hálito quente ali. Agarrei sua bunda com as duas mãos, segurando-a firmemente e aspirei profundamente o cheiro de seus cabelos e assim ficamos por um tempo.
Ela se mexeu um pouco e levantou seu rosto até que ele ficasse na altura do meu. Sua testa estava franzida e ela mordia seus lábios com tanta força que achei que ela iria fazê-los sangrar.
“Eva?” eu me sentei em minha cadeira novamente com ela ainda em meu colo. “O que houve?”
“Nada, é só...”, ela respirou fundo. “... eu tive um pesadelo”.
Fiquei tenso na hora. “Com Nathan?”
“Não” ela respondeu baixinho. “Com você”.
“Quer me contar?”, passei as mãos por suas costas tentando acalmá-la.
Ela ficou um tempo em silêncio, olhando para o nada enquanto seus dedos brincavam com meu cabelo. Em seguida, começou a sussurrar.
“Sonhei que... estávamos na Carolina do Norte. Só eu e você naquela imensidão, tão felizes e...” seus olhos se encheram de lágrimas. “do nada você começou a se afastar de mim, e ficava cada vez mais longe e longe, dizendo que nós dois não podíamos mais ficar juntos, que você estava errado...” ela começou a desabar. “Que você tinha vergonha de estar comigo, que não podia conviver com meu passado”. E ela começou a soluçar alto se agarrando ainda mais a mim.
Apertei meus braços em volta dela o máximo que pude, sem machucá-la.
“Meu anjo, calma”. Acariciei seus cabelos levemente. “Isso não é verdade. Você sabe disso”.
“Eu sei”, ela disse ainda chorando. “é só que... eu não sei lidar com isso Gideon. Não sei o que eu faria se te perdesse. Eu não posso te perder, eu não posso”.
Senti meu pescoço molhado pelas suas lágrimas e ela se agarrava cada vez mais e mais a mim, como se eu fosse desaparecer a qualquer instante.
Peguei seu rosto entre minhas mãos e olhei bem para seus olhos. “Eva, você acha que comigo é diferente? Você é a única coisa nesse mundo que me faz feliz. Você é minha vida, meu tudo. Eu simplesmente não posso te perder ou estarei perdendo a mim mesmo. Eu sou seu e isso nunca vai mudar. Nunca. Apenas confie em mim”.
“Eu confio”, disse num fio de voz. “Eu só queria entender algumas coisas. Fico pensando em como seria sua vida se não tivesse me conhecido. Talvez fosse até mais fácil...”.
Eu a calei com um beijo lento e ardente. Segurei firmemente sua cintura com uma mão, levantando um pouco o agasalho, e a outra agarrou sua nuca, aprofundando o beijo. Gemi ao perceber que ela estava sem calcinha. Suas pequenas mãos se embrenharam em meus cabelos. Ela rebolava insanamente em meu colo, sua bocetinha descoberta friccionava em meu pau que já levantava em sinal de reconhecimento por baixo da calça do pijama.
Eu me levantei e, sem desconectar nossos lábios, sentei-a na borda da mesa. Só me afastei para empurrar toda a papelada ali em cima para o chão. Sorte que meu computador não estava ali ou estaria em pedaços. Tirei a calça rapidamente, liberando minha ereção que pulsava em busca de alívio.
Deitei Eva sobre a mesa e voltei a me sentar na cadeira. Abri suas pernas, subi ainda mais o moletom e minha boca faminta foi de encontro à sua entrada molhada. Ela estremeceu e começou a rebolar ainda mais. Segurei seus quadris firmemente e mordi de leve seu clitóris, fazendo-a soltar um gritinho. Em seguida aliviei a dor com lambidas lascivas e precisas.
“Gideon...”.
“Isso meu anjo, geme meu nome”.
“Gideon, eu... ah”.
Continuei com meus ataques a seu botãozinho pulsante e, uma das mãos que estava em sua cintura, foi em direção ao seu seio esquerdo, levantando o moletom no processo. Assim que senti seu mamilo intumescido e duro de desejo, o belisquei de leve, e comecei a massageá-lo entre o polegar e o indicador.
Ela continuava a gemer meu nome cada vez mais alto e senti que seu ventre tencionava. Seu gozo viria a qualquer segundo.
Eu precisava sentir seu gosto em minha boca, precisava senti-la completamente entregue a mim. Continuei abrindo seus tecidos inchados e sensíveis com a língua, indo cada vez mais fundo, sem parar.
“Gideon, eu vou... eu... me deixa gozar... eu não aguento mais”.
Eu adorava vê-la implorando.
Tirei minha boca de sua intimidade e sussurrei. “Goza para mim, Eva”.
E ela explodiu em um orgasmo alucinante, gritando meu nome e gemendo algumas coisas desconexas. Continuei a chupar sua fenda sem tirar os olhos de seu rosto. Vê-la se contorcer de prazer e saber que sou o responsável por isso me encheu de tesão. Tanto que acabei gozando num jato espesso e grosso que sujou o assento da minha cadeira e minhas coxas.
Ficamos parados por um tempo, apenas tomando fôlego. Em seguida, tomei Eva em meus braços, que se encolheu e escondeu seu rosto em meu peito, e a levei para o banho.
FIM DO FLASHBACK

“Gideon?” Uma voz me acorda dessa lembrança.
“Sim?” Olho na direção da voz e me deparo com o doutor Petersen me encarando.
“Tudo bem?”
“Sim, eu só estava pensando em algumas coisas que tenho que resolver”.
 “Claro, tem algo mais que queira compartilhar sobre esse assunto?”
“Não”.
“Então, vamos para os eventos ocorridos pós Nathan. Como você e Eva estão no momento?”
Travo minha mandíbula para evitar o grunhido de dor. “Tenho trabalhado muito e acabei esquecendo muitas coisas. Eva acha que estou a afastando, mas na verdade só estou muito ocupado”. Suspiro cansado de tudo isso. “Eu a quero em minha vida, muito mesmo. Mas há muita coisa entre nós e temo que ela não saiba lidar com isso”.
“Eva tem muitas reservas em relação ao passado dela e isso afetou sua forma de se relacionar com as pessoas, o que pressuponho que não é uma novidade para você. Como acha que a morte de Nathan irá afetar a relação de vocês daqui para frente?”
Essa é uma ótima pergunta.
“Não tenho ideia”, admito.
Meu maior medo é que ela não saiba lidar com o que fiz. Que ela se afaste ainda mais de mim.
“Talvez você queira discutir esse assunto na quinta, ao lado dela”, sugere.
“Sim, talvez”.
“Bom, você ainda tem alguns minutos. Quer falar sobre alguma outra coisa?”
Consulto o relógio e vejo que já está quase na hora de meu outro compromisso.
 “Não, acho que está bom por hoje”.
“Certo. Você continuará vindo às seções?”
“Sim”.
 “Tudo bem”.
Nós nos levantamos, trocamos um aperto de mãos e saio de lá pensativo. Ainda não posso me aproximar de Eva, mas tenho que me preparar para quando isso acontecer.
Quinze minutos depois paro em frente ao escritório de Carolina Herrera. Ela me recebe com alegria e conversamos sobre o vestido. Passo-lhe as medidas de Eva e forneço alguns detalhes sobre o gosto dela. A princípio Carolina fica um tanto pasma por não ter sido a própria Eva a vir escolher o vestido, mas acaba ficando bem animada com o projeto. Ela me enviará o esboço até esta sexta e, uma vez, aprovado, começará a confeccioná-lo. Saio de lá com a esperança renovada. Eva será minha, para sempre. E eu mal posso esperar.
/***/
The Fray – Never Say Never

Passei a noite no apartamento ao lado do de Eva. Senti uma necessidade absurda de estar perto dela. Meu peito até doía de saudade. Tentei dormir, mas acabei rolando na cama por boa parte da noite. Resolvi pegar aquele moletom da Columbia que ainda tem o seu cheiro e consegui cochilar por umas duas horas.
A manhã no escritório passou rapidamente. Fiz as verificações de segurança com Ben, analisei o contrato da venda de um novo imóvel no Upper East Side e tive uma teleconferência com dois executivos ingleses sobre a aquisição de um hotel em Londres.
Não almocei. Nada me descia.
Meu advogado chegou às 14h e eu já tinha em mãos o inventário de todos os bens de que disponho. Analisei tudo atentamente e, em seguida, lhe passei os detalhes do contrato nupcial. Apesar de ter sido bem discreto, eu podia perceber o espanto que dele ao ouvir minhas instruções.
Ao sair do trabalho, uma coisa me bate e resolvo mandar uma mensagem para Ireland. Eu não falo com ela desde segunda. Como não tenho ideia do que dizer, começo com o básico.
*Olá, tudo bem? Como foi o seu dia?*
Em dois minutos, a tela do meu celular pisca.
*Estou ótima. E você?*
Digito a resposta já a caminho do carro.
*Estou bem*
Trocamos mais algumas mensagens sobre o que fizemos durante o dia e isso faz uma sensação boa se apoderar de mim.
...
Ireland
Eu quase caí da cadeira quando recebi a primeira mensagem de Gideon. Achei que tinha assustado ele com o que eu disse antes de sair da limusine. As palavras saíram da minha boca espontaneamente. Senti que aquilo tinha que ser dito por que ele precisava. Queria que meu irmão entendesse que realmente quero me aproximar dele. Quando começamos a trocar mensagens então... Fiquei nas nuvens. Gideon tem senso de humor e consegue ser legal mesmo por SMS e foi muito bacana descobrir esse lado dele. Mamãe me chamou para jantar e eu, infelizmente, tive que interromper nossa conversa. Ela nunca abre mão desses momentos em família. Combinamos de almoçarmos juntos no domingo. E estou tão animada com isso. Estou no caminho certo e tenho certeza que vamos ser amigos.
Amo meu irmão e espero que um dia eu possa ouvi-lo dizer o mesmo, mas só de ele tomar a iniciativa de querer passar um tempo comigo, já me deixa mais do que feliz.
...
Gideon
Essa quinta feira foi agitada no escritório. Estou um caco.
Queria ir para o prédio de Eva, mas não posso. Ao menos pelo resto dessa semana, tenho que me manter afastado. Soube que Stanton está sendo exaustivamente interrogado. Além do mais, os detetives pediram as cópias das fitas de segurança do prédio, que Ben disponibilizou prontamente.
Essa quinta-feira foi agitada no escritório. Estou me sentindo exausto. Tudo o que eu quero é dormir. Queria ir para o prédio de Eva, mas não posso dar essa bandeira agora. Ao menos pelo resto dessa semana, tenho que me manter afastado. Soube que Stanton está sendo exaustivamente interrogado. Além do mais, os detetives pediram as cópias das fitas de segurança do prédio, que Ben disponibilizou prontamente.
Liguei para o escritório do doutor Petersen para dizer que não iria à consulta e a atendente me disse algo que me surpreendeu.
"Mas a senhorita Tramell ligou cancelando as consultas de quinta, senhor Cross".
Fiquei calado por alguns instantes tentando assimilar o que ela disse. Eva... cancelou nossas consultas?
"Senhor Cross? O senhor está na linha?"
"Sim", respondi um tanto distraído. "Quando ela ligou?"
"Hoje de manhã".
"Ah sim", eu não queria acreditar que ela estava fazendo aquilo. "Eu me esqueci disso. Liguei por força do hábito, sinto muito". Menti ao mesmo tempo em que tentava disfarçar a surpresa.
"Não tem problema, senhor Cross".
"Certo, boa tarde".
"Boa tarde".
Desliguei o telefone. Me senti meio perdido. E assim estou até agora. Claro que foi providencial que ela ligasse e cancelasse tudo, principalmente com a polícia à espreita, mas não pude conter a enorme tristeza não só por ter que me afastar ainda mais dela, mas também porque ela própria queria esse afastamento.
Volto para casa de táxi, já que Angus está vigiando Eva e Raul pediu o dia de folga para ver seu pai, que teve uma parada cardíaca e foi hospitalizado.
 “Boa noite, senhor Cross”, o porteiro me cumprimenta.
“Boa noite, George”.
“A senhorita Tramell esteve aqui e deixou isso para o senhor”. Ele me estende um envelope.
Meu coração acelera ao ouvir isso e minhas mãos começam a suar. O que será?
Sem demonstrar meu nervosismo, eu o agradeço pegando o envelope e me encaminho a passos rápidos para o elevador.
Já dentro da cabine, pego a chave mestra no bolso e a ponho no painel, digitando o código da cobertura em seguida. Sacudo o envelope e o som metálico faz meus ossos gelarem. As portas de alumínio se abrem no meu hall e saio em disparada para o meu quarto.
Deixo a pasta em cima da cômoda, me sento na beira da cama, despejando nela o conteúdo do envelope.
...
Narrador
Gideon Cross havia feito uma promessa a si mesmo: nunca mais cederia a ninguém. Nunca mais se mostraria vulnerável. Depois de tomar posse de si mesmo e sair da casa de seus pais, ele se dedicou em erguer um muro intransponível à sua volta. Ele se permitiu ser covarde o bastante para se afastar dos outros apenas para salvar a própria alma, já muito machucada. Seu histórico de vida lhe permitia isso. Como todo ser humano, Cross construiu sua força a partir de sua fraqueza e se escondeu em uma fortaleza como o menino assustado que fora um dia. Ou que talvez ainda fosse.
Pensava que o abuso que sofrera, tinha sido o maior golpe de sua vida. Não chegava nem perto. Eva lhe devolvera a marca de sua posse sobre ela, o símbolo da submissão dela a ele. Mostrara a Gideon que não o queria mais, que o vínculo entre eles fora partido.
Em nenhum momento de sua vida se sentira tão miserável e desgraçado como naquele.
...
Gideon
Não. Não, não, não!
Uma náusea me sobe e antes que eu perceba estou vomitando na pia do banheiro. Não há nada para sair a não ser água. O enjoo continua forte e desesperado par aliviar esse mal estar, ligo o chuveiro e entro de terno e tudo debaixo da ducha morna. Minhas costas saem deslizando pelo azulejo enquanto lágrimas grossas descem pelos meus olhos. Ela... Ela me tirou de sua vida. Ela deu sua prova de que queria sim, viver sem mim.
Começo a arfar audivelmente, meu peito subindo e descendo rapidamente. Uma dor excruciante cresce no meu peito.
E antes que eu perceba, sou engolido pela escuridão.


Espero que tenham gostado! Domingo tem mais!! Beijos!

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