sexta-feira, 7 de março de 2014

Profundamente Minha: Epílogo — Dívidas pendentes

AVISO SOBRE A CONTINUAÇÃO DA SÉRIE: CLIQUE AQUI. NÃO RESPONDEREI PERGUNTAS RELACIONADO AO QUE EU JÁ TIVER DITO, PORTANTO, RECOMENDO QUE LEIAM TUDO. 
BOA LEITURA!



“A vingança é o manjar mais delicioso, condimentado no Inferno”.
— Walter Scott


Narrador


Ela mal podia acreditar na sorte que tivera. Nunca o tinha visto por aqui desde que passara a frequentar o local. Ele já tinha sido fotografado várias vezes enquanto vinha para cá. E, por isso, resolveu se matricular naquela academia, na esperança de vê-lo. A própria queria acreditar que fez isso apenas para coletar material para o seu projeto. Mas sabia que não era apenas isso.
Ela observava atentamente ele se movimentando pelo lugar, exibindo sua beleza fora do comum e exalando confiança. Seus olhos acompanhavam cada movimento, cada músculo pulsando pelos exercícios pesados, cada gota de suor que escorria pela pele bronzeada, seu peitoral magnífico subindo e descendo aceleradamente por baixo da camisa.
Assim como milhares de mulheres que passaram pela sua cama, ela era mais uma que acreditava ter chance de fisgá-lo. No entanto, a humilhação pela qual passara ainda doía. A morena ainda podia sentir o gosto amargo da rejeição em sua boca, e estava disposta a fazê-lo pagar. Mas o sentimento que a movia não era ódio, e sim despeito, orgulho ferido.
Nunca precisou de muito para ter um homem, nunca precisou fazer estripulias para prender a atenção. Ela era linda, experiente, bem sucedida e poderia ter o homem que quisesse. Sua chance de ouro surgiu naquela festa, quando percebeu que o grande Gideon Cross estava interessado. Não era pouca coisa. Tratava-se de um dos solteiros mais cobiçados do mundo, que estampava páginas e páginas de tabloides – sempre com belíssimas morenas altas e longilíneas –, bem como capas de revistas de negócios. Sua vida pessoal sempre fora um livro lacrado para a imprensa, sua reputação era impecável, mesmo sendo filho de Geoffrey Cross. Ele conseguiu passar por cima de todas as expectativas e se firmar no mundo dos negócios sem nenhuma ajuda.
Por outro lado, seu currículo amoroso, que contava com diversas mulheres de coração partido, mostrava o quão monstruoso o jovem magnata podia ser. E é nisso que ela iria se focar.
Percebeu que ele começou a olhar para todos os lados, como se procurasse alguém. Talvez ele não a reconhecesse, mas era melhor evitar. Foi para um aparelho mais afastado e, de lá, continuou a observá-lo. Meia hora depois, ele recolheu sua garrafa de água, e seguiu o caminho dos vestiários. A mulher esperou um tempo, e foi na mesma direção, tirou o excesso de suor numa ducha rápida, trocou de roupa, saiu para a rua e pegou um táxi.
Já em casa, a jornalista encheu a banheira com água e sais. E agora, se encontrava mergulhada nela, com um copo de vinho tinto nas mãos, pensando em todas as evidências que coletara. Mas a maior delas ainda estava por vir: Eva Tramell, mais uma conquista que acabou de coração partido. Uma mulher magoada é capaz de tudo e a morena tinha certeza que poderia tirar muita coisa dela. Sabia disso porque também esteve ali, nos braços daquela perdição de homem. Ainda podia sentir a rigidez de seus músculos, a maciez de sua pele, seu toque bruto, selvagem, seu cheiro másculo.
Mas sequer chegara a desfrutar de tudo de forma plena.
Seus olhos se fecharam ao se relembrar da dor que sentira ao ser tratada daquela forma. Ele parecia estar realmente interessado num primeiro momento. A força de atração que emanava dele era potente demais. Não havia como não ser atingida, não havia como dizer não. É impossível dizer não a um homem como aquele. Um olhar, um sorriso matador e algumas palavras foram suficientes para enredá-la.
Apesar de querer se vingar, no seu íntimo não havia dúvidas: ela queria, sim, que aquela noite terminasse. Queria ter desfrutado o mais insano dos prazeres que ele poderia lhe proporcionar. Queria ter gozado várias e várias vezes para aquele homem, entregando-lhe totalmente o controle sobre seu corpo. Porém, o que ela mais queria, era ter tido a chance de virar o jogo, de fazê-lo ao menos sentir um terço do desejo que sentia...
Seus olhos se abriram novamente, fitando o vazio e dando um longo gole em seu vinho. A mágoa dando lugar à raiva. Estava focada em seu objetivo. E iria fazê-lo pagar, de um jeito ou de outro.
“Ou não me chamo Deanna Johnson”, disse após sorver todo o líquido da taça.
Do outro lado da cidade, uma mulher que também teve seu coração partido, talvez até mais, estava sentada em sua penteadeira, traçando silenciosamente um plano. Estava mais do que disposta a se vingar também. Anos e anos sofrendo por um amor não correspondido. Mas não era só isso. Também havia seu irmão. Queria vingá-lo. Não se conformava com seu suicídio, e tinha certeza de que Cross era culpado disso.
Sua vida desmoronara, seu coração fora despedaçado. Estava presa em um casamento sem amor, mas não poderia nunca sair dele pela gratidão. Sabia que seu marido a amava e, por causa disso, seu irmão fora livrado da cadeia. E isso ela nunca esqueceria. E também sabia que fora usada por Cross por mera vingança.
Pois ele teria a sua fatia nessa torta. E ela iria garantir que fosse a mais amarga.
“Ou eu não me chamo Anne Lucas”, disse se encarando no espelho.
Seus olhos faiscaram com um brilho perverso.
Em outro lugar mais distante, ou não, não se sabe ao certo, uma pessoa estava tinha em sua mão coberta por uma luva, a correntinha que Nathan Barker usava no momento em que fora assassinado. Seus dedos acariciavam as pequenas esmeraldas nele incrustadas. Sua missão era encontrar um novo culpado para a morte dele. Não seria difícil, uma vez que o alvo já estava na mira há um tempo. Seria como matar dois coelhos numa cajadada. Três, aliás.
Nathan estava envolvido em algo que ia muito além da simples vingança. E falhou miseravelmente. Cross foi mais esperto e o pegou desprevenido. A situação foi mudada e os planos também. Sem saber, o filho de Geoffrey tinha se metido no caminho deles, só não se sabia se para o bem ou para o mal. De qualquer forma, ele estaria devendo, afinal receberia um habeas corpus vitalício.
Cedo ou tarde, chegaria o dia de cobrar o favor.



FIM DO SEGUNDO LIVRO 

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