domingo, 3 de agosto de 2014

Toda Minha: Capítulo 6 — A única exceção

PARA QUEM LEU O CAPÍTULO ANTERIOR ASSIM QUE POSTEI OU ALGUMAS HORAS DEPOIS, UM AVISO: EU O MODIFIQUEI QUASE QUE COMPLETAMENTE NOVAMENTE. ENTÃO RECOMENDO QUE RELEIAM. 
Oi pessoal! Aqui vai uma das partes mais esperadas da história: a transa na limusine. Quando tudo muda para Gideon. O que será que ele sentiu naquele momento? Será que ele é tão canalha assim? Esse capítulo, para quem já leu, está super modificado também! Espero que gostem! Boa leitura!


 É incrível a forma que você entrou na minha vida, como tudo, exatamente tudo mudou depois disso… mas eu fico me perguntando como é que eu vivia sem você".


- Prefira Borboletas (Marina Lobo)

Puta que pariu! 

Eu nunca senti meu pau tão dolorido! Tive que me conter para não foder Eva ali mesmo. Se eu começasse, não iria parar. Desço as escadas de emergência a fim de evitar o elevador. Estou tão duro que as câmeras de segurança provavelmente captariam meu volume no meio das pernas. Além disso, eu preciso de mais privacidade para tentar baixá-lo. Essa mulher me deixa louco! A cada minuto do meu dia, a cada respiração, a cada batida incessante do meu coração, eu a desejo mais e mais. Eu preciso dela, do corpo dela. Passo apressado pela recepção como uma flecha. Entro no Bentley e peço a Angus para ir para casa o mais rápido possível. Estou ansioso por essa noite. As memórias de nossa “rapidinha” me veem a mente a todo o momento. Seu corpo, seu cheiro, sua respiração entrecortada, seus gemidos, sua entrega total... Naquele momento em que nossos olhos se cruzaram após o primeiro orgasmo, tive certeza de que eu a dominaria, de que ela faria qualquer coisa que eu mandasse, de que ela se inclinaria a minhas vontades. E não havia nada melhor do que isso.
Assim que chego em casa, ligo para o gerente do hotel perto da CrossTrainer solicitando que arrume minha suíte. Meu plano é levar Eva para lá após a festa e me enterrar nela. Muitas mulheres passaram por ali. Vivi momentos prazerosos e excitantes, mas sinto que desta vez será diferente. Só o que acabamos de vivenciar no apartamento de Eva, foi mais intenso do que qualquer transa. Tenho que admitir que, de certa forma, ela tem poder sobre mim, mas, por mais que ela seja a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos e que meus sentimentos por ela sejam fortes, devo manter em mente meus objetivos e continuar mantendo as coisas separadas. Tomo um banho frio e me arrumo pensando na noite espetacular que teremos mais tarde... Se o que aconteceu mais cedo me deixou desse jeito, fico imaginando o que será de mim após o ato consumado. Com certeza ela deve estar pensando em nosso encontro também e isso me deixa ainda mais animado. Checo as horas em meu celular e percebo quatro ligações de Corinne e uma mensagem de voz. Meu sorriso some e uma carranca se instala em meu rosto. Que diabos ela quer agora? Por curiosidade, ouço a mensagem.
“Oi Gideon”, soluça. “Não sei se você viu, mas deixei uma mensagem em seu celular. Estou há dias esperando sua ligação... e até agora nada. Me sinto tão... sozinha, tão desamparada. Eu... preciso de você. Estou no meio de uma crise... por favor, p-preciso de você. Me ligue, por favor...”.
Ah, não! Gosto muito de Corinne, mas hoje não estou com tempo ou paciência para suas crises. Nada de drama! Mais uma vez, solenemente, ignoro suas tentativas de me contatar e me concentro em me arrumar para a grande noite que terei.
Mesmo vestindo um smoking, mantenho meu cabelo em seu estilo habitual. Eles são um pouco compridos e vão até a metade da nuca. Gosto de mantê-los assim, pois me faz lembrar uma parte de mim que eu tive que enterrar: um jovem impulsivo e rebelde. Ele não media consequências, não se importava com nada, nem com ninguém; por trás da fachada rude, ficava isolado em um canto lambendo as feridas do passado. Eu nunca o esqueci, ele está bem vivo aqui dentro, guardado em algum lugar obscuro do meu coração. Empurrando essas lembranças para longe, me vem a figura de Eva, que adora puxar minhas madeixas enquanto me beija. O pensamento me faz sorrir. Vou mantê-las dessa forma porque ela gosta e para facilitar seu trabalho mais tarde.
Chego ao seu prédio dez minutos adiantado. Ao chegar à recepção, o porteiro me nega a entrada, pois Eva não avisou de minha chegada. Engulo meu aborrecimento por ser barrado em meu próprio prédio e aguardo pacientemente enquanto ele a interfona. Seria muito rude de minha parte usar da minha autoridade para entrar. Minutos depois, Cary sai do elevador, elegantemente vestido.
“Gideon, desculpe por isso. Eva está terminando de se arrumar. Vamos esperá-la lá em cima”.
Aceno com a cabeça e o sigo. Cary é muito agradável e a conversa flui fácil, mas ainda tenho certo receio dado o seu passado conturbado e promíscuo. Ele me convida a sentar e oferece algo para beber, mas recuso. Sem pensar, me levanto e começo a andar de um lado para o outro. Estou ansioso para vê-la e ele parece notar isso.
“Bom, eu vou até o quarto apressá-la, mas antes, gostaria de trocar duas palavrinhas com você sobre ela, tudo bem?”
Paro abruptamente e volto a encará-lo com a sobrancelha arqueada. “Estou escutando”.
Ele suspira. “Eu tenho Eva como uma irmã. Ela é a pessoa mais preciosa no mundo para mim. Eu andei pesquisando muito sobre você e conheço seu tipo: playboy bilionário, bonito, charmoso e com fama de conquistador. Vi a fila de belíssimas mulheres com quem você já se envolveu. Não estou te julgando nem nada do tipo. Só não banque o engraçadinho para cima de minha amiga ou eu vou chutar suas bolas tão forte que nenhum cirurgião no mundo será capaz de colocá-las no lugar, será que fui claro?”.
Imediatamente tomo uma posição defensiva. Quem ele pensa que é para falar desse jeito comigo? Melhor colocar esse sujeito no lugar, afinal de contas o teto dele também é de vidro.
“Seu histórico é muito pior do que o meu, Taylor. Como você se atreve a me dar esse tipo de advertência?”
“Sei que você revirou toda a minha vida pelo avesso e deve até ter uma lista das pessoas com quem já dormi, mas isso não vem ao caso. Estamos falando do seu potencial para machucá-la”.
Franzo o cenho tentando entender aonde ele quer chegar com tudo isso.
“Eva é uma mulher independente, e aparenta ser muito confiante, mas é emocionalmente frágil”, continua. “Ela já se envolveu com alguns babacas, só que perto de você eles parecem príncipes encantados, quase cordeirinhos. Então nem pense em usá-la ou algo do tipo. Ela merece o melhor”.
“Não pretendo fazer nada que Eva não queira”, rebato. “Somos adultos o suficiente para decidir o que queremos ou não. E acho que, nesse ponto, nosso envolvimento não te diz respeito”.
“Não, mas no ponto em que ela chega em casa magoada por ter sido usada como um refratário de esperma por um canalha metido a dono do mundo, o envolvimento de vocês passa a ser da minha conta. Espero mesmo que você tenha as melhores intenções com Eva, mesmo que elas não incluam um relacionamento. Afinal ela não é qualquer uma”.
Visto minha expressão impassível tentando conter minha raiva.  “Eu jamais pensaria algo tão repugnante sobre ela. Muito pelo contrário. Eu a respeito como pessoa, acima de tudo”, fecho os olhos e respiro fundo para me acalmar antes que eu exploda de vez. “Você poderia chamá-la, por favor? Não podemos nos atrasar”.
“Certo”, diz secamente e sai.
Vou em direção à janela para observar a cidade e refletir sobre a conversa ríspida que acabamos de ter. Sua preocupação com Eva é genuína e compreensível. Suas palavras ficam martelando em minha mente. Eu não pretendo machucá-la, apenas desfrutar de algo que ambos adoramos nos termos que foram aceitos por ambas as partes. Ela sabe no que está se metendo. Bom... Mais ou menos! Mas isso é apenas um detalhe; o que nos une é só o sexo e isso basta. Um sorriso involuntário surge em meus lábios apesar do desconforto que sinto por estar em um ambiente sobre o qual não tenho controle, o que é irônico já que o prédio me pertence.
De repente meus sentidos estão em alerta e sinto sua presença, seu olhar fulminante em minhas costas. Volto-me para encará-la e, por breves segundos, fico sem palavras. Eva está estonteante em seu vestido longo vermelho vibrante com corte diagonal que vai até seu quadril e com uma fenda mostrando a perna que está enfeitada com a tornozeleira de diamantes. A roupa valorizou cada curva de seu corpo perfeito, destacando seus lindos e apetitosos seios. Meus olhos a percorrem avidamente. De cada poro do meu corpo emana um desejo violento por ela, que não está indiferente.
“Eva”, murmuro andando até ela. Tomo sua mão e deposito um beijo suave.
“Oi”, diz um pouco vacilante.
“Oi”, respondo. “Você está linda. Mal posso esperar para exibir você por aí”.
“Espero que consiga fazer jus a você”.
Eu a encaro um tanto confuso. Como não faria jus a mim? Ela está fabulosa. Então me lembro das palavras de Cary sobre ela ser emocionalmente frágil. Parece que a baixa autoestima é um de seus problemas. Como pode se sentir assim? Vou ter que vigiá-la a noite inteira! Do jeito que está ainda mais linda, vários abutres irão alçar voos rasos em torno dela e não estou disposto a deixar que isso aconteça.
No elevador, a tensão sexual é palpável. Nossa proximidade faz meu desejo chegar a um nível próximo ao sofrimento, ainda mais vendo suas costas nuas. Cary está encostado no canto oposto, aparentemente alheio. Ao sairmos, nos encontramos com suas moças prestes a entrar no elevador, que olham a mim e a Cary embabascadas. Que olhem à vontade, afinal, só tenho olhos para minha dama de vermelho. Ponho minha mão na base de sua coluna para guiá-la até a limusine, já sabendo que é um de seus pontos sensíveis, e sinto sua pele se arrepiar sob a minha.
Já do lado de fora do prédio, Eva se despede de Cary e entramos na limusine. Agora, finalmente, eu a tenho só para mim.
Pego sua mão e a acaricio, enquanto minha outra mão aperta o botão que aciona o vidro escuro atrás do motorista. Assim que se fecha completamente, suspiro o nome de Eva e a puxo para meu colo e a beijo como se fosse comê-la viva. Como uma reação natural, suas mãos vão direto para meus cabelos, retribuindo o beijo. Ela o aprofunda e começa a chupar minha língua. Adoro quando ela faz isso. Fico duro instantaneamente. Minhas mãos descem pelas suas costas nuas fazendo-a soltar um gemido de puro prazer. De repente, ela monta em cima de mim, levanta a fenda de seu vestido e coloca suas pernas uma de cada lado, fazendo minha ereção roçar sua abertura sedenta protegida apenas pelo tecido fino de sua calcinha. Seu beijo se torna mais agressivo. Ela suga meus lábios, lambe, morde. Isso está me deixando maluco e minha cabeça está entrando em parafuso.
Assustado com a direção que isso está tomando, afasto seus quadris e a encaro.
“O que está fazendo comigo?” pergunto ofegante.
“Estou tocando você. Me aproveitando de você. Eu quero você, Gideon”. Responde num tom provocante enquanto desliza suas mãos em meu peito por baixo da camisa.
Impedindo que suas mãos alcancem a parte mais dura do meu corpo, seguro seus pulsos e digo que não podemos fazer isso no meio da rua. Ela argumenta que ninguém pode nos ver pelo vidro.
“Não importa. Não é hora nem lugar de começar uma coisa que só vamos poder terminar daqui a várias horas. Já estou enlouquecendo com o que aconteceu hoje à tarde”.
“Então vamos acabar logo com isso”.
Mantenho minha posição inflexível e aperto ainda mais seus pulsos. Eu não quero fazer isso aqui. Nunca fiz sexo em nenhum outro lugar, só no hotel. Não vou transformá-la numa exceção.
“Porque não?” me pergunta em tom de desafio. Sua expressão muda, como se tivesse descoberto o segredo do universo. “Você nunca transou numa limusine?”
Droga! Ela descobriu. Cerro minha mandíbula e pergunto irritado. “Você já?”
Eva se vira para a janela e não responde. Então, subitamente, avança com seus quadris se esfregando em toda a extensão do meu pau, que a essa altura, está tão rígido quanto um muro de concreto. Mesmo fazendo de tudo para mostrar meu desagrado com a situação (o que está longe de ser verdade, pois estou sentindo um tesão da porra), ela prossegue com seu show de sedução lento e torturante. Minha respiração sai áspera entre meus dentes cerrados.
“Preciso de você, Gideon. Você me deixa louca”, sussurra sem fôlego.
Tento distrai-la agarrando seu rosto e colando nossos lábios, mas suas mãos encontram meu zíper e desabotoam minha calça. Meu corpo enrijece instintivamente.
“Eu preciso disso”, murmura bem perto da minha boca. “Deixa, vai”.
Desisto de tentar impedi-la. Sei que não vai adiantar e essa tortura está me matando. Meu corpo permanece rígido. Quando ela pega o meu pau, eu gemo de dor e de prazer. Eva o aperta de levinho, o apalpa, fechando suas mãos em torno dele, e deslizando-as da base até a ponta.
Agarro seus quadris e coloco minhas mãos por baixo de seu vestido até que meus polegares alcançam a renda vermelha nas laterais da calcinha fio-dental.
“Sua bocetinha é tão doce”, murmuro com minha boca colada à dela. “Quero abrir suas pernas e te lamber até você implorar pelo meu pau”.
“Eu imploro agora mesmo, se você quiser”.
Enquanto uma de suas mãos me masturba e a outra procura algo dentro da bolsa, enfio um de meus polegares em sua calcinha e sinto a torrente de desejo que ela derrama por mim.
“Mal toquei em você, e você já está prontinha pra mim”, sussurro.
“Não dá pra evitar”.
“Não é pra evitar”, digo, afundando um polegar dentro dela. “Não seria justo, já que não posso obrigar você a parar o que está fazendo”.
Eva retira um pacote prateado da bolsa, o rasga com os dentes e me entrega e diz que não sabe colocar a camisinha. Pego o pacote aberto e digo, em um tom grave, que estou quebrando todas as minhas regras com ela.
“Regras forma feitas para serem quebradas”, rebate.
Sua afirmação me faz sorrir. Pressiono o botão do intercomunicador e ordeno a Angus que continue dirigindo até eu mandar parar. Eva fica tão vermelha quanto seu vestido. Acho isso adorável e resolvo provocá-la enquanto desenrolo o preservativo.
“Ora essa, Eva. Você me faz querer transar na limusine, mas sente vergonha quando digo ao motorista que não quero ser interrompido?”
Ela se posiciona em cima de mim para encaixar meu pau à sua fenda úmida e gulosa. Como a calcinha está restringindo seus movimentos, eu a rasgo. Não quero nada me atrapalhando agora. Levanto meu quadril para abaixar mais a calça.
“Vá devagar”, ordeno.
Ela desce lentamente até sua boceta envolver meu membro totalmente. Porra!
“Minha nossa, Eva!” Digo sem fôlego. “Você é tão apertadinha”.
Cristo, a sensação de estar dentro dela é indescritível. Não consigo nem formular uma frase sequer. Não há nada ao nosso redor. O que estamos fazendo é tão íntimo, nos encarando, as faces quase coladas. Ela está tão fora de si quanto eu. Penetro mais fundo, sentindo-a alargar aos poucos. Espalmo a mão direita pelo se ventre e alcanço seu clitóris com o polegar, massageando-o lentamente com movimentos circulares. Seu corpo se enrijece e se contorce de prazer. Meu corpo exala um desejo primitivo, e a penetro cada vez mais e mais. De seus lábios, escapa um gemido abafado.
“Nossa”, rosno entre dentes. “Vou gozar muito”.
E continuamos nesse vai e vem delicioso. Seus tecidos apertados me envolvem de tal forma que sinto uma pressão até um pouco dolorosa, mas que não me impede de continuar a fodê-la, afinal ela já está toda molhada e desliza até facilmente pelo meu pau, dada à situação.
“Porra!” grito enquanto agarro seu quadril para que se incline contra meu peito, sentindo as vibrações e as batidas do meu coração, que está mais acelerado que o normal. Suas pernas se abrem mais e eu a tomo por completo. Sinto o aperto novamente, mas a dor é tão gostosa, que me permito ir um pouco mais além. Eva solta outro grito abafado e geme audivelmente, incessantemente. Ela lambe as gotículas de suor que brotam em meus lábios. Levanto seus quadris e, avisando para que desça devagar, permito que ela deslize novamente pelo meu pau e, quando estou totalmente dentro dela, nossos olhares se encontram como se nos identificássemos com o que estamos fazendo, como se fosse natural. Curvo-me para que a cabeça do meu pau massageie seu ponto mais sensível até que ela geme meu nome e goza violentamente. Vendo-a se desmanchar em cima de mim, encaro-a forçando a olhar pra mim enquanto é tomada pelo êxtase.
“Caralho, caralho, caralho”, eu urro dando estocadas furiosas. Meus olhos estão arregalados, fixos nos dela. Atinjo o ponto mais profundo do seu corpo e gozo gritando seu nome ferozmente, liberando um jorro espesso e delicioso. Meus olhos ficam embaçados de tanto prazer. Meu corpo é tomado por espasmos intensos. De repente a limusine vira uma fornalha, e estou queimando, por dentro e por fora.
Com certeza esse foi o melhor orgasmo da minha vida.
Eva envolve meu rosto com suas mãos e me beija delicadamente, como se estivesse me confortando. Eu a aperto em um abraço e inalo o cheiro de seus cabelos. Estou entregue, completamente vulnerável. Ficamos abraçados por um bom tempo, absorvendo o aroma um do outro, nos recuperando do orgasmo, até que viro sua cabeça retribuo o beijo carinhoso que me dera.
“Nossa”, respira.
“Pois é”, digo sorrindo.
Afasto os fios de cabelos úmidos de suor de sua testa, percorrendo seu rosto com os dedos. Eva não tem ideia do que acabou de fazer comigo. Ela simplesmente quebrou todas as barreiras que impus em minha vida sexual por tantos anos. Além disso, há um sentimento crescendo em mim, algo que não consigo identificar, mas é forte. Nenhuma outra mulher despertou essas emoções em mim antes. Sinto uma ternura inesperada por ela enquanto a observo. Tudo o que eu mais quero é levá-la para longe e passar o resto da noite dentro dela. Infelizmente não posso largar meu compromisso.
“Não quero estragar o momento”.
“Mas...?”
“Mas não posso perder o jantar. Tenho um discurso a fazer”.
“Ah”, murmura um tanto decepcionada.
Ela levanta lentamente de cima de mim, e me sinto escapar, úmido e escorregadio, de dentro dela. Eu mal começo a amolecer e já quero possuí-la outra vez. Eu a agarro e, delicadamente, passo um lenço entre suas pernas. Assim que ela se senta no banco novamente, digo a Angus que nos leve ao evento. Tiro a camisinha, dou um nó e jogo na lixeira ao lado do banco e tento me recompor.
A sensação desconhecida parece crescer a cada segundo e me sinto tão ligado a Eva quanto antes. Não é só físico, chega a um nível profundo. Estou emocionalmente perturbado por essa transa e, quando me dou conta, sou tomado por diversos sentimentos ao mesmo tempo: perda de controle, desejo, receio, amor... Amor! Não, não pode ser! E essa palavra tão pequena com um significado enorme me enche de pânico. Como isso foi acontecer? Meu cérebro não consegue processar nada, está em estado de calamidade! Estou tão assustado que me vejo me afastando dela. Cada vez mais.
Puta que pariu! Eu preciso de uma bebida, agora!
Inclino-me para abrir o frigobar e pego uma garrafa de conhaque. Eu a ofereço, mas ela recusa. Sou incapaz de olhá-la nos olhos, apenas não consigo! Não quero que veja minha expressão, não depois do que tivemos a pouco. Estou confuso e, como não me resta alternativa, recorro a uma rota de fuga que usei durante a adolescência para me proteger: o isolamento. O ambiente, que antes pegava fogo, esfriou acentuadamente e me recolhi em meus pensamentos. Provavelmente ela deve estar se perguntando o que aconteceu, ou se culpando, mas sou incapaz de falar.
Por um momento, me permito ter 15 anos novamente.
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Não dirigimos uma única palavra um ao outro durante o restante do trajeto. Enrolada em seu xale, Eva encara os borrões de luzes e não lança sequer um olhar e minha direção. Com certeza ela deve estar se perguntando o que aconteceu comigo e, ao mesmo tempo em que quero esclarecer as coisas, me mantenho em silêncio.
Finalmente o carro para. Angus deixa a direção e abre a porta traseira. Saio primeiro e estendo o braço para ajudar Eva a sair. Nos  encaminhamos para onde a multidão de fotógrafos nos espera. Sorrimos automaticamente para os flashes frenéticos e seguimos nosso caminho para a recepção. Escuto meu nome sendo chamado por uma voz familiar e me viro para ver quem é. É um executivo com quem já fiz negócios. Quando chego até ele, me dou conta de que Eva não está do meu lado. Sinto uma repentina sensação de perda misturada com irritação. Droga, ela está comigo! Ela não pode sair andando assim. Retomo a postura adotada em casos de convenção social, cumprimento-o com um aperto de mãos e saio à procura de Eva. Mas antes que eu comece minha busca, meu telefone apita indicando uma nova mensagem de texto. Corinne de novo! Meu Deus ela não vai me deixar em paz?
*Gideon, eu deixei Jean. Estou desesperada, por favor, eu preciso de você!*
Merda! Será que Giroux a machucou? Preocupado, ligo para ela.
“Ah, Gideon!”, reponde logo após o primeiro toque, em um tom choroso.
“Corinne, o que aconteceu? O que ele fez?” pergunto nervoso.
“Nada... eu o deixei p-por que... não suportava mais viver com ele. Eu não o amo... e-eu, quero v-você...”.
Era só o que me faltava. Eu não preciso disso agora. 
“Escute Corinne, estou no meio de um jantar beneficente. Ligo para você quando eu chegar em casa”, e encerro a ligação. 
Preciso esclarecer as coisas com ela, se eu quiser seguir em frente com Eva...
E então, esse pensamento me atinge como uma bola de demolição. Eu a quero. Deus, eu quero essa mulher para mim. Estou completamente apaixonado por ela!
Eva é minha exceção. Desde o começo, por mais que eu tentasse negar. 
Eu a procuro desesperadamente com o olhar e a encontro na companhia de sua família. Cary está ao seu lado e, pela sua cara de preocupação, deduzo que ela contou o que aconteceu entre nós. E suas palavras sobre eu tratá-la como um "refratário de esperma" vêm a minha mente. E não foi exatamente isso que fiz?
Parabéns, Gideon! Você não poderia ter sido mais estúpido.
Decidido a mudar isso, caminho com determinação até onde eles estão.
Assim que me vê, Mônica abre um grande sorriso e Stanton toma sua postura imponente.
“Eva, você fugiu” sussurro desaprovadoramente apoiando a mão na parte inferior de suas costas. Sinto uma onda de eletricidade passando por todas as minhas terminações nervosas.
Ela me fuzila com seu olhar, como se estivesse me mandando ir à merda, mas é com uma voz educada se dirige a seu padrasto e me apresenta. Cumprimento a ele e a Monica, que parece maravilhada pelo fato de eu estar junto de sua filha. Puxo Eva para mais perto e aproveito para aplicar minha técnica de distração.
“Temos a sorte de acompanhar as duas mulheres mais bonitas de Nova York”.
Richard concorda e sorri para a esposa. Perfeito, já estou aprovado para ambos e ainda por cima elimino as chances de qualquer especulação. A Sra. Stanton é o tipo de mulher que chama a atenção por sua beleza. Massagear seu ego é uma arma mais do que eficaz.
Eva ainda está distante. Está em seu segundo copo de champagne quando me inclino e sussurro asperamente.
“Não esqueça de que está comigo”.
“Olha só quem fala”, rebate estreitando os olhos.
“Aqui não, Eva”, digo acenando com a cabeça para todos pedindo licença e a afasto comigo. “Agora não”.
“Nem nunca”, murmura.
Engolindo o gosto amargo de suas palavras, levo-a para conhecer algumas pessoas. Ela é agradável com todos, sorri quando necessário, fala nos momentos certos. Mas no fundo, sei que está piloto automático. Sinto como se estivéssemos a quilômetros de distância. Durante o jantar ela sequer toca na comida. Fazendo meu papel, converso com as pessoas que nos acompanham, procurando também me distrair de sua indiferença; isso está me deixando mal. Sei que a culpa é minha.
Então um dos organizadores do evento me avisa que está na hora do meu discurso. O mestre de cerimônias me anuncia e, sob uma salva de aplausos, subo ao palco.
“Em nosso país, o abuso sexual na infância é uma realidade para uma a cada quatro mulheres e um a cada quatro homens. Dê uma boa olhada ao seu redor. Alguém da sua mesa pode ter sido uma vítima, ou então conhece uma. Essa é a inaceitável verdade”.
Enquanto falo, sou tomado pela sinceridade em minhas palavras. Ser o porta-voz dessas crianças é uma honra. Elas são ecos de mim mesmo, quando eu era um deles, mas não tinha quem falasse por mim, quem me protegesse. Proporcionar-lhes aquilo que me faltou é uma forma de dar ao menino que eu fui o alento que tanto precisava.
Quando termino, me surpreendo ao ver Eva se levantar e aplaudir. Logo os demais logo se juntam a ela em uma ovação que me deixa muito contente. Os aplausos dela foram sinceros. Os outros querem apenas um pedaço da minha imagem, do meu dinheiro e da minha influência. Nada mais lhes importa. Na saída do palco, sou cercado de dezenas de pessoas que começam a me cumprimentar, me elogiar, a maioria delas, mulheres. Em meio a elas escuto uma voz familiar.
“Olá, Gideon”.
“Magdalene, como vai?”.
“Bem, obrigada. Então quem é sua nova companhia?”. Sinto um leve sarcasmo em seu tom de voz.
“O nome dela é Eva. Nós estamos juntos”, respondo firmemente.
“Mas ela é loira”, chia.
“Isso é apenas um detalhe perto do fato de que ela me agrada muito”.
“Claro que agrada. Até você se cansar e descarta-la, não é?”
Seu comentário me irrita tanto que tenho que me lembrar de que não posso bater em mulheres. Estou pronto para dar minha resposta à altura quando vejo Eva dançando com... Christopher!
Mas o que esse bastardo de merda pensa que está fazendo? Bom, nele eu posso bater, mas não aqui.
“Acho que o pequeno Chris também ficou encantado”, comenta divertida.
“Magdalene, pelo bem de nossa amizade, é melhor você ficar calada agora”, atiro.
“Me-me desculpe, eu não queria...”. Ela parece desconcertada.
“Com licença”, corto e me dirijo para a pista de dança, deixando-a para trás.
Os organizadores do evento me cercam e sou obrigado a dar-lhes atenção, mas para meu alívio, Christopher se afasta e Cary começa a dançar com Eva. Após algumas trocas de amenidades, me despeço educadamente e vou em direção aos dois.
“Agora é minha vez”, declaro. E não é um pedido.
Eles trocam olhares e Cary se afasta com os olhos grudados em mim. Ignoro-o e a tomo nos braços. Enquanto nos movemos, sinto que seu corpo está tenso e suas feições denunciam a mágoa que está sentindo. Também estou um pouco nervoso. O que era para ser uma noite agradável está se tornando um verdadeiro inferno.
“Você não para de fugir”, murmuro em desaprovação.
“Mas pelo jeito Magdalene soube ocupar meu lugar rapidinho”. Respondeu ressentida.
“Está com ciúmes?”
“Fala sério...”, ralha enquanto vira o rosto para o lado.
Puta merda! Estou sentindo uma frustração desgraçada! Suspiro pesadamente.
“Fique longe do meu irmão, Eva”, advirto. Sei muito bem quais são as intenções daquele pedaço de merda.
Ela me encara como se eu tivesse dito o maior dos absurdos.
“Fique longe da Magdalene, Gideon”.
“Ela é só uma amiga”. Minha mandíbula se aperta de raiva.
“Isso quer dizer que você não dormiu com ela...?”
“Claro que não. Nem quero. Escute... Preciso ir. Eu trouxe você aqui e gostaria de levá-la para casa, mas não quero estragar a diversão. Você prefere ficar por aqui e ir embora com Stanton e sua mãe?”
Depois de tudo o que passamos, duvido que vá querer passar a noite comigo. Além disso, ela pode estar querendo aproveitar a festa. Não estou mais no clima. Eva se afasta como se estivesse tentando se defender de mim.
“Vou ficar bem, me deixe”.
Suas palavras ferem meus ouvidos. Eva está magoada, muito magoada. E aquela sensação de perda volta com toda a força. Tendo tocá-la, mas ela se afasta mias e Cary aparece no mesmo instante.
“Pode deixar que eu cuido dela, Cross”.
“Não complique as coisas, Taylor”, alerto.
“Pelo que estou vendo, você já fez isso muito bem sozinho”. Ironiza.
Nossa, que sujeito irritante! Coloco-o na minha lista de pessoas nas quais desejo bater, que já inclui Magdalene e Christopher.
Engolindo em seco, Eva me dá a última facada.
“Você deu um belíssimo discurso, Gideon. Foi o ponto alto da minha noite”.
Não posso acreditar que ouvi isso dela! Respiro fundo diante desse insulto. Não vou negar que isso me machucou muito, afinal o que eu disse naquele palco foi movido pelo mais sincero dos sentimentos. Nervoso, passo a mão em meus cabelos. Meu telefone vibra e quando vejo o nome de Corinne a tela, minha raiva explode por dentro, e me contento em murmurar um palavrão para extravasar um pouco. Corinne! Quando eu pensava que nada podia piorar... Já que a noite foi para o espaço, resolvo que é hora de por os pingos nos ‘is’.
“Preciso ir”, digo olhando profundamente para Eva. “Mais tarde eu ligo”. E saio.
Ligo para Angus e digo para que fique a postos na entrada. Assim que coloco os pés na rua, ele já está à minha espera. Meu Deus, que noite foi essa? Ao entrar na limusine, o cheiro de Eva invade minhas narinas. Seu perfume doce ficou impregnado em mim. Fecho meus olhos e visualizo nossos tórridos momentos de paixão aqui. Ela conseguiu me destravar, derrubar as barreiras que impus durante toda a minha vida. Não sou mais o mesmo. E esse novo eu se tornou dependente dela. É uma sensação nova, gostosa e forte. Depois de tê-la daquela forma tão intensa e apaixonada em meus braços, percebo que estou irremediavelmente apaixonado por ela. Não posso nem me imaginar sem seu corpo, seu cheiro, seus beijos, seu calor. Eva é tudo o que quero e preciso. Só me dei conta do vazio em minha vida quando a preenchi, quando seus tecidos inchados e intumescidos de prazer apertaram meu membro pulsante. Eu a desejo como nunca desejei ninguém. Não é apenas sexo, eu a quero em minha vida, todos os dias. Cada poro da minha pele clama por seu toque. Cada célula do meu corpo anseia por sua presença. Minha mente está ocupada por lembranças de seu rosto. Meu coração não é mais meu. Uma relação puramente sexual não será suficiente. Eu quero pertencer a Eva. E quero que ela seja minha. Só minha.
Mas antes disso, preciso me acertar de vez com Corinne. Tenho que acabar com suas esperanças por uma possível reconciliação. Chego em casa, tomo um banho para acalmar meus nervos e hormônios em fúria e disco seu número.
“Gideon", sua voz transborda ansiedade.
“Oi. Temos que conversar”.
“Oh sim, claro!”, diz animada, não lembrando nenhum pouco a mulher chorosa de mais cedo. “Estou voltando para Nova York em breve. Podemos nos encontrar...”.
“Olhe Corinne”, digo sem rodeios. “Você é minha amiga e sempre vou me importar com você. Mas não há possibilidade de retomarmos nossa relação. Estou saindo com outra pessoa e ela é muito especial para mim”.
A linha fica muda.
“Alô?” chamo.
“Er... qual o nome dela?”
“Eva”.
“Vocês estão juntos?”
“Sim. Faz pouco tempo”.
“E você gosta mesmo dela?” pergunta ainda descrente.
“Sim, muito”, respondo sem hesitar.
“Bom, fico feliz por você. Gostaria muito de conhecê-la”. Ela soa sincera, embora um pouco triste.
“Claro, eu adoraria que a conhecesse. Quando você volta?”
“Em breve, ainda não tenho uma data definida”.
“Ok. Avise-me quando vier”.
“Tudo bem”.
Despeço-me e desligo. Um torpor mais que bem vindo invade meu corpo, como se tivesse tirado um peso horrível de minhas costas. Agora só falta me resolver com Eva. Estou me sentindo um tremendo filho da puta por ter feito aquilo. Ela não merece. Tenho que dar o meu melhor, mostrar-lhe que posso ser tudo o que ela precisa e que posso satisfazer suas necessidades. Que posso ser seu homem. E é exatamente isso que farei amanhã.
Vou para o escritório trabalhar um pouco. Analiso dados estatísticos de progressão do setor imobiliário em Los Angeles. Minha ideia é adquirir novas propriedades, especialmente perto da praia. Eu gosto de mar, da areia nos pés, cheiro de maresia. Me faz lembrar dos raríssimos momentos felizes que tive com meu pai. Ele não passava muito tempo comigo, mas quando isso acontecia, eu adorava cada segundo! Eu me sentia amado, apesar de tudo. Mas essa sensação durou pouco. Eu mal pude sentir o gosto da felicidade porque ela foi arrancada de mim, de uma hora para outra.
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Meu pai desapareceu, nunca mais iria voltar. Ele decidiu ir embora. Minha mãe começou a chorar, o sorriso sumiu de seu lindo rosto. Agora só havia lágrimas. De repente, me vi cercado de gente brava comigo, gente que não me quer por perto. Os meus amiguinhos da escola não falam mais comigo. Meus professores me olham de cara fechada. Alguns meninos começam a me seguir e a querer me bater. Eu não estou entendendo. O que está acontecendo? Porque as pessoas não querem mais ficar perto de mim? Porque elas estão me agredindo? O que foi que eu fiz?
Então apareceu Christopher Vidal, ele é um cara legal. Ele casou com a minha mãe e fez com que ela voltasse a sorrir de novo. Eles me deram um irmãozinho. A gente veio para uma casa nova. Mas eu não estou feliz, eu acho que nunca mais vou saber o que é ser feliz. Eu estou nervoso com todo mundo. As pessoas não querem que eu seja feliz, eles só querem me machucar. Começo a quebrar coisas para a raiva passar, mas nunca passa então eu quebro mais e mais coisas. Meu irmãozinho começou a me imitar, começou a gritar também, a chorar. Minha mãe está confusa, ela vai me dar uma irmãzinha, mas eu não quero mais irmãos, eu não queria mais gente para me fazer infeliz.
A moça de jaleco azul e o amigo dela chegam em nossa casa. Ela é calma e fala suave. O amigo dela é muito legal, ele conversa comigo e sorri o tempo todo. Mas tem umas coisas que ele faz que eu não entendo. Ele fica me tocando, passando a mão no meu braço, no meu cabelo, no meu peito, na minha barriga. Aí um dia ele me tocou lá embaixo. Senti umas coisas esquisitas, mas ele disse que é normal, e eu acreditei. Ele me pediu para não contar para ninguém, porque era nosso segredo. Eu não falei com ninguém. Só que com o tempo eu já não queria mais ele me tocando. Eu não queria mais sentir aquilo, não queria mais sentir aquelas coisinhas estranhas saindo de mim. Falei isso com ele, mas ele não gostou e começou a me machucar. Ele era mais forte, fiquei com medo. Eu não podia contar para ninguém. Minha cabeça estava confusa. Ele não parava.
“Não, tira as mãos de mim! Alguém me ajude, por favor!”
“Não, não...”
NÃO!
Acordo ofegante, suado e trêmulo. Nem me lembro de quando vim para o quarto. Meus demônios vieram me visitar mais uma vez. Sabendo que não vou conseguir mais dormir, vou a cozinha preparar uma xícara fumegante de café.
Tomo um gole enquanto assisto o sol fazer sua entrada triunfal para iluminar mais uma vez a cidade que nunca dorme.
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Às 8 da manhã ligo para a floricultura e peço duas dúzias de rosas vermelhas de caule longo para serem entregues no apartamento de Eva. No cartão escrevo:
Ainda estou pensando em você
Gideon.
Ela provavelmente me ligará para agradecer, então terei minha chance. Mas se passam horas e nada. Tento seu telefone residencial, mas ninguém atende. Disco mais duas vezes, e continuo sem resposta. Seu celular está fora de área. Mando uma mensagem de texto pedindo para que me ligue. Mais duas horas se passam. Estou ficando aflito! Ligo novamente tanto para casa quanto para o celular, que continua desligado. Deixo uma mensagem de voz.
“Eva, está tudo bem? Preciso muito falar com você, ligue-me assim que possível, por favor. Um beijo”.
Fui um imbecil completo. Eu a tratei como uma vagabunda. E agora ela quer distância de mim. É justo. Mas não vou desistir. Tenho que esclarecer tudo o mais rápido possível. Tento ligar mais algumas vezes, mas ela não retorna. Deixo mais duas mensagens de voz e uma de texto e aguardo.
O dia passa.
Nada.
Precisando desabafar essa frustração, decido ligar para Arnoldo.
"Eu já ia te ligar stronzo!" ele atende com seu típico bom humor. "Vi as fotos do evento de ontem. Aquela loira deliziosa (deliciosa) é a Eva?"
"Sim, eu..."
"Che bella donna! (Que mulher bonita!)", me interrompe. "Agora entendi porque você ficou tão enfeitiçado. Ela é realmente o total oposto das outras, e ainda as passa para trás. Ela tem alguma irmã solteira?"
"Arnoldo, por favor", cada palavra dele me faz sentir ainda mais idiota por ter feito o que fiz.
"Ei", sua voz muda. "O que foi?"
Desabafo, contanto tudo o que aconteceu desde a noite no clube até agora.
“... e ela deve estar mais chateada do que nunca. Tentei contatá-la, mandei flores, mas nada. Então eu deixei que ela tivesse um tempo pra se acalmar. Mas de hoje não passa, eu tenho que vê-la, tenho que me explicar”, termino.
“Sim você tem mesmo. Entendo sua atitude, mas foi muito cruel. Ela não te conhece, não sabe pelo que você passou e, muito provavelmente, deve estar pensando que o melhor era ter se mantido afastada de você".
"Eu sei", digo esfregando minha mão pelo rosto. "Estou me sentindo um verdadeiro canalha. O amigo dela descreveu a forma exata com eu a tratei ontem. Não foi intencional, eu só... pirei".
"Não estou julgando você, só estou dizendo agora, ela deve estar se sentindo, literalmente, 'um refratário de esperma'. Dá para entender a recusa dela em falar com você ".
"Pensei em ir à casa dela".
"Nessum modo! (De jeito nenhum!)" exclama. "Você já ligou milhares de vezes, deixou infinitas mensagens e ainda por cima mandou flores. Não a pressione. Isso só vai fazê-la se afastar ainda mais de você. Acho que agora, o melhor a fazer é dar um tempo para que ela se acalme. Amanhã vocês conversam".
Respiro fundo, tentando conter minha ansiedade. Ele está certo. 
"Almeno, Il nostro conquistatore fu conquistato? (Finalmente, o conquistador foi conquistado?)” diz caindo na risada.
“Arnoldo, você é meu amigo, mas eu tenho vontade de te socar quando você faz isso. Não é engraçado”.
Ma, perché no? (Mas porque não?) Eva te virou de ponta a cabeça, e tenho que dizer que está sendo um prazer ver você se rendendo dessa forma”. Diz, agora em um tom mais sério, mas sei que está sorrindo.
“Você acha isso um máximo, não é?”
“E divertido!”, continua a rir e depois faz uma pausa. “E quanto à Corinne?”. Ele sabe que ela vive me mandando mensagens e ligando.
“Não há Corinne. Ela é passado e vai ficar lá. Somos amigos e eu deixei isso bem claro”.
"Isso é ótimo. Eu vi a forma como você se sentia preso a ela, como uma obrigação. Você nunca foi feliz. Aquele noivado foi um grande erro. Por mais que Corinne seja uma boa pessoa, vamos ser honestos, ela era uma baita dor na sua bunda".
Rio de seu comentário. "Sou obrigado a concordar com você".
Benne. Então Eva é mesmo a grande eleita? Porque estou apostando alto nela".
“Sim, mesmo que ela me dê um doloroso chute no traseiro”.
Não acredito que ela vá fazer isso”, analisa. “Provavelmente está chateada e vai tentar resistir, mas não será definitivo. Pelo que me contou, há uma ligação forte entre vocês e esse tipo de sentimento não se nega com facilidade. Seja sincero e admita que estava com medo. Não tenha vergonha de mostrar-se”.
“Mas não posso contar tudo! Se ela souber, vai correr de mim”. Esse pensamento embrulha meu estômago.
Não precisa contar tudo, até porque vocês ainda estão no começo. Apenas confesse o que sentiu naquele momento. Mostre a ela que você se importa”.
“Tem razão. Ela merece uma explicação digna”.
“Ótimo. Adesso (agora)...”, diz num tom que eu já conheço. Provavelmente vai falar alguma merda. “... admita que se apaixonou”.
“O que?”
“Eu quero ouvir isso de você desde que me contou sobre Eva. Andiamo (Vamos)!”
“Nem pensar”.
“Ah não? E como você quer falar de seus sentimentos pra ela se nem sequer consegue dizê-los em voz alta pro seu melhor amigo?”
“É diferente”.
“Grande merda. Anda, fala logo”.
“Não”.
Vigliacco (covarde)”.
“Não vou cair na sua provocação”.
“Gideon, eu não quero que você confesse nada. Eu sei que está apaixonado por ela. O que eu quero é que você tenha coragem de admitir isso pra si mesmo, em voz alta, pra que você entenda o quanto isso é importante. Você é um homem mudado”.
É impossível negar, eu sei que estou mudado. Hoje eu vi isso claramente. 
“Arnoldo. Eu com certeza a amei no momento em que a vi, mas não conseguia aceitar isso em hipótese alguma. Mas, depois do que aconteceu na limusine, eu passei a sentir algo muito mais forte, muito maior do que amor. Só não consigo achar a palavra certa pra externalizar isso, entende?”
E pela segunda vez em minha vida, consigo deixá-lo sem palavras.
Santa Madonna (Santa Mãe)”. E é tudo o que consegue dizer.
“Pois é”.
Passam-se intermináveis segundos até que ele recupera a fala.
“Vá atrás dessa mulher, Gideon. E conserte essa merda. Se não quem vai chutar o seu traseiro sou eu”.
E desliga.
_____//_____
A caminho do Crossfire, com o telefone em mãos, percebo que há uma chamada de voz. Meu coração começa a bater mais forte. Será que Eva finalmente resolveu entrar em contato? Mas ao escutar a voz do outro lado, sinto uma enorme decepção.
Oi, Gideon", a voz de Magdalene soa hesitiante. "Escute, eu queria me desculpar pelo que te disse no evento. Não quero que nossa amizade fique abaladaE diga a Eva que eu peço desculpas pela forma como a abordei no banheiro. Foi inapropriado e grosseiro da minha parte...”.
A voz dela continua a falar a esmo, mas me detenho no que ela disse sobre Eva. Do que diabos ela está falando?
Sem escutar o resto do recado, procuro o número de Maggie e ligo.
“Gideon? Está tudo bem?”.
“Maggie, do que você estava falando quando disse que encontrou Eva no banheiro?” pergunto sem rodeios.
“Ela não te contou?”
“Não”, bufo. “Ainda não nos falamos”.
“Bom, é que eu...” diz hesitando mais uma vez “er... fui um pouco grosseira e acabei dizendo coisas que ela não merecia ouvir”.
Meus olhos se fecham. Por um momento, eu penso seriamente em bater nela.
“O que quer que tenha dito, é melhor que não me atrapalhe com ela”, digo em um tom de voz duro.
“Eu... estou muito arrependida, de verdade. Me desculpe. A sua vida não é da minha conta. Prometo não me meter mais”. Ela está sendo sincera.
“Tudo bem, Mag. Olha, eu preciso ir trabalhar. Depois nos falamos”.
“Claro, até mais”.
“Até mais”. Respondo desligando.
Era só o que me faltava! Mas que porra! Como se minha situação já não estivesse complicada suficiente, Magdalene tinha que dar uma de mulher ciumenta e rejeitada justo agora. Respiro fundo para conter meus impulsos raivosos e me concentrar no que tenho que fazer.
Chego ao Crossfire no mesmo horário habitual de Eva. Nem sinal dela. Finjo me distrair com o celular e a aguardo no saguão. Passam-se dez minutos e nada. Quero muito vê-la. Não vou me contentar apenas em assisti-la pelo monitor. Vou aproveitar e convidá-la para almoçar. Mais cinco minutos e ela não aparece. Desanimado, subo em um elevador vazio e aciono a chave mestra no painel. Assim que entro no escritório, vou direto para frente do monitor. Passam-se mais quinze minutos e nada. Resolvo rebobinar as imagens da movimentação de hoje e vejo algo que me despedaça: ela chegou 20 minutos mais cedo, provavelmente para evitar um possível encontro. Uma dor inesperada se alastra em meu peito, me obrigando a massageá-lo. O que foi que eu fiz? Olho para seu rosto e ela parece decepcionada, realmente triste. E fui eu quem causou isso.
Fecho os olhos por alguns segundos, e os abro com a determinação correndo em minhas veias. Se quero estar com Eva, preciso organizar minha vida. Comecei ontem, ao falar com Corinne, mas ainda falta outroa pessoa
Pego meu celular, vasculho a agenda atrás do número dele e, assim que encontro, aperto ‘discar’.
 “Alô”, responde o cretino depois de três toques.
“O que você pensou que estava fazendo ontem, com Eva?”
“Gideon?”, diz surpreso. “Não sei do que está falando. Estávamos apenas dançando”.
Esse ar fingido não me convence nem por telefone.
“Não me venha com essa”, digo rispidamente. “Eu conheço bem o seu jogo. Não quero você perto dela, nem agora, nem nunca, entendeu?”
Depois de uma pausa ele responde em um tom zombeteiro. “Eva me disse que não estava acompanhada ou comprometida, então não vi nenhum motivo para não me aproximar. Ela é uma linda mulher”.
Esse filho da puta tem uma sorte danada de não estar na minha frente agora, caso contrário o teria deixado inconsciente.
“Pois ela é minha. E se você ousar se aproximar, as coisas não vão ficar nada boas pra você. Não queira medir força comigo. Nós sabemos que isso é inútil e impossível tanto fisicamente quanto financeiramente. E, se eu fosse você”, digo em um tom assassino, “levaria esse aviso muito a sério”.
“Farei o possível para manter distância”. Diz engolindo em seco.
“Faça o impossível”. E encerro a ligação.
Christopher sabe que não deve se meter comigo. Nós nunca tivemos uma relação amigável. Ele é invejoso e sempre tentou de tudo para tirar o que é meu. Foi por causa dele que ninguém acreditou em mim. Foi por causa dele que me afastei de minha família. Mas não vou permitir que isso aconteça novamente. Eva é minha e vou fazer o que for preciso pra mantê-la a salvo desse imbecil do caralho.
Alguns minutos após acertar as contas com aquele idiota, chamo Scott pelo interfone e o mando entregar meu almoço no escritório. Peço dois hambúrgueres com batata frita e dois refrigerantes. Eu quero que Eva se sinta o mais a vontade possível. Sei que ela não tem frescuras com comida, então acho que ela vai gostar.
São vinte para o meio-dia quando ligo para seu ramal.
Escritório de Mark Garrit, Eva Trammel falando”.
“Como vai a sua segunda?” pergunto suavemente.
Ocupadíssima”, responde num misto de susto e surpresa por ouvir minha voz.
“Que ótimo”, fiz uma pausa. “Tentei ligar pra você ontem. Deixei umas mensagens. Queria ouvir sua voz”.
Ela suspira e diz que queria aproveitou o domingo para trabalhar um pouco. Perguntei se recebeu minhas flores.
Sim, são lindas. Obrigada”, comenta com uma frieza educada.
“Elas me lembraram do seu vestido”. Digo, tentando arrancar mais palavras de sua boca.
Algumas mulheres diriam que você está sendo romântico”, ironiza.
“Só me importa o que você diz”. Levanto da cadeira e ando pelo escritório tentado dissipar a tensão. “Pensei em passar na sua casa... Senti vontade”.
Ainda bem que você não fez isso”.
Meu corpo se sacode pelo impacto de suas palavras. Sei que fiz por merecer esse tratamento. E também sei que ela não disse isso com a intenção de me machucar; é o que sente nesse momento.
Aviso que providenciei o almoço para nós em meu escritório. O assunto que vamos tratar é muito íntimo e um restaurante não é um lugar adequado.
Mais uma vez ela se esquiva e diz que nos equivocamos no dia em que nos encontramos no meu clube e que o assunto já tinha se resolvido na festa. Imploro para que ela me dê uma chance de me explicar, mas ela continua relutante. Fico enfurecido e minha voz sai autoritária.
“Podemos fazer isso do jeito mais fácil, Eva, ou então dificultar as coisas. De qualquer forma, você vai me ouvir”.
Ela faz uma pausa antes de responder. “Tudo bem. Eu subo aí”.
“Obrigado” solto um suspiro audível. Não fazia ideia de que estava prendendo a respiração. “Mal posso esperar para ver você”. E desligo.
E, pelos próximos vinte minutos, tento organizar em minha mente tudo o que preciso dizer a ela.
De um forma ou de outra, eu vou tê-la para mim. Definitivamente.

Nossa, quanta coisa aconteceu aqui, hein? Preparadas para fortes emoções?Nessa semana, volto com mais dois capítulos pra vocês! Comentem bastante!Beijos e um ótimo começo de semana! :D

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