terça-feira, 26 de agosto de 2014

Toda Minha: Capítulo 9 — Nosso passado, nossas cicatrizes

ATENÇÃO: PEÇO QUE LEIAM SEMPRE OS AVISOS QUE ANTECEDEM E QUE ENCERRAM OS CAPÍTULOS, POIS CONTÉM INFORMAÇÕES IMPORTANTES, OK?  
Oi pessoal! Desculpe não ter postado, mas acabei esquecendo completamente. Me desculpem! Me desculpem, mesmo! O capítulo está emocionante e, para embalar esse momento forte do noss casal, teremos músicas lindas. Preparem-se! 
Boa leitura!

Os defeitos da alma são como os ferimentos do corpo; por mais que os cuide e os cure, as cicatrizes aparecem sempre, e estão sob a constante ameaça de se reabrirem.
— François La Rochefoucauld

Quando voltei para o escritório, aproveitei para olhar com mais atenção as fotos minhas com Maggie e percebi que Eva poderia ter dado uma crise de ciúmes sim, e sem culpa! Realmente, demonstrávamos certa intimidade, nada muito explícito, mas mesmo para uma pessoa desatenta, nossa linguagem corporal sugeria algo. Como fui idiota! De novo! Não consigo dar uma dentro. E não me espanta nada ela querer se afastar... Embora eu jamais fosse deixar isso acontecer. E o beijo? Nossa, que beijo! Apenas isso está me dando a certeza de que ela não quer me dar um pé na bunda hoje. Afinal, não dizem por aí que depois da tempestade vem a abonança? Se bem que eu acho que ela vem correndo de nós.
Na volta para casa, Eva estava muito quieta e pensativa. A tensão era grande e seu corpo estava rígido. Segurei sua mão e a beijei, passando calma e segurança. Resolvi ficar em silêncio também. Não havia nada para dizer naquele momento. Principalmente porque ainda estávamos abalados pelo que aconteceu no Bryant Park, pelo meu comportamento deplorável de homem das cavernas. Mas o que posso fazer? Eu sou louco, obsecado e apaixonado por essa mulher! A simples ideia de outro homem ter acesso a ela da mesma forma que eu me deixa possuído de ódio! Ela é minha! Eu precisava saber se Cary era realmente apenas um amigo ou um amigo com benefícios, ou um amante, eu não sei. Se ela realmente estivesse se envolvendo com ele, isso me mataria, mas, ainda assim, eu só sairia dessa história com Eva ao meu lado.
Durante todo o trajeto, os olhares que trocávamos já diziam tudo. Quando chegamos em casa, a levei para meu quarto; em cima da minha cama havia um vestido azul claro e um robe preto de seda.
“Tirei um tempinho pra fazer umas compras antes do jantar de ontem”.
 “Obrigada”.
“Queria que você ficasse à vontade. Pode usar o robe ou alguma roupa minha. Vou abrir uma garrafa de vinho e já volto. Quando quiser, podemos conversar”.
 “Eu queria tomar um banho rápido antes”.
“Como quiser, meu anjo. Sinta-se em casa”.
Saí para lhe dar espaço para se preparar. Não queria que ela se sentisse pressionada.
Vesti uma calça de pijama preta de seda e fui à cozinha pegar um vinho e duas taças. Dirigi-me à sala e aqui estou, esperando e tentando descobrir o que ela tem de tão importante para dizer.
“Com licença, estou procurando por Gideon Cross, o homem que não tem o romance no seu repertório”, sou despertado por sua voz meiga e suave.
Abro um sorriso encabulado por seu comentário.
“Não vejo isso como romance. Estou só tentando agradar. Simplesmente penso em uma coisa e torço para dar certo”, digo com sinceridade.
“O que me agrada é você”, rebate vindo em minha direção.
Ela está tão sexy e sedutora com o robe de seda preta, contrastando com sua pele alva, e os cabelos molhados.
“É o que eu quero”, falo num tom bem sério. “Estou tentando”.
Algo está diferente nela, e estou ficando preocupado. Eva desliza suas mãos pelo meu bíceps apertando-os suavemente antes de colocar seu rosto contra o meu peito. Ela está triste, preocupada. Não estou gostando nada disso.
“Ei”, murmuro, envolvendo-a em meus braços. “Isso é porque fui um babaca na hora do almoço? Ou por causa daquilo que você quer me contar? Fale comigo, Eva, pra que eu possa dizer que vai ficar tudo bem”.
Ela esfrega seu nariz arrebitado em meu peito. “Acho melhor você sentar. Tenho umas coisas sobre mim pra contar. Coisas pesadas”.
Não quero soltá-la. Eu queria tê-la em meus braços para sempre se fosse possível. Mas ela precisa compartilhar algo comigo, e tenho que transmitir-lhe calma e compreensão. Quando se desvencilha de mim, solto-a, ainda relutante, e me sento. Encho as duas taças de vinho, e em seguida, lhe entrego uma. Viro-me para ela, com olhos e ouvidos atentos. Chegou a hora da verdade.
Eva está sentada sobre seus calcanhares e seu corpo está rígido.
“Muito bem. Lá vai”. Respira fundo, como se fosse algo doloroso de se fazer e começa.
“Minha mãe e meu pai não eram casados. Não sei muito bem como eles se conheceram, porque nenhum dos dois gosta de falar a respeito. Sei que a família da minha mãe tinha dinheiro. Não tanto quanto os maridos dela, mas com certeza mais que a maioria das pessoas. Ela era uma debutante. Passou por todo o ritual do vestido branco e da apresentação à sociedade. Ficar grávida era uma grande complicação para a vida dela, mas mesmo assim minha mãe não interrompeu a gravidez”.
“Eu a admiro muito por isso” diz olhando para sua taça de vinho. “Houve muita pressão para que tirasse o bebê — no caso, eu —, mas ela foi até o fim. Obviamente”.
Meus dedos passeiam pelos seus cabelos ainda molhados do banho.
“Sorte minha”. E como. Nunca serei grato a Monica Stanton o suficiente.
Ela pega minha mão, beija meus dedos e a segura junto a seu colo.
“Mesmo sendo novinha, ela conseguiu fisgar um milionário. Era um viúvo com um filho só dois anos mais velho que eu, então acho que todos pensaram que o casamento seria muito conveniente para ambas as partes. Ele viajava muito e quase não parava em casa. Minha mãe poderia gastar o dinheiro dele à vontade e em troca assumiria a criação do garoto”. 
“Eu entendo essa necessidade de ter dinheiro, Eva”, murmuro. “É uma coisa que eu também tenho. O poder que ele traz. A segurança”.
Foi o dinheiro que transformou minha vida, me tornou quem eu sou e me deu subsídios necessários para esquecer parte dos meus traumas (ou pelo menos enterrá-los em um lado escuro da minha mente) e seguir em frente. Nossos olhares se encontram e um elo de confiança se estabelece entre nós. Algo que nos entrelaça ainda mais. Uma força renovada proveniente desse entendimento mútuo a deu coragem para continuar.
“Eu tinha dez anos quando o filho do meu padrasto me estuprou pela primeira vez...”.
Meu corpo automaticamente reage e a haste da taça se parte em minhas mãos e, por reflexo, pego o bojo antes de o vinho cair no carpete. Eu não posso acreditar no que acabo de ouvir! Primeiro, vem o espanto não só pelo que ela passou, mas pelo fato de termos passado pela mesma coisa. Mas logo esse sentimento da lugar à raiva, que espalha em meu corpo como fogo se alastrando pela palha. Acho que nunca senti tanto ódio, dor, revolta e pensamentos assassinos. Não de uma só vez. Levanto-me e Eva segue meu exemplo.
“Você está bem?”
“Estou bem”, respondo entre os dentes. Ela não precisa saber o que se passa em minha cabeça.
Vou até a cozinha com minha cabeça em parafuso, com um sentimento desgraçado que está me rasgando ao meio. Jogo a taça quebrada no lixo e vou até os armários pegar um copo e uma garrafa de tequila José Cuervo. Preciso de algo bem forte para encarar tudo isso. Não consigo acreditar! Um filho da puta dos infernos profanou minha Eva, tirando sua inocência, sua pureza, arrancando-lhe a oportunidade de ter sua primeira vez com alguém que ela quisesse! Assim como aconteceu comigo! Eu consigo entender sua dor, seu sofrimento e a quantidade de coragem que ela teve de reunir para me fazer tal revelação. Tento recuperar o equilíbrio, mas a náusea que me sobe a bile está difícil de aguentar. A sensação de vulnerabilidade é intensa por não poder tê-la protegido. Então deixo a raiva me dominar. Sim, essa é a melhor estratégia. Conseguindo manter minhas emoções sob controle, retorno para sala. As únicas coisas que quero saber é quem é esse monstro e se ainda está vivo.
Se estiver, é bom sumir no mundo e nunca mais procurá-la.
E rezar para não me encontrar.
Eva está em pé, estática e com as feições congeladas.
“Sente-se, Eva”.
Suas pernas não saem do lugar, e ela me olha em silêncio. Está assustada com minha reação. Acaricio seu rosto tentando acalmá-la.
“Sente-se... Por favor”, peço suavemente.
Seus joelhos sedem e ela cai sentada no sofá apertando o robe sobre o corpo; permaneço de pé e dou um gole daqueles na tequila, e a queimação é tão forte que nem sinto as paredes de minha garganta.
“Você disse que essa foi a primeira vez. Houve mais quantas?” Tento conter a raiva em minha voz.
Ela respira fundo. “Não sei. Perdi a conta”.
Meu Deus!
“Você contou para alguém? Contou para sua mãe?”
“Não. Pelo amor de Deus, se ela soubesse, teria me tirado de lá. Mas Nathan fez de tudo para me deixar apavorada, de modo que não tocasse no assunto”.
Ela tenta engolir, mas parece não conseguir. Seu corpo se encolhe no sofá e sua voz sai em um sussurro. “Teve uma época em que a coisa ficou tão feia que eu quase contei mesmo assim, mas ele percebeu. Notou que eu estava prestes a abrir a boca. Foi quando quebrou o pescoço da minha gata e deixou o cadáver na minha cama”.
“Minha nossa”, ofeguei. “Ele não era só um tarado, era totalmente maluco. E estava molestando você... Eva”.
A imagem de Eva como uma criança sozinha e indefesa paira em minha mente. Uma menina tão pequena de cabelos dourados sendo violada por um alguém maior, mais forte e... Desumano.
“Os empregados da casa deviam saber”, prossegue de cabeça baixa, olhando para as mãos contorcidas. “Como não disseram nada, acho que também tinham motivos pra ter medo. Eles eram adultos e não abriram a boca. Eu era uma criança. O que eu poderia fazer se os adultos não faziam nada?”
Um nó se forma em minha garganta e me vem uma vontade absurda de chorar. Mas me controlo. Eva precisa de segurança, precisa que eu seja sua rocha agora.
“Como você saiu dessa?” minha voz sai rouca pelas lágrimas não derramadas. “Quando isso terminou?”
“Quando eu tinha catorze anos. Pensei que estava menstruando, mas era sangue demais. Minha mãe entrou em pânico e me levou ao pronto-socorro. Tinha sido um aborto espontâneo. Durante o exame encontraram sinais de... Outros traumas. Cicatrizes vaginais e anais...”.
Bato o copo já vazio com força contra a madeira, como se esse movimento fosse aliviar o que estou sentindo. Estou mortificado. Passei toda a minha vida adulta tentando esquecer meu passado de merda e aqui está ela, como um espelho, como uma reprodução dos horrores que vivi.
“Sinto muito”, sussurrou. “Eu não queria entrar em detalhes, mas você precisa saber o que as pessoas podem descobrir se pesquisarem. O hospital fez uma denúncia ao conselho tutelar. Os arquivos do processo são confidenciais, mas muita gente conhece a história. Quando minha mãe se casou com o Stanton, ele fez questão de reforçar essa confidencialidade, ofereceu dinheiro em troca de acordos de sigilo... coisas do tipo. Mas você tem o direito de saber que essa coisa toda pode vir à tona e fazer você passar vergonha”.
Mas que... Como assim vergonha? Ela pensa tão pouco de mim? Não posso conter meu horror a suas palavras.
“VERGONHA? O que estou sentindo agora não tem nada a ver com vergonha”.
“Gideon...”.
“Eu destruiria a carreira do repórter que escrevesse sobre isso, depois fecharia o veículo que publicasse”. Minha voz soa gélida. “Vou encontrar o monstro que fez isso com você, Eva, quem quer que seja ele, e fazer com que se arrependa de ter nascido”.
Ela se levanta. “Não vale a pena gastar tempo e esforço com ele”.
“Por você, vale. E muito. O que for preciso”.
Minha decisão já está tomada. Vou caçar esse maldito até no inferno.
Ela se aproxima da lareira. “E tem também o rastro deixado pelo dinheiro. Os policiais e os jornalistas sempre vão atrás do dinheiro. Alguém pode se perguntar por que minha mãe saiu do primeiro casamento com dois milhões de dólares e sua filha de outro relacionamento saiu com cinco”.
Eu sabia disso, por causa do dossiê. Mas não tinha ideia de que os cinco milhões provinham de uma indenização.
Ela continua, sem me encarar. “Essa quantia deve ser muito maior hoje em dia. Não sei nem quero saber o total, mas quem administra esse dinheiro é Stanton, e todo mundo sabe que ele tem o toque de Midas. Portando, se alguma vez você desconfiou que eu pudesse estar atrás do seu dinheiro...”.
Isso já foi longe demais.
“Pode parar por aí”, corto.
Onde já se viu? Eu jamais pensei isso dela! Nunca! Agora faz sentido a forma como ela me evitou no começo. Se fosse outra, já teria caído na tentação. E, mesmo com todo o desejo que sentia por mim, Eva resistiu bravamente, até.
Seu olhar encontra o meu, com a tristeza estampada em seu rosto. Meu coração está em pedaços por ela, pelo seu sofrimento. E pelo meu.
Ela aperta o laço do robe e murmura. “Vou me trocar e já estou indo”.
As palavras estalam em meus ouvidos e me despertam do torpor, reavivando todas as células do meu corpo.
 “Quê? Indo aonde?”
“Para casa. Acho que você precisa de tempo pra digerir tudo isso”.
Cruzo os braços defensivamente. “Podemos fazer isso juntos”.
“Acho que não” rebate com a voz embargada. “Não enquanto você continuar me olhando como se tivesse pena de mim”.
“Não tenho sangue de barata, Eva. Só não sendo humano para não se comover com essa história”.
“Não quero que você sinta pena de mim”, sibila.
“Você quer o que então, porra?” passo as duas mãos pelos meus cabelos em exasperação.
“Você!” Grita. “Eu quero você”.
“Isso você já tem!” grito de volta. “Quantas vezes eu preciso dizer?”
“As palavras não significam merda nenhuma sem uma atitude pra comprovar o que elas dizem. Desde que nos conhecemos, você sente tesão por mim. Não conseguia nem me olhar sem mostrar claramente que queria acabar na cama comigo. E eu não estou vendo isso agora, Gideon. Esse olhar... Morreu”.
Eu não posso acreditar nisso! Como pode uma pessoa ser tão absurda?
“Você não pode estar falando sério”.
“Acho que você não entende o que seu desejo faz comigo”, diz cruzando os braços em frente aos seios. “Faz com que eu me sinta linda, poderosa e cheia de energia. Eu... não consigo nem pensar em continuar com você se esse desejo não existir mais”.
“Eva, eu...” e eu não sei o que dizer.
Meu desejo por ela não se aplaca. Nunca! Mas ela acabou de me contar coisas horríveis sobre sua infância. Mesmo que o sexo seja importante para nós, no sentido de provar, fisicamente, a intensidade e a veracidade de nossos sentimentos, seria ofensivo e insensível de minha parte querer transar com ela agora. Ela está sensível, e isso pode gerar a ideia errônea de que estou me aproveitando desse momento de fragilidade.
De repente, ela se livra do robe, ficando completamente nua na minha frente.
E meu membro reage na hora.
“Olhe pra mim, Gideon. Pro meu corpo. É o mesmo corpo que você não queria largar ontem à noite. O mesmo corpo que você estava tão desesperado para possuir que me levou para aquele maldito quarto de hotel. Se não o quiser mais... se não conseguir mais se excitar olhando pra ele...”.
“Isso é excitação suficiente para você?” Grito desamarrando o cordão da minha calça e mostro minha ereção enorme e pulsante.
Avançamos um no outro ao mesmo tempo. Nossas bocas colidem em um beijo feroz, desesperado. Agarro sua bunda e automaticamente ela envolve meus quadris com suas pernas.  O impacto de nossos corpos é tão forte que acabo perdendo o equilíbrio e caímos no sofá. Como estou por cima, tomo o cuidado de usar uma das mãos para absorver o peso combinado dos nossos corpos.
Eva está soluçando; as lágrimas correndo livres pela face. Ela abre as pernas e me abaixo para lambê-la. Meu tesão alcança um nível próximo do sofrimento e, por isso, não me preocupo em ser educado. Quero mais é meter com força, para que Eva nunca mais duvide do meu desejo por ela. Não mais resistindo, me ergo e invado sua gruta molhada, com estocadas furiosas.
“Isso, me fode, Gideon” geme. “Me fode com força”.
“Eva”, rosno. Suas palavras me excitam.
Cubro sua boca com a minha, fazendo-a provar seu próprio gosto. Agarro seu cabelo com força, mantendo-a imóvel enquanto invisto contra sua boceta mais e mais, entrando cada vez mais fundo. Ela geme contra meus lábios, num misto de dor e prazer. Continuo perseguindo meu orgasmo obstinadamente. Nunca senti tanta necessidade de me liberar como agora. Eu preciso disso. Nós precisamos.
“Minha... minha... minha...”, sussurro asperamente enquanto continuo a penetrá-la, para que ela saiba que quem está aqui, possuindo-a, reivindicando-a, sou eu.
E serei apenas eu para sempre.
Sinto seus músculos se apertarem, confinando meu pau dentro dela, devorando-o. Um grunhido longo e gutural brota da minha garganta e gozo desenfreadamente, inundando-a com meu sêmen. Meu corpo inteiro estremece. Cada parte de mim completamente entregue a essa sensação. Ela me pressiona contra seu corpo, distribuindo beijos pelo meu rosto e ombros. Mas eu ainda não terminei. Eu quero mais, muito mais dela.
“Espere”, respiro asperamente.
Inverto a posição e a coloco por cima de mim, e deslizo facilmente por dentro dela. Afasto seus cabelos do rosto e enxugo suas lágrimas.
“Estou sempre pronto para você, sempre com tesão”, digo com firmeza. “Estou sempre morrendo de vontade. Se alguma coisa pudesse mudar isso, já teria sido feita antes de chegarmos a este ponto. Entendeu?”
“Sim” responde agarrando meus pulsos.
“Agora mostre que você ainda me quer. Preciso saber que perder o controle não significa perder você também”.
Eva coloca minhas mãos em seus seios e começa a se movimentar em um vai e vem lento e delicioso. Instintivamente meus dedos começam a fazer movimentos circulares ao redor de seus mamilos, beliscando-os de levinho, apertando. Inclino-a sobre mim e abocanho um deles, fazendo-a gritar de puro prazer. Seus olhos se fecham, e ela se concentra nas sensações produzidas pela fricção de nossas partes íntimas.
“Isso mesmo”, murmuro, lambendo seus seios até chegar ao outro mamilo, passando suavemente a língua pela pontinha dura e hipersensível. “Goza pra mim. Quero que você goze cavalgando meu pau”.
Ofegante, ela remexe os quadris incansavelmente, enquanto esfrega a cabeça do meu pau em seu ponto mais sensível, cada vez mais fundo, cada vez mais forte. Eva está completamente fora de si.
“Gideon” sussurra. “Ai, assim... que delícia...”.
Agarrando sua nuca com uma das mãos e sua cintura com a outra, arqueio meus quadris para entrar ainda mais fundo.
“Você é tão linda”, suspiro. "Tão sexy. Vou gozar pra você de novo. É isso que você faz comigo, Eva. Eu nunca me canso”.
Eva leva a mão até o meio das pernas e massageia o clitóris com os dedos. Essa visão me deixa maluco. Respiro fundo e jogo a cabeça para trás no encosto do sofá. Meu corpo não me pertence mais, sou todo e irrevogavelmente dela. Preciso sentir seu mel escorrer pelo meu pau.
“Você está prontinha pra gozar. Sua boceta está toda quentinha e apertadinha, toda gulosa”, provoco.
E com essas palavras, ela chega ao ápice, gritando alto. Seus tecidos inchados se apertando em torno da minha ereção. Assim que se acalma, pego seus quadris e meto com força, reivindicando-a novamente até sentir o orgasmo me dominar mais uma vez. Urro seu nome e lanço minha porra toda dentro dela.
Ficamos assim, por longos minutos, deitados, em um silêncio confortável. Sua cabeça está recostada em meu peito e minhas mãos acariciam a curvatura de suas costas. Dou um beijo em sua testa e a peço para ficar. Ela concorda.
“Você é tão corajosa, Eva. Tão forte e sincera. Você é um milagre. Meu milagre”. Eu a abraço, aliviado.
“Um milagre da terapia moderna, talvez”, replica irônica enquanto passeia com seus dedos por meus cabelos. “E, mesmo assim, fiquei perturbada demais durante um bom tempo, e ainda existem alguns gatilhos que não sei se consigo encarar”.
Minha mente vaga imediatamente para o dia em que a abordei após a reunião da Kingsman. Eva rejeitou veementemente minha investida, apesar de sentir atração por mim. Enquanto as outras caíam aos meus pés, ela se negou. Agi como um bastardo arrogante, tratando-a o tempo todo como uma foda conveniente. Agora tudo faz sentido. O comportamento dela de sempre fugir de mim, de ser insegura consigo mesma e com nossa relação, seu medo de ser tratada como um objeto... Ali, ela já reconhecia meu domínio sobre seu corpo, mas tentava se preservar ao máximo. Como fui idiota!
“Minha nossa. A maneira como cheguei até você no começo... poderia ter arruinado tudo antes mesmo de começar. E aquilo lá no evento...”, eu mal posso terminar a frase. Meu corpo se encolhe e enterro meu rosto em seu pescoço. “Eva, não deixe que eu estrague tudo. Não permita que eu afaste você de mim”.
Ela busca meu rosto. “Você não pode ficar repensando tudo o que já fez ou falou pra mim por causa de Nathan. Isso só vai nos afastar. Vai acabar com a gente”.
“Não me diga uma coisa dessas. Nem pense nisso”. É doloroso demais.
Com os polegares, ela acaricia minha testa franzida.
“Eu não devia ter contado. Seria melhor se você não soubesse”.
Pego minha mão e beijo seus dedos. “Preciso saber de tudo, conhecer você nos mínimos detalhes, por dentro e por fora”.
“Uma mulher precisa ter seus segredos”, tenta brincar.
“Comigo você não vai ter nenhum”. Agarro seus cabelos e passo um de meus braços por sua cintura, apertando-a contra minha ereção, que está quente e pulsante dentro dela. “E eu vou possuir você, Eva. E vai ser justo, porque você já me possuiu”.
“E o que vamos fazer a respeito de seus segredos, Gideon?” pergunta suavemente.
Minha expressão se fecha no mesmo instante. Não posso fazer isso. Não agora. Não depois de hoje.
“Recomecei do zero quando conheci você. Tudo o que eu pensava que era, tudo o que eu achava que precisava... Estamos descobrindo juntos quem eu sou. Você é a única pessoa que me conhece”.
E mesmo não sabendo de meus segredos, ela é a pessoa que mais sabe sobre mim que qualquer outra. O que tenho dentro de mim pode afastá-la. Já não fiz isso tantas vezes em minhas tentativas estabanadas para mantê-la ao meu lado? Não posso fracassar mais uma vez.
“Eva... Se você me disser exatamente o que quer...”, engulo em seco. “Posso melhorar se você me der uma chance. Só não... não desista de mim”.
Ela acaricia meu rosto, meus cabelos e meus ombros, olhando-me com um pouco de receio.
“Preciso que você faça uma coisa por mim, Gideon”, diz por fim.
“Qualquer coisa. É só pedir”, respondo sem pestanejar.
“Preciso que você me conte alguma coisa sobre você todos os dias. Alguma coisa pessoal, por mais insignificante que pareça. Preciso que você me prometa isso”.
Eu a olho desconfiado.
“Pode ser o que eu quiser?”
Ela concordou balançando a cabeça.
“Certo”. Posso fazer isso.
Ela me beija bem de levinho em sinal de agradecimento. Fico aliviado por ela não fazer mais perguntas. Roço meu nariz contra o seu e pergunto se ela quer jantar fora ou pedir algo para comer.
“Tem certeza de que é uma boa sairmos juntos?”
“Quero mostrar pra todo mundo que você é minha namorada”.
Ela sorri. “Parece uma ideia bem romântica. E irresistível”.
Cristo, como essa mulher me faz feliz!
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Tomamos banho juntos. Mal conseguíamos tirar as mãos um do outro. Adoro quando compartilhamos esses momentos de intimidade. Todos viam aquela mulher linda, desfilando pelas ruas de Nova Iorque com seus cabelos dourados, pele perfeita e vestida com peças que ressaltavam seus atributos, mas só eu tenho acesso irrestrito a esses atributos, principalmente quando não estão dentro da roupa...
No quarto, ela olha para o espelho, com o vestido novo em frente ao seu corpo.
“Foi você que escolheu, Gideon?”
“Fui eu, sim. Gostou?”
“É lindo”. Abre um sorriso. “Minha mãe falou que você tem muito bom gosto... a não ser pela preferência por morenas”.
Droga!
Rapidamente escondo-me dentro do closet. “Que morenas?”
“Ah, é assim que se fala”.
 “Abra a gaveta da direita, a de cima” grito lá de dentro, saindo pela tangente. Fico em silêncio enquanto escolho minhas roupas.
Ouço a gaveta sendo aberta e aproveito para sair do meu esconderijo.
“Então eu tenho uma gaveta?” comemoro internamente por ter conseguido distraí-la do assunto.
“Três na cômoda e duas no banheiro”.
“Gideon. Abrir espaço na gaveta da cômoda é uma coisa que só se faz depois de alguns meses”.
“Como é que eu ia saber?” Estendo minhas roupas sobre a cama. “Você já morou com outro homem além de Cary?”
“Ter uma gaveta não é a mesma coisa que morar com alguém”, responde me fuzilando com o olhar.
“Isso não responde à minha pergunta”. Ando na sua direção, tiro-a gentilmente do caminho e pego uma cueca.
“Não, nunca morei com nenhum outro homem”.
Claro que eu já sabia disso. Mas preciso que Eva acredite que estamos nos conhecendo. Bem, na verdade, nós estamos. Eu apenas tenho certa vantagem.
Abaixando um pouco, pego-a de surpresa dando um beijo em sua testa antes de voltar a me vestir. “Quero que nosso relacionamento seja o mais marcante da sua vida”. E ó único. Sempre haverá homens que chegaram à vida de Eva antes de mim, mas nunca depois. Nunca.
“Já é. De longe. Chega a ser estranho, até. Nosso relacionamento virou uma coisa importante muito rápido. Talvez rápido demais. Fico o tempo todo me perguntando se não é bom demais pra ser verdade”.
Viro-me para encará-la. “Talvez seja. E se for, nós merecemos”.
Às vezes sua insegurança é meio irritante. Parece que nada está bom, que meus esforços não são suficientes para mantê-la segura e satisfeita.
Ela se joga em meus braços e dou um beijo no topo de sua cabeça. “Não consigo suportar a ideia de que você queira que isto acabe. É o que você está fazendo, não? Pelo menos é o que parece”.
“Desculpe”.
“Precisamos fazer com que você deixe de se sentir insegura” digo acariciando seus cabelos com os dedos. “Como podemos fazer isso?”
Ela hesita um pouco, mas acaba falando. “Você faria terapia comigo?”
Meus dedos param e respiro profundamente. É isso, eu não tenho mesmo credibilidade. Estou fazendo merda atrás de merda e, à luz de suas revelações recentes, tenho certeza de que sou o cara mais imbecil da face da terra. Por mais que eu a queira e faça de tudo para mantê-la comigo, eu não a mereço.
“Pelo menos pense a respeito”, sugere ao ver minha reação. “Ou procure se informar melhor, para saber como funciona”.
Sinto o gosto amargo da decepção.
“Estou me saindo tão mal assim? Na nossa relação? Só estou dando bola fora mesmo?”
Ela me olha alarmada. “Não, Gideon. Você é perfeito. Pelo menos pra mim. Sou louca por você. Acho que você é...”.
Eu a calo com um beijo, encerrando o assunto. “Tudo bem. Eu vou”.
Estou um pouco mais aliviado. Sua insegurança não tem nada a ver comigo, mas com tudo o que já viveu no passado e por não saber como lidar com nossa relação. Ela quer minha ajuda para superar seus traumas e seus medos. E estou aqui para apoiá-la no que for necessário.
O jantar correu em uma paz inédita. Eva estava linda e radiante. O vestido caiu como uma luva pelo seu corpo, realçando a cor de seus olhos verde-acinzentados. Mal posso acreditar na minha sorte. O destino não podia ter me presenteado com nada mais valioso.
O Masa é um dos melhores restaurantes de Nova York e um dos mais caros que existem. Tem um clima intimista e a comida é deliciosa. Havia apenas três mesas ocupadas, o que nos deu mais privacidade. Longe dos olhares curiosos, pudemos trocar carícias e conversar. Meu corpo reagia à sua presença o tempo todo! Eu a desejava tanto, mas naquele momento apenas no divertíamos.
“Como você conheceu Cary?”, perguntei enquanto dava um gole no meu vinho.
“Terapia de grupo”. Minha mão escalou suas pernas e estava quase alcançando suas coxas quando sua mão me impediu. Ela sorriu. “Meu pai é policial e ouviu falar de um terapeuta que fazia milagres com adolescentes rebeldes, e eu era uma. Cary se tratava com o doutor Travis também”.
“Fazia milagres, é?” perguntei sorrindo.
Então ela me contou sobre o tempo em que fazia terapia e de como era o tal Dr. Travis. Obviamente eu já tinha essas informações, mas queria fazer parecer que eu estava descobrindo tudo agora.
“Você decidiu estudar na SDSU porque seu pai mora no sul da Califórnia?” deixei escapar.
“Você pesquisou muita coisa sobre mim?” perguntou em um tom irônico.
“Tudo o que fui capaz de descobrir”, tive que admitir.
“E eu vou gostar de saber até que ponto você chegou?”
Levei sua mão até minha boca e a beijei. “Provavelmente não”.
Ela balançou a cabeça em sinal de exasperação. “Sim, foi por isso que fui estudar na SDSU. Eu não tive a chance de conviver com meu pai quando era menina. Além disso, minha mãe estava me sufocando”.
Apesar de saber de tudo, o ponto de vista dela era bem mais interessante, afinal continha detalhes que não estavam no dossiê. Ela realmente não gosta de se sentir vigiada, uma vez que fugiu da própria mãe. Bom, ainda bem que não sabe que contratei uma equipe de seguranças que está a vigiando todos os momentos em que não estou por perto.
Decidi mudar de assunto novamente antes que minha “pesquisa” fosse motivo para uma possível discussão e acabasse arruinando nosso jantar.
“E você nunca conversou com seu pai sobre o que aconteceu?”
“Não. Ele sabia que eu era uma menina revoltada e insegura, com problemas de auto-estima, mas nunca soube sobre Nathan”.
“Por que não?”
“Por que nada vai mudar o que aconteceu. Nathan foi punido nos termos da lei. O pai dele pagou uma indenização altíssima pra reparar os danos que ele causou. A justiça foi feita”.
Se houve uma coisa que não foi feita nessa história foi justiça.
“Discordo”, falei num tom de voz gelado.
“O que mais você queria?”
Dei um grande gole no meu vinho antes de responder. “Algo inapropriado para falar durante o jantar”.
“Oh”, respirou, um pouco surpresa e até mesmo temerosa. Então voltou sua atenção para comida.
Eva fica tão adorável quando come. Ela sente prazer, ela come com gosto (em todos os sentidos em que essa palavra se aplica, mas, nesse caso, é no âmbito culinário mesmo). E assisti-la é tão bom. Nunca vou me cansar dessa mulher.
Ficamos alguns minutos em silêncio até que não resisti. “Adoro ver você comer”.
“O que você quer dizer com isso?” ela me olha. Rá! Pensando no duplo sentido como eu!  
“Você come com gosto. E seus gemidinhos me deixam com tesão”.
Ela acerta meu ombro com o seu. “Pelo que você me falou antes, está sempre com tesão”.
“Culpa sua”, sorri. Ela retribui.
Uma disposição me invadiu e passei a comer com vontade. A comida estava deliciosa. O restaurante é ‘omakase’, ou seja, nunca se sabe o prato que será servido, já que não tem cardápio.
Estamos saindo do restaurante. A noite está um pouco fria e Eva não trouxe echarpe. Retiro meu paletó e coloco sobre seus ombros.
“Vamos à sua academia amanhã”, sugiro.
“A sua é melhor”.
“Claro que é. Mas posso ir aonde você quiser”.
“De preferência um lugar que não tenha instrutores prestativos chamados Daniel?” pergunta com um ar de falsa inocência.  
Brincalhona, não?
“Cuidado, meu anjo. Se continuar tirando sarro da minha possessividade vai ter retaliação”, respondo com um sorriso sarcástico.
Durante a volta para casa, Eva aninha-se junto a mim no banco de trás do Bentley. Suas pernas estão apoiadas em minhas coxas e sua cabeça recostada em meu ombro. Eu a envolvo em meu abraço e fico olhando para janela, as luzes da cidade passam como borrões coloridos à medida que o carro avança. Ficamos em um silêncio confortável, pensativos e um pouco introspectivos. As recentes revelações de Eva ficam martelando em minha mente. Quando, em algum momento da minha vida, eu pensei que poderia encontrar o amor da minha vida, a razão da minha existência e o ar que eu respiro em alguém que, assim como eu, foi abusado sexualmente na infância? Parecia ser inacreditável. Talvez fosse possível que um dia me sentisse mais a vontade para me abrir com ela sobre o que aconteceu. Não vou poder esconder isso para sempre, mas vou evitar o quanto puder. Preciso sentir que nossa relação estará sólida o suficiente para isso. Ambos estamos quebrados e magoados, mas por isso nos completamos.
“Confio em você”, sussurra de repente.
Aperto mais meus braços em torno dela. “Nós fazemos bem um pro outro, Eva”.
Já em casa, nos amamos novamente, mas sem o desespero de outrora. Nos demoramos nas carícias, nos beijos, nos abraços, nos olhares. As coisas ganharam uma nova dimensão após as revelações de Eva. Minha proteção em relação a ela aumentou ainda mais. Na mesma proporção que o meu amor. 
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Escuto uma voz familiar me chamando. Oh, não! É ele! Vou para meu quarto. Apago a luz, fecho a porta e me encolho em minha cama, debaixo dos cobertores, como uma pequena bola. Talvez, se eu fingir que estou dormindo, ele me deixará em paz. A porta se abre de súbito e o escuto me chamar.
“Eu sei que não está dormindo. Eu vi você”, diz com um tom provocativo.
Ele se aproxima da minha cama e para. Sinto sua presença, mas ele não fala mais nada. De repente, minha coberta é arrancada de cima de mim e meu corpo é jogado no chão. Ele monta em cima de mim e começa a me despir. Tento me desvencilhar, mas não consigo.
“Não faça isso... Não. Não faça isso... Por favor”.
Mas ele não para. Minha cueca é arrancada e suas mãos estão sobre meu membro. Ele começa apertá-lo com força, sua mão desliza de cima para baixo asperamente enquanto a outra segura meus braços acima da cabeça. Seus joelhos estão entre minhas pernas, me impedindo de fechá-las. Estou completamente à sua mercê.
“Saia de perto de mim!” grito. Mas é em vão.
Ele não vai parar. Meu corpo reage ao seu toque sem que eu queira. Não consigo controlá-lo.
“Viu como você gosta quando eu te toco?” sussurra e abre um sorriso. “Viu como você está pronto para gozar para mim? Vamos lá Gideon, eu sei que você quer, vamos!” disse enquanto aperta ainda mais sua mão em minha ereção.
Eu tento me mexer, me proteger, mas não consigo.
“Saia... Saia...”. Grito e continuo tentando me mover. Eu não sei por que meu corpo fica desse jeito, mas está doendo tanto! Não! Não quero mais isso! Por mais que eu não consiga me soltar, continuo me debatendo, tentando mais uma vez me livrar desse monstro.
“GIDEON, PELO AMOR DE DEUS! ACORDE!”
Com esse grito volto à consciência, completamente atordoado, ofegante e exausto.
“Quê? O que foi?” pergunto assustado.
Meu olhar encontra o dela. Eva está atordoada.
“Minha nossa” suspira passando as mãos pelos cabelos enquanto se levanta e veste o robe.  “Você estava tendo um pesadelo, quase me matou de susto”.
“Eva”, eu tento explicar, mas me interrompo quando olho para baixo, notando a ereção. Meu rosto já corado pela intensidade do pesadelo ficou mais vermelho. De vergonha. Eu não queria que ela tivesse visto isso.
Ela, por seu lado, me observa à distância, de perto da janela, fechando o robe com um puxão. “Você estava sonhando com o quê?”
Sacudo minha cabeça e a abaixo, humilhado. Ela está se afastando de novo. Está com medo de mim. Esse pesadelo não foi nada comparado ao outro. Com medo de contar-lhe a verdade e afastá-la ainda mais, resolvo mentir.
“Não sei”. Mal consigo encará-la.
“Mentira. Tem alguma coisa aí, corroendo você por dentro. O que é?”
Sentindo que o sono já havia sumido, me recomponho e finjo indiferença. “Foi só um sonho, Eva. Todo mundo sonha”.
“Não me venha com essa”. Sibila.
“Por que você está brava?” pergunto tapando minha cintura e pernas com o lençol.
“Porque você está mentindo.”
Meu anjo, a verdade não é tão linda ou, na melhor das hipóteses, digerível.
Inspiro profundamente e solto o ar em uma bufada. Tenho que desviar dessa conversa. “Desculpe por ter acordado você”.
“Vou perguntar de novo, Gideon: com o que você estava sonhando?”
“Não lembro”. Passo as mãos pelos meus cabelos. É difícil ter que esconder isso dela, e pior é ter que mentir. “Estou com um negócio na cabeça que está atrapalhando meu sono. Vou trabalhar um pouco no escritório. Volte pra cama e durma mais um pouco”.
Suas feições mudam de raiva para... Decepção. Meu coração aperta.
“Essa pergunta tinha mais de uma resposta certa, Gideon”. “‘Vamos conversar sobre isso amanhã’ seria uma delas. ‘Vamos deixar pra falar disso no fim de semana’ seria outra. Até um ‘Não estou pronto para conversar sobre isso’ seria aceitável. Mas você tem a cara de pau de fingir que não sabe do que estou falando e de me tratar como uma imbecil”. Esbraveja.
Não estou entendendo. Quero poupá-la do meu sofrimento, uma vez que ela teve de me revelar seus traumas e está vulnerável.
“Meu anjo...” tento esclarecer as coisas, mas ela me corta.
“Nem comece”. Pôs as mãos na cintura. “Você acha que foi fácil contar a você sobre meu passado? Acha que foi tranquilo me abrir daquele jeito e pôr tanta sujeira pra fora? Teria sido mais fácil abrir mão de você e namorar alguém menos famoso. Corri esse risco porque quero ficar com você. Um dia, quem sabe, você queira fazer o mesmo”. E sai do quarto como um foguete.
Merda! Merda! Merda! Ela está fugindo de novo!
“Eva! Que droga, Eva, volte aqui. Qual é a sua?”
Estou tentando evitar uma crise entre nós, mas Eva não me deixa explicar. Mais uma vez, ela foge de mim. Mais uma vez eu falho. Porque diabos que sempre tenho que perdê-la? Mesmo quando tento fazer a coisa certa, ela corre. Chego à sala, completamente nu, mas as portas do elevador já estão quase se fechando quando a vejo. A dor que sinto é indescritível. Ela está apenas de robe, segurando sua bolsa. Mantenho minha face impassível para que ela não veja o quanto me mata vê-la partir. Quando percebo que novamente estou sozinho, uma sensação de angustiante se instala. Me encaminho para meu quarto cabisbaixo e derrotado, mas estanco. As chaves de sua casa estão aqui. Merda! Como Eva vai entrar em casa? Ela está sozinha, triste, desolada e vestindo apenas um robe!
Pego meu celular e procuro o número de Cary, rezando para ele estar em casa. O telefone toca três vezes e uma voz sonolenta atende.
Alô”.
“Cary, aqui é Gideon. Estou ligando para avisar que Eva está indo para casa, mas deixou suas chaves comigo. Queria garantir que estivesse acordado para recebê-la”.
Aconteceu alguma coisa grave com ela?” pergunta com ansiedade na voz.
“Não, ela está bem”, respiro resignado. “Apenas esteja acordado quando ela chegar”.
O que você fez com ela?” seu tom agora é acusatório.
“Boa noite, Cary”.
Eu sabia que você a machucaria cedo ou tarde. Talvez seja melhor se afastar e deixá-la em paz”. E desliga.
Apesar de não aceitar viver longe de Eva, no fundo sei que ele está certo. Eu só a faço sofrer, mesmo quando acho que estou fazendo tudo certo. Sou um desastre de homem, mesmo! Por isso não consigo manter ninguém. Se minha própria mãe não acreditou em mim, porque Eva acreditaria?
 Acendo as luzes e fito minha cama. Nenhuma mulher havia sequer deitado aqui. Somente Eva. Meus olhos analisam cada detalhe da decoração, a mobília, os objetos, a cor das paredes. É como se eu não reconhecesse mais onde estou. Eva mudou tudo por aqui. Sua presença, sua graça, seu jeito teimoso e intempestivo e sua sensualidade já fazem parte do meu mundo. Desabo na cama e choro descontroladamente, pondo para fora as frustrações causadas pela minha desgraça. A única pessoa que me ama me dá uma chance e sou incapaz de dar-lhe algo tão simples. Algo que nunca foi requerido de mim, embora. Mas agora, nada importa.
Deixei de ter um lar no momento em que ela se foi.

Coitada da Eva. Infelizmente milhares de crianças passam todos os dias pelo que Eva e Gideon passaram. Existem muitos Nathans por aí que devem pagar pelos seus crimes. Por isso é tão importante denunciar! No site da Unicef há uma cartilha com informações de como denunciar casos de violência sexual. Aqui o endereço: http://www.unicef.org/brazil/pt/activities_10790.htm  
Não podemos nos calar perante situações como essas! Se puder ajudar, ajude! Bom, é isso. Próximo capítulo sai até sexta, ok? Ele é maior e mais trabalhoso para corrigir e essa semana tá meio atarefada para mim, já aviso! 
Desejo-lhes uma excelente semana!

Um comentário:

Unknown disse...

Sempre achei o GIDEON muito burro quanto a este assunto, ele deveria ser mais sincero com a EVA.