sábado, 1 de novembro de 2014

Para Sempre Minha: Capítulo 5 — Ressentimentos

Espero que gostem do capítulo. Preparem-se, porque está bem fofo e emocionante! E recomendo as músicas que pus também, porque são lindas :D
Boa leitura!

E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega.
— Ivan Martins 

Após horas de sexo intenso e selvagem, Eva está agora deitada em meu peito, ressonando levemente. As curvas de seu corpo nu se moldam perfeitamente às do meu. Somos perfeitos juntos até nisso. A atração que sentimos um pelo outro é fora do comum. Eu simplesmente não consigo resistir a ela e vice-versa. Quer dizer, eu gosto de sexo. Sempre tive um apetite voraz. E, quando eu queria dar uma trepada, era apenas estalar os dedos e eu tinha a mulher que quisesse para me satisfazer. Mas tudo isso mudou radicalmente para mim: primeiro, que com Eva não é só sexo. Nunca é. Mesmo quando cedemos ao puro desejo carnal. É sempre uma ligação, uma demonstração física dos sentimentos que não consigo expressar em palavras. É a prova de que preciso de que somos inseparáveis e importantes um para o outro, principalmente nos momentos em que as coisas parecem não ter solução, que os obstáculos não param de aparecer.
Segundo: o prazer de Eva é o meu prazer. Quando vejo a satisfação de estar em meus braços estampada em seu belíssimo rosto, nada me deixa mais feliz. Antes eu só pensava em meu prazer. Mesmo sempre tomando as rédeas da situação, tudo se resumia às minhas necessidades e nada mais. No quarto de hotel eu tinha os vibradores, géis afrodisíacos e toda a parafernália sexual para manipular o corpo das mulheres com quem não queria ter contato por penetração. Naqueles momentos, mesmo concentrado nos corpos delas, eu não ligava para nenhuma delas, se quer as olhava. Eu sabia que daria prazer a elas, o que não significava que eu tinha que estar com minha mente presente. Era como se ela se desligasse, entrasse em total inércia. Tudo ficava nublado, tudo sumia e eu era apenas uma máquina bem azeitada que extraia gemidos, fluídos e orgasmos de um ser do sexo oposto. Com Eva é diferente. Quero estar presente, sentindo todas as reações intensas e prazerosas que só ela foi e é capaz provocar em mim. Estar dentro dela é uma experiência inigualável. O calor que emana de seu canal apertado é mais do que erótico. Tem a ver com o que eu sinto quando isso acontece. É uma sensação de acolhimento, de aceitação, de entrega total. E isso é mais estimulante que qualquer outra coisa. O fogo que se alastra pelo meu corpo durante nosso ato de amor é a prova de que estou vivo como nunca e que eu jamais sentiria isso novamente com outra pessoa, pois simplesmente nasci para pertencer a ela.
Eva se mexe um pouco, me despertando de meus pensamentos. Suas pernas estam entrelaçadas às minhas, seu rosto enfiado na curvatura do meu pescoço, e seus braços circulam meu tórax. Sorrio ao ver que, mesmo dormindo, ela me revindica como seu. Com cuidado, me desvencilho nossos corpos, me levanto do sofá e a pego nos braços para levá-la ao quarto de hóspedes. Eu queria muito dormir com ela. Mas achei melhor não arriscar. Mesmo tomando o remédio, ele não é garantia de que eu não vá atacá-la. Além do mais estamos passando por um grande momento de pressão emocional e o risco de eu acabar tendo um pesadelo é muito grande.
“Gideon”, ela resmunga quando a deito na cama. Seus olhos se abrem em fendas e sua testa se enruga. “Fica, por favor,” pede com a voz chorosa e rouca de sono.
Em silêncio atendo seu pedido. É impossível dizer não. Aperto seu corpo em meus braços, e ela se agarra a mim novamente. Cheiro seus cabelos e os acaricio. Duas horas depois, ao perceber que ela está em sono profundo. Me solto de seu corpo já sentindo falta de seu calor, a cubro com o lençol e saio devagar do cômodo. Deito em minha cama fria, sozinho. E o sono simplesmente não vem. Minha mente trabalha a mil e acabo relembrando nosso “encontro”.

FLASHBACK
Ao ver seus olhos borbulhando de luxúria e carinho, abri um sorriso e estendo-lhe a mão. Assim que nossos dedos entraram em contato eu a puxei para mim e lhe dei um beijo leve. Não vou mentir, minha vontade era me fartar em sua boceta deliciosa, mas tinha que me controlar. Estava determinado a levar essa coisa de primeiro encontro a sério. A saudade de tocá-la, de tê-la por perto me comprimia o peito. Ter que fingir evitá-la em público é uma tortura. Mal podia esperar para poder mostrar ao mundo que ela tinha voltado para mim. Fechei a porta e a tranquei, deixando nossos obstáculos e problemas para trás. Finalmente, éramos apenas nós, longe de tudo e de todos. Sem ressalvas, reservas, pausas ou hesitações.
Eva adorou ver que eu estava usando o suéter que ela tanto adora e fez questão de mostrar isso. Claro que foi proposital. Eu sentia certa urgência em agradá-la, de deixá-la feliz. Após tirar seus sapatos, sob algumas provocações nada inocentes, vi uma sacola em sua mão. Eva me nublou tanto os sentidos que eu sequer tinha reparado naquilo. Perguntei a ela o que tinha dentro e, um pouco atordoada enquanto olhava para o apartamento, respondeu que era um presente de casa nova.
Fiquei curioso e ansioso para saber do que se tratava. Todos os presentes que Eva me dá têm um significado especial. Lancei um rápido olhar para meu dedo anelar direito adornado pelo anel de platina e cravejado de diamantes negros que ela me dera. Nunca fui de usar joias até aquele momento. Mesmo durante nossa separação, não a tirei, por ser o mais próximo de Eva que eu podia estar. Mas, mais do que isso, essa joia é a marca do meu anjo em mim: mesmo distantes, eu ainda pertenço a ela e ela a mim. É um lembrete claro de eu havia mudado de forma irreversível. E, claro, de que meu amor é correspondido.
Peguei a sacola de sua mão e a revirei enquanto respondia distraidamente suas perguntas sobre o dia em que Raúl me ajudou a montar o apartamento. Quando toquei o presente, senti um pano felpudo e macio. A primeira coisa que me chamou atenção foi o emblema da CrossTrainer bordado nas toalhas.
Toalhas.
Toalhas da CrossTrainer.
Interessante. E intrigante. Tive vontade de rir, mas me segurei. Contentei-me em apenas inquiri-la sobre o presente, achando isso muito divertido e curioso.
‘Me desculpe”, disse perplexa. “Não fazia a menor ideia de como você estava instalado aqui”.
Fiquei balançado ao perceber seu cuidado comigo. Ela não imaginava que eu tivesse montado um lar completo com tudo o que se tem direito (inclusive utensílios de cozinha que nunca serão usados por mim). Mas o que mais chama a atenção é a mistura perfeita entre o meu estilo e o dela. Minha intenção era fazer desse lugar um refúgio para nós dois. Um lugar onde nós nos sentiríamos confortáveis em estar. E, claro, uma espécie de protótipo em miniatura do que eu planejava para nossa futura, porém não tão distante, vida a dois oficialmente.
Eva bem que tentou pegar as toalhas de mim, mas não deixei.
“Seus presentes são sempre muito atenciosos”, falei. “Me diga no que estava pensando quando comprou este”.
“A ideia era que você pensasse em mim”, explicou suavemente.
“Todos os minutos do meu dia”, murmurei sentindo um aperto no peito.
“Sim, mas me deixe completar o seu pensamento: eu... quente e toda suada... desesperada pra ter você”.
“Hum... uma fantasia bastante recorrente para mim”, comentei com a cabeça cheia de imagens de todas as nossas transas.
Não dá sequer para fazer uma seleção das melhores, porque todas são inesquecíveis.
Mas nossa primeira vez na limusine, definitivamente, é a minha favorita.
Então, ela me perguntou se sempre nela quando bato punheta. Não fico surpreso com sua pergunta, afinal, uma das coisas que gosto sobre meu anjo é que ela sabe ser direta como ninguém. Respondi que não faço isso, mas ela não acreditou. Foi nesse momento que percebi algo em seus olhos. Algo que me dizia que ela não estava bem como aparentava. No fundo, eu sabia o que era, mas queria ouvir de sua boca. A levei para a cozinha para iniciar nosso encontro de vez. Queria aproveitar cada segundo de nosso tempo juntos. Novamente, a urgência deixá-la feliz falou alto em mim e resolvi pular para uma das táticas que mais funciona com ela: comida.
Quando ouvi de sua boca que estava sem calcinha, meu membro deu um espasmo forte e saiu de seu estado semiereto para pronto para o combate em uma questão de milésimos de segundo. Veja bem, eu estava tentando ir devagar com as coisas, não queimar etapas, mas quando se tem uma maldita provocadora que só falta esfregar os peitos em sua cara, deixando claro que quer ser comida, planos podem ser arruinados, roteiros podem virar cinzas e certas partes do corpo ficam, literalmente, em chamas. Mas, como um ser naturalmente controlado, consegui me conter e virar o jogo. Tanto, que ela ficou boquiaberta e ruborizada. E, porra, como amo quando sua pele alva adquire esse tom avermelhado. Principalmente quando lhe deixo desconcertada. É algo lindo de se ver.
Enchi nossas taças com vinho e continuamos nossa conversa sobre punhetas. Expliquei que, antes de conhecê-la, sempre batia uma no chuveiro. Era natural, como lavar os cabelos. E, mesmo com todo o sexo que eu tinha num dia, eu me masturbava, porque nenhuma daquelas mulheres me deixava plenamente satisfeito. Mas depois de Eva, só fiz isso uma única vez, na frente dela, depois do pesadelo que ela teve com Nathan. Fazê-la gozar só de me olhar, enquanto subia e descia minhas mãos pelo meu membro, foi uma verdadeira realização de vida. Eu nem precisei tocá-la! Meu ego masculino inflou e me senti poderoso.
Eva tomou um gole de seu vinho antes de me perguntar o porquê de eu ter parado de fazer aquilo, afinal nós tínhamos ficado um tempo consideravelmente longo longe um do outro.
“Eu não posso desperdiçar uma gota sequer se quiser acompanhar o seu ritmo”, eu disse esboçando um sorriso.
Se há uma coisa que eu amo nela, é essa fome insaciável pelo meu corpo. E é recíproco, só para registrar. Só o cheiro da sua pele é capaz de me deixar duro.
Ela largou sua taça, me deu um empurrão no ombro e reclamou, parecendo indignada, que meu jeito de falar a fez parecer uma ninfomaníaca. Não me incomodei com seu tom. Seu jeito dramático sempre se manifesta quando ela está chateada.
“Você gosta de sexo, meu anjo”, mantive minha tranquilidade. “Não tem nada de errado nisso. Você é gulosa e insaciável, o que eu adoro. Gosto de saber que, quando for pra cama com você, vou gastar todas as minhas energias. E depois começar tudo de novo”.
“Pra sua informação, eu não me masturbei nenhuma vez enquanto ficamos separados. Nem vontade, senti porque você não estava por perto”, ela rebateu com o rosto em chamas.
Inclinei-me sobre o balcão, apoiando um dos cotovelos no granito escuro, apenas observando sua reação exagerada.
“Eu gosto tanto de transar com você porque é com você, e não porque sou louca por sexo. Se você não gosta, é só ficar barrigudo, ou então parar de tomar banho, sei lá”. Ela desceu do banquinho. “Ou então dizer não, Gideon” e marchou para a sala.
Era o momento de eu tomar o controle da situação. Eva estava passando por um turbilhão de sentimentos que não conseguia controlar. Ela é muito passional e frágil demais. A emoção sempre acima da razão. Fui atrás dela e a abracei firmemente por trás, usando meu tom de voz autoritário para mandá-la parar. Seu corpo se debateu na tentativa de se libertar do meu aperto.
“Eu estou mandando, Eva”, fui mais incisivo.
Ela parou no mesmo instante, deixando seus braços caírem inertes ao lado do corpo. Perguntei-lhe sobre esse ataque sem sentido e recebi o silêncio em resposta. Sinal de que nem a própria fazia ideia do que a perturbava.
Dei-lhe mais um abraço antes de nos levar até o sofá. Sentei-me e a coloquei em meu colo. Como uma menininha carente, ela se aninhou em meu peito. Apoiei o queixo no topo de sua cabeça.
“Está querendo brigar, meu anjo?” perguntei, tentando ver se a fazia entender o seu comportamento e, consequentemente tentando me esclarecer.
“Não”, murmurou toda manhosa. 
“Ótimo. Eu também não”, comecei a acariciar suas costas preguiçosamente. “Então vamos conversar em vez disso”.
Ela apoia o nariz em minha garganta e sinto e sua expiração morna em minha pele. 
“Eu te amo”, sussurra com uma emoção distinta em sua voz.
“Eu sei”.
Havia algo a incomodando seriamente. As sensações que aquelas palavras me provocam não vieram porque identifiquei um pouco de culpa em seu tom de voz. Era como se ela precisasse provar que seus sentimentos em relação a mim não mudaram. Pensei que talvez a conversa que ela teve com Brett, e sobre a qual ela ainda não havia comentado, tinha lhe perturbado mais do que deveria. Talvez estivesse se sentindo culpada por ter aceitado o convite dele, ao mesmo tempo em que encontrou na evidente atração que sente por ele, uma espécie de consolo após o desgaste emocional provocado pela nossa separação.
Contudo, deixei esse pensamento de lado por um tempo, focando apenas em Eva. Quando se sentise preparada para contar sobre Brett, ela vai falar.
“Eu não sou viciada em sexo”, resmungou.
“E se fosse também não teria problema. Transar com você é a coisa que eu mais
gosto de fazer no mundo. Na verdade, se você quisesse, eu incluiria o sexo com
você na minha agenda do dia a dia, como um compromisso profissional”, brinquei tentando quebrar o clima pesado que se instaurou.
“Ai, meu Deus!” ela me mordeu de leve no pescoço, e dei risada.
Esse pequeno momento de descontração me deu forças para prosseguir sem pressioná-la. Agarrei seus cabelos com uma das mãos e puxei sua cabeça para trás.
 “Você não está chateada por causa da nossa vida sexual, que é ótima. Tem algum outro problema”.
Ela suspirou. “Não sei o que é. Só sei que estou... esquisita”, confessa.
Eu a conheço. Sei que quando está nervosa e chateada com algo, ela fica inquieta, não consegue se concentrar nem definir seus sentimentos em relação a algo. Ela precisava relaxar, por isso resolvi mudar de tática e distraí-la, perguntando sobre o apartamento. Conversamos um pouco sobre o assunto. Ela ficou emocionada com o nível de detalhamento do meu plano em ficar perto dela e com os gastos que isso implicou. Mas isso não é nada. Eu já provei que faria o que quer que fosse por essa mulher. Tudo o que eu queria era que ela aceitasse morar comigo. Eu não aguentava mais ficar longe dela. Até disse que aceitaria o Cary conosco, se o empecilho fosse ele.
Eva ficou atônita e sem palavras diante de minha convicção.
Minhas suspeitas em relação ao Brett estavam quase se confirmando.
“Tem alguma coisa a mais que você precisa me dizer”, pressionei levemente.
“Combinei de sair com as meninas no sábado a noite”.
Meu corpo inteiro paralisou diante de suas palavras. Não gostei nada de ouvir aquilo. Ela poderia sair com as amigas para qualquer lugar. Vários homens poderiam estar perto dela.
E eu não poderia.
Ela tentou amenizar dizendo que todas eram comprometidas, mas eu não quis ouvir. Meu lado homem das cavernas só pensava em proteger o que era meu. Eu precisava deixar claro que essa saída iria acontecer de acordo os meus termos.
“Eu providencio tudo, o carro, o motorista e o segurança. Se você concordar em se limitar aos meus estabelecimentos, o segurança fica no carro. Caso contrário, ele vai atrás de você”, eu disse num tom que deixava claro que não havia discussões.
Ela concordou surpresa com minha mudança brusca de homem desconfortável para homem de negócios.
O timer do forno apitou e me levantei com ela em meu colo, sem nenhuma dificuldade. Eva era muito leve. Achei graça de sua empolgação com a minha “força”.
Sentei-lhe em um dos banquinhos e dei um beijo demorado em sua boca antes de dar atenção à lasanha. Ela perguntou se eu tinha cozinhado e expliquei que nossa refeição era obra de Arnoldo. Eu a ouvi resmungar um ‘que delícia’ e fiquei satisfeito. Eva adorou a comida dele.
Assim que peguei a luva térmica, ela finalmente disse. “Brett me ligou hoje de manhã”.
Sem me alterar, calcei a luva, abri o forno e de lá tirei nosso jantar. Olhei para ela enquanto punha a assadeira sobre o fogão. Tirei a luva e a joguei sobre o balcão, peguei a garrafa de vinho e fui até ela. Tudo isso sem me alterar. Eu não tinha esse direito. Não mais, pelo menos.
“Ele quer encontrar você quando vier a Nova York na semana que vem”.
Ela demorou um pouco para processar o que eu havia dito. “Você já sabia que ele vinha!”, me acusou.
“Claro que sabia”.
Era minha obrigação saber disso. Eu sou o dono da gravadora e ele é meu contratado. Não sei por que ela está tão surpresa.
“E você topou se encontrar com ele?” perguntei fingindo não saber a resposta.
Ela me olhou fixamente antes de responder“Sim, no lançamento do clipe do Six-Ninths. Cary vai comigo”.
Balancei a cabeça positivamente, sentindo um gosto amargo insuportável na boca. Minhas suspeitas se tornaram certezas quando ela me olhou ao confirmar que aceitara o convite dele. Ela estava ressentida e, no fundo, aquela era sua prerrogativa em relação ao sofrimento que a causei. Brett foi seu consolo quando a magoei com meu relacionamento com Corinne e, agora, ele estava lá novamente, preenchendo os buracos que eu havia deixado, cicatrizando as feridas que eu havia aberto. Mesmo que minhas intenções fossem as melhores, nada poderia mudar o fato de que eu a havia decepcionado. Ela confiou sua vida a mim e eu a quebrei. Faltei com minha palavra. Destruí muito do que havíamos construído. Nem todo o amor do mundo pode suportar algo dessa magnitude ou fazer tudo voltar a ser como era. Talvez jamais voltasse, por mais que nossos sentimentos em relação ao outro não tivessem mudado.
Tenho plena consciência do que fiz. Não mudaria nada. Minha felicidade depende de Eva. Tudo o que a afeta, afeta a mim também. Eu não poderia deixar que aquele monstro a tivesse nas mãos novamente. Posso ter arriscado muito da nossa relação, mas só de saber que eu tinha conseguido libertá-la do passado que a atormentava, vale mais que qualquer coisa.
Ela desceu do banquinho e veio até mim. Envolvi seu corpo em meus braços e apoiei o queixo sobre sua cabeça.
“Eu vou cancelar tudo”, disse apressadamente. “Eu nem queria ir, na verdade”.
“Tudo bem”, balancei nossos corpo de um lado para o outro, tentando mostrar que eu não a culpava, que eu a entendia. “Eu fui um cretino com você”.
“Não foi por isso que eu concordei em ir!”
 “Nós não podemos esquecer o que aconteceu nas últimas semanas, Eva”, eu disse enquanto acariciava seus cabelos, sua testa e seu rosto. “Eu cortei seu coração, e você ainda está sangrando”.
Ela pareceu finalmente entender o que a estava angustiando. Sei que a aceitação ao convite não foi com a intenção de me magoar e sim de ela se proteger do que fiz. E a melhor defesa é sempre o ataque. Brett é o único homem capaz de tirá-la de mim. Pensar nos dois juntos me machuca profundamente. E Eva sabe disso.
Ela saiu bruscamente do meu abraço. “O que você está querendo dizer?”
“Que eu não tinha o direito de magoar você, fosse pelo motivo que fosse, e ainda esperar que fosse me perdoar do dia pra noite”, expliquei.
“Você matou um homem por minha causa!”, exclamou.
“Mas você não me deve nada por isso”, rebati. “Você não tem obrigação nenhuma de retribuir o meu amor”.
“Eu não quero magoar você, Gideon”, seus olhos estavam brilhantes de lágrimas e sua voz mais amena.
Claro que ela não queria. Mas iria. Eu sabia que sim. Ela sabia que sim. E eu tinha que aceitar isso. Para toda uma ação existe uma reação. Sempre soube que haveria um preço a pagar pelas minhas escolhas e eu estava preparado para lidar com elas.
“Então não me magoe”, beijei-a com todo o carinho que podia demonstrar e a chamei para jantar, encerrando o assunto de vez.
Precisava recuperar o tom leve e despreocupado do nosso encontro. Iríamos deixar esses problemas para depois. A noite era nossa e de mais ninguém.
***
Depois da tensa conversa sobre Brett, nós jantamos e Eva me contou sobre Mark, seu chefe, estar pensando em pedir seu companheiro em casamento, depois de ter rejeitado o pedido que Steve havia feito. E, como uma forma de autoflagelação tão típica de seu comportamento, ela me perguntou sobre como foi o pedido de casamento que Corinne me fez. Aquilo me incomodou profundamente, já que ela levantou o assunto numa hora bem inoportuna. Propus não falarmos sobre isso e justifiquei que não significava nada.
Ela me encarou. “Como você se sentiria se soubesse que eu já fui pedida em casamento e aceitei? Hipoteticamente”.
Lancei-lhe um olhar aborrecido por ficar insistindo nesse assunto. “Seria diferente, porque você só aceitaria se casar com um cara se tivesse um sentimento muito forte por ele. Já o que eu senti foi... pânico. E isso só passou quando ela desfez o compromisso”.
“E você comprou uma aliança pra ela?” perguntou e, automaticamente olhou para o anel que eu havia lhe dado.
“Nada que pudesse competir com esse”, eu disse baixinho, me lembrando do significado que aquela joia tinha para nós dois.
Ela fechou a mão, como se escondesse o anel. Pus a minha sobre ela.
 “Eu comprei a aliança pra ela na primeira loja que apareceu no caminho. Não sabia nem o que estava fazendo, então escolhi uma que era parecida com a da minha mãe. As circunstâncias eram muito diferentes, concorda?”
“Sim”, sussurrou e em seguida fez uma careta. “Desculpa. Eu sou uma idiota mesmo”.
Peguei sua mão e beijei seus meus dedos. “Eu também sou às vezes”, falei sem discordar de sua afirmação, porque levantar essa questão em um dos raros momentos de calmaria que temos foi bem estúpido. Mas eu já fiz coisas piores, então não é como se eu pudesse julgar seu comportamento autodepreciativo.
Pegamos o resto do jantar e fomos para a cozinha. Deixei o home theater da sala ligado e deixei algumas músicas rolarem enquanto arrumávamos a bagunça na cozinha. Então me lembrei de Eva dançando com seu pai na noite em que o conheci. Ela estava tão feliz enquanto cantava. Nós estávamos abalados na época por conta do meu distanciamento. A saudade me sufocava. E vê-la daquela forma me descontraída e alegre despertou toda a fúria e desespero do meu amor. Tive que me segurar para não deixar meus sentimentos transparecerem. E isso fez meus olhos queimarem com lágrimas de frustração, de dor, de saudade. Eu só me imaginava no lugar do pai dela.
Assim, num estalo, resolvi que devia ter minha dança. Quando ela levantou a mão para guardar na máquina de louças o prato que eu havia enxugado eu a peguei, tirei o prato dela e o deixei em cima da pia. Abracei Eva pela cintura e comecei a conduzir a dança.
Surpresa e ansiosa pelo contato de nossos corpos, ela me perguntou que música estava tocando, e respondi que não fazia ideia. Só queria ter a oportunidade de ter um momento como esse ao seu lado. Sempre gostei de dançar. Mas com Eva, essa forma de entretenimento passou a ter um significado muito maior.
Meu coração se encheu de calor ao vê-la radiante, enquanto se deixava levar pela minha condução. Ela ficava ainda mais magnífica quando estava feliz. Fomos dançando pela cozinha até chegarmos à sala, pra ficarmos mais perto da caixa de som. Quando à música ficou mais alta, Eva tropeçou, exatamente como aconteceu com seu pai, quando me viu.
“Exagerou no vinho, meu anjo?”, provoquei enquanto a segurava para perto. Mas ela não me respondeu. Continuou em silêncio e suas feições assumiram uma gravidade perturbadora. Continuei a encará-la, tentando entender qual era o problema. Pensei que minha iniciativa devia ter desencadeado nelas as mesmas lembranças que me instigaram. Foi um momento doloroso para ambos, mas principalmente para ela.
Quando ela olhou para mim, percebi que não era bem isso que se passava. “Você parecia tão feliz quando estava dançando com o seu pai”, comentei.
“E estou feliz agora também”, disse com sinceridade.
Continuei olhando para seu belo rosto, o desejo por ela crescendo fervorosamente dentro de mim.
De repente, ela agarrou minha nuca e me puxou para um beijo que me fez parar de dançar. Cada célula do meu corpo vibrou pelo contato de nossas línguas e abracei com força o suficiente para tirá-la do chão. E então entendi que, mesmo magoada, ela não desistiria de nós. Com aquele beijo, ela me mostrou que reconhecia meu esforço em fazer com que nossa relação desse certo e que, mesmo que as armadilhas do destino nos fizessem cair, sempre teríamos um ao outro para nos apoiar.
Ela interrompeu o beijo e me encarou com os olhos marejados. “A minha maior felicidade é estar com você”.
E, dessa vez, eu senti a mesma reação que eu tinha quando ela dizia que me amava. Aquela sensação que não consigo explicar e com a qual eu jamais me acostumaria. Mas que eu nunca iria me cansar de sentir.
“Ah, Eva”, murmurei antes de tomar seus lábios com os meu novamente, em um beijo ardente, desejoso e intenso.
Ficamos assim, nos beijando por um bom tempo. Mesmo quando nossos pulmões imploravam por ar, parávamos para atender ao pedido, e rapidamente voltávamos a nos entregar. O desejo carnal deu lugar ao amor de incondicional que nutríamos um pelo outro. Fomos acalmando aos poucos e, no fim, sorrimos um para o outro, com as testas coladas, num entendimento claro, numa promessa velada, de que desistência não era uma opção.
Com ela ainda no colo, fui até o sofá, e me deitei. Eva seguiu meu exemplo e ficou à minha frente.
“Agora, vamos ao meu programa favorito”, disse animada.
Arqueei a sobrancelha numa pergunta muda e ela apenas deu de ombros enquanto pegava o controle remoto e ligava a TV. Ela foi mudando de canal até chegar onde queria.
Quando uma vinheta passou anunciando o começo de uma série policial, Eva vibrou de empolgação e entendi que aquele era o tal seriado que ela tanto gostava. Apenas sorri e revirei os olhos. Mas gostei de ter feito um programa tão normal com ela. Quer dizer, eu não era muito chegado em televisão. No fim, acabamos nos envolvendo muito no programa, discutindo os suspeitos de um assassinato que chocou toda a cidade de Nova York.
Incrível como esses roteiristas têm verdadeira fixação em criar vilões que dizimam a população nova-iorquina  como se fosse a única do planeta.
Assim que Eva pôs a mão no meu pau, a atmosfera descontraída deu lugar à luxúria. Ele estava quieto, mas foi só receber um pouco de carinho que endureceu na hora.
Ficamos mais uma vez brincando com sua fantasia do “vizinho gostosão”, mas quando ela me perguntou se iríamos ou não dar uns amassos, eu gargalhei. Eu nunca tinha feito isso. E acho que nem sabia fazer, porque ia acabar sendo mais que amassos. Eva é simplesmente hilária, e sua careta de frustração era adorável.
Ela enfiou a mão por baixo do meu suéter.  “Isso é um não?”
“Meu anjo, eu vou colocar minha boca em qualquer lugar do seu corpo”, afirmei.
“Então comece aqui”, ela  ofereceu sua boca e aceitei prontamente. Fui conduzindo o beijo de forma lenta, profunda e sensual. Eu não tinha pressa. No entanto, o gosto de Eva era um verdadeiro afrodisíaco para mim. Eu me mexi para ficar por cima dela e seu corpo prontamente cedeu enquanto um gemido leve escapava da garganta dela.
Suas mãos passeavam pelas minhas costas. Ela ergueu uma das pernas para enlaçar meu quadril, mas foram seus dentes cravados em meu lábio inferior e a ponta de sua língua contornando o contorno da minha boca que me enlouqueceram de vez. Soltei um gemido de puro prazer. Enfiei as mãos por baixo da camiseta das Indústrias Crossfire que ela vestiu antes de jantarmos e agarrei seu seio, provocando-o de leve com o indicador e o polegar. Desejosa por mais, ela arqueou as costas.
“Você é tão macia”, murmurei. Em seguida, beijei sua têmpora, e afundei o rosto nos seus cabelos. “Eu adoro passar a mão em você”.
Acho que a pouca sanidade que me resta se esvairia se eu não pudesse ter mais acesso ao seu corpo. E não seria de um jeito bom.
“Você é perfeito. Um sonho”, ela abaixou minha calça e agarrou minha bunda com vontade. Uma descarga elétrica percorreu meu corpo com seu toque.
“Você é o meu sonho. Nossa, você é maravilhosa”, eu disse, atordoado pelo desejo de tê-la, de prová-la, de estar dentro dela. Eu a beijei novamente, com desespero e ela demonstrou-se tão afoita quanto ao enrolar suas pernas e braços ao meu redor para aproximar nossos corpos.
Isso meu deixou mais seguro quanto ao nosso pacto silencioso de lutarmos pelo nosso amor. Ninguém afastaria essa mulher de mim. E eu tenho até pena de quem tentar.
A forma como ela reagia ao meu toque sempre me deixava louco. O tesão se elevava de tal forma que eu mal conseguia pensar direito.
“Eu adoro sentir o seu desejo”, eu disse com a voz embargada pelo desejo. “Não suportaria não ser correspondido”.
“Eu sou sua, amor”, ela disse com convicção. “Sou toda sua”.
Suas palavras despertaram o dominador em mim e a imobilizei, colocando uma mão em sua nuca e outra e em sua cintura. Montei sobre seu corpo febril e completamente entregue aos meus desejos, posicionei meu membro ereto e duro contra sua carne macia e (com certeza) molhada e remexi os quadris, causando uma deliciosa fricção. Ela respirou fundo pela intensidade do contato e cravou suas unhas em minhas nádegas.
“Assim”, gemeu despudoradamente. “Você é tão gostoso”.
“Eu ia gostar muito mais de estar dentro de você”, provoquei.
“Está querendo me convencer a ir até o fim?” disse depois de morder o lóbulo da minha orelha.
“Não precisamos fazer nada que você não queira, meu anjo”, beijei seu pescoço de leve e senti o espasmo de seu sexo contra a rigidez do meu membro. “Mas garanto que você vai gostar”.
“Não sei. Eu mudei. Não sou mais esse tipo de garota”, se fez de inocente. E fiquei com mais tesão ainda.
Com as mãos que agarrava firmemente sua cintura, abaixei a minha calça em seu corpo. Ela se debateu numa forma de resistir ao meu ataque e soltou um gemido de protesto. Ainda que seu corpo traidor só conseguisse atender à ordem silenciosa que emanava do meu.
“Shh. Se você não gostar, eu posso tirar”, sussurrei com a boca colada na sua.
“Alguém por acaso já acreditou nessa sua conversinha?”, resfolegou.
“Não estou de conversinha. Estou sendo sincero”.
Eu estava adorando essa brincadeirinha de adolescentes cheios de hormônios dando uns amassos.
Eva agarrou minha bunda e se esfregou contra mim enquanto me provocava.
 “Aposto que você diz isso pra todas”.
“Que todas?”me fiz de desentendido.
“Você tem uma certa fama, sabia?”
“Mas é você que está usando a minha aliança”, murmurei levantando a cabeça e afastei os cabelos caídos sobre sua testa. “O primeiro dia da minha vida foi aquele em que conheci você”.
O impacto de minhas palavras ficou visível rosto dela. “Certo, você me convenceu. Pode me comer”, murmurou engolindo em seco.
Abri um enorme sorriso, feliz por tê-la apenas para mim. “Meu Deus, como eu sou louco por você”.
 “Eu sei”, ela retribuiu o sorriso tão feliz quanto, e me agarrou novamente.
E como minha vizinha autorizou, eu a comi até me fartar.
FIM DO FLASHBACK

Com um sorriso nos lábios por essa última lembrança, fecho os olhos para buscar em minha memória o cheiro de sua pele, mas acabo pegando no sono.
<<<>>> 
“Vamos Gideon, pare de se debater. Abra logo essas pernas. Eu quero tanto provar o seu doce”, aquela voz macabra me atormenta novamente.
“Sai de cima de mim!” grito, disposto resistir. Eu não iria deixá-lo me humilhar novamente. Não iria ficar a mercê dele de novo.
Sua mão foi direto para minhas bolas e as apertou de leve.
“Não encosta em mim, porra”, rosno, me debatendo novamente.
Ele intensifica o aperto em minha carne frágil. “Cala essa merda de boca e me deixa te chupar”, sibila entre dentes.
O aperto fica mais e mais forte e a dor me faz estremecer violentamente.
“Não faz isso. Ah meu Deus... Está doendo”.
“Gideon!”ouço-o gritar de desespero, o que me sobressalta.
Sua mão toca meu peito e, ainda lutando contra ele, agarro seu pulso num aperto de morte.
O grito de dor que ouço, por incrível que pareça, me faz sentir uma angústia insuportável. Meus olhos se abrem de repente, mas minha mão não solta a do meu agressor. Quer dizer, minha mente não...
“Gideon”, escuto a voz nítida de Eva me gritar enquanto sua mão, presa à minha balança sem parar tentando se soltar do meu aperto.
Meus olhos se arregalam no mesmo instante ao perceber o que acabo de fazer. “Eva”, solto sua mão imediatamente, tirando meus cabelos do rosto. “Eu machuquei você?”
Ela agarra seu pulso com a outra mão e balança a cabeça negativamente.
“Eu quero ver”, peço com a voz embargada pelo nó que se forma em minha garganta. Estendendo minhas mãos trementes em sua direção, num pedido mudo.
Ela deixa seus braços caírem sobre o corpo e vem para mim, abraçando-me com força, pressionando seu rosto contra meu peito, ignorando o fato de eu estar coberto de suor. Sem forças para repeli-la dessa vez, simplesmente cedo ao seu abraço, me sentindo um lixo por tê-la machucado novamente. Ela já tinha as feridas internas que eu havia feito, não merecia passar por isso.
 “Meu anjo”, me corpo tremia violentamente. “Me desculpa”.
“Chega, amor. Está tudo bem”, diz enquanto me acaricia os cabelos.
“Me abraça”, sussurro e acabamos deitando no chão, da mesma forma que fizemos da primeira vez em que a ataquei durante o pesadelo. “E não me solta nunca mais”.
“Nunca mais”, promete. “Nunca mais”.
Eu já tinha desistido de tentar afastá-la por causa disso. Eu não era mais aquele que se julgava indigno do seu amor. E ela não era mais aquela que fugia quando os problemas apareciam.
Nosso amor não é comum, não é normal e pode ser até mesmo nocivo.
Mas é amor. Amor demais. E nós não vamos deixá-lo morrer. 

Ai meu Deus, eu quero esse casal feliz! Será que é pedir muito? :((((
Um grande beijo pra todos e até breve, muito breve! Quando vocês assustarem, estou de volta! 
Desejo-lhes uma semana abençoada!

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