sábado, 1 de novembro de 2014

Toda Minha: Capítulo 14 — Pesadelo

Quem aí está preparado para fortes emoções? Lembrando que estamos chegando ao fim da história. Teremos mais dois capítulos mais epílogo, ok? 
Preparem-se, porque daqui pra frente é só tensão. Boa leitura! 

“Sou homem e, por conseguinte, trago todos os demônios no meu coração”.
— Gilbert Chesterton

Estou deitado em minha cama, dormindo um sono tranquilo, como não faço há semanas. A psicóloga não vem hoje. Pelo menos hoje eu poderei ficar em paz.
Mas, de repente, já não consigo mais respirar direito. Meus pulmões estão comprimidos e o ar fica escasso. Numa tentativa de recuperá-lo, aspiro forte pelo nariz, e é nesse momento que sinto aquele cheiro enjoativo, que faz meus joelhos tremerem. Ele está em cima de mim. Não quero abrir os meus olhos com medo do que vou encontrar. Só pode ser um pesadelo! Vai passar.
“Vamos lá, Gideon. Eu sei que você também quer. Você sempre mostra para mim o quanto gosta do meu toque”, sibilou com sua voz macabra em meu ouvido enquanto amarra meus pulsos à grade da cabeceira.
Não consigo ter uma única maldita reação.
Ele desliza a mão pelo meu pênis a fim de me fazer ficar ereto. Isso me desperta de tal forma que entro em desespero e começo a me debater, numa tentativa de lutar com todas as minhas forças contra esse sentimento confuso. Não gosto do toque dele, e sim das sensações que eles me causam. Mas mesmo assim, eu não quero mais me render.
“Socorro, alguém me ajude, por favor!”
A porta do meu quarto está entreaberta, mas ninguém me escuta. A claridade do corredor me permite ver a sombra de alguém no chão acarpetado, então a figura do pequeno Christopher, com oito anos de idade aparece no limiar. Ele está paralisado e observa a cena atentamente. O estagiário continua a me tocar sem se importar com o expectador do lado de fora.
“Chris! Chris! Por favor, me ajuda! Chama alguém, por favor, irmão!” grito desesperado enquanto me debato.
Ele me lança um sorrisinho cínico e, simplesmente me vira as costas, entra em seu quarto e fecha a porta como se não tivesse visto nada.
“Não! Chris, por favor, não me deixa sozinho. Não...”, e minha voz vai morrendo até sumir completamente.
Estou impotente nas mãos de um homem mais velho. E meu irmão nada fez para me ajudar.
Não sou amado por ninguém. Nenhuma pessoa nesse mundo quer me ver bem, nem a minha própria família. Isso me enfurece de tal forma que, do nada, começo a me sentir mais forte, mais alto, mais consciente. Finalmente terei minha chance de me vingar. Minhas mãos já não estão amarradas, então, num ataque surpresa, me coloco em cima dele. Agora o caçador se transformou na caça. Eu estava pronto para revidar.
Uma das minhas mãos foi para sua boca, abafando seus pedidos de ajuda. Eu quero machucá-lo da mesma forma que ele me machuca. Invisto contra ele com força, enquanto minha respiração acelera.
“Agora você vai ver o que é bom”, rosnei.
Meu pênis está ereto. Não tenho controle sobre as reações do meu corpo. Não estou sentindo prazer. Isso tudo é minha sede de vingança, por tudo o que passei em suas mãos.
Senti que ele tentava me empurrar, mas continuei estocando com força. Ele soltou um berro horripilante, de puro medo e pânico.
“Não é tão bom quando é você que está sendo comido, é?” grunhi.
Então alguém sussurrou a palavra ‘Crossfire’. O quê? Mas que...
Sinto duas mãos me puxando de cima de minha vítima, me empurrando com toda a força contra a parede e me prensando.
“Eva, você está bem?” ouço a voz de... Cary?
Espere... O que... O que está acontecendo? Tento endireitar o corpo e Cary avança sobre mim.
“Se sair mais um centímetro daí antes da polícia chegar, acabo com sua raça!” grita.
Eva olha nos meus olhos, seu rosto banhado de lágrimas... Não! Não! Não! Meu Deus, o que foi que eu fiz? Isso não pode estar acontecendo, não pode! Não com o meu anjo... Não! Meu corpo desaba no chão e fico encolhido no canto do quarto. Como isso foi acontecer? Justo com ela? Eu não quero machucá-la, isso acabaria comigo.
“É um sonho”, diz Eva, resfolegada, agarrando o braço de Cary, que se dirige ao telefone. “E-ele está sonhando”.
“Minha nossa. E eu achando que o pirado era eu”, responde incrédulo.
No momento seguinte, Eva e Cary já não estão mais no quarto. Eu mal os vi saindo. Estou tão assustado e atordoado. Eu quase... Eu quase a estuprei! Ela reviveu os momentos de terror que passou com Nathan pelas minhas mãos! É por isso que vivo sozinho, por isso que sempre fui rejeitado pela minha família. Quem iria querer ficar perto de alguém como eu?
Aquele monstro tinha razão, eu sou tão degenerado como ele...
Meu pênis estava ereto quando acordei. Eu senti prazer naquilo. Inconscientemente, mas senti! Quase destruí a vida de Eva novamente.
Agora, mais do que nunca, percebo que não podemos ficar juntos. Eu queria protegê-la de tudo, ser seu porto seguro. A pessoa em quem ela podia depositar toda a sua confiança. Como isso seria possível depois do que acabei de fazer? Sou um risco para ela. Nossa relação nunca mais será a mesma.
E aquele pensamento que eu me recusava aceitar finalmente ganha força em minha mente: tenho que deixá-la. Tenho que mantê-la segura. Dessa vez, de mim. Ainda com as pernas trêmulas, me levanto, me visto e recolho minhas coisas. Está na hora de ir.
Assim que fecho o zíper da mala, Eva adentra o quarto. O medo e a dor estampados em seu rosto. E o mais desolador é saber que, mais uma vez, eu falhei com meu anjo, eu a magoei. A única pessoa que amei nessa vida e eu a dilacerei completamente. Meu peito está a ponto de explodir e um nó se instala em minha garganta. Meus ombros estão curvados pelo peso da minha desgraça. E para evitar mais danos, talvez o melhor seja mesmo seguir sozinho. Embora o vazio já não seja tão aconchegante como antes. Depois de Eva, nada na minha vida será bom o bastante, nada superará nossa história e ninguém irá ocupar seu lugar em meu coração.
“O que está fazendo?” sussurra.
Dou alguns passos para trás, a fim de mantê-la a uma distância segura. “Não posso ficar”.
“Nós combinamos... Chega de fugir”.
Como ela pode pensar nisso agora?
“Isso foi antes de eu atacar você!” grito indignado.
“Você estava inconsciente”, tenta justificar.
“Você não pode virar vítima de novo, Eva. Minha nossa... o que eu ia fazer com você...”. Viro de costas, incapaz de encará-la.
“Se você for embora, quer dizer que nosso passado levou a melhor sobre nosso futuro. Se sair daqui agora será melhor você manter distância e eu esquecer você. Vai ser o fim, Gideon”.
Suas palavras esmigalham ainda mais o que resta do meu coração. Eu não quero ir, mas preciso. Será que ela não entende a gravidade do que aconteceu?
“Como posso ficar? Por que você ia me querer aqui?” me viro para encarar seu rosto pálido e molhado de lágrimas. “Prefiro me matar a machucar você”.
  “Você jamais me machucaria”, choraminga.
“Você está com medo de mim” digo quase sem voz. “Dá pra ver no seu rosto. Até eu estou com medo de mim. Com medo de cair no sono e fazer uma coisa que destruiria minha vida e a sua”.
Só de pensar no que poderia ter acontecido a minha vontade é de tirar minha própria vida. Quem sabe assim eu não paro de atrapalhar as pessoas? Não é isso que eu sempre faço? Parece que simplesmente me afastar não está se funcionado.
Passo a mão pelos cabelos, aflito. “Eva...”.
“Eu te amo Gideon”.
Encaro seus olhos com perplexidade. E morrendo de nojo de mim mesmo por ter me permitido ouvir essas palavras dela.
“Meu Deus, como você pode dizer uma coisa dessas?”
“É a verdade”.
“Você só está vendo isto aqui” digo apontando para meu corpo. “Não está vendo tudo o que existe de perturbado e traumatizado aqui dentro”.
Ela dá um longo suspiro. “Como você tem coragem de me dizer uma coisa dessas? Sabendo que eu também sou perturbada e traumatizada...”.
E ainda assim ela me quer? Sua insistência em se automutilar com essa relação absurda que temos me irrita profundamente.
“Talvez você esteja mesmo atrás de alguém que te faça mal”, respondo num tom amargurado.
“Pode parar com isso. Sei que você está chateado, mas descarregar tudo em cima de mim só vai piorar as coisas”.
Ela olha para o relógio marcando quatro da manhã e começa a caminhar em minha direção. Não posso lidar com sua proximidade. Mesmo sabendo que seria inapropriado tocá-la agora, eu a desejo demais. Levanto uma das mãos no intuito de mantê-la afastada.
“Estou indo pra casa, Eva”.
“Durma aqui, no sofá. Faça o que estou dizendo desta vez, Gideon. Por favor. Vou morrer de preocupação se você for embora”, implora.
“E vai ficar mais preocupada ainda se eu ficar”, rebato.
Ela chega mais perto e pega minha mão. Sinto seu corpo tenso pelo contato. Está tentando lutar contra o medo.
“N-nós vamos superar isso” gagueja. “Você vai conversar com o doutor Petersen e depois vemos o que podemos fazer”.
Levanto uma das mãos, querendo tocar seu rosto, mas receoso quanto a sua reação. “Se Cary não estivesse em casa...”, eu nem consigo pensar nisso.
“Ele estava, e eu vou ficar bem. Eu te amo. Vamos superar isso”, diz se encaminhando até mim e me abraçando com sua mania de enfiar as mãos sob minhas roupas. “Não vamos deixar o passado destruir o que temos”.
Não quero ter que deixá-la. Sei que esse seria o certo dada a nossa situação, mas não consigo imaginar minha vida sem ela. Porque simplesmente não há vida sem ela.
“Eva”, eu a envolvo em meus braços e a aperto, sentindo cada milímetro de seu corpo aconchegante. “Desculpe. Isso está me matando. Por favor. Me perdoe... Não posso te perder”.
“E não vai”, suspira.
“Sinto muito”, peço, acariciando a curvatura das suas costas com as mãos trêmulas. “Faço qualquer coisa...”.
“Shh. Eu te amo. Vai ficar tudo bem”.
Eu quero e preciso acreditar nisso. Aqueles quatro dias em que nos distanciamos acabaram comigo. Perdê-la para sempre me mataria.
Viro a cabeça e lhe dou um breve beijo nos lábios. “Desculpe Eva. Eu preciso de você. Tenho medo do que pode acontecer se eu te perder...”.
“Não vou deixar isso acontecer. Estou bem aqui. Não vou mais fugir”.
Paro com o carinho nas costas ao perceber que nossas bocas estão muito próximas. Apesar de saber que ela está fragilizada, preciso sentir que ainda estamos conectados, que ainda podemos nos amar. Beijo seus lábios e automaticamente seu corpo responde, curvando-se em minha direção, para me trazer para perto de si. Minhas mãos vão diretamente para seus seios macios, acariciando-os e estimulando seus mamilos com os polegares até ficarem duros e sensíveis. Um gemido escada de seus lábios, um misto de desejo com... Medo. Meu corpo estremece com esse som. Eu não esperava por isso.
“Eva...?”
“Eu... Não consigo”.
Ouvir isso dói. Mas eu entendo. Ela está se sentindo ferida, vulnerável e exposta. Não posso forçá-la a nada. Não nego que gostaria de uma prova de que nosso desejo um pelo outro ainda está ali, vivo e pulsante em meio às turbulências pela qual estamos passando, mas também sei que o melhor no momento é esperá-la se sentir confortável. Ela cedeu o controle para mim e, mesmo inconscientemente, acabei jogando isso pela janela. É irônico até. Fiz isso para protegê-la e agora eu sou uma ameaça à sua vida.
“Me abrace, Gideon. Por favor”.
E faço o que pediu. Ela precisa sentir que estou aqui e que vou continuar a cuidar dela apesar de tudo.
Ela me faz deitar no chão e se aninha ao meu lado, jogando sua perna sobre a minha e apoiando seu braço sobre minha barriga. Eu a aperto de levinho, dando um beijo na sua testa e sussurrando várias vezes que sento muito. Tudo o que posso fazer é lamentar meu descontrole, meus erros, minha vida emocional instável e miserável.  
“Não vá embora”, murmura. “Fique”.
Resolvo me calar. Não há o que dizer. Apenas a abraço.
Não sei por quanto tempo estou apagado, a única coisa da qual tenho certeza é que estou tendo uma puta ereção por baixo das calças. As pequenas e experientes mãos do meu anjo estão me masturbando, subindo e descendo.
“Eva...”.
“Vamos esquecer”, com a boca colada à minha. “Nos faça esquecer”.
“Eva”.
Rolo para cima dela tirando sua camiseta cuidadosamente. Ela também me despe com cautela. Ainda estamos fragilizados pelo incidente dessa madrugada e qualquer movimento brusco pode comprometer tudo o que construímos até aqui. Ao mesmo tempo em que somos o melhor um do outro, acabamos nos tornando nocivos um para o outro no que tange nosso passado. Reabrir essas feridas pode ser fatal para nosso psicológico já abalado e para nossa relação. Reduzo a intensidade de meus movimentos, de minhas carícias. Por hora, ela não pode lidar com nossa habitual violência quando fazemos amor. Quero que esse momento lembre o menos possível minhas tentativas descontroladas de violá-la na noite passada. Tenho que recuperar sua confiança.
Abocanho seu mamilo e o sugo lentamente enquanto acaricio seu tronco, do seio até o quadril repetidamente. Passo a boca pelo seu peito até passar para o outro seio, sem cessar os movimentos de minhas mãos.
“Eu sinto muito... Por favor, me perdoe”, sussurro entre os beijos. Meu peito carregado de tristeza. “Eu não posso viver sem você, meu anjo, eu preciso de você. Não me deixe”.
Sei que estou sendo egoísta em lhe pedir isso, mas o medo de perdê-la fala mais alto. Eu necessito de sua presença para me manter são. Eu perderia tudo se ela se afastasse de mim novamente.
Chego ao seu mamilo e o lambo antes de lhe dar uma chupada.
“Gideon”, ela está à minha mercê, mas sua voz sai tensa.
“Não tenha medo de mim”, tranquilizei-a. “Pode ficar tranquila”.
Faço uma trilha de beijos de seu pescoço até sua abertura molhada. Mantenho suas pernas abertas com minhas mãos trêmulas e a lambo. Com meus lábios massageio seu clitóris, e minha língua vez ou outra entra em seu canal apertado.
Suas costas se arqueiam. “Gideon, que delícia. Me faz gozar gostoso, como você sempre faz, por favor”, suplica com a voz rouca.
Continuo meus movimentos com a língua até que ela explode, gemendo alto, em um jorro intenso, e eu bebo cada gota como um homem sedento pelo oásis no meio do deserto. Ao sentir seu gosto, as comportas se abrem e o turbilhão de sentimentos em mim é despejado em forma de lágrimas.
“Não posso perder você, Eva”, me coloco por cima dela novamente. “Não posso”.
“Você não me perderia nem se quisesse”, afirma, limpando as lágrimas que rolam incessantemente pelo meu rosto.
Eu a penetro lentamente, percorrendo cada centímetro de seu interior com muita calma. Assim que a preencho por completo, começo a investir contra sua vagina trêmula e inchada, que me aperta a cada estocada. Meus movimentos são cuidadosamente calculados. Nada pode dar errado nesse momento. Ela fecha os olhos e paro imediatamente, me sentindo bloqueado. Quero ver nos seus olhos esse desejo. Quero que se mostre para mim. Deito sobre seu corpo, encostando nossas barrigas. Ela entra em pânico.
“Olhe para mim, Eva”, minha voz sai estrangulada pela angústia e pela dor.
Seus olhos se abrem.

“Faça amor comigo”, imploro num sussurro quase sem fôlego. “Faça amor comigo. Toque em mim, meu anjo. Ponha suas mãos sobre mim”.
“Sim”.
Ela espalma suas mãos em minhas costas, as desce ao meu traseiro e o aperta forte, acelerando meus movimentos, me fazendo entrar cada vez mais fundo nela. Suas pernas envolvem meus quadris e sua respiração acelera. Nossos olhares grudados um no outro.
“Eu te amo, Gideon”, diz com a voz embargada e com as lágrimas correndo livres por suas têmporas.
“Por favor...” imploro fechando meus olhos. Eu não posso suportar ouvi-la dizer isso. É como cravar uma faca em meu peito.
“Eu te amo”, murmura mais uma vez.
Continuo mexendo os quadris, meu pau se movimentado cada vez mais fundo dentro dela. Seus tecidos inchados me apertam ainda mais.
“Goze Eva”, comando com a boca colada à sua garganta.
Então acontece algo que nunca pensei ser possível: ela não consegue se liberar. Mesmo seus esforços são inúteis. Eva ainda está afetada pelo que houve. Seu corpo ainda não confia em mim plenamente a ponto de se entregar ao prazer. Solto um gemido carregado de frustração e arrependimento. Tenho que fazê-la gozar. Tenho que sentir seu mel escorrer por toda extensão do meu pau. Preciso saber que está tudo bem, que nada mudou entre nós.
“Preciso fazer você gozar, Eva... Preciso dessa sensação... Por favor...”.
Agarro sua bunda para ajeitar a posição de seus quadris e invisto com força, atacando seu ponto G, uma, duas, três, várias vezes. Continuo metendo desenfreadamente, incansavelmente até fazê-la perder o controle. Eva geme como uma louca, sua respiração descompassada, a pele febril, seu corpo inteiro sacode a cada estocada até que ela goza violentamente, mordendo meu ombro para abafar seus gritos. Um ruído gutural reverbera pelo meu peito, uma mistura de prazer e sofrimento.
“Mais” ordeno.
Dessa vez quero que ela goze sem empecilhos, como uma prova de que realmente estamos bem. Ela gozou ferozmente, encharcando meu pau com seu jorro espesso, fazendo-o reagir. Meu corpo todo tenciona antecipando o orgasmo que vem a seguir. Mas não o mereço. Não depois da monstruosidade que fiz. Eva aperta meus quadris e o orgasmo vai crescendo rapidamente, então me afasto dela caindo de costas no chão.
“Não”, grito e cubro meus olhos com um dos braços.
Meu peito sobe e desce numa velocidade absurda e meus pulmões estão a ponto de explodir. Meu pau está caído sobre a minha barriga, totalmente sensível e com a cabeça arroxeada pela privação do orgasmo. Eva avança por cima de mim pronta para atacar.
“Que caralho, Eva! Não faz isso, porra! Eu não quero...” protesto furioso, mas em vão.
Ela prende meu tronco ao chão com o antebraço e começa a me masturbar com a outra mão e a me chupar forte.
“Porra, Eva. Caralho”, enrijeço e expiro com força, finalmente me rendendo.
“Caralho. Chupa com força... Minha nossa...” imploro segurando sua cabeça e remexendo meus quadris.
Ela continua a me chupar incessantemente, a lamber toda a extensão, massageando minhas bolas. Eu nunca tive tanta necessidade de gozar quanto agora. É uma sensação... Indescritível. Não demora muito e eu e explodo em um jorro poderoso e acabo ejaculando. Simplesmente o melhor orgasmo que já tive pelo sexo oral. Eva bebe cada gota de uma forma possessiva, faminta e continua a me ordenhar até extrair todo meu prazer.
“Chega, Eva. Por favor. Eu não aguento mais. Chega”. Peço com a voz embargada e oscilante pela gama de emoções que me invadem.
Ela se endireita e me levanto para abraçá-la e puxá-la para deitar-se comigo novamente no chão. Não consigo manter essa energia dentro de mim. Enfio meu rosto na curva de seu pescoço e choro novamente. Um choro de gratidão, de dor, de alívio, de decepção e de tristeza.
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Não consegui pregar o olho pelo resto da madrugada. Eva dormia pacifica em meu peito, ressonando graciosamente. O dia já começava a amanhecer quando finalmente minhas lágrimas cessaram. Ela ficou acordada, mas fiz uma massagem em suas têmporas e a fiz adormecer. Era bom que ela descansasse pelo menos um pouco. Fiquei o tempo inteiro em um conflito interno sobre o que fazer a partir daqui. Ela não desistiu de nós dessa vez, justamente quando o certo seria nos afastarmos para evitar que mais cicatrizes mal curadas fossem abertas e novas feridas surgissem. Não posso negar que minha falta de sono também se deveu a meu medo de atacá-la sem querer. Antes, os fantasmas da minha infância faziam parte da minha rotina, me incomodavam muito, mas não afetavam outras pessoas, por isso, nunca senti a necessidade de enfrentá-los. Mas agora tenho Eva. Eu preciso enfrentá-los. Por ela, pela nossa relação, pelo nosso amor. E eu farei o que for.
Acariciei levemente suas madeixas douradas e sedosas e ela se mexeu um pouco.
“Gideon...” resmungou em seu sono. “Por favor... Não... Não vá embora... Nós vamos resolver. Eu te amo tanto, não... Não me deixe, eu preciso de você”.
Ela começou a se agitar.
“Shh... Calma, meu anjo”, sussurrei. “Eu estou aqui e não vou a lugar algum”.
Eva se movimentou mais um pouco, resmungou algumas palavras incompreensíveis e se acalmou. Apoiou sua mão direita em meu tronco e posicionou seu rosto na curva do meu pescoço. Sentir sua respiração contra minha pele fez meus pelos se arrepiarem. A sensação de tê-la por perto é deliciosa. Aspirei fundo o aroma de seus cabelos, envolvi seu pequeno corpo de forma protetora em meus braços e permaneci imóvel.
Quando o relógio marcou 7h da manhã, eu a acordei. Tomamos banho, mas separados. As coisas ainda estavam abaladas entre nós e eu não queria forçar um contato mais íntimo no momento. Era tudo muito recente.
Diferente dos outros dias, Eva vestiu uma calça e uma blusa de mangas compridas para trabalhar, além de deixar seus longos cabelos soltos. Foi a forma que ela encontrou de se proteger do mundo e eu respeitei isso. Porém ela não deixava de estar linda. Embora o cansaço estivesse estampando sua face, a maquiagem leve devolveu um pouco de cor para suas bochechas e esconderam as olheiras um pouco escurecidas. Eu já estava na cozinha, vestido para trabalhar, preparando nosso café. Eu já sabia como ela gostava de tomar o dela então tomei a liberdade de prepará-lo. Eva veio até mim. Peguei seu rosto entre minhas mãos e lhe dei um beijo que transmitisse todo o meu carinho e o meu amor, assim como meu arrependimento.
Ela me convidou para almoçar, mas eu já tinha um almoço de negócios marcado para falar sobre um novo empreendimento em Saint Croix.
“Você quer ir? Angus pode levar você de volta a tempo”, perguntei.
“Eu adoraria”, respondeu docemente. “E amanhã à noite temos um jantar beneficente no Waldorf-Astoria?”
Minhas feições suavizaram. Ela se lembrou da agenda de compromissos que lhe enviei após nossa reconciliação.
“Você não vai mesmo desistir de mim, não é?” minha voz saiu baixa.
Ela levantou a mão direita exibindo o anel. “Você está amarrado a mim. Cross. Pode ir se acostumando”.
Seu tom imperativo e brincalhão aliviou um pouco o clima, e me deixou morrendo de tesão.
Durante o trajeto para o trabalho eu a sentei no meu colo, assim como na hora do almoço, enquanto nos deslocávamos até o Jean Georges. Eva não falou muito durante a refeição e apreciou com gosto o prato que escolhi. Sua mão repousava em minha perna sob a toalha da mesa e a minha a segurava firmemente. Mesmo quando nosso pedido chegou não nos desvencilhamos. Comemos apenas com uma mão. Eu não queria abrir mão daquele toque, assim como ela. Nós necessitávamos dessa afirmação de nosso compromisso.
Voltamos para o Crossfire e usei a chave mestra para termos mais privacidade. Fiz isso também quando chegamos para trabalhar. A última coisa que eu queria era os olhares curiosos sobre nós. Dado nosso estado de ânimo, seria muito incômodo e eu não queria que Eva se sentisse oprimida ou constrangida.
Passei o resto da tarde cuidando de novas aquisições, projetos em andamento e análise dos orçamentos do novo empreendimento no Arizona. A viagem já está acertada para esse fim de semana. Terminei todo o trabalho às 17h30. Mandei Angus levar Eva para casa. Agora, dentro de um táxi a caminho do consultório do Dr. Petersen, fico pensando se devo ou não devo contar sobre meus pesadelos. Ainda não me sinto preparado para compartilhá-los. É algo que me deixa muito envergonhado, fora que significa contar sobre o abuso que sofri, e esse é outro assunto completamente sigiloso. Eu mal tive coragem de contá-lo a Eva, que dirá para um estranho.
Assim que chego à recepção, a secretária me cumprimenta e interfona o Dr. Petersen.
“Ele já está lhe aguardando, senhor Cross”.
“Obrigado”.
Abro a porta e encontro o Dr. Petersen sentado. Me encaminho para perto.
“Olá, Gideon. Como vai?” pergunta se levantando e me estendendo a mão.
“Bem, na medida do possível, doutor”, respondo retribuindo o cumprimento.
“Por favor, sente-se”.
“Obrigado”.
“Então, sobre o que gostaria de falar hoje? Você me parece um pouco tenso”.
É incrível como esse homem consegue me ler. As pessoas hoje mal notaram que eu não estava muito bem. Sempre consigo disfarçar.
“Aconteceu uma coisa ontem à noite... Uma coisa muito ruim”, começo um pouco receoso.
“Entendo. Quer compartilhar?”.
Respiro fundo e resolvo desabafar.
“Ontem eu tive um pesadelo de cunho sexual e quase...” é difícil terminar, mas engulo o nó em minha garganta e prossigo. “Quase estuprei Eva”.
Suas sobrancelhas se erguem.
“Ela está bem?”
“Sim, eu não cheguei a praticar o ato em si. Por sorte, Cary estava em casa, e me tirou de cima dela antes que o pior acontecesse”.
“Hum-hum”.
Ele digita algumas coisas em seu tablet e se volta para mim.
“Isso já aconteceu alguma outra vez?”
“Se sim, eu não me lembro. Mas é a primeira vez que acontece com uma pessoa ao meu lado. Nunca dormi com nenhuma parceira sexual, apenas com Eva”.
“E você já tinha procurado ajuda antes?”
“Não, nunca encarei isso como um problema, até agora”, desvio o olhar do doutor, morrendo de vergonha.
“Não precisa ficar constrangido, Gideon. Eu entendo como se sente, mas quero que saiba que nada disso é culpa sua. Você estava inconsciente. Trata-se de um distúrbio sobre o qual você não tem controle”.
“Entendo, mas isso é normal?”
“Normal, não, muito menos comum. Mas há muitos casos parecidos com o seu. Conheço pessoas que enfrentam o mesmo problema, mas que tiveram muita dificuldade em pedir ajuda. Só fizeram isso quando seus casamentos já estavam arruinados ou por um fio, ou quando foram acusados de estupro. E fico contente em ver que você está procurando ajuda logo no início”.
“Doutor, a última coisa que eu quero é machucar Eva. Ela não pode passar por isso de novo. Eu não quero que ela reviva o sofrimento de sua infância pelas minhas mãos. Eu... Eu não sei o que faria se isso acontecesse”, declaro angustiado.
“Tenha calma, Gideon”, tenta apaziguar. “Eu sei que você jamais machucaria Eva e sei que quer fazer o melhor para protegê-la. Não se preocupe, vou ajudá-lo nisso, afinal o primeiro passo é admitir o problema”.
“Ok... então, o que eu tenho?”
“Vamos chegar lá. Primeiro gostaria de fazer algumas perguntas. Com o que você sonha quando isso acontece?”
Remexo na poltrona, desconfortável.
“Ainda não estou pronto para falar disso”.
“Ok, eu entendo e respeito. Mas são de cunho sexual, sempre?”
“Na maioria das vezes”.
“E esses sonhos são o motivo pelo qual você não dormia com suas parceiras sexuais?”
“Sim, mas algumas vezes foram por motivos diferentes”.
“Já chegou falar com alguém sobre os sonhos?”
“Não”.
“Nem com Eva?”
“Principalmente com Eva”.
“Por quê?”
“Ainda não estou pronto. Sinto que assim que contar a ela pelo que passei, eu a perderei”.
“Como tem tanta certeza disso?”
“Eu apenas sei, oras”, digo me levantando e andando em direção à janela. “Ela já tem seu próprio mundo de dor para lidar, não precisa de mais um motivo para se sentir insegura”.
“Então porque procurou ajuda?”
“Para mantê-la a salvo de meus ataques noturnos”.
“E só resolveu procurar ajuda agora por quê?”
“Porque isso pode destruir nossa relação e... Pode destruir tanto a minha quanto a de Eva”.
“E você acha que esconder o teor de seus pesadelos é a melhor estratégia?”
“Por enquanto, sim”.
“Ok, vamos voltar nessa questão de como você se sente com relação aos pesadelos. Imagine que Eva sonhe com o ataque que sofreu de Nathan. Você e ela estão dormindo juntos enquanto isso acontece. Se ela acordasse e não quisesse falar sobre o assunto, o que você faria?”
“Ela teria que me contar. Se não como eu poderia ajudá-la?” digo exasperado.
“E não seria esse o mesmo pensamento dela? Quero dizer, como você pode proteger uma pessoa de algo que você nem sabe o que é? Uma relação à base de confiança é tudo. Se você não pode confiar nela, não poderá confiar nem mesmo em mim. Independente de eu ser um especialista ou não, ainda sou um estranho”.
Continuo de pé diante da janela do consultório, absorvendo suas palavras em silêncio.
“Gideon, o ponto ao qual estou querendo chegar é: você não está mais sozinho. Agora Eva está com você. Não pode esconder dela algo tão sério, pois isso a afetará também, como afetou ontem à noite. Como se sentiria em ter que lidar com uma situação que você desconhece? Assim está tirando o direito de Eva participar de sua vida, de ganhar sua confiança e, consequentemente, expondo-a a um perigo que pode destruir tudo o que construíram até aqui”.
Volto para o sofá meio atordoado. Ele tem toda a razão.
“Como posso falar de algo que nem eu mesmo sei?”
“Você já ouviu falar em Parassonia Sexual Atípica?”
“Não", franzo o cenho. "Eu deveria saber o que é?”
“Na verdade, não, pois não é algo recorrente. Trata-se de um comportamento sexual que ocorre durante o sono. As pessoas que sofrem desse distúrbio costumam apresentar movimentos bruscos e violentos, agarrando o parceiro sem ter consciência do que estão fazendo. A parassonia sexual foi descrito pela primeira vez em 1996, pelo pesquisador Colin Shapiro. De lá para cá, novos casos foram relatados”.
Ouço tudo com atenção, apenas acenando com a cabeça.
“Em alguns deles”, continua, “o episódio de sexo durante o sono ocorre enquanto o paciente está tendo um sonho erótico. Em outros casos, ele não tem nenhuma relação com sonhos. Na maioria das vezes, porém, ele começa quando a pessoa encosta no corpo do parceiro e fica excitada. A pessoa não tem consciência da realidade nem está mergulhada no sono profundo. Fica no meio do caminho. Não sabe o que está fazendo, mas a atividade motora continua a todo vapor. O ato sexual pode acontecer nas mais variadas formas: masturbação, penetração, sexo oral etc. Mas o sexo é conturbado, rústico e doloroso”.
“Minha nossa”, sussurro, chocado com o tamanho do meu azar.
“Há um caso documentado de um homem que transou com a mulher enquanto dormia por doze anos”, arregalo os olhos ao ouvir isso. “Aparentemente a esposa não viu isso como um problema. Alguns casais realmente gostam dessa disfunção do sono e a encaram com senso de humor. Mas é preciso ter cuidado”.
“Isso acontece só com homens?”
“Geralmente sim. Os casos já são poucos, mas os que envolvem mulheres são ainda mais raros”.
“E o tratamento?”
“O medicamento mais receitado nesses casos é o clonazepam, um tranquilizante também utilizado para tratar o sonambulismo. O remédio torna o sono mais contínuo e produz relaxamento muscular. Mas tem efeitos colaterais fortes como sonolência, enxaqueca e até depressão”.
“Não importam os efeitos colaterais, desde que possa me garantir que isso funcionará”, digo já pensando em ir á farmácia mais próxima assim que sair daqui.
“Veja bem, não há garantia de cem por cento de sucesso, mas o uso correto e continuo da medicação associada à terapia são bastante eficazes”.
“Ok, vou fazer o tratamento”.
“Ótimo, farei uma receita para que você possa adquiri-lo”.
Após o término da sessão, passo em casa, embalo um terno para usar amanhã, e coloco meu laptop na maleta. Resolvo ligar para Eva para avisá-la de que estou indo. Afinal pode ser que ela não queira que eu durma lá.
Não ficaria surpreso com sua recusa.
Alô?
“Sou eu. Acabei de chegar da consulta”.
Ah, tudo bem. Você... vem para cá?” pergunta hesitante.
“Bom, passei em casa para pegar umas coisas e estou a caminho”.
Ela solta um inesperado suspiro de alívio.
Ok, estou fazendo o jantar. Até daqui a pouco”.
“Até”.
Antes de ir para lá, passo na farmácia para comprar o tal remédio. Já no trajeto para o apartamento dela, fico pensando se Nathan já entrou em contato com Eva. Ela nunca comentou isso, talvez para não me preocupar, mas preciso saber. As palavras do Dr. Petersen martelam em minha cabeça: Como se pode lidar com algo desconhecido? E ele tem razão. Eu não conseguiria proteger Eva se não tivesse mandado pesquisar sobre sua vida e se ela não tivesse me contado sobre Nathan. Há muitas coisas entre nós, muitas palavras não ditas, muitos segredos escondidos, passados obscuros. Mas tem coisas que não precisam vir à tona agora. Eva precisa de alguém forte por ela. Demonstrar minhas fraquezas só me desabilitaria a desempenhar esse papel. Ainda assim, nada seria capaz de me manter longe dela.
Ao chegar à casa de Eva, sinto um cheiro delicioso de comida. Ela abre a porta para mim. Seu rosto denuncia que seu dia foi desgastante.
“Oi”, digo baixinho enquanto entro. “O cheiro aqui está uma delícia”.
“Espero que esteja com fome. Fiz um monte de comida, e acho que Cary não vai aparecer para ajudar a comer”, responde já na cozinha.
Deixo minhas coisas perto do balcão e vou até ela. “Trouxe algumas coisas para passar a noite aqui, mas posso ir embora se você quiser. A qualquer hora. É só dizer”.
Ela bufa indignada. “Quero que você fique”.
“E eu quero ficar”, paro ao seu lado. “Posso te abraçar?”
Ela se vira para mim e me aperta bem forte. “Por favor”.
Eu a abraço com cuidado, morrendo de medo de fazer algum movimento brusco que possa assusta-la ou machucá-la.
“Como você está?” murmuro.
“Melhor agora que você chegou”.
“Mas ainda está nervosa”, beijo sua testa. “Eu também. Não sei como vamos conseguir dormir juntos de novo”.
Ela se afasta um pouco e me olha com atenção. “Nós damos um jeito”. Mas conhecendo-a como conheço, é perceptível que seu pensamento não coincide com suas palavras.
Fico um tempo em silencio remoendo o que pensei durante o trajeto até aqui e resolvo tirar a dúvida cruel. “Nathan já tentou entrar em contato com você?”
“Não, por quê?” pergunta tentando parecer desinteressada.
“Fiquei pensando sobre isso hoje”.
Ela dá um passo para trás. “Por quê?”
“Porque existe um bocado de coisa entre nós”.
“Você está achando que é coisa demais?”
Imediatamente sacudo a cabeça em negação. “Não consigo pensar assim”.
Eva fica parada uns instantes me olhando. Com certeza está pondo em dúvida minha afirmação, preocupada se eu estaria reconsiderando nossa relação por causa de seu passado.
“E você o que está pensando?” sondo.
“Na comida no forno. Estou morrendo de fome. Você pode perguntar a Cary se ele quer comer? Depois podemos jantar”, desconversa.
“Claro”, entro em seu jogo. Não quero forçá-la a nada.
Bato na porta de Cary algumas vezes e o chamo, mas ele não responde. Deve estar dormindo. Após avisá-la, tomo um banho e visto uma camisa velha e uma calça de pijama. Ajudo Eva a colocar a mesa. Nosso jantar será à luz de velas.
“Almocei com Magdalene no escritório ontem”, comento depois de começarmos a comer.
“Ah, é? Então quer dizer que, enquanto eu saía atrás de um anel, Magdalene Perez estava a sós com meu namorado?” pergunta num tom acusatório.
“Não precisa ficar assim”, censuro. “Ela almoçou em um escritório dominado por suas flores, com você me mandando beijinhos da minha mesa. Você estava tão presente ali quanto ela”.
“Desculpe. O primeiro impulso é esse mesmo”.
Pego sua mão e a beijo com força. “Fico aliviado por você ainda sentir ciúmes de mim”.
Ela suspira. “Você falou com ela sobre Christopher?”
“Foi por isso que a chamei para almoçar. Mostrei o vídeo pra ela”.
“Quê?” Ela franze o cenho. “Como você fez isso?”
“Levei seu celular para o escritório e passei o vídeo para o computador. Você não reparou que eu o trouxe de volta pra cá ontem à noite, com a bateria carregada?”
“Não”, sibila irritada e larga os talheres. “Você não pode simplesmente hackear meu celular, Gideon”.
“Não precisei hackear nada. Não tem senha”.
“Não importa! Isso é invasão de privacidade, porra. Minha nossa... Por que ninguém conseguia entender que eu tinha direito a meu espaço? Você gostaria que eu ficasse fuçando nas suas coisas?”
O que foi que eu fiz de errado agora?
“Não tenho nada a esconder”. Tiro meu celular do bolso da calça de moletom e entregou para ela. “E você também não deve ter”.
“Não interessa se tenho ou não alguma coisa a esconder. Tenho direito ao meu espaço e à minha privacidade, e você precisa pedir antes de ir atrás de informações a meu respeito e antes de mexer nas minhas coisas. Você precisa parar com essa mania de fazer de tudo sem minha permissão”.
“E o que aquele vídeo tinha a ver com privacidade?” pergunto franzindo a testa. “Foi você mesma que me mostrou”.
“Você está parecendo minha mãe, Gideon” Grita. “Uma maluca pra mim já basta”.
Recuo diante da aspereza de suas palavras, completamente surpreso por Eva estar criando caso por causa disso.
“Está certo. Desculpe”. Peço tentando amenizar o clima.
Ela dá um gole no vinho antes de perguntar. “Está se desculpando por ter me irritado? Ou por ter feito o que fez?”
Demoro um pouco para responder, ponderando sua pergunta. “Por ter irritado você”.
“Você não consegue ver como isso é bizarro?”
“Eva”, suspiro e gesticulo em sua direção. “Passo um tempão do meu dia dentro de você. Quando você estabelece esses limites, só consigo ver como uma coisa arbitrária”.
“Pois não tem nada de arbitrário. É importante pra mim. Se você quiser saber alguma coisa a meu respeito, precisa me perguntar”.
“Certo”, cedo para evitar que isso vire uma briga.
“Não faça mais isso. Não estou brincando, Gideon”.
Cerro os dentes contendo a irritação. “Está bem. Já entendi”.
Eva leva a individualidade muito a sério, mas não vejo nada de errado no que fiz. Para mim, seu ataque não teve sentido nenhum, então o atribuo ao estresse que vivemos nos últimos dias. Além do mais, eu estou no controle das coisas. Para isso, preciso de informações. E vou obtê-las não me importando com os meios que utilizo. Eva me conheceu assim e terá de me aturar dessa forma.
“O que ela falou quando viu o vídeo?” retoma o assunto anterior.
Meu corpo relaxa. “Foi difícil, é claro. Principalmente por saber que eu já tinha visto”.
“Ela viu a gente na biblioteca”.
“Não tocamos nesse assunto diretamente, mas o que eu poderia dizer? Não vou me desculpar por transar com minha namorada entre quatro paredes”. Me recosto na cadeira e bufo. “Ver a cara de Christopher no vídeo... Ver exatamente o que ele pensa dela... Foi isso que a magoou. É difícil descobrir que está sendo usado dessa forma. Principalmente por alguém que você acha que conhece, alguém que diz gostar de você”. Essa última parte digo mais para mim mesmo, lembrando-me do que passei nas mãos daquele... Bastardo desgraçado.
Eva reabastece nossas taças e, após dar um rápido gole no vinho, pergunta. “E como você está lidando com isso?”
“O que posso fazer? Durante anos, tentei conversar com Christopher de todas as maneiras. Já tentei dar dinheiro pra ele. Já tentei ameaçar meu irmão. Ele nunca mostrou o menor sinal de mudança. Percebi há muito tempo que o máximo que posso fazer é amenizar as consequências dos atos dele. E manter você à maior distância possível”.
“Agora que sei disso, vou fazer de tudo pra ficar longe”.
“Ótimo”. Dou um gole em meu vinho e a olho por cima da taça. “Você não me perguntou como foi à consulta com o doutor Petersen”.
“Não é da minha conta. A não ser que você queira contar”. E sua cara não denuncia nenhum pouco a sua curiosidade em saber (e isso foi uma ironia, porque conheço bem o meu anjo). “Estou aqui pra ouvir o que você quiser falar, mas não vou ficar insistindo. Quando estiver pronto pra se abrir comigo, fique à vontade. Mas adoraria saber se você gostou dele”.
“Por enquanto”, respondo sorrindo. “Ele me faz falar várias vezes a mesma coisa. Poucas pessoas são capazes de me convencer disso”.
“Verdade. Ele faz a gente repensar e ver as coisas por outro ângulo, fazendo a gente refletir sobre por que não pensou naquilo antes”.
Meus dedos sobem e descem pela haste da taça. “Ele me receitou um remédio para tomar antes de ir pra cama. Comprei no caminho pra cá”.
“Como você se sente a respeito de tomar remédios?” pergunta seriamente.
“Acho que é algo necessário. Preciso de você e quero mantê-la segura, custe o que custar. O doutor Petersen disse que esse medicamento, combinado a terapia, tem ótimo resultado no tratamento de casos de parassonia sexual atípica. Não tenho por que duvidar disso”.
Ela toca minha mão e agradece. Retribuo apertando a sua.
Falo do caso documentado que o doutor Petersen contou e ela fica horrorizada. Até tento ironizar a situação, dizendo que eles demoraram tanto para tomar uma atitude porque o cara transava melhor dormindo que acordado e que se isso não é motivo para destruir o ego de alguém, não sei o que é. No entanto Eva não acha graça nenhuma. Mudo o curso do comentário imediatamente
“Mas não quero forçar você a dormir comigo, Eva. Não existe remédio milagroso. Posso dormir no sofá ou ir pra casa, apesar de preferir o sofá. Meu dia fica melhor quando vamos juntos para o trabalho”.
“O meu também”.
Pego sua mão e a levo aos lábios. “Nunca imaginei que teria isso na minha vida... Alguém que sabe tanto sobre mim como você. Alguém que consegue conversar sobre meus traumas durante o jantar porque me aceita como sou... Muito obrigado por você existir, Eva”.
“Sinto a mesma coisa por você, figurão”.
Um calor se espalha pelo meu peito. Nós temos uma chance. E Deus sabe como eu quero ser o melhor para essa mulher, e do quanto preciso dela. Eva é minha vida, minha alma e dona do meu coração. Eu não a deixarei ir, nunca.
Após ajudá-la com a louça do jantar, escovo os dentes e pego meu laptop para trabalhar um pouco antes de dormir. Sento na poltrona da sala e coloco meus pés em cima da mesinha de centro enquanto Eva está esparramada no sofá assistindo TV, ou melhor, fingindo, já que não para de olhar para mim. A conversa franca que tivemos durante a refeição me deixou mais relaxado, mais confiante de que conseguiremos fazer nossa relação dar certo.
“O que você está olhando?” murmuro sem tirar os olhos da tela do laptop.
Ela mostra língua para mim.
“Está se insinuando sexualmente pra mim, senhorita Tramell?” brinco.
“Como você consegue me ver enquanto está vidrado aí no computador?”
Desvio minha atenção da tela, olhando fundo em seus olhos, morrendo de tesão. “Vejo você o tempo todo, meu anjo. Desde que nos encontramos pela primeira vez. Não tenho olhos pra mais nada além de você”.
São dez e meia quando nos recolhemos. Tomo o remédio torcendo para que faça efeito. Morro de medo assustá-la de novo. Se isso acontecer, será nosso fim.
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Abro meus olhos nessa quarta-feira me sentindo aliviado. Dormi a noite inteira. Um sono sem sonhos, pesado e o mais importante: sem acidentes. Eva está tão linda, inocente, toda nua, mergulhada em um sono tranquilo. Toco sua bocetinha com o dedo e a sinto toda molhadinha. Não resisto e resolvo penetrá-la com meu membro por trás. Sei que ela adora ser acordada assim, então, por que não? Meus braços envolvem seu corpo puxando-o para mais perto.
“Ora, ora”, diz com a voz rouca, esfregando os olhos para espantar o sono. “Você está animadinho essa manhã”.
“E você está linda e gostosa todas as manhãs”, murmuro mordendo seu ombro. “Adoro acordar ao seu lado”.
E nada melhor que comemorar a primeira vitória sobre os pesadelos fazendo meu anjo gozar, pelo menos umas três vezes.
O dia passou voando. O trabalho ocupou todo meu tempo, não deixando espaços nem para o almoço, que fiz enquanto lia alguns relatórios. Eu estava disposto e bem humorado, o que mais uma vez surpreendeu minha equipe. Eles com certeza devem achar que sofro de algum tipo de distúrbio de personalidades.
Depois do trabalho, Eva e eu fomos à minha academia. Estava lotado, como geralmente fica às quartas. Guardei minhas coisas no vestiário, troquei de roupa e fui esperar por ela no corredor. Quando fomos em direção às esteiras, Eva acenou para Daniel, o instrutor que praticamente deu em cima dela no primeiro dia em que viemos juntos. Morrendo de raiva da sua atitude, dei um tapa forte em sua bunda. Ela devolveu o tapa na mão que a “agrediu” e reclamou. Em um ataque de possessividade, puxei seu rabo de cavalo e lhe dei um beijo inapropriado para locais públicos.
“Se essa é sua ideia de reprimenda”, sussurrou com os lábios bem próximos dos meus, “fique sabendo que parece mais um incentivo”.
“Estou disposto a pegar mais pesado, se necessário”. Mordi seu lábio inferior.  “Mas sugiro que você não teste meus limites dessa maneira, Eva”.
“Não se preocupe. Tenho outras maneiras de fazer isso”.
E suas palavras atiçaram meu desejo.
A cada troca de aparelho que eu fazia estava plenamente consciente dos olhares femininos sobre mim, mas somente um me interessava. Toda vez que eu flagrava Eva me encarando com seus olhos famintos, ela me provocava com aquele gesto sexy de passar língua pelos lábios. Eu correspondia erguendo as sobrancelhas e dando um meio-sorriso perverso. A hora e meia que ficamos por lá passaram num piscar de olhos.
Já no Bentley, a caminho de meu apartamento, Eva estava inquieta, me lançando mais e mais olhares sugestivos. Segurei sua mão e disse que ela teria de esperar. Eu tinha uma ideia para lá de depravada para aquela noite após o baile.
Ela arfou de susto com minha afirmação.
“Você ouviu muito bem”. Eu beijei seus dedos e abri um sorriso pervertido. “Vamos prolongar o estado de excitação, meu anjo”.
“E por que faríamos isso?”
“Imagine o quanto vamos estar malucos um pelo outro depois do jantar”.
Apesar de suas tentativas de me convencer, permaneci irredutível. Numa sessão deliberada de tortura, despimos um ao outro e entramos no chuveiro, acariciando e lavando nossos corpos.
Vesti um terno todo preto e camisa branca aberta apenas no colarinho, dispensando a gravata. Eva colocou o vestido que escolhi para essa noite: um Vera Wang na cor champagne com bustiê sem alça, costas abertas e uma saia pregada que ia até um pouco acima dos joelhos.
Mas quando a vi vestida com ele, me arrependi amargamente. Puta que pariu! Ela estava linda, sexy e tudo mais. Estava tudo combinando, os cabelos sedosos estavam soltos, os acessórios em acordo com a roupa e a bolsa-carteira. Mas o tamanho do vestido estava completamente desproporcional ao corpo de Eva. Suas curvas poderosas e deliciosas preenchiam todos os espaços da roupa. Decotado demais, curto demais. Argh! Ver minha namorada exposta dessa forma foi muito bom, tanto que meu pau ficou ereto só de olhá-la, mas pensar que outros homens a veriam daquele jeito... Não, aquilo não me agradou nada. Ajeitei minhas calças.
“Minha nossa, Eva. Mudei de ideia sobre o vestido. Você não deveria usar isso em público”.
“Agora é tarde demais pra mudar de ideia”, sorriu.
“Pensei que ele tivesse mais pano que isso”, e aquela vendedora incompetente nem para me avisar que a roupa era inapropriada para as proporções do tipo de corpo de Eva.
Ela encolheu os ombros, sorrindo. “Não posso fazer nada. Foi você quem comprou”.
“Mas eu me arrependi. Quanto tempo você demora pra tirar?”
“Não sei. Por que você não tenta descobrir?” provocou passando a língua pelos lábios.
Fiquei sério. “Nós nem sairíamos de casa se eu fizesse isso”.
“Eu não ia reclamar”.
Tentei convencê-la a por um casaco, uma parca ou até mesmo um sobretudo, mas nada adiantou. Ela ria da minha cara. Não tinha graça. Ela estava provocando de propósito um homem seriamente excitado.
Eva argumentou que ninguém vai olhar para ela porque todos estariam muito ocupados olhando para mim. Pegou sua bolsa de mão e me arrastou para fora do quarto. Olhei feio para ela.
“Estou falando sério. Seus peitos cresceram? Eles estão quase pulando pra fora da roupa”.
“Tenho vinte e quatro anos, Gideon, já parei de me desenvolver faz tempo. Você está me vendo como sou”, ironizou.
“Sim, mas eu deveria ser o único a ver, já que sou o único que tem acesso liberado a você”, rebati.
Assim que entramos no elevador, eu a encarei, pensando no que eu poderia fazer para amenizar seu estado de quase nudez. Tentei puxar seu vestido para cima.
“Se você puxar muito, logo mais o que vai aparecer vai ser minha calcinha”, avisou.
“Droga”.
“Isso pode ser divertido” disse sorrindo. “Posso fazer o papel da loirinha piranha que só quer saber do seu pau e do seu dinheiro, e você pode fazer seu próprio papel — do playboy bilionário exibindo o brinquedinho novo. É só parecer entediado e tolerante enquanto eu me esfrego em você e fico tagarelando sobre suas imensas qualidades”.
Às vezes me pergunto se Eva fuma alguma substância ilícita. É a única explicação para seus comentários ridículos.
“Isso não tem graça”, pensei mais um pouco e meus olhos brilharam pela minha súbita ideia. “Que tal uma echarpe?”
Mas nada adiantou. O jeito era ficar de olho nela e em qualquer babaca que tentasse se aproximar. Eu marcaria meu território ferozmente.
Acabamos de chegar ao jantar em benefício da construção de um abrigo de emergência para mulheres e crianças vítimas de abuso. Assim que pisamos no tapete vermelho, enxergamos apenas os flashes dos fotógrafos. Minha máscara impassível cobre meu rosto com naturalidade, criando um escudo protetor em volta de mim e de Eva. Todos sabem que só podem se aproximar se eu permitir.
Adentramos o salão e atraímos todos os olhares, mas me mantenho tão impassível quanto antes. No momento em que paramos de andar, fomos cercados de pessoas querendo minha atenção. Cumprimento a todos com educação, troco ameninadas, tudo de acordo com a boa e velha civilidade. Viro-me para Eva, na intenção de apresentá-la e... Ela some!  Mas que inferno, onde ela se enfiou? Ao mesmo tempo em que meus olhos percorrem o lugar em busca de meu anjo fujão, dou atenção ao grupo. Mais alguma palavras, e peço licença. Saio em busca de Eva e me deparo com ela na pista... Dançando com outro homem? Que porra é essa? Ela é minha, caralho! Faz caso por causa da minha conversa com Maggie no escritório, mas fica cheia de sorrisos e intimidades com um cara que nem conheço?
Me encaminho até a pista de dança e paro atrás dela bem a tempo do fim da música. Eva dá um passo para trás e seguro sua cintura para evitar uma possível queda. Ela se vira e me reconhece.
“Olá”, cumprimento num tom cortante, lançando um olhar gélido para o panaca. “Nos apresente”.
“Gideon, esse é Martin Stanton. Nós nos conhecemos há um bom tempo. Ele é sobrinho do meu padrasto”. Ela respira fundo. “Martin, esse é o homem da minha vida no momento, Gideon Cross”.
Suas palavras fazem meu coração disparar, mas mantenho a pose.
“Cross”, o babaca sorri e me estende a mão, que aperto firmemente. “Sei quem você, é claro. Prazer em conhecer. Pelo jeito, em breve vou começar a encontrar vocês nas reuniões de família”.
Apoio meu braço nos ombros de Eva. “Pode contar com isso”.
Alguém chama o nome dele (que, para mim, continuará sendo babaca) e ele se inclina para beijar a bochecha dela – e nisso eu tenho que me controlar herculeamente para não derrubá-lo com um belo murro – e ainda diz que vai ligar para ela para marcar um almoço na próxima semana. Sujeitinho abusado. Pior foi ouvi-la concordar. Isso me dá um ódio inimaginável, mas não deixo transparecer nada.
Assim que o babaca se afasta, tiro Eva para dançar.
‘”Não sei se gostei dele”, murmuro.
“Martin é um cara legal” tenta me tranquilizar.
“Desde que ele saiba que você é minha...”. Dou-lhe um beijo na testa e posiciono minha mão no decote das costas de seu vestido, deixando claro que ela me pertence, só a mim. O contato de nossa pele faz um choque percorrer meu corpo.
Eva se deixa levar pela minha condução, e pela sua expressão, ela está mais do que apreciando nossa proximidade.
“Adoro isso”, diz.
“E é pra gostar mesmo”, acaricio seu rosto com o meu, apreciando nosso momento.
A música acaba e saímos da pista de dança. Avisto uma mulher de vestido preto que se parece muito com Magdalene, mas é difícil saber, pois seu cabelo é curto. Hesito um pouco no passo para observar melhor. Sim, é Maggie. Mas o que me chama mesmo atenção são os cabelos pretos, lisos e cumpridos da mulher que está conversando com ela. Não pode ser... Pode? Depois de tantos anos?
Volto-me para Eva e sussurro. “Preciso apresentar você a alguém”.
A mulher com vestido azul claro, contrastando com a pele morena, se vira para mim. Seus olhos de água marinha me perfuram e me devoram, carregados de amor e desejo. Eu os reconheceria em qualquer lugar.
“Corinne”, digo surpreso. Solto o braço de Eva e pego as mãos de minha ex-noiva. “Você não me disse que já estava de volta. Eu teria ido te buscar”.

Xiii... agora ferrou, hein? Começamos o capítulo com dó dele e terminamos com raiva! Eita Cross! Assim fica difícl te defender... Bom, o próximo capítulo será o ponto de vista de um personagem... quem será?

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