sábado, 1 de novembro de 2014

Toda Minha: Capítulo 15 — Escanteio (Bônus)

ATENÇÃO: LEIAM SEMPRE OS AVISOS EM ITÁLICO, POIS É NESSE ESPAÇO QUE DOU AVISOS SOBRE AS POSTAGENS, OK? 
Olá, pessoal! Como prometido, trago hoje o ponto de vista de um dos personagens que a principio, causou uma grande antipatia nas leitoras. Mas, depois de lerem sua versão dos fatos, tenho certeza que algumas de vocês não só compreenderão as atitudes dela, como se compadecerão de sua situação ou até mesmo se identificarão. Então, peço que mantenham a mente aberta!Obrigada pelos comentários, votos e carinho infinito! Boa leitura!
“Que as lagrimas que hoje rolam dos meus olhos levem consigo o meu amor não correspondido, e que esse sorriso nos meus lábios seja a certeza de que eu te amo e te desejo toda felicidade do mundo”.
—Vanessa Elias

Narrado por Magdalene Perez
Eu nunca havia visto Gideon tão feliz. Não depois de tudo o que passou; da dor de ver sua família lhe virando as costas no momento em que ele mais precisava de apoio. Nós nunca conversamos diretamente sobre isso, até porque o que eu sei se resume ao que minha mãe me contou. Nunca tive coragem de perguntá-lo sobre o que realmente aconteceu, afinal, Gideon sempre foi fechado e inacessível. Quando saiu de casa, sua mãe ficou desesperada e, desde então, tenta reestabelecer o vínculo com o filho. Ela não conseguiu até o momento, e, vendo a forma como ele a trata (nas raras vezes em que acabam se encontrando) posso afirmar que será uma tarefa impossível. Ele ainda teve de colher os frutos podres do péssimo legado de seu pai, que destruiu a vida de tantas pessoas e preferiu matar a si próprio e deixar que Elizabeth e o filho (que era uma criança de cinco anos) arcassem com tudo. Geoffrey Cross era um bastardo covarde e eu desejava do fundo da minha alma que a dele estivesse queimando no inferno.
Minha amizade com Gideon sempre foi muito calma. Por trás da persona pública e da fachada carrancuda, há um rapaz engraçado, inteligente, espirituoso, bom ouvinte, ombro amigo, educado e simples. E foram essas qualidades, associada ao ar de mistério, que me fizeram ficar perdidamente apaixonada por ele. Durante a adolescência, vi minha primeira oportunidade de tê-lo. Estávamos em seu quarto estudando. Ele estava tão perto, me ensinando Matemática – a pior matéria inventada pelo homem – com uma facilidade impressionante. Nessa época, Gideon começou a usar os cabelos um pouco mais cumpridos, emoldurando seu belíssimo rosto. Os primeiros fiapos de barba começavam a despontar. Seu corpo já era bem desenvolvido. Não havia nenhuma garota que não o quisesse. Sua voz levemente rouca pelas mudanças no timbre, efeitos da puberdade, era pausada e tranquila. Ele sabia ensinar como ninguém. A professora parecia uma burra perto dele. Até que não resisti e o beijei. Quer dizer, foi só um selinho, mas foi o suficiente para ele me afastar.
“Maggie, não! Por favor! Nossa amizade é a única coisa boa que eu tenho agora, não vamos estragar isso, por favor!” disse com os olhos suplicantes enquanto segurava meus pulsos sem apertá-los.
Depois disso não tentei mais nada. Simplesmente deixei para lá. Mas sabia que cedo ou tarde teria minha chance. Eu lhe provaria que somos bons juntos e que eu poderia fazê-lo feliz. 
Fiz questão de ir para Columbia, a mesma universidade para a qual Gideon entrou. Após um ano viajando pela Itália, ele voltou mais lindo do que nunca. As garotas quase quebravam o pescoço para olhar em sua direção, se ofereciam para ajudá-lo em algo ou até mesmo a fazer seu dever de casa. Algumas se atiravam logo de cara, coisa que o  fazia recuar. Mas nada, nem ninguém poderia ser um obstáculo maior do que Corinne. Ela era linda, morena, olhos azuis claríssimos e atraiu a atenção de Gideon à primeira vista. Ela vinha de uma família tradicional. Educada, inteligente, doce e calma. Quando ele me contou que estavam saindo foi como se eu tivesse recebido um sonoro tapa na cara. Fiquei arrasada. E o pior é que, por causa dele, acabei iniciando uma amizade forçada com ela. Eu mesma não tinha a menor intenção de me aproximar. Tentei sair com outros caras da faculdade (que nem de longe chegavam aos pés de Cross), me divertir e me afastar um pouco dos dois. Para isso, acabei entrando para uma fraternidade, a ‘Delta Nu’. Lá fiz fui super bem aceita e tive irmãs de verdade, que me ajudaram muito nos momentos em que mais precisei. Mas nada foi suficiente para distanciar meus pensamentos de Gideon.
E assim foi durante dois longos anos.
Vê-los juntos pelo campus era uma tortura. Nada me tirava a impressão de que Corinne sabia dos sentimentos que eu nutria por ele porque, sempre que eu me aproximava e os via, ela fazia questão de beijá-lo, acariciá-lo ou algo do tipo. Teve uma vez que fiquei numa fossa tão grande que acabei bebendo demais em uma festa das festas promovidas pela ‘Sigma Alpha’, a fraternidade mais barra pesada da universidade, e tive uma noite nada romântica com um dos moradores. Nem me lembro do nome dele. Eu já não era mais virgem, claro, mas como não fazia sexo com frequência, parecia que haviam rompido meu hímen de novo, só que a dor era pior. Saí de lá me sentindo um lixo, mas não deixei isso transparecer. Jamais daria esse gostinho à Corinne.
E quando eu achava que nada poderia piorar, tive que escutar da boca dela que eles estavam noivos. Isso foi o meu fim. Perdi totalmente as esperanças de conquistar Gideon. Eu ainda esperava um término, torcia por cada discussão, cada desentendimento, mas tudo em vão. No fim, eles iriam se casar, e não havia nada que eu pudesse fazer.
Meu amigo de infância tentou me contatar diversas vezes, e por mais que a tentação de ignorá-lo fosse grande, meus instintos apaixonados dominavam meu corpo traidor e lá estava eu, servindo de poste para ele e de degrau para ela. Não poderia ser mais humilhante, mas eu estava amando loucamente aquele homem e seria capaz de deitar em cima de uma poça d’água para que ele passasse por ela sem molhar seus sapatos.
Sim, eu era patética, para dizer o mínimo.
Gideon estava começando a enriquecer e a ficar ainda mais independente de sua família. Eu conhecia bem seu lado determinado. Ele venceria, e eu estava na torcida para que isso acontecesse. Ninguém desejava mais o bem dele do que eu.
Corinne estava cada vez mais apaixonada e a possessividade de seu namorado a deixava ainda mais encantada. Ele a protegia e a mimava de todas as formas possíveis e, quanto a mim, restava fechar os olhos e fingir estar no lugar dela. A dor da rejeição é excruciante. É omo sentir seu peito sendo cortado por uma foice, sem anestesia alguma. Eu sabia que haveria um momento em minha vida em que eu me machucaria tanto em decorrência desse amor platônico que não sobraria mais nada do meu coração já em pedaços. Venerar um homem que não te enxerga e não ter controle sobre esse sentimento é desgastante. Suga toda sua energia, toda a sua alma. Coisas que talvez eu já tivesse perdido.
Horas antes do jantar de noivado – do qual eu tinha certeza que Gideon não fazia questão – recebi a ligação dela implorando para que eu fosse; provavelmente para tentar arrancar alguma informação sobre a família dele ou algo do tipo. Nem um pouco disposta a participar daquele circo, dei uma desculpa de um compromisso qualquer. Mas a verdade é que meu lado masoquista necessitava de alguns momentos no canto escuro do quarto para lamber as feridas de um amor não correspondido.
No dia seguinte, durante o almoço, minha mãe contou os acontecimentos do jantar. Foi a primeira boa notícia que recebi em tempos. Enfim Corinne tinha dado um deslize fenomenal que poderia custar seu noivado, e a mãe dela foi fundamental para isso. Por outro lado, me senti triste por Gideon ter sido colocado sob tamanha pressão. Sei que ele odeia não ter controle sobre as coisas e ser pego de surpresa de uma forma tão desagradável quanto aquela, o deixou furioso. Dias depois, Corinne embarcou para a França, colocando um ponto final na relação. E, finalmente, vi minha chance de conquistá-lo. Deixei meu cabelo crescer um pouco mais e fiz um corte idêntico ao dela, comecei a comprar roupas no mesmo estilo que o dela. Tudo na esperança de chamar a atenção de Gideon, mas foi em vão. Ele começou a sair com várias mulheres, iniciando sua fase de Don Juan. Todas do mesmo tipo de Corinne: morenas, altas, longilíneas e lindas. Decidi não pressioná-lo, aquilo iria passar. No fim, quando finalmente quisesse sossegar eu estaria ali, totalmente disponível para ele. Sempre.
Passaram-se anos nessa situação e, novamente, de camarote, eu o assisti se encantar pela segunda vez, por outra. Uma mulher loira, baixinha e curvilínea, completamente diferente dos tipos que Gideon costumava sair. Completamente diferente de Corinne.
Vi nos olhos dele um brilho que nunca havia visto antes.
Na noite do jantar de gala notei a proximidade dos dois, uma intimidade que ele não tinha nem com sua ex-noiva. Após o discurso, conversamos um pouco, quer dizer, foi uma troca muito ríspida de palavras. Fiz um comentário malicioso acerca de sua nova acompanhante e ele quase surtou de raiva. Não entendi seu comportamento, mas não gostei de ser tratada daquele jeito e, numa atitude bem infantil, me permiti implantar a semente da desconfiança na sujeita. Nos encontramos no banheiro e nossa conversa passou longe de ser amigável.
Nos dejen solas, por favor (nos dê privacidade, pro favor)”, pedi à funcionária do banheiro, de traços hispânicos.
Por favor, gracias (por favor, obrigada)”, reforçou Eva, numa pronúncia perfeita. Tenho que admitir, fiquei impressionada.
Trocamos olhares gélidos.
“Ah, não”, murmurei assim que a funcionária se afastou. “Tsc, tsc, tsc. Você já deu pra ele”.
“E você não”, retrucou num tom cortante.
Me surpreendi por um momento, mas logo me recompus. “É verdade, eu não. Sabe por quê?”
 “Porque ele não quer”, disse tirando uma nota de cinco da bolsa e depositando na bandeja de gorjetas.
“E eu também não quero, porque ele não consegue assumir um compromisso. Ele é jovem, bonito, rico e está aproveitando a vida”.
“Ah, sim. Com toda a certeza”.
Estreitei os olhos. Sua calma me irritou de tal forma que decidi jogar sujo.
“Ele não respeita as mulheres que come. Depois que enfia o pau em você, acabou a conversa. É assim com todas. Mas eu ainda estou aqui, porque é a mim que ele quer no futuro”.
“Isso é patético”, disse tentando manter-se indiferente, mas eu sabia que a tinha atingido. Saiu pisando duro e por dentro, cantei vitória. Essa já foi mais fácil do que imaginei.
Após esse episódio, me dei conta de que tinha feito a maior burrada: tratando Eva daquela forma, arrumei mais um empecilho para me aproximar de Gideon. Se ele já tinha ficado nervoso por minhas alfinetadas, o que diria quando ela fosse correndo lhe contar de nosso encontro? Eu tinha que consertar as coisas, preparar terreno e sondar a situação. Manter o inimigo por perto é essencial para descobrir seus pontos fracos. E, pelo que descobri naquele dia, um dos pontos fracos dela é a autoestima. Mas eu teria que ser sutil.
No dia seguinte, liguei para o escritório de Gideon para me desculpar pelo meu comportamento, principalmente com Eva. Para minha surpresa, ele não sabia o que tinha se passado conosco e, até então, eu não havia percebido que ele não tocara no assunto quando liguei. Caso soubesse, teria me confrontado. Ele, obviamente, ficou furioso, mas tentei apaziguar os ânimos ao máximo. Decidi lhe dar um tempo para se acalmar. Não podia pressioná-lo.
Dois dias depois, no encontramos em um restaurante. Eu estava jantando com algumas irmãs da ‘Delta Nu’. Com seu jeito bronco, me mostrou claramente estar puto pelo que fiz com Eva. Mais uma vez me desmanchei em desculpas, e fui o mais sincera possível. Eu não queria importuná-lo. Eu só... Queria ter uma chance. Mas foi só ver a forma como sorriu quando citei o nome dela que notei que mais uma vez eu havia ficado para escanteio. Nem por Corinne ele sorria daquele jeito. Por outro lado, fiquei satisfeita de vê-lo tão bem. Essa mulher de certo tinha algo diferente para causar nele essa mudança. E lhe fui grata. Tudo o que eu queria era que Gideon fosse feliz, mesmo sendo nos braços de outra...
Voltei para casa naquela noite e chorei. Lágrimas grossas e sentidas. Assim permaneci até dormir, sonhando com o lindo sorriso dele direcionado a mim.
Na quarta-feira daquela semana, tomei uma decisão: iria falar com Eva no dia seguinte. Estava disposta a ter uma conversa franca com ela. Saber de suas reais intenções para com meu... Amigo. Eu não suportaria vê-lo sofrer novamente. E foi pensando nisso que atendi a porta revelando a figura elegante e esbelta de Elizabeth Vidal. Gideon se parece muito com ela. Os traços bem delineados, os cabelos, os olhos impressionantemente azuis e límpidos. Uma beleza raríssima.
Trocamos algumas amenidades e ela mencionou sua curiosidade em conhecer Eva. Eu disse que a conhecia apenas de vista. Disse ficou chocada quando viu as fotos: seu filho, conhecido como por desfilar com belíssimas morenas a tiracolo, estava saindo com uma mulher loira. Christopher, o caçula, também fez comentários sobre Eva após o jantar beneficente. Teceu elogios a ela e a sua beleza. Ele falava de um jeito estranho, mas decidi guardar isso para mim. Comentou que iria passar no Crossfire para entregar ao seu irmão os convites para festa de sábado. Eu sabia que ninguém poderia contar com sua presença, uma vez que Gideon não pisava na casa dos Vidal há mais ou menos 10 anos e não fazia a menor questão de aparecer por lá. E duvidava seriamente que ele iria começar agora apenas por Eva. Talvez até a proibisse de ir. Fiz uma nota mental para me lembrar de ligar para Gideon e avisá-lo da visita do irmão, uma vez que, por motivos que não compreendo, eles se odeiam. O Chris eu até entendia: inveja. Agora o vice-versa é que era muito estranho.
Então Elizabeth começou a falar sobre Corinne, que havia lhe ligado há poucos dias perguntando por Gideon. A mãe dele fazia gosto do namoro/noivado dos dois e sempre torceu muito por uma reconciliação, e até se ofereceu para tentar ajudar. E pensar que ela me queria como nora há muitos anos atrás. Como viu que nossa relação nunca passou da amizade, deixou essa ideia de lado. Claro que ouvi-la enumerar as qualidades da agora Sra. Giroux me nauseava a tal ponto que quase não consegui segurar o café da minha. Sorte que minha mãe chegou a tempo para que colocassem as fofocas e escândalos da high society de Nova York em dia e eu pude me retirar sem parecer rude.
Na quarta de manhã fui ao trabalho de Eva. A recepcionista de traços orientais me anunciou. Tive que esperar por uns minutos e então algo inesperado aconteceu: um dos seguranças de Cross veio me buscar e me levar para seu escritório. Fiquei retida na recepção até que ele permitiu minha entrada em sua sala. E ao abrir a porta, dei de cara com um homem muito, muito bravo. No entanto, ele controlou-se por estar no trabalho, mas no fundo, sua vontade era de arrancar minha cabeça. Ele disse que estava cansado de minha intromissão em sua vida. Aquilo me doeu. Muito. Eu realmente estava estragando tudo. E cada vez menos eu via chances de tê-lo, mas algo dentro de mim não queria desistir. Apenas dei aquela batalha como perdida, mas a guerra estava longe de acabar.
No dia da festa dos Vidal me surpreendi em ver Eva por lá, sem Gideon. Mas um tempo depois o próprio chegou. Ele estava indo atrás dela quando o chamei, mas fui ignorada. Fiquei um tempo observando os dois, que sumiram pela casa. Curiosa demais, saí à procura deles, cômodo por cômodo, até abrir a porta da biblioteca e me deparar com uma cena que me deixou estática: Gideon estava abaixando entre as pernas de Eva lhe dando uma baita chupada. Os olhos dela encontraram os meus, parecendo um pouco assustada, mas logo se fecharam após ser atingida por um orgasmo que, pelos seus gritos, parecia ser intenso. Não fiquei para ver o resto. Apenas saí desorientada e triste.
Foi nesse momento que a ficha caiu de uma vez por todas.
Ele está completamente apaixonado por ela. Eu jamais seria objeto desse sentimento partindo dele. Não posso dizer que o perdi, porque ele nunca foi meu, mas a confirmação de que isso era verdade me destroçou. As lágrimas desceram automaticamente.
Fui encontrada por Christopher, que me perguntou o que acontecera. Acabei lhe contando o que vi. Ele me levou ao labirinto de plantas para termos mais privacidade. Eu estava devastada, me sentindo carente e, conforme íamos conversando, Christopher ia me tocando de um jeito diferente, me dando a atenção que eu queria de Gideon. Então, em um momento de pura loucura, acabei me entregando à suas carícias, imaginando estar agarrada ao corpo de seu irmão.
Não importava o quão doentio parecia ser. Eu apenas precisava me sentir amada, desejada. Após isso, Chris foi muito carinhoso e me deixou em um dos quartos da casa para tentar me recompor. Eu e minha mãe acabamos dormindo por lá. Aliás, se teve uma coisa que eu não fiz naquela noite foi dormir. A cena que vi na biblioteca não saiu da minha cabeça, assim como minha conversa com Christopher. Eu realmente fiquei arrependida de ter cedido, mas era algo que eu precisava no momento. No dia seguinte, conversei com ele, que não se abalou e até pediu desculpas por tamanha indelicadeza. Tratei logo de tirar esse pensamento de sua cabeça e esclarecer que não foi apenas culpa dele. Também me deixei levar. Mal sabia eu que suas palavras não condiziam com seus pensamentos...
_____//_____
A última segunda-feira foi o dia mais humilhante de minha vida. Gideon me chamou para almoçar. Disse que tinha algo muito importante para falar comigo. Fiquei com a pulga atrás da orelha, claro. Ele se recusou a dar detalhes por telefone. Achei que poderia ser sobre o que vi na biblioteca, mas descartei a possibilidade. Pelo seu tom de voz, parecia ser algo mais sério. Passei todo o trajeto até o Crossfire remoendo as mais diversas possibilidades. Uma delas, a mais remota obviamente, era a de que ele finalmente me daria uma chance. E, movida por essa centelha ínfima de esperança, coloquei minha “fantasia” de Corinne. Até o jeito como ela põe o cabelo de lado imitei.
Se havia alguma dúvida da minha capacidade de ser mais idiota do que eu normalmente era quando se tratava de Gideon, ela foi desfeita naquele instante.
Cheguei à recepção com o coração aos pulos. Scott me anunciou e fui autorizada a entrar no escritório. Gideon estava de pé, recostado à sua mesa de trabalho, com sua beleza de Adônis, em um terno de três peças cinza claro e gravata azul escuro. Perto dele, qualquer homem se sentiria, no mínimo, tentado a se matar pela falta de autoestima. Nós nos cumprimentamos polidamente e eu, cansada de tanto mistério, queria ir direto ao ponto. Mas ele insistiu que comêssemos primeiro, então me guiou para o minibar, onde nossa refeição nos esperava.  Achei curioso o fato de ele ter escolhido estrogonofe de frango, meu prato favorito. Sua intenção de me adular era clara e minha mente estava cada vez mais inclinada a pensar que o resultado daquilo seria favorável para mim. Ou talvez fosse apenas uma forma sua de me mostrar que nossa amizade, apesar dos pesares, continuava a mesma, pelo menos da parte dele.
Durante o almoço, percebi um tomo cauteloso em nossa conversa, mesmo quando falávamos de pontos aparentemente triviais. Chegamos a ser um pouco ríspidos um com o outro quando entramos no assunto de nome Eva. Fiz uma alusão coberta de sarcasmo ao que vi na biblioteca, no que ele nem pareceu se abalar, pelo contrário, admitiu sem a menor vergonha, o que me deixou profundamente desconcertada. Ele a defendeu com unhas e dentes. Nem com sua ex-noiva seu ar superprotetor era tão acentuado. É como se proteger Eva fosse a grande meta de sua vida. Eu o conheço bem demais para fazer esse tipo de inferência. Naquele momento, seu amor por ela era mais nítido do que nunca. Estava no brilho de seus olhos, nos seus gestos e no modo como seu tom de voz mudava quando tocava no nome dela. Sem contar que ela estava presente em todas as flores que adornavam seu escritório, o que, até então, era inexistente em seu estilo de decoração austero. Além disso, tinha uma foto dela em cima de sua mesa. Eu não me lembro de ele ter fotos de Corinne. Se ele tinha, eu nunca vi. Aquilo era uma forma de explicitar que Gideon tinha uma mulher em sua vida. Ver aquilo fez meu estômago dar voltas.
Quando terminamos, voltamos para a área de trabalho de seu escritório. A postura Gideon mudou completamente. Ele ficou sério, rígido, como se fosse um portador de uma má notícia. Aquilo não soava bem para mim, e soou ainda pior quando começou a dizer que eu era uma grande amiga, que ele se importava comigo e que era sua obrigação me contar a verdade. Me remexi inquieta na cadeira. O clima estava mais pesado. Então ele virou o monitor do computador em minha direção e começou a me mostrar um vídeo. No começo fiquei um pouco confusa. O pano de fundo era um lugar repleto de plantas, como um jardim, e duas pessoas estava abraçadas. Demorou algum tempo até que minha mente pudesse assimilar que se tratava de mim e do Christopher. Alguém nos filmou na festa de seus pais. Falávamos de Gideon e Eva. Meus olhos se arregalaram, meu corpo tremeu violentamente como um saco cheio de ossos. Quando chegou a parte em que começamos a transar, meu coração acelerou. Mas seu eu achava que estava sendo humilhante me ver naquela situação, pior eu me senti quando vi o escárnio e a indiferença estampados no rosto de Christopher. Aquilo foi demais para mim. Meus olhos transbordaram pelas lágrimas que até então estavam presas. Desabei num choro incontrolável. Implorei para que Gideon parasse o vídeo, no que prontamente atendeu. Abaixei minha cabeça, morrendo de vergonha, absorta em minha própria dor.
Ele tinha assistido tudo.
Provavelmente estava pensando o pior de mim, até eu estava, afinal eu tentei encontrar nos braços de seu irmão, que ele tanto odiava, o carinho que esperava dele. E agora descubro que fui usada como uma vadia. Uma dor física me invadia. Eu não conseguia parar de chorar. As lágrimas desciam como cascata pelo meu rosto. Mal havia percebido que Gideon estava agachado ao meu lado, com um lenço estendido; nem reparei o momento em que o aceitei. Seus dedos longos acariciavam levemente meus cabelos, em uma tentativa inútil de me consolar. E, depois daquilo, ficou ainda maior o abismo que nos separava. Eu nunca seria dele, nós nunca ficaríamos juntos. Meu coração já não existia, tinha virado pó. Apenas uma batida surda de um órgão quase sem vida ressonava pelos poros do meu corpo, desempenhando a única e exclusiva tarefa de me manter viva. Eu me perguntava o porquê de Christopher me tratar daquela forma. Eu sempre fui amiga dele também, nos dávamos muito bem, sempre quis o melhor para ele. E ser exposta àquela verdade, de que eu não passava de um instrumento de vingança dele contra o próprio irmão, sendo usada da pior forma possível, me sentia destruída. Com o tempo fui me acalmando e percebi que o mais velho dos Vidal era uma cobra disfarçada de bom moço. E seu interesse repentino por Eva fazia sentido agora. Não era simples afobação, não era paixonite, era um plano frio e calculista de vingança por puro ciúme. Não sei por que, me vi dizendo a Gideon que tomasse providências para proteger Eva. Mas a verdade, é que eu estava preocupada que meu amigo acabasse fazendo algo do qual sofreria consequências depois. Ele não hesitaria em fazer uma grande besteira por ela, disso eu tinha certeza.
“Eva tem muita sorte de ter você”, digo com sinceridade. “Você é um companheiro e tanto”.
“Obrigado”. Agradeceu ele, um tanto constrangido.
Respirei fundo e me levantei, pedindo para usar seu banheiro. Lavei o rosto, refiz a maquiagem e saí de lá da mesma forma como entrei em seu escritório. Mas a dor ainda estava ali, presente e pulsante.
Depois que Gideon me mostrou o vídeo, eu não o encarei uma única vez. Não tinha coragem. E ele também não forçou nada. Na despedida, eu o agradeci, mas, assim como Arnoldo, ele recusou minha gratidão, e disse que sua atitude nada mais foi do que algo típico de amigos. Demos uma descontraída, mas minha vontade de sumir dali era grande. Saí de seu escritório sem olhar para trás, e no percurso até o carro, coloquei meus óculos de sol Gucci e me mantive de cabeça baixa. Pelo menos aquela cabeleira me serviu de alguma coisa afinal: esconder minha vergonha.
Assim que entrei em casa, o telefone tocou.
“Alô?”
Como vai Magdalene?” perguntou a voz doce e calma do outro lado da linha.
“Corinne?” indaguei assuntada.
Sim, sim, querida”, disse entusiasmada demais.
“Oh... Oi... Ah, sim estou bem e você?”
Não que ela não tivesse me ligado antes, mas fazia algum tempo. Contei a Gideon sobre seu último telefonema, em que me interrogou até a exaustão sobre Eva. Mas, fragilizada como eu estava naquele momento, fui tomada de surpresa. E algo me dizia que não ela não trazia boas notícias.
Estou bem na medida do possível. Terminei meu casamento com Giroux”, jogou na lata.
 “Sério?” meu coração disparou.
Sim, eu não consegui esquecer Gideon. Meu amor por ele nunca esteve tão vivo, por isso estou retornando a Nova York. Estou disposta a tê-lo de volta”, revelou.
Meus joelhos cederam. Aquilo era demais para mim. Eu não estava preparada para uma notícia assim.
Magdalene?” perguntou quando fiquei um tempo em silêncio.
“S-sim”, respondi acordando do choque. “Ahn... então, você tem certeza de que quer mesmo isso?”
Claro que sim”, rebateu energicamente. “Acho que sempre pertencemos um ao outro e sua atitude durante todos esses anos só me fez comprovar isso”.
Eu sabia do que Corinne estava falando. Todas as mulheres com quem Gideon saiu após o rompimento, eram parecidíssimas com ela. Foi por isso, inclusive, que tentei imitar seu visual. Para ter uma chance que nunca veio.
Ela falou mais algumas coisas que não assimilei, apenas peguei a parte em que pediu minha companhia para o jantar de gala de quarta-feira. Trocamos mais algumas palavras, nos despedimos e encerrei a chamada. Caí na cama e chorei como nunca. Minhas esperanças estavam completamente perdidas. Eu sempre seria a amiga, a muleta, o degrau, aquele cômodo velho onde as pessoas escoravam. Foi assim para Gideon, foi assim para Corinne, foi assim para Christopher.
E seria assim para o resto de minha vida.

Podem falar: a visão de vocês sobre a Magdalene mudou, né? Depois de ler os livros, percebi que a personagem havia sido muito mal interpretada, então ela precisava ter sua voz pra mostrar o que realmente estava por trás de suas ações. Afinal, quem nunca fez de tudo para ser notada por aquela pessoa especial, não é mesmo? Enfim, deixem seus comentários, críticas e mensagens de solidariedade à Maggie!

Nenhum comentário: