sábado, 1 de novembro de 2014

Toda Minha: Capítulo 16 — Aos trancos e barrancos

Então, esse é o último capítulo, meu povo! Isso aí! Finalmente, o desfecho do primeiro livro, bem grandão. Espero que tenham gostado da nova roupagem da fanfic. Continuem comentando e mandando seu carinho! 
Boa leitura! 
“O amor é um campo de batalha”.
— Trecho de 'Love Is a Battlefield', de Pat Benatar

Corinne é uma mulher deslumbrante. Qualquer homem se sentiria instantaneamente atraído por ela. Nem parece que se passaram tantos anos desde a última vez que nos vimos. Sua pele morena continua impecável; seus longos cabelos negros mais brilhantes do que nunca e seus olhos irradiam uma vitalidade e um magnetismo impossíveis de se descrever. Quando a vi pela primeira vez, foi impossível não ficar fascinado com sua beleza, simpatia e doçura. Nenhuma garota naquela universidade poderia chegar aos seus pés. Contudo, as coisas mudaram radicalmente entre nós com o passar do tempo. Agora, vendo-a de perto, tenho certeza absoluta de que o que senti por ela nunca passou de desejo. E eu, como um ser naturalmente orgulhoso, dominante e territorial, a considerava como minha propriedade exclusiva. E nada mais.
Arnoldo vivia me dizendo que Corinne não era a mulher ideal para mim. Que ela jamais me entenderia ou, em suas próprias palavras, que ela era “uma dor na bunda”. Eu não vejo dessa forma tão... Grosseira. Ela foi muito importante em minha vida, pois foi a primeira mulher com quem tive vontade de fazer e fiz sexo depois de tudo o que passei. Através dela, percebi que eu era capaz sim, de obter prazer em algo que durante anos só me causou dor. Através do nosso relacionamento, entendi que eu poderia tomar sim as rédeas da minha vida e que ninguém mais tinha o poder de me obrigar a fazer algo que eu não quisesse.
Claro que sinto um carinho especial por ela e tudo o que vivemos, mas nossa história ficou no passado e, a forma como me sinto agora ao olhá-la depois de tanto tempo, só reforça isso.
 “Deixei algumas mensagens no seu telefone”, Corinne responde com sua voz calma.
“Ah, eu quase não parei em casa ultimamente”, justifico sem entrar em detalhes.
Agora é o momento de lhe mostrar que segui em frente e que o ‘nós’ não existe mais. Solto as mãos dela e puxo Eva para meu lado.
“Corinne, esta é Eva Tramell. Eva, Corinne Giroux. Uma velha amiga”.
Elas se cumprimentam apertando as mãos.
“Qualquer amiga de Gideon é amiga minha também”, diz com um sorriso ameno.
Conhecendo minha ex-noiva como conheço, sinto que a referência a Eva como minha amiga foi uma provocação velada, visto que ela sabe muito bem o status do nosso relacionamento.
“Espero que isso se aplique a namoradas também”, diz Eva educadamente.
Corinne lhe lança um olhar confiante. “Principalmente as namoradas. Se você me permitir, gostaria de apresentar Gideon a uma pessoa”.
“Claro”, concede. Mas sei que meu anjo está borbulhando de raiva.
Dou-lhe um beijo rápido na testa, e ofereço o braço a Corinne. Sei que foi uma manobra de sua parte para nos deixar a sós e embaraçar Eva. Vou aproveitar essa situação e deixar tudo em pratos limpos. Nos dirigimos a um canto mais isolado da festa.
“Então, ela é a famosa Eva”, comenta após um tempo em silêncio.
“Sim, e é a pessoa mais especial que já conheci”.
“Nossa, ouvir isso magoa”, murmura tristemente.
“Desculpe, mas é como me sinto. Nunca consegui me abrir tanto para uma pessoa como consigo com ela”.
“Eu vejo o quanto você mudou. Mas confesso que fiquei um pouco surpresa”.
Franzo o cenho. “Como assim?”
“Bom, ela não é bem o que eu esperava. Quer dizer, loira, baixinha, cheia de curvas, enfim... você passou anos saindo com morenas altas, esguias e agora...”.
“É diferente”, pontuo. Sei bem aonde ela quer chegar. “Eva é simplesmente tudo o que quero e preciso”.
“Então o que tivemos não significou nada para você?” pergunta amarga.
“Significou no passado. Não dá para comparar. O que sinto por ela não se parece em nada com o que senti por você”, explico.
“Você a ama?”
“Sim”.
Seus olhos se fecham e sua expressão se converte em dor. Não queria lhe causar isso. Eu a estimo muito, como amiga. Pego seu rosto com as mãos e a faço olhar para mim. Seus olhos claríssimos estão rasos d’água.
“Escute Corinne. Não estou menosprezando o que tivemos. Apenas não é certo pensar nisso mais. Estamos em momentos diferentes agora. Talvez você devesse dar uma chance de verdade ao Giroux e a si mesma. Não se prenda a mim, não se separe por minha causa. Não posso ter responsabilidade nisso, pois estou deixando claro que nós não podemos ficar juntos. Mas não quer dizer que não desejo sua amizade. Estarei aqui sempre que precisar de mim, eu a ajudarei no que for necessário, eu prometo”.
“Deixá-lo foi o maior erro da minha vida”, diz firmemente apesar de estar com a voz embargada. “Não desistirei de você, Gideon. Eu te amo e lutarei por nós, não importa o que diga. Eu deveria ter feito isso antes, mas tenho minha chance agora. Mas, por ora, eu aceito sua amizade, é melhor do que nada”.
Retiro minhas mãos de seu rosto e a encaro duramente. “Corinne, você é minha amiga, mas não atrapalhe minha relação com Eva. Ela é ciumenta e insegura, e não quero dar motivos que possam nos separar. Eu não viveria sem ela, nunca. Eu disse isso para Magdalene e agora digo para você: não se meta com Eva”.
“Acalme-se, Gideon!” diz assustada. “Assim você me ofende e muito. Não sou esse tipo de mulher, achei que me conhecesse melhor”, ela parece ultrajada.
“Desculpe-me, é só... Quando se trata de Eva, eu sou muito protetor e cuidadoso”, justifico nervoso.
“Tudo bem, eu entendo. Você já foi assim comigo um dia”, suspira.
Meu celular vibra dentro da calça. Tiro do bolso e olho o visor. É do escritório que cuida das obras no Arizona. Franzo o cenho.
“Corinne, vou deixá-la fazendo companhia a Eva e Maggie. Preciso atende essa ligação. Por favor, seja agradável. Quero muito que se tornem amigas. É importante para mim”, peço.
“Claro, Gideon. Não se preocupe”, garante com um sorriso doce nos lábios. E isso me faz relaxar, mas não totalmente.
Entrelaço nossos braços novamente e nos encaminhamos para onde deixamos Eva e Maggie. Mas não as encontramos.
“Onde será que estão?” pergunta Corinne, olhando para todos os lados.
Assustado e morrendo de medo de ela ter fugido, sondo o lugar cuidadosamente até que avisto seus inconfundíveis cabelos dourados. As duas estão sentadas em uma das mesas. Meu pulmão se esvazia do ar que até pouco tempo estava segurando.
“Ali”, indico com a cabeça.
Noto que elas conversam civilizadamente, mas suas feições indicam certo desconforto. A essa altura, Eva já deve saber sobre mim e Corinne, embora eu mesmo quisesse ser o primeiro a lhe contar. Merda! Ela deve estar com raiva!
“Aí está você”, digo a Eva.
Seu olhar vai de mim para Corinne. Sua expressão se torna, pela primeira vez, impossível de se ler. Solto o braço de Corinne e acaricio seu rosto com os dedos.
“Preciso ir falar com uma pessoa. Quer que eu traga alguma coisa pra você na volta?” pergunto docemente.
“Stoli com suco de cramberry. Dose dupla”, responde sem emoção.
“Certo”, franzo o cenho. Ela não está com raiva. Ela está puta.
Vou para um canto mais afastado da festa e saco o celular.
“Boa noite, senhor Cross”, diz Amber, uma das diretoras.
“Qual a emergência?” vou direto ao ponto.
“Precisamos que o senhor venha o mais rápido possível. As coisas se complicaram”.
Respiro fundo. “Explique”.
“Estamos tendo muitos problemas com o orçamento. Os valores não batem e o pessoal da contabilidade não sabe o que fazer. Os diretores da construtora estão insatisfeitos e acham que há superfaturamento”.
“O quê?” Explodo. “Minha política de trabalho é limpa e não admito furos. Com quem eles acham que estão lidando?”
“Senhor...”.
“Escute”, corto. “Estou no meio de um evento e não posso lidar com isso agora. Amanhã providenciarei tudo o que preciso para a viagem. Avise que estou chegando”, e desligo.
Respiro fundo algumas vezes, conto até dez e me encaminho para o bar. Faço meu pedido ao barman, que em menos de cinco minutos prepara nossas bebidas.
“Obrigado”, o barman retribui com um aceno de cabeça.
“Gideon”, ouço a voz dela, como sinos celestiais, chamando por mim.
Ela se aproxima, toma sua bebida na minha mão e a vira num gole só. Seus olhos brilham de fúria. Uma bomba vem por aí.
“Eva...”, advirto. A última coisa que preciso é de uma cena.
“Estou indo embora”, diz sem rodeios, passando ao meu lado para deixar o copo vazio no balcão. “Não considero isso uma fuga, porque estou avisando com antecedência, e você pode ir comigo se quiser”.
Bufo de frustração. Maldita hora em que fui deixá-la a sós com Corinne.
“Não posso ir embora agora”. Não que eu não queira, mas fui convidado a fazer um discurso esta noite. 
Ela vira as costas sem falar nada. Instintivamente agarro seu braço.
“Não vou conseguir ficar se você for embora. Você não tem por que ficar chateada, Eva”.
“Ah, não?” Ela olha para minha mão agarrada a seu braço. “Eu avisei que era ciumenta. E, desta vez, você me deu uma boa razão pra isso”.
Eu não posso acreditar que estou enfrentando um ataque desses agora.
“Só porque me avisou você acha que pode dar uma de ridícula?” Mantenho o autocontrole na voz e nos gestos. Não há como perceber o clima pesado entre nós.
“Ridícula, é? E o que você fez com Daniel, o instrutor da academia? Ou com Martin, um membro da minha família?”. Ela chega mais perto e sussurra. “Eu nunca trepei com nenhum dos dois, muito menos concordei em me casar com eles! E pode ter certeza de que não converso todo santo dia com nenhum deles!”.
E então o motivo verdadeiro de sua raiva se torna óbvio. Ela precisa saber que está tudo bem entre nós e o fato de estarmos prolongando o estado de excitação a deixou insegura.
Levanto-me abruptamente e enlaço sua cintura com os braços e a puxo para mim.
“Você precisa ser comida agora mesmo”, cochicho no seu ouvido, mordendo a ponta da sua orelha. “Não devia ter feito você esperar”.
“Vai ver você fez tudo de caso pensado”,sibila. “Estava se poupando para o caso de uma velha chama se acender e você preferir trepar com outra pessoa”.
Suas palavras e seu olhar debochado fazem meu sangue fervilhar de irritação... e luxúria. Viro o restante da bebida em um gole e ponho o copo no balcão. Seguro sua cintura com força e, enquanto nos encaminhamos para entrada, pego o celular e chamo a limusine, que já está a postos assim que chegamos à rua. Abro a porta, empurro Eva para dentro e ordeno a Angus que dê voltas no quarteirão até mandá-lo parar.
Entro em seguida e fecho a porta. Ela pula para o outro lado do acento para nos manter afastados.
“Pare com isso”, grito.
Ela cai de joelhos no assoalho acarpetado, ofegante. Enrolo minhas mãos em seus cabelos e envolvo minhas pernas abertas nas suas, puxando-lhe com tanta força a ponto de encostar sua cabeça em meu ombro.
“Vou fazer agora uma coisa de que nós dois precisamos, Eva. Vamos trepar até essa tensão se dissipar o suficiente para podermos voltar para o jantar. E não se preocupe com Corinne, porque, enquanto ela fica lá dentro, vou estar aqui, dentro de você”.
“Está bem”, sussurra passando a língua por seus lábios.
“Você esqueceu quem é que manda aqui, Eva”, falo asperamente. “Abri mão do controle por sua causa. Cedi e ajustei meu comportamento pra você. Faço qualquer coisa pra deixar você feliz. Mas não aceito cabresto nem chicote. Não confunda minha boa vontade com fraqueza”.
Ela engole em seco. “Gideon...”. Está rendida.
“Estique as mãos e se segure na barra debaixo da janela. Não solte até eu mandar, entendeu?”
Ela me obedece, segurando a barra com revestimento de couro. Seu corpo se inclina à ordem silenciosa que emana do meu. Enfiando as mãos sob a parte de cima do seu vestido, agarro seus seios fartos. Quando aperto e giro seus mamilos, ela joga a cabeça para trás em minha direção, totalmente rendida, me deixando com mais tesão ainda.
“Minha nossa”, esfrego a boca contra sua têmpora. “É tão perfeito quando você se entrega assim pra mim... Quando se abre todinha, como se dependesse disso pra viver”.
“Me fode” implora, a voz coberta de necessidade. “Por favor”.
Solto seu cabelo, enfio a mão por baixo de seu vestido e arranco sua calcinha. Tiro meu paletó e o jogo no assento. Minha mão segue de volta ao caminho entre suas pernas. Meus dedos tocam seu músculo encharcado e pulsante e solto um grunhido de puro contentamento.
“Você foi feita pra mim, Eva. Não consegue ficar muito tempo sem me sentir dentro de você”.
Continuo a provocá-la, espalhando sua umidade por toda a extensão de sua abertura até o seu clitóris. Em seguida, enfio dois dedos nela e os abro como uma tesoura, separando os tecidos sensíveis. Meu pau está explodindo dentro da calça. O desejo consumindo todo o meu corpo, elevando a temperatura da minha pele, tencionando todos os meus músculos e despertando cada uma de minhas células.
“Você me quer, Gideon?” pergunta ofegante.
“Mais do que o ar que eu respiro”. Passo meus lábios por seu pescoço, por cima de seu ombro, lambendo cada centímetro de sua pele aveludada. “Também não consigo ficar sem você, Eva. Você é meu vício... minha obsessão...”.
O desejo é tão forte, tão brutal que meus dentes se encravam levemente em seu ombro. Solto um ruído primitivo de prazer. Enquanto isso, minhas mãos a estimulam simultaneamente. Os dedos de uma a penetram e o polegar da outra massageia seu clitóris, o que a faz gozar mais de uma vez, gritando meu nome, já sem fôlego. Suas mãos suadas estão escorregando da barra revestida de couro.
Hora do show.
Abro o zíper da minha calça e a mando soltar a barra e deitar de pernas abertas. Seu pequeno corpo treme, mas não sei ao certo se é de medo ou ansiedade. Eva tem seus limites e não posso de forma alguma, ultrapassá-los. Eu jamais me aproveitaria do controle que ela me cedeu para forçá-la a fazer algo para o qual não estivesse pronta.
“Não tenha medo”, digo deitando por cima dela e soltando meu peso com muito cuidado.
“Estou com tesão demais pra sentir medo”. Rebate me agarrando e lançando seu corpo para cima para encostá-lo ao meu. “Quero você”.
Esfrego a cabeça do meu pau nos lábios de seu sexo. Flexionando os quadris, eu a penetro, e expiramos o ar juntos numa sincronia perfeita. Ela fica toda mole.
“Eu te amo”, sussurra olhando para mim com um olhar de cortar o coração. “E preciso de você, Gideon”.
Eu jamais me acostumarei com a forma como reajo ao ouvi-la dizer isso.
“Eu sou seu”, murmuro enquanto continuo a movimentar a pélvis. “Não poderia ser mais seu”.
Eu a amo tanto, eu a desejo ardentemente, eu a quero mais que tudo. É impossível dar nome ao que sinto por ela. Não há como expressar. Seu corpo estremece e tenciona. Seus quadris se remexem cegamente contra minhas estocadas furiosas. Ela chega ao clímax soltando um grito abafado, sua boceta gulosa mastigando, meu pau me fazendo enlouquecer e buscar desesperadamente minha liberação, investindo cada vez mais forte.
“Eva”, seu nome sai como um rosnado de meus lábios.
Ela continua rebolando, me incitando a continuar. Eu a agarro com força e me movo cada vez mais rápido. Eva sacode a cabeça de um lado para o outro, gemendo insanamente. Seu rosto está corado e suas feições denunciam o prazer latente de ser possuída por mim, de pertencer a mim. Sempre fui meio bruto no sexo, mas não chega perto do que sou quando estou com Eva. Viro um animal selvagem, um leão faminto quando se trata dela. E sei que a intensidade de seu desejo por mim é igual. Estou completamente louco por essa mulher.
As paredes de seu canal estreito começam a me apertar cada vez mais, anunciando a vinda de mais um orgasmo.
“Você é tão bom nisso, Gideon. Tão bom...”, choraminga.
Agarro sua bunda e a puxou para trás contra minhas estocadas brutais, chegando ao ponto mais fundo de seu corpo, expulsando um gemido esganiçado, num misto de dor e prazer, da sua garganta. Ela goza mais uma vez, grudando seu corpo ao meu com todas as forças.
“Meu Deus, Eva”, solto um rugido áspero e meu líquido quente e espesso é liberado, inundando seu interior. Pressiono seus quadris para deixá-la imóvel e me esvazio dentro dela, com a cabeça do meu pau quase tocando seu útero.
Ficamos algum tempo parados esperando nossos corpos se acalmarem. Penso em tudo o que aconteceu conosco até hoje. Simplesmente não consigo encontrar uma palavra para descrever meus sentimentos por Eva. São fortes, intensos, incontroláveis, primitivos. Eu tenho vontade de amá-la, protegê-la, possuí-la, confortá-la, consolá-la, suprir suas necessidades, ser tudo o que ela precisa. E, ao mesmo tempo, sinto que minha vida, minha alma, meu corpo e meu coração pertencem a ela. Perdê-la seria o meu fim.
Respiro fundo e ajeito os cabelos de Eva com as mãos, beijando seu pescoço suado.
 “Queria que você soubesse o que me faz. Queria saber explicar”, digo um pouco frustrado.
Ela me abraça com toda a força. “Não consigo deixar de fazer coisas idiotas por sua causa. É mais do que consigo suportar, Gideon. É...”.
“... Incontrolável”, completo, já sentindo meu corpo reagir. Meu membro, que ainda está dentro dela, volta a pulsar como se não tivesse acabo de expelir um jorro longo e potente. Então começo tudo de novo, com estocadas ritmadas, inchando e crescendo a cada investida.  Atinjo seu ponto mais sensível.
“E você precisa estar no controle”, afirma sem fôlego
“Preciso de você, Eva”, meus olhos permanecem grudados nos seus enquanto me mexo dentro dela. “Preciso de você”.
Não importa o tempo, as pessoas, os obstáculos, as brigas, as inseguranças... Nada. Somos apenas nós dois, como um só, em nosso próprio mundo.
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Após retornarmos a festa, não saí do lado de Eva nem permiti que ela se afastasse pelo resto da noite. Minha mão ficou grudada na sua até mesmo na hora do jantar. Novamente, preferi comer com uma mão só do que abrir mão de seu toque. Corinne, que sentou à minha esquerda, estranhou o fato.
“Não lembrava que você era canhoto”, comentou.
“Não sou”, respondi erguendo a mão de Eva e a beijando.
Uma forma de reafirmar que a amo e não há mais ninguém em minha mente. Meu anjo ficou constrangido com o gesto, mas não me importei.
Com o tempo, acabei percebendo o jogo de Corinne. Ela começou a falar dos vários lugares que fomos juntos enquanto estávamos juntos, dos momentos que tivemos e a ainda teve o disparate de sugerir que eu levasse Eva a todos eles. Para evitar o desconforto, eu restringia a conversa apenas a nós dois. Cometi o erro enorme de falar sobre o ciúme de Eva, e Corinne está usando essa informação ao seu favor. Ela é mais sagaz do que imaginei, mas não ia me fazer de bobo. Maggie assistiu a tudo com uma expressão impassível e sem a menor vontade de participar. Sempre soube que ela se sentia ofuscada perto de minha ex-noiva, desconfortável mesmo, principalmente por causa dos sentimentos que nutre por mim. Me senti mal em vê-la daquela forma.
A conversa dura tempo demais. Corinne está jogando pesado. Sinto um leve puxão na outra mão, como se Eva estivesse tentando se livrar do meu aperto. Instintivamente eu a seguro mais forte.
“O que está fazendo?”, murmuro me virando para ela.
Meus olhos vão de Eva para o homem elegantemente vestido sentado ao seu lado. Meu corpo todo enrijece, minha expressão se fecha e meu olhar se torna gélido. O maldito Terrence Lucas, um dos homens que desgraçou minha vida, me encara de volta com um olhar debochado.
“Ela vai aliviar o tédio de ser ignorada, Cross”, diz o bastardo, apoiando as mãos sobre o encosto da cadeira de meu anjo, “vai doar um pouco de seu tempo a alguém que ficaria feliz em dedicar sua atenção a uma linda mulher”.
Filho da puta! Eva tenta se desvencilhar de mim, mas continuo a segurando.
“Suma daqui, Terry”, aviso.
“Você estava tão entretido com a senhora Giroux que nem reparou que eu estou sentado nesta mesa”, ele abre um sorriso tenso. “Vamos, Eva?”
“Paradinha aí, Eva”.
Ela estremece ao som da minha voz, mas seu olhar brilha de mágoa. “Não é culpa dele. Ele está certo”.
Aperto mais sua mão. “Não vamos discutir isso agora”.
O olhar de Terry, que estava cravado em mim, se volta para Eva. “Você não é obrigada a aturar esse tipo de tratamento. Nem todo o dinheiro do mundo dá a ele o direito de tratar alguém assim”, suas palavras estão carregadas de rancor.
Eva me olha furiosa, com as bochechas coradas e diz num sussurro áspero.
“Crossfire”.
Automaticamente meus dedos afrouxam o aperto e a soltam.
Passei dos limites.
Completamente envergonhada, ela se levanta, pede licença a mim e a Terry e sai da mesa com a bolsa em mãos. O desgraçado a acompanha com o olhar e se volta para mim com um sorriso sarcástico.
“Deixe a pobre em paz, Cross. Não a transforme em um brinquedo seu como fez com as outras. Ela me parece ser uma boa moça e não merece ser magoada por você”.
Meus dentes trincam de ódio. Falta pouco para eu acertar um murro na cara desse otário.
“Eu não vou repetir: suma da minha frente. E fique longe, bem longe de Eva. Não vou deixar você estragar minha vida de novo. Você sabe muito bem do que sou capaz”.
Ele ri sem humor.
“Eu sei muito bem disso, Cross. Sei bem do que é capaz. Esse sentimento ilusório que você planta nas mulheres cresce como um câncer e no fim, quando já está farto, você as descarta e a elas só cabe juntar os pedaços e tentar se tratar. Muitas, não conseguem se recuperar, como é nítido nos rostos da Sra. Giroux, da Srta. Perez... dela”, completa, amargo.
Sei exatamente do que ele está falando. E até hoje me culpo, não por ele, mas pelo que fiz... Com ela.
Ele se levanta, mas não se afasta antes de concluir. “Não faça o mesmo com Eva. Deixe-a ser feliz com alguém que de fato a mereça”.
Ouvir essas palavras é como sentir várias cordas envolverem meus pulmões e os apertarem até a asfixia. Começo a tremer levemente e a ficar ansioso. Ele me atingiu na minha maior insegurança. Apesar de minha intenção de jamais me afastar de Eva, morro de medo de ela não aguentar mais e... Se afastar de mim.
“Gideon, o que foi isso?” pergunta Corinne, atônita.
“Nada que precise se preocupar”, respondo vagamente. Mantenho a expressão impassível, mas por dentro estou sangrando. “Onde está Eva?”
“Foi em direção aos toaletes”, informa Maggie. “Mas não se preocupe, ela deve estar se recompondo. Nós mulheres somos famosas por demorar, você sabe, arrumar os cabelos, retocar a maquiagem, ajeitar o vestido, coisas do tipo”, dá de ombros.
“Você tem razão”, respondo ainda tenso. “Não custa esperar, não é?”
“Ela está se arrumando para você, Cross. Apenas relaxe e aproveite”, dá uma piscadela.
“E depois, Eva tem mesmo que se arrumar para estar à sua altura”, emenda Corinne em um claro tom de deboche. “Sorte sua que estou aqui para lhe fazer companhia enquanto ela não está por perto”.
Aperto meus olhos e resolvo ignorar seu comentário. Se eu abrir a boca para retrucar, ela sairá daqui chorando, e a última coisa de que preciso no momento é mais uma cena para a coleção da noite. Já basta Eva me dando trabalho.
Passam-se cinco minutos e nada dela aparecer. Corinne tagarela sobre algum assunto que não dou a menor importância. Maggie me observa com atenção, mas não diz mais nada. Olho para todos os lados e nenhum sinal do meu anjo. Olho no visor do celular e há três ligações de Angus e uma mensagem de Eva...

*Não estou fugindo. Só indo embora*

Não. Não, não, não!
Meu coração para por alguns instantes. Ela foi embora... De novo. Merda! Merda! Merda! Começo a suar frio. Eu não posso perdê-la. Não de novo.
E o pior é que eu havia dispensado a equipe que a segue esta noite porque ela iria estar comigo, já que os meus seguranças poderiam proteger a nós dois. Eva está irritada, triste, envergonhada e vulnerável.
“Gideon, está me ouvindo?” Corinne me olha curiosa. “Aconteceu alguma coisa?”
Me levanto abruptamente, “Tenho que ir. Há um assunto pendente que precisa ser resolvido com urgência. Depois nos falamos, pode ser?”
 “É... Tudo bem... que tal marcarmos...”, e antes de ela terminar, já estou me dirigindo à saída. Saco o celular e chamo a limusine.
Ao ver minha expressão agoniada, Angus abre a porta traseira e volta rapidamente para trás do volante.
“Apartamento da senhorita Tramell?” pergunta.
“O mais rápido que puder”.
Ele literalmente pisa fundo no acelerador e se move com propriedade pelas ruas, cortando vários caminhos até o Upper West Side.
Em questão de minutos a limusine para em frente ao prédio. Salto do veículo e entro correndo, indo direto para os elevadores, ignorando completamente o porteiro que está cobrindo a folga de Paul. Ele tenta me impedir.
“O senhor não pode subir sem ser autorizado”, diz em tom de reprimenda.
Encaro-o com os olhos transbordando de fúria.
“Eu sou o dono desse prédio. Entro e saio daqui quando eu bem entender. A menos que queira perder seu emprego, é melhor voltar para o seu lugar”, minha voz soa gélida.
Ele paralisa no mesmo instante.
“S-senhor C-Cross, eu... Eu...”. Tenta gaguejar um pedido de desculpas.
Ignorando-o mais uma vez, entro na cabine, tiro a chave mestra do bolso e coloco no painel. Segundos depois estou no andar de Eva. Estranho ao ver a porta de seu apartamento aberta, mas então escuto os gritos de Eva e Cary e, desesperado, corro até lá. Ao parar no limiar, meus se alargam com a cena à minha frente. Um filho da puta drogado está a centímetros dela, falando alguma coisa que não entendo, e no momento seguinte meu punho acerta em cheio a cara do infeliz, que solta um berro, caindo no sofá.
Imediatamente coloco-me entre Eva e aqueles depravados. Meu corpo treme pela raiva contida. “Vá terminar isso no quarto, Cary”, ordeno. “Ou então em outro lugar”.
O babaca que tentou se aproximar de Eva ainda se contorce no sofá, com as suas mãos no rosto, numa tentativa falha de estancar o sangue que jorra de seu nariz. Eva e Cary começam a discutir sobre a atitude dele. A loira desnuda que estava por cima da ruiva, ainda deitada no chão, se intromete na conversa e, assim que me vê, se abre toda para mostrar seu corpo bem delineado. Nada que eu já não tenha visto. E sua atitude me dá nojo, meu estômago se revira e lanço um olhar de puro asco por sua atitude. Em um momento de lucidez, ela se cobre com um vestido dourado que apanha do chão, ruborizando de vergonha.
Eva a encara e diz cheia de sarcasmo. “Não leve a mal, não. Ele prefere as morenas”.
Seu comentário me enche de raiva, muita, muita raiva. Depois de tudo o que fiz para deixá-la confortável ante a presença de Corinne, de tê-la livrado de constrangimento de ouvir os tópicos de conversa inapropriados de minha ex-noiva, dos momentos em que transamos vorazmente na limusine, Eva faz isso? Eu me esforcei tanto para ganhar sua ingratidão e desprezo? Devo estar com uma carranca assombrosa, pois Eva me olha assustada e dá um passo para trás.
A lembrança de todos os acontecimentos dos últimos dias, o estresse no trabalho, a volta inesperada de Corinne, a reação negativa de Eva, o encontro desagradável com o desgraçado do Lucas, me deixam a um passo da violência.
“Porra! Caralho! Merda!” esbravejo passando a mão nervosamente pelos cabelos.
Preciso controlar meu temperamento, ou vou acabar matando alguém.
Eva vira de costas. “Não quero essa putaria dentro da minha casa, Cary”, e vai em direção ao seu quarto.
Fuzilo Cary com o olhar. “Você não tem moral alguma de dizer que posso fazer mal a Eva. Vou levá-la para minha casa e é melhor que essa corja tenha sumido quando estivermos saindo. E vá para seu quarto. Seria horrível para ela ter que te ver mais uma vez nesse estado lastimável”, e me dirijo a passos largos para o quarto dela, escutando-o praguejar alto.
Tiro o terno e coloco a camisa para fora da calça. Desfaço as mangas, retirando as abotoaduras e as colocando em uma de minhas gavetas na cômoda.
Chego à porta do banheiro e vejo Eva sentada no chão do Box, abraçando as pernas, com a testa encostada nos joelhos. A água quente caía abundante pelo seu belo corpo desnudo. Ela parece exausta.
“Eva”.
Ela se encolhe ao ouvir o som autoritário da minha voz e agarra as pernas com mais força. Está se fechando, me evitando. Mas que porra!
“Puta que pariu”, explodo. ”Não existe ninguém no mundo que me deixe mais puto que você”. Ando de um lado para o outro, quase arrancando os cabelos.
Ela me olha entre os cabelos molhados. “Vá para casa, Gideon”.
O quê? Paro de andar a encaro, incapaz de crer em seu pedido.
“Não vou deixar você aqui sozinha nem fodendo. Cary pirou de vez! Aquele drogado filho da puta estava quase atacando você quando cheguei”.
“Cary não deixaria isso acontecer. Além disso, não estou com cabeça pra aturar você e ele ao mesmo tempo”.
“Então vai se concentrar só em mim”. Eu não quero que ela se preocupe com aquele irresponsável. Eva está frágil demais, abalada demais, precisa de carinho e conforto e é o que lhe darei.
Ela tira os cabelos do rosto com um gesto impaciente. “Ah, é? Então quer dizer que a prioridade da minha vida é você?”
Encolho-me diante do seu tom. Isso doeu, doeu demais.
“Pensei que a prioridade da nossa vida fosse fazer esta relação funcionar”, rebato magoado.
“É, eu também pensava. Até esta noite”.
“Meu Deus. Dá pra esquecer essa história da Corinne?” Abro os braços, exasperado. “Estou aqui com você, não estou? Mal tive tempo de me despedir dela, porque tive que sair correndo atrás de você. De novo”.
“Que se foda! Não fui eu que pedi pra você vir atrás de mim!”
Ela nem precisaria fazer isso. Eu mesmo o faria sem pensar, a qualquer hora, a qualquer momento. Movido pela tensão e pelo desejo, entro no chuveiro, de roupa e tudo, levanto Eva do chão, prenso seu corpo com o peso do meu contra a parede azulejada do Box e a beijo com desespero, devorando seus lábios doces e convidativos. Minha língua ataca sua boca, explorando cada centímetro, mas ela não corresponde minhas carícias.
“Por quê?”, murmuro com a boca colada ao seu pescoço. “Por que você quer me deixar maluco?”
“Não sei qual é seu problema com o doutor Lucas, e sinceramente não estou nem aí. Mas ele tinha razão. Você só conseguia prestar atenção em Corinne. Praticamente me ignorou durante o jantar inteiro”.
“É impossível, pra mim, ignorar você, Eva”, fecho a cara pelo seu comentário absurdo e por ter colocado aquele maldito no meio. “Quando você está por perto, não tenho olhos pra mais ninguém”.
“Que engraçado. Porque, pelo que eu vi, você ficou o tempo todo de olho nela”, reclama.
“Que bobagem”, eu a solto me soltou e tiro os cabelos molhados do seu rosto. “Você sabe o que sinto por você”.
“Ah, eu sei?” pergunta parecendo incrédula. “Sei que você me quer. E que precisa de mim. Mas você é apaixonado por Corinne?”
Meu sangue ferve. Nada do que eu faço será suficiente para ela? Tudo isso só para ouvir uma frase que chega a ser medíocre de tão mal empregada?
“Porra! É inacreditável!” rosno. Desligo o chuveiro e apoio as duas mãos no Box em torno dela, aprisionando-a. “Você quer que eu diga que te amo, Eva? Essa cena toda é por isso?”.
Ela se retrai, como seu eu tivesse socado seu estômago. Seus olhos se enchem de lágrimas. Ela se curva para frente para passar por debaixo do meu braço.
“Vá para casa, Gideon”, diz com a voz embargada.
Não! Merda, eu e minha mania de não medir as palavras. Claro que ela está magoada pela forma como coloquei as coisas.
“Eu estou em casa”. Eu a agarro por trás e enfio o rosto nos seus cabelos ensopados. “Estou com você”.
Ela luta para se libertar, mas seu corpo está tomado pelo cansaço. As comportas se abrem e Eva desaba num choro de cortar o coração, tanto que eu mesmo começo a chorar também.
“Vá embora. Por favor”, soluça.
“Eu te amo, Eva. É claro que sim”. Como ela pode duvidar?
“Ai, meu Deus”. Ela grita horrorizada e me dá um inesperado chute na perna esquerda. Me desequilibro e ela consegue se soltar. “Não estou pedindo pra você ter pena de mim. Estou pedindo pra ir embora”.
“Não posso. Você sabe que não posso. Pare de brigar comigo, Eva. Me escute”, imploro, me agarrando a ela mais uma vez como a um bote salva-vidas.
“Você só está me magoando com essa conversa, Gideon”.
“Não é a palavra certa, Eva”, continuo, com os lábios grudados em sua orelha.  “É por isso que eu não disse antes. Não é a palavra certa pra você nem pro que eu sinto por você”.
“Chega. Se você gostar de mim um pouquinho que seja, vai calar essa boca e sumir daqui”, esbraveja, entre soluços.
Chegou a hora de abrir o coração e dizer o porquê de nunca ter lhe dito que a amo. Eu preciso fazê-la entender a profundidade dos meus sentimentos por ela.
“Já fui amado antes — por Corinne, por outras mulheres... Mas o que elas sabem sobre mim? Como é que elas podem estar apaixonadas se não sabem nem quem sou? Se o amor é isso, não é nada em comparação ao que sinto por você”.
Ela fica paralisada e muda. Seu corpo pequeno treme. Meus braços são como vigas de aço em torno dela, não querendo soltá-la, não querendo deixá-la ir. Sou tomado pela emoção e alívio de finalmente poder externalizar tudo o que venho sentindo em silêncio. Eva se tornou o centro do meu mundo em pouco tempo. Minha necessidade dela transcende qualquer sentimento humanamente possível. Eu não era nada, apenas um ser obscuro, egoísta, traumatizado e sem alma. À minha volta, mulheres que dizem me amar quando na verdade amam apenas a imagem que têm de mim. Pessoas que conhecem apenas a parte na qual lhes permito chegar. No fim, eu sou uma fraude. Uma projeção do homem que eu queria ser, mas não sou. Mostro uma força que na verdade não tenho. Nenhuma das feridas que me fizeram ao longo da vida cicatrizou completamente. Eu era uma sombra. Mas quando Eva apareceu, voltei à vida. Eu me tornei o que ela precisa. Finalmente descobri o meu lugar, o meu propósito. Eva me vê apenas como Gideon e ela deseja que eu a ame. E agora que finalmente a tenho... Não vou deixar ninguém tirá-la de mim. Ninguém.
“Gideon...”, suspira.
Beijo sua testa. “Acho que me apaixonei no momento em que vi você. E quando transamos na limusine virou outra coisa. Uma coisa maior”.
“Que seja. Você me deu um chega pra lá naquela noite e foi cuidar de Corinne. Como é que você pôde fazer uma coisa dessas comigo, Gideon?” pergunta indignada.
Eu a solto apenas para me ajeitar para pegá-la no colo e levá-la até onde está seu robe, pendurado em um gancho atrás da porta. Eu a visto e a sento na borda da banheira. Vou até a pia pegar lenços umedecidos na gaveta. Agacho em frente a ela e começo a tirar sua maquiagem.
“Quando Corinne me ligou no meio daquele evento, era o momento perfeito pra eu fazer uma idiotice”. Começo. “Você e eu tínhamos acabado de transar, e eu não estava conseguindo pensar direito. Disse pra ela que estava ocupado, e que estava acompanhado, mas quando percebi que ela estava magoada, achei que precisava acertar os ponteiros com ela pra poder seguir em frente com você”.
“Não entendi nada. Você me deixou de lado por causa dela. É isso que você chama de seguir em frente comigo?”
“Eu pisei na bola com Corinne, Eva”. Levanto seu queixo para limpar seus olhos borrados. “Nós nos conhecemos no meu primeiro ano de universidade. Ela chamou minha atenção, é claro, toda linda e meiga, incapaz de dizer uma palavra desagradável sobre quem quer que seja. Quando veio atrás de mim, eu me deixei levar e tive minha primeira experiência sexual de comum acordo com ela”.
“Eu a odeio”, diz num tom de voz cortante.
Abro um sorrisinho ao ouvir isso. Adoro Eva ciumenta.
“Não estou brincando, Gideon. Esta conversa está me matando de ciúme”, adverte irradiando irritação.
“Com ela era só sexo, meu anjo. Com você, por mais violento e selvagem que seja eu sempre faço amor. Desde a primeira vez. Você é a única pessoa capaz de fazer com que eu me sinta assim”.
Ela suspira. “Está bem. Estou um pouquinho melhor”.
Eu a beijo. “Acho que dá para dizer que nós namoramos. Só fazíamos sexo um com o outro e íamos a vários lugares juntos. Ainda assim, quando ela disse que me amava, foi uma surpresa. Uma surpresa agradável. Eu gostava dela. Da companhia dela”.
“E pelo jeito ainda gosta”, resmunga.
Eu já disse que detesto quando ela me interrompe?
Principalmente quando as coisas que ela diz são estúpidas. 
“Me deixe falar”, repreendo batendo com o dedo na ponta do seu nariz. “Pensei que eu poderia estar apaixonado também, da minha maneira... Da única maneira que eu conhecia. Não queria ver Corinne com outra pessoa. Então aceitei quando ela propôs o casamento”.
Eva se afasta para olhar melhor para mim. “Ela propôs o casamento?”
“Não precisava ficar tão surpresa” ironizo. “Você está acabando com meu ego”.
Do nada ela se atira sobre mim e me abraça com força. O que será que aconteceu?
“Ei”, retribuo o abraço com a mesma avidez. “Está tudo bem?”
“Melhorando”, ela me solta e toma meu rosto entre as mãos. “Continue falando”.
“Aceitei pelos motivos errados. Estávamos saindo fazia dois anos, e nunca tínhamos nem dormido juntos. Nunca falamos sobre as coisas que eu converso com você. Ela não me conhece, pelo menos não de verdade, mas ainda assim acabei me convencendo de que ser amado bastava. E quem seria capaz de fazer isso melhor que ela?”
Passo a me concentrar em seu olho esquerdo, removendo as manchas pretas. Conto sobre o noivado e a intenção de Corinne em fazer com que eu me abrisse mais, de com que ficássemos mais próximos. E que, vendo que o noivado não surtiu efeito, ela decidiu terminar tudo o ir embora para me fazer correr atrás dela, mas que no fim tinha sido bom para mim.
 “Você nunca pensou em contar pra ela?” pergunta.
“Não”. Encolho os ombros. “Até conhecer você, não encarava meu passado como um problema. Até achava que ele tinha influência na maneira como eu conduzia as coisas, mas tudo tinha seu lugar e eu não me considerava infeliz. Na verdade, achava que levava uma vida confortável e descomplicada”.
“Ops”, franze o nariz. “Olá, senhor Confortável. Eu sou a senhorita Complicada”.
“Com você, nada é previsível ou tedioso”. Sorrio.
Jogo os lenços sujos na lixeira. Em seguida pego uma toalha para limpar a poça d’água que se formou abaixo dos pés de Eva. Assim que termino coloco a toalha no cesto de roupas sujas e tiro minhas roupas molhadas. Mesmo de costas, sinto o olhar do meu anjo me devorando.
“Você se sente culpado por que ela é apaixonada por você”, afirma.
Sim, eu me sinto. Afinal, nós nunca tivemos uma conversa esclarecedora. Nunca tinha lhe dito com todas as letras o real motivo de ter aceitado me casar com ela. E a fiz confundir meu orgulho possessivo com amor. Mas isso nunca chegou nem perto de ser verdade.
“Pois é. Conheço o marido dela", digo olhando para Eva. "É um cara legal, e era louco por ela, pelo menos até descobrir que Corinne não sentia o mesmo por ele e tudo ir por água abaixo”.
Olho para ela enquanto tiro a camisa. Eu não entendo o porquê de Giroux ficar tão abalado por causa disso. Ele a tinha, certo? Levavam uma vida luxuosa na Europa, apesar da crise econômica. Mesmo que ela não o amasse, se houvesse um pouco mais de esforço da parte dele, poderiam estar juntos, tentando fazer o casamento dar certo. Corinne aceitou se casar, já era alguma coisa. Mas agora, ao ver que ela escapou ao primeiro sinal de desistência dele, e usou isso como desculpa para retornar e tentar me ganhar de volta, eu o compreendo. Mas não faria o que ele fez. Eu não desistiria de Eva, nunca.
“Se você fosse apaixonada por outro homem, Eva, isso me mataria. Mesmo que você estivesse comigo e não com ele. Mas, ao contrário de Giroux, eu não abriria mão de você. Mesmo que não fosse toda minha, seria pelo menos um pouco, e eu já me daria por satisfeito com isso”, declaro.
“É isso que me assusta, Gideon. Você não sabe dar valor a si mesmo”.
Lanço-lhe um olhar debochado. “Na verdade, sei, sim. Doze bilhões de...”.
“Pare com isso”. Ela me interrompe, apertando os olhos com os dedos em sinal de impaciência. “Não é nenhuma surpresa que as mulheres se apaixonem por você. Sabia que Magdalene deixou o cabelo crescer só pra ficar parecida com Corinne?”
Isso é uma novidade. Tiro a calça e franzo o cenho. “Por quê?”
Ela suspira. “Porque ela acha que você é apaixonado por Corinne”.
“Então está achando errado”. Jesus, o que há de errado com essas mulheres?
“Está mesmo? Corinne me disse que vocês conversam quase todos os dias”, diz desconfiada.
 “Não exatamente”, rebato imediatamente. “Na maioria das vezes não posso atender”. E imagens de nós dois transando em vários momentos enchem minha mente. Porque sexo com o meu anjo é algo do qual eu não abro mão.
“Isso é loucura, Gideon. Ela ligar todo dia. É assédio”, argumenta indignada.
“Onde você está querendo chegar com isso?” pergunto divertido. Sua careta de irritação é adorável.
“Você não entende? As mulheres ficam malucas por sua causa porque você é o máximo. É a sorte grande. Se uma mulher não puder ter você, sabe que vai ter que se contentar sempre com menos. Por isso não aceitam essa ideia. E ficam imaginando maneiras malucas de chamar sua atenção”.
Penso nisso por um segundo. Faz sentido, e explica muita coisa. Mas também evidencia o óbvio...
“A não ser a única que eu realmente quero”, ironizo. “Essa está sempre imaginando um jeito de fugir de mim”.
Ela tenta manter-se impassível diante de minha nudez, mas o brilho guloso em seus olhos a denuncia. E que fique registrado que não estou reclamando.
“Me responda uma coisa, Gideon. Por que você me quer, se pode escolher alguém perfeito pra você? E não estou atrás de elogios, nem garantias ou algo do tipo. Só quero uma resposta sincera”.
Eu posso pensar em vários motivos e citar todos eles: ela é linda, gostosa, fogosa, boa de cama, tem um corpo delicioso. Mas, mais do que isso, ela me escuta, me conhece como ninguém e não tem nojo de mim mesmo sabendo que sou um fodido. Só que a leve irritação de vê-la acabando com sua autoestima novamente vence e resolvo dar outra resposta. Eu a pego no colo e volto para o quarto.
“Eva, se você não parar de pensar em nós dois como uma coisa temporária, vou dar uns tapas na sua bunda, e de um jeito que você vai adorar”.
Eu a sento na poltrona e começo a vasculhar suas gavetas. Pego sua calça de ioga, um conjunto de lingerie e um top. Eva não entende a minha atitude já que sempre dorme nua quando está comigo. Explico que vamos ficar na minha casa, pois não me sinto seguro com relação à Cary. Ele está totalmente alterado pelo efeito das drogas e poderia trazer mais viciados para cá. E como vou estar praticamente em estado de hibernação por causa do remédio, não poderei protegê-la.
Ela tenta defender o amigo, dizendo que já passou por isso antes com ele. Afirma que não pode simplesmente se esconder e esperar que ele saia sozinho dessa situação.
“Ele precisa de mim, e eu não tenho ficado por perto ultimamente”, diz tristonha.
Agora eu fico com mais raiva de Cary por fazê-la se sentir culpada pelas cagadas dele. Porra, ele é adulto! Nem a minha vida ou a de Eva foi fácil também, e mesmo assim estamos de pé, aos trancos e barrancos, mais ainda assim, de pé. E ela precisa ser cuidada e não ser babá de um inconsequente.
“Eva”, entrego-lhe as roupas e me agacho diante dela. “Sei que você precisa ajudar Cary. Vamos pensar nisso amanhã”.
Porém devo admitir que minha decisão de levá-la para meu apartamento não foi tomada apenas por causa disso. Eu também quero Eva do meu lado. Eu preciso estar dentro dela, sentir o seu gosto, aspirar o cheiro cítrico de seus cabelos, sentir o doce toque dos seus lábios nos meus...
Ela pega meu rosto entre as mãos e me agradece.
“Mas eu também preciso de você”, confesso baixinho.
“Nós precisamos um do outro”, sorri fracamente.
Fico de pé, vou até a cômoda e abro uma das gavetas reservadas para mim para pegar algumas peças de roupas.
Enquanto nos vestimos, Eva expõe seus sentimentos em relação à conversa que tivemos no banheiro. Diz que se sente bem melhor, mas reitera que Corinne é um problema para ela, que eu devo superar meu sentimento de culpa e mantê-la à distância. Argumento que Corinne é minha amiga, que está passando por um momento difícil e que seria muito cruel se eu me afastasse agora.
“Pense bem, Gideon. Você não é o único que teve relacionamentos no passado, e está estabelecendo um precedente de como lidar com eventuais reaparições. Estou moldando meu pensamento a partir de suas atitudes”.
Fecho a cara na hora. Não gosto de ser posto em dúvida e muito menos de ser pressionado. Qual o problema com a confiança hoje em dia?
“Você está me ameaçando”.
“Prefiro ver como um pedido de concessão. Relacionamentos são vias de mão dupla. Ela tem outros amigos. Pode encontrar um ombro muito mais apropriado para suas crises”.
Acho um grande exagero esse ciúme por causa de Corinne. Não vou evitá-la completamente. Ela é minha amiga e é só questão de tempo de convivência para que perceba que não há mais nada entre nós. Farei o possível e o impossível para manter Eva ao meu lado. Com o tempo as coisas podem melhorar e, quem sabe, as duas podem acabar se dando bem.
Após recolher tudo o que precisamos, voltamos para a sala. Eva está irada por causa dos rastros de bagunça que a orgia de Cary deixou. Até mesmo respingos de sangue no sofá claro. Ela esbraveja algumas injúrias e tento acalmá-la acariciando suas costas com as pontas dos dedos. Digo que é melhor eles conversarem quando ele estiver sóbrio, costuma dar mais certo assim.
Saímos do apartamento e pegamos o elevador. Estamos perto do carro quando lembro que esqueci o celular em cima da cama de Eva.
“Merda!”
“Que foi?” pergunta ela.
“Esqueci uma coisa”.
“Eu te dou as chaves e você sobe pra pegar”, ela começa a remexer a mochila em meus ombros, procurando por sua bolsa.
“Não precisa, tenho uma cópia”, sua cara de surpresa é tão impagável que abro um sorriso. “Fiz um jogo de chaves pra mim antes de devolver as suas”.
“Está falando sério?” pergunta chocada.
“Se você tivesse prestado atenção”, beijo seus cabelos, “teria visto que agora você também tem uma cópia das chaves da minha casa”.
Volto correndo pelo hall do prédio, saco a chave mestra no bolso e entro em um dos elevadores. Penso em tudo o que vivemos até aqui. Não foi fácil. Nossos sentimentos são fortes demais, profundos demais e nem sempre é possível lidar com isso de forma positiva, como no caso de nosso ciúme um do outro. O meu é motivado pela possessividade, o dela, pela insegurança. Quando passávamos por situações complicadas, recorríamos às técnicas primitivas. Eu me fechava e ela fugia. Sofremos abuso sexual quando éramos menores e tivemos que aprender a lidar com isso. Mas cada um foi marcado e reagiu de formas distintas diante dos traumas do passado. Eu me blindei contra o mundo, criando um campo de força em torno de mim. Eva se rebelou, mas ficou completamente destruída emocionalmente.
E aqui estamos nós. Juntos. Sei que teremos muitas barreiras para quebrar e muitos assuntos para resolver. Mas eu lutarei com todas as minhas forças por nós. Agora que finalmente encontrei o amor da minha vida, não estou disposto a perdê-lo.
O elevador para no andar de Eva. Entro em seu apartamento e corro para seu quarto. Meu celular está em cima da cama. Olho o visor e vejo que recebi uma mensagem de texto. É de Corinne:
*Oi, Gideon. Estou preocupada. Você saiu meio transtornado da festa e me deixou sem ao menos se despedir direito. Aconteceu alguma coisa? Por favor, me ligue. Beijos*
Suspiro. Vejo que será trabalhoso convencê-la de que somos apenas amigos. Terei muito tempo para isso, mas depois. Nesse momento eu só quero ter meu anjo em meus braços e amá-la por horas a fio.
Saio do prédio juntamente com uma senhora (arrumada demais para seu próprio bem) e dois poodles enormes muito bem escovados. Eva ainda está de pé, do lado de fora. Parece ter acordado de um transe.
“Vamos?”, pergunto abrindo a porta traseira da limusine.
Ela abre um sorriso luminoso. “Vamos”.
Assim que o carro arranca, eu a ponho em meu colo e a abraço forte.
“Tivemos uma noite difícil, mas conseguimos superar”, comento.
“Verdade, conseguimos”, diz jogando a cabeça para trás.
Ela me oferece seus belos lábios e eu os tomos com os meus avidamente, num beijo carregado de carinho e desejo.
Agarrando minha nuca, ela acaricia meus cabelos com os dedos. “Mal posso esperar a hora de ir pra cama”.
Solto um rugido de puro tesão e ataco seu pescoço com beijos e mordidas, trazendo de volta o clima de paz.
Não sei até quando irá durar, mas aproveitarei cada segundo...

EPÍLOGO A SEGUIR! NÃO DEIXEM DE  COMENTAR AQUI! QUERO SABER O QUE ACHARAM DESSE CAPÍTULO!

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