terça-feira, 28 de julho de 2015

Para Sempre Minha: Capítulo 9 — Via de Mão Dupla

ATENÇÃO: SEMPRE LEIAM AS NOTAS DOS CAPÍTULOS, POIS CONTÉM INFORMAÇÕES IMPORTANTES. NÃO VOU RESPONDER A NENHUMA PERGUNTA SOBRE O QUE EU JÁ TIVER DITO. 

E lá vamos nós com mais um capítulo! Boa leitura!



No amor felizmente a riqueza está na doação mútua. O que não significa que não haja luta: é preciso se doar o direito de receber amor.


— Clarice Lispector



Se há um ano o conceito de passar todas as noites na companhia de uma pessoa e ainda não se sentir plenamente satisfeito me fosse apresentado, eu provavelmente teria soltado uma estrondosa risada de escárnio. Porque seria irreal demais. Nunca passei mais tempo do que o necessário na companhia das mulheres com quem dormia. Não me preocupava em levá-las a encontros, assumi-las como namoradas. Corinne foi a única a se encaixar nessa categoria, e ainda sim, de forma incompleta porque nós nunca sequer dormimos juntos mesmo depois de quase três anos juntos. Estar com ela era cômodo. Ela não se intrometia em meus assuntos, se contentava com o que eu estava disposto a dar, tinha a aparência que me atraía, e fazia tudo o que eu queria fazer na cama, sem reclamar, e ainda pedia por mais. Mas havia sempre um vazio, um oco, um espaço em branco que nunca conseguia ser preenchido. Eu ainda preferia ficar sozinho que passar mais de três horas em sua companhia, mesmo quando gastávamos esse tempo fazendo sexo. Quando terminava, eu só queria ir para casa.

Mas aqui, deitado com meu anjo, depois de um sexo fantástico em que só tive que gozar e mais nada, assistindo TV enquanto ela recita sua coleção de frases bizarras de filmes, me fazendo rir como ninguém nunca foi capaz de fazer, tudo o que mais gostaria é não ter que sair daqui nunca mais. Estar em sua companhia é melhor que qualquer coisa no mundo, mesmo quando brigamos, não há nada que eu queira mais. Os momentos em nosso apartamento são sempre a melhor parte do meu dia. Ali nos sentimos livres para nos amar, sem as constantes interrupções das circunstâncias e das pessoas que insistem em querer nos ver separados. É como viver em nosso próprio mundo, onde não precisamos fingir. E saber que meu anjo deseja estar comigo tanto quando a recíproca é verdadeira, me faz ter esperança de que nossa relação possa avançar. Mas, mais do que isso, me dá a força necessária para continuar tentando. 


É impressionante e revigorante a influência que ela tem sobre mim. Quando Eva está bem, tudo está bem para mim. E ela sempre parece tão genuinamente feliz quando está ao meu lado, não pelo Gideon Cross que sou no trabalho ou com outras pessoas ao nosso redor, conhecidas ou não. Mas pelo Gideon que só mostro a ela, com todos os defeitos, traumas e medos que o acompanham. E ela o ama. Minha nossa, como ele é amado por essa mulher


As falas que Eva recita são do filme Um tira no jardim de infância, de crianças dizendo coisas constrangedoras para a professora. Eu só posso dar risada, e imaginar como seria.

“Ei”, ela diz “quero ver se vai achar graça quando os seus filhos disserem a mesma coisa pra professora sobre você”. 


“Como a única pessoa que diria isso pra eles seria você, não sei ao certo quem ia merecer apanhar”, rebato e me viro para continuar assistindo ao filme. 


O silêncio que se segue é ensurdecedor. 


Eva nunca escondeu o medo que tem de pensar em um futuro duradouro comigo, e isso é algo no qual temos que trabalhar, porque eu não planejo sair de cena tão cedo. Minha existência solitária foi totalmente esquecida no momento em que percebi que a amo. E eu quero tudo com ela. Casamento, que já está a caminho, nosso próprio lar, que ainda vamos discutir; e, claro, filhos, que ainda levarão um bom tempo para chegar. A ideia de ser responsável por um ser tão indefeso ainda me assusta. 


Decidindo diminuir a distância que se abriu entre nós, olho em sua direção, ponho minha mão sobre seu joelho, e lhe pergunto se ela ainda está com fome. 


Eva está encarando as caixas de comida chinesa que pedimos quase sem respirar. Ao ouvir minha voz, ela se vira para mim, mudando o semblante completamente. “Só de você”.

Sua mão vai direto para meu colo, bem em cima do meu membro profundamente adormecido, mas que vai acordar daqui a pouco. Aliviado por ter conseguido recuperar nossa sintonia anterior, me aproximo mais dela. 


“Você é uma mulher muito perigosa”, murmuro.


Em um movimento ágil, ela me beija e chupa meu lábio inferior. “Eu preciso ser”, murmura. “se não quiser perder você, meu moreno perigoso”.


Sorrio ao ser chamado assim. 


No entanto, ela tem que ligar para casa antes, ver como Cary e Monica ficaram depois de sua saída.

“Você está bem?” pergunto,


“Estou” ela apoia sua a cabeça no meu ombro. “Não existe nada melhor que um pouco de Gideon-terapia pra melhorar meu humor”.


“Você sabe que eu atendo em domicílio, né? Vinte e quatro horas por dia”, brinco
.

Ela crava seus dentes no meu braço, me causando um choque de excitação. “Vou lá cuidar disso e já volto pra fazer você gozar de novo”.


“Já estou satisfeito, obrigado”, respondo em um tom divertido.


“Mas ainda não brincamos com eles”, choraminga apontado para seus seios fartos e apetitosos orgulhosamente empinados pelo bojo do sutiã de renda.


Hum... Eu adoro esse belo par de peitos. 


Enfio o rosto no seu decote. “Ora, ora”, a ideia de tê-los em volta do meu pau tem muito apelo e altas chances de sucesso. 


Eva solta sua deliciosa risada e tenta me empurrar, mas estou um tanto relutante em me afastar dela agora. Deito-a no chão, no espaço entre o sofá e a mesinha de centro e fico por cima, suportando o peso do meu corpo com os braços. Meus olhos não conseguem parar seu percurso por aquele corpo delicioso embrulhado em um belo conjunto de lingerie vermelho vivo. A cor contrasta fortemente com seu tom de pele, apesar de ela estar um pouco bronzeada. Sua calcinha fio dental é tão pequena que mal cobre a fenda tentadora de sua seu sexo e suas coxas suculentas estão belamente adornadas pela cinta liga.


A ideia de chupa-la enquanto sentindo o leve arranhar desta cinta-liga no meu rosto eleva meu tesão. Nós definitivamente faremos isso a qualquer momento. 


 “Você é o meu amuleto da sorte”, falo.


 “Ah, é?” ela aperta meu bíceps.


“É” sem resistir passo minha língua pela pele lisa da curva superior de seus seios. “Você é magicamente deliciosa”. 


“Ai meu Deus!”, ela ri. “Que brega!”


Eu a olho com diversão. “Eu avisei que não entendia muito de romance”.


“Era mentira. Você é o cara mais romântico que eu já namorei. Ainda não acredito que você pendurou aquelas toalhas da CrossTrainer no seu banheiro”, ela empurra algumas mexas do meu cabelo para trás da minha orelha.


“O que mais eu poderia fazer? E estava falando sério quando disse que você me dá sorte” eu a beijo. “Eu estava tentando vender minha parte na sociedade de um cassino em Milão. Essas rosas chegaram bem no momento em que um comprador me ofereceu uma vinícola em Bordeaux em que eu estava de olho fazia tempo. E você nem imagina qual é o nome dela... La Rose Noir”.


“Uma vinícola por um cassino, é? Então você continua no ramo do sexo, dos vícios e da diversão”.


“Tudo pra satisfazer você, minha deusa do desejo, do prazer e das falas ridículas de filmes”.


Suas mãos passeiam pelas laterais do meu corpo e seus dedos se enfiam sob o elástico da minha cueca. “E quando é que eu vou experimentar esse vinho?”


“Quando trabalhar comigo na campanha publicitária que vamos fazer para ele”. 


Eu não poderia pensar em mais ninguém para fazer isso. Eva ainda irá trabalhar comigo. É só uma questão de tempo. 


Ela suspira. “Você não desiste mesmo, né?”.


“Quando quero de verdade uma coisa, não mesmo” me ajoelho para ajudá-la a se sentar. “E eu quero você. Muito. Demais”.


“Isso você já tem”, ela reproduz minhas palavras.


“Eu já tenho o seu coração e o seu corpo gostosíssimo. Agora quero o seu cérebro. Quero o pacote completo”.


“Eu preciso guardar alguma coisa só pra mim”, murmura.


“Não. Você pode ficar comigo, se quiser”, estendo a mão e agarro sua bunda gloriosa. “E, sinto muito informar, mas você vai sair perdendo na troca”.


“Não é nada fácil negociar com você.”


“Giroux ficou feliz com a negociação. Você também vai ficar, eu garanto”, comento.


“Giroux?” seus olhos se arregalam. “É um parente da Corinne?”


“É o marido dela. Mas eles estão separados, você sabe”, comento distraidamente.

“Qual é. Você tem negócios com o marido dela?”


Abro um sorriso malicioso me lembrando do quão fácil e rápida fora a nossa negociação. Gosto de negociar com pessoas que sabem o que querem. “Não tinha, foi o primeiro. E provavelmente o único, apesar de eu ter dito que estou envolvido com uma mulher especial... e que não é a dele”.


“O problema é que ela é apaixonada por você”, insiste.


“Ela nem me conhece” agarro sua nuca e escorrego meu nariz no seu e decido encerrar nossa conversa ali. “Vai lá ligar pro Cary. Eu arrumo tudo aqui. Depois a gente pode dar uns amassos”.


“Safado”, diz ela se desvencilhando de mim.


“Tarada”, tiro minhas mãos dela. Relutantemente devo ressaltar.


Ela se vira para procurar o celular em sua bolsa e meus olhos voam para sua cinta-liga. Sem que eu possa me conter, puxo as tirar de renda e solto, fazendo o elástico ricochetear em sua pele alva e sedosa. Eva pula de susto, mas posso ver como sua respiração muda. 


Excitada, meu anjo?


Ela sai de perto de mim com o telefone e segue em direção aos balcões da cozinha já conversando com Cary.


Observo seu andar gracioso e sensual e minha boca saliva. É altamente compreensível que eu não tenha vontade alguma de ficar longe dela. Viro meu rosto para a TV ainda ligada para dar-lhe um pouco de privacidade, mas não sei o que está passando. Minha cabeça está cheia de imagens de Eva e de nossas aventuras debaixo do chuveiro mais cedo. É impressionante o quanto Eva pode ser sensível e voraz ao mesmo tempo. 


Estou um tanto distraído, mas meus olhos instintivamente param em Eva, que agora tem uma expressão aflita no rosto enquanto me encara e fala com Cary. Minha expressão endurece e imediatamente me levanto, recolhendo as embalagens e os restos de comida e os jogando fora, tudo enquanto ouço atentamente à conversa.


“Você disse alguma coisa pra ela?”, Eva pergunta em voz baixa.


Ela para um segundo e prossegue. “O tipo de coisa que você não gostaria de contar pra uma jornalista, porque é isso que ela é”.


Na mesma hora, meu semblante se fecha ainda mais. Eu estou com raiva. Muita Raiva.


Maldita. Deanna. Johnson.


Passo por ela para jogar o saco de papel no compactador de lixo e retorno imediatamente, ficando do seu lado.


“Não, ela não é minha amiga. Não sei nem como ela conseguiu o meu telefone, a não ser que ela estivesse ligando da recepção”, cruzo os braços. Como aquela filha da mãe conseguiu o telefone da casa de Eva?

Cary deve ter perguntado o que a Johnson quer, porque Eva começa a explicar as intenções dela em escrever uma matéria me difamando e o adverte a não responder a nenhuma pergunta que ela faça, caso entrar em contato novamente.


Os dois trocam mais algumas palavras e, em seguida, Eva encerra a ligação.


“Deanna Johnson ligou na sua casa?”, pergunto.


“Sim. E eu vou ligar pra ela”, responde.


“Não vai, não”, rebato. Esse assunto tem de ser resolvido por mim.


“Pode parar com esse papo de troglodita. Não estou a fim desse seu ‘mim Cross, você mulher de Cross’”, esbraveja. “Caso você já tenha se esquecido, a gente fez um acordo. Eu sou sua, e você é meu. Só estou protegendo o que é meu”.


Eu não preciso de proteção. Nunca precisei. “Eva, não queira comprar as minhas brigas. Eu sei me cuidar sozinho”.


“Eu sei disso. Foi o que você fez a vida inteira. Mas agora eu estou com você. Então pode deixar que eu cuido dessa”.


Suas palavras me tocam profundamente, remetendo aos dias que passamos na Carolina do Norte, quando ela disse muito claramente que confia em mim. Aquelas palavras significaram muito, mudaram minha vida. E agora, mesmo estando com sua confiança em mim abalada, nada mudou. Sua voracidade em me defender, como quando ela enfrentou minha mãe no clube, e bateu de frente com Corinne e Terrence Lucas, continua tão forte quanto antes. Eva leva seu amor por mim tão seriamente, que está disposta a enfrentar meus demônios com ou sem minha permissão. Por outro lado, uma vez que ela tiver contato direto com eles, o risco de perdê-la se torna mais palpável.


“Não quero expor você aos problemas do meu passado”, argumento. Não posso afundá-la nisso. Ela pode até mostrar que é forte o bastante para lidar com eles, mas até que ponto. 


“Você cuidou do meu”, aponta.


“Não é a mesma coisa”.


Deanna é só uma jornalista de orgulho ferido que quer sua vingança. Ela não é uma ameaça de alta periculosidade como Nathan.


“Uma ameaça é uma ameaça, garotão. Estamos nessa juntos. Ela veio atrás de mim, então eu sou a sua melhor aliada pra descobrir o que ela anda aprontando”, insiste.


Ergo minha mão, tentado a bater em alguma coisa, mas apenas a passo pelos cabelos. Mulher teimosa do caralho. “Foda-se o que ela anda aprontando Você sabe a verdade, e é isso o que importa”.


“Eu não vou ficar parada enquanto ela queima você na imprensa, pode esquecer!” seus olhos se fecham em fendas.


“Ela só pode me atingir se atingir você, e talvez seja isso que ela esteja tentando fazer”, a primeira regra da vingança é achar os pontos fracos do algoz. E Deanna sabe muito bem disso, assim como sabe que Eva é o meu ponto fraco.


“Isso nós só vamos saber quando eu falar com ela”, Eva pega uma espécie de cartão de visita de sua bolsa e o celular.


“Puta que pariu, Eva!” esbravejo. Essa diaba sabe me tirar do sério.


Depois de mexer no aparelho, ela o coloca sobre o balcão, ligando o viva-voz.

Deanna Johnson”, ela atende no segundo toque.


“Deanna, é Eva Tramell”.


Oi, Eva”, seu tom de voz muda, como se estivesse falando com uma amiga de infância. “Como vai?


“Vou bem, e você?” ela me encara, como se esperasse que eu reagisse ao ouvir a voz de Deanna, mas tudo o que consigo pensar é em deitar minha deliciosa namorada em meus joelhos e estapear tanto sua bunda empinada, que ela seria incapaz de se sentar por uma semana.


 “As coisas estão aparecendo. Na área em que trabalho, isso é sempre bom”.


“Então você está descobrindo o que queria”, Eva diz em tom de deboche.


“Aliás, foi por isso que eu liguei. Uma fonte minha afirma que Gideon flagrou você em um ménage com o seu colega de quarto e mais um cara, e ficou furioso. O cara foi parar no hospital, e agora está abrindo um processo. É verdade?”


Imediatamente sinto meu corpo retesar. Eva olha para mim em estado de choque e tudo o que encontra é a habitual máscara de frieza em meu rosto. Eu ia contar a Eva sobre Ian, mas a jornalista chegou na frente. E o fato de ela saber algo sobre isso me faz pensar que eu não deveria estar tão despreocupado com suas tentativas em acabar com minha imagem. 


“Não, não é verdade”, Eva responde.


Que parte?”


“Não tenho mais nada para dizer a você”.


Também tenho um relato de uma testemunha ocular de uma briga entre Gideon e Brett Kline, supostamente por ter pegado você aos beijos com Kline. Isso é verdade?


Eva aperta a beirada do balcão de pedra até os seus dedos ficarem pálidos. E eu sinto como se tivesse levado um soco no estomago ao me lembrar daquele dia.


O seu colega de quarto foi atacado recentemente”, Deanna continua. “Gideon teve alguma coisa a ver com isso?”


Franzo o cenho. Essa desgraçada estava disposta a acabar comigo e não pouparia esforços para isso.


“Você é maluca”, Eva rebate friamente.


No vídeo da sua discussão com Gideon no Bryant Park, ele tem uma atitude bastante agressiva, inclusive fisicamente. Você tem uma relação violenta com Gideon Cross? Ele não consegue controlar o próprio temperamento? Você tem medo dele, Eva?


Chega.



Deanna Johnson tem que cair.



Se ela quer bater de frente comigo, ela irá. E vai pensar duas vezes antes de sair vomitando histórias inverídicas e manipuladas ao meu respeito.



Determinado, saio da cozinha, me desligando de qualquer coisa que Eva e Deanna estejam falando. Vou para o escritório e pego o headphone. Coloco-o e digito um número conhecido.



Senhor Cross”, atende prontamente.



“Eu quero que você monitore todos os passos de Deanna Johnson. Descubra tudo o que puder sobre ela, monitore todas as suas fontes de comunicação: celular, tablet, computador. Faça uma varredura em seus emails. Ficarei sabendo de tudo, absolutamente tudo o que ela souber”.



Sim senhor”.



Ele diz mais algumas coisas, mas meu corpo me alerta para a presença de Eva. Paro de andar pelo escritório e me viro para encará-la. Ela parece meio pálida e bastante chateada. Prevejo uma conversa complicada entre nós. Ela se afasta a tempo de eu dar mais algumas instruções antes de desligar. Em seguida, ligo para meu advogado lhe dou ordens de ligar para o advogado de Ian para marcar a reunião para a data mais próxima possível. Não darei tempo de Deanna agir sobre isso.



Quando eu era indefeso, não havia ninguém que pudesse ouvir meus pedidos de socorro, ninguém que simplesmente me pegasse no colo, me salvasse e dissesse que tudo ficaria bem. E, quando resolvi gritar mais alto, pensando que finalmente teria alguém para me proteger, acabei sendo rejeitado. Pelo meu próprio sangue. A confiança no próximo, que já estava ruída pelo suicídio de meu pai, fora quebrada ali.

Por isso não estou acostumado a ter alguém me defendendo. Eu me conformei em passar a vida inteira por minha própria conta, lutando minhas próprias batalhas e acabei me habituando a resolver meus problemas sem contar com reforços. E isso me deixou mais forte. E cada vez mais solitário.


É difícil conceber a ideia de dividir a carga, por assim dizer. Sei que Eva acha que tem que comprar minhas brigas, mas não consigo ceder. Se por um lado eu ame a ideia de ser tão importante, e de significar tanto para alguém, por outro, eu não quero que a coisa mais importante da minha vida, a melhor parte dela, a única que vale a pena proteger com unhas e dentes, seja atingida pelas consequências do meu passado.

Ao desligar com o advogado, retorno para a sala, mais tranquilo, embora ainda tenso. Eva está sentada no sofá com meu tablet nas mãos.



“Anjo”, digo.



Ela olha para mim, esperando que eu diga algo.



“A senha”, explico. “É anjo”.



Sua expressão mostra claramente seu cansaço. “Você devia ter me contado sobre o processo, Gideon”.



“Na verdade ainda não é um processo, é só uma notificação extrajudicial”, digo sem me alterar. “Ian Hager quer dinheiro, e eu quero sigilo. Vamos nos sentar entre quatro paredes e resolver isso”.



Ando até Eva e observo atentamente suas reações. Mais do que cansada, ela está chateada, e isso não me agrada em nada. Lá se vai nosso momento de paz.



“Não me interessa se o processo ainda não está na justiça”, rebate. “Você tinha que ter me contado”.



Cruzo os braços na defensiva. “Eu ia”.



“Você ia?” Ela se levanta. “Você viu como eu fiquei porque a minha mãe fez uma coisa sem me contar, e mesmo assim não abriu a boca pra falar dos seus segredos?”



Tento manter-me impassível, mas não consigo, não quando a mágoa pelas atitudes de sua mãe vem à superfície.



“Porra”, solto entre dentes, “Eu vim pra casa mais cedo com a intenção de conversar justamente sobre isso, mas aí você me contou sobre a sua mãe, e imaginei que já era dor de cabeça demais pra um só dia”.



Eva senta pesadamente no sofá. “Não é assim que as coisas funcionam em um

relacionamento, garotão”.



“Eu acabei de conseguir você de volta, Eva. Não quero passar todo o nosso tempo juntos falando apenas sobre o que está errado e fodido na nossa vida!”



Nossos momentos de privacidade e felicidade são tão raros que faço da minha prioridade preservá-los. É tanta merda vindo de todos os lados, tantas pessoas querendo nos derrubar, tentando destruir o que estamos construindo.



Ela dá um tapinha na almofada ao seu lado, me convidando para sentar, mas ao invés disso, sento na mesinha de centro e a envolvo com minhas pernas abertas, pego suas mãos e as beijo carinhosamente. “Me desculpe”.


 “Eu entendo você. Mas, se tem alguma coisa pra me falar, é melhor dizer agora”, diz com a voz mais branda, e eu sei que fui perdoado.



Olhando para seu belo rosto, tudo o que tenho em mente é o amor infinito que sinto por essa mulher. Inclino-me para frente, puxando-a um pouco para fora do sofá. Quando estamos com os rostos quase colados, eu sussurro como se tivesse medo de alguém me escutasse. “Sou apaixonado por você”.



Ela sorri, desvencilha suas mãos das minhas, e segura meu rosto dos dois lados. Seus brilhantes olhos verde-acinzentados dizem claramente que sou correspondido. Em seguida, ela me beija.



Momentos raros e especiais como este me dão a força que preciso para lutar por nós. Em toda a minha vida, tudo o que consegui, conquistei com muita luta. Confrontos não me assustam. Se eu tiver que encarar tempestades e matar leões todos os dias para ter Eva ao meu lado, que assim seja.



...



Narrador



O predador é um ser naturalmente dominante. Seu tamanho é irrelevante, desde que ele use as habilidades certas para capturar sua preza. E era assim que Deanna se sentia naquele momento, após Eva desligar o telefone em sua cara.



Ela era uma predadora pronta para atacar a maior preza de sua vida. A que mais desejara, e a que perseguira por anos a fio.



Eva era só uma isca, apesar de arredia, não era uma ameaça. Não sabia lidar com situações em que se sentia pressionada. E percebeu isso quando perguntou sobre a briga entre Gideon e Brett, a única de suas especulações que ela não conseguiu negar. Poderia ladrar, mas não morder. E era nítido que ainda era apaixonada por Gideon, mesmo depois do término.



Mas também, quem não se apaixonaria?



A própria Deanna não havia o esquecido. Perdera as contas das noites em que acordara excitada após sonhar com aquele corpo volumoso e espetacular se movimentando em cima do seu, suas mãos grandes percorrendo cobiçosamente sua pele arrepiada e sensível, sua boca chupando avidamente seus mamilos rijos e intumescidos, seu membro duro, grande e grosso roçando precisamente seu clitóris inchado e necessitado.



Ela sentiu sua calcinha molhar de desejo ao se lembrar desses sonhos. E se xingou por isso. Era sempre assim quando se tratava de Gideon Cross: uma mistura de paixão e ódio. Mas o ódio tinha que prevalecer.



O que Deanna não imaginava é que não era a única a ter essa sensação.



E que não era a única predadora no rastro de sua preza. 


E aí? O que acharam? Mal posso esperar para ler os comentários de vocês!
Então, vamos aos recadinhos!


1º) Só para deixar claro de uma vez por todas: SIM, EU VOU TERMINAR DE ESCREVER O PARA SEMPRE MINHA! Não é porque estou escrevendo as Outtakes do livro 4 que vou largar esta aqui.  Muita gente tem me questionado sobre isso e eu tenho sempre que ficar esclarecendo que vou continuar a escrever. E eu venho avisando isso desde o fim de ‘Profundamente Minha’, lembram? Posso demorar com os capítulos, mas isso não significa que abandonei a história, ok?




2º) Aproveito este espaço para anunciar que acabei de lançar meu primeiro trabalho original na Amazon! Yes! Para quem estava me cobrando algo inédito, sim ele chegou! É um conto que escrevi para o concurso Brasil em Prosa, uma parecia da Amazon com o jornal O Globo e a Samsung. Chama-se ‘Um Dia’ e é diferente de tudo o que tenho feito. Não posso deixar um trecho dele nem nada, porque está nas regras, mas vou deixar a sinopse e o link de compra. Tá só por R$ 1,99. Significaria muito para mim se vocês pudessem adquiri-lo e, depois da leitura, votassem lá na página da Amazon sobre o que vocês acharam. Espero poder contar com minhas queridas leitoras nessa empreitada.

Sinopse: Todas as suas lembranças foram permanentemente apagadas.  E ela é a única luz em meio à escuridão.  Tudo o que sabia é que só a soltaria quando ela lhe soltasse.




Obrigada pelo carinho e apoio de sempre! Beijo grande e até a próxima!
 

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