ATENÇÃO: SEMPRE LEIAM AS NOTAS DOS CAPÍTULOS, POIS CONTÉM INFORMAÇÕES IMPORTANTES. NÃO VOU RESPONDER A NENHUMA PERGUNTA SOBRE O QUE EU JÁ TIVER DITO.E lá vamos nós com mais um capítulo! Boa leitura!
No amor felizmente a riqueza está na doação mútua. O que não significa
que não haja luta: é preciso se doar o direito de receber amor.
— Clarice Lispector
Se há um ano o conceito de passar todas as noites na
companhia de uma pessoa e ainda não se sentir plenamente satisfeito me fosse
apresentado, eu provavelmente teria soltado uma estrondosa risada de escárnio.
Porque seria irreal demais. Nunca passei mais tempo do que o necessário na
companhia das mulheres com quem dormia. Não me preocupava em levá-las a
encontros, assumi-las como namoradas. Corinne foi a única a se encaixar nessa
categoria, e ainda sim, de forma incompleta porque nós nunca sequer dormimos juntos
mesmo depois de quase três anos juntos. Estar com ela era cômodo. Ela não se
intrometia em meus assuntos, se contentava com o que eu estava disposto a dar,
tinha a aparência que me atraía, e fazia tudo o que eu queria fazer na cama,
sem reclamar, e ainda pedia por mais. Mas havia sempre um vazio, um oco, um
espaço em branco que nunca conseguia ser preenchido. Eu ainda preferia ficar
sozinho que passar mais de três horas em sua companhia, mesmo quando gastávamos
esse tempo fazendo sexo. Quando terminava, eu só queria ir para casa.
Mas aqui, deitado com meu anjo,
depois de um sexo fantástico em que só tive que gozar e mais nada, assistindo
TV enquanto ela recita sua coleção de frases bizarras de filmes, me fazendo rir
como ninguém nunca foi capaz de fazer, tudo o que mais gostaria é não ter que
sair daqui nunca mais. Estar em sua companhia é melhor que qualquer coisa no
mundo, mesmo quando brigamos, não há nada que eu queira mais. Os momentos em nosso apartamento são sempre a melhor
parte do meu dia. Ali nos sentimos livres para nos amar, sem as constantes
interrupções das circunstâncias e das pessoas que insistem em querer nos ver
separados. É como viver em nosso próprio mundo, onde não precisamos fingir. E
saber que meu anjo deseja estar comigo tanto quando a recíproca é verdadeira,
me faz ter esperança de que nossa relação possa avançar. Mas, mais do que isso,
me dá a força necessária para continuar tentando.
É impressionante e revigorante a influência que ela tem
sobre mim. Quando Eva está bem, tudo está bem para mim. E ela sempre parece tão
genuinamente feliz quando está ao meu lado, não pelo Gideon Cross que sou no
trabalho ou com outras pessoas ao nosso redor, conhecidas ou não. Mas pelo
Gideon que só mostro a ela, com todos os defeitos, traumas e medos que o
acompanham. E ela o ama. Minha nossa,
como ele é amado por essa mulher.
As falas que Eva recita são do filme Um tira no jardim de
infância, de crianças dizendo coisas constrangedoras para a professora. Eu só
posso dar risada, e imaginar como seria.
“Ei”, ela diz “quero ver se vai achar graça quando os seus
filhos disserem a mesma coisa pra professora sobre você”.
“Como a única pessoa que diria isso pra eles seria você, não
sei ao certo quem ia merecer apanhar”, rebato e me viro para continuar assistindo
ao filme.
O silêncio que se segue é ensurdecedor.
Eva nunca escondeu o medo que tem de pensar em um futuro
duradouro comigo, e isso é algo no qual temos que trabalhar, porque eu não planejo
sair de cena tão cedo. Minha existência solitária foi totalmente esquecida no
momento em que percebi que a amo. E eu quero tudo com ela. Casamento, que já
está a caminho, nosso próprio lar, que ainda vamos discutir; e, claro, filhos,
que ainda levarão um bom tempo para chegar. A ideia de ser responsável por um
ser tão indefeso ainda me assusta.
Decidindo diminuir a distância que se abriu entre nós, olho
em sua direção, ponho minha mão sobre seu joelho, e lhe pergunto se ela ainda
está com fome.
Eva está encarando as caixas de comida chinesa que pedimos
quase sem respirar. Ao ouvir minha voz, ela se vira para mim, mudando o
semblante completamente. “Só de você”.
Sua mão vai direto para meu colo, bem em cima do meu membro
profundamente adormecido, mas que vai acordar daqui a pouco. Aliviado por ter
conseguido recuperar nossa sintonia anterior, me aproximo mais dela.
“Você é uma mulher muito perigosa”, murmuro.
Em um movimento ágil, ela me beija e chupa meu lábio
inferior. “Eu preciso ser”, murmura. “se não quiser perder você, meu moreno
perigoso”.
Sorrio ao ser chamado assim.
No entanto, ela tem que ligar para casa antes, ver como Cary
e Monica ficaram depois de sua saída.
“Você está bem?” pergunto,
“Estou” ela apoia sua a cabeça no meu ombro. “Não existe
nada melhor que um pouco de Gideon-terapia pra melhorar meu humor”.
“Você sabe que eu atendo em domicílio, né? Vinte e quatro
horas por dia”, brinco
.
Ela crava seus dentes no meu braço, me causando um choque de
excitação. “Vou lá cuidar disso e já volto pra fazer você gozar de novo”.
“Já estou satisfeito, obrigado”, respondo em um tom
divertido.
“Mas ainda não brincamos com eles”, choraminga apontado para
seus seios fartos e apetitosos orgulhosamente empinados pelo bojo do sutiã de
renda.
Hum... Eu adoro esse belo par de peitos.
Enfio o rosto no seu decote. “Ora, ora”, a ideia de tê-los
em volta do meu pau tem muito apelo e altas chances de sucesso.
Eva solta sua deliciosa risada e tenta me empurrar, mas
estou um tanto relutante em me afastar dela agora. Deito-a no chão, no espaço
entre o sofá e a mesinha de centro e fico por cima, suportando o peso do meu
corpo com os braços. Meus olhos não conseguem parar seu percurso por aquele
corpo delicioso embrulhado em um belo conjunto de lingerie vermelho vivo. A cor
contrasta fortemente com seu tom de pele, apesar de ela estar um pouco
bronzeada. Sua calcinha fio dental é tão pequena que mal cobre a fenda
tentadora de sua seu sexo e suas coxas suculentas estão belamente adornadas
pela cinta liga.
A ideia de chupa-la enquanto sentindo o leve arranhar desta
cinta-liga no meu rosto eleva meu tesão. Nós definitivamente faremos isso a
qualquer momento.
“Você é o meu amuleto
da sorte”, falo.
“Ah, é?” ela aperta
meu bíceps.
“É” sem resistir passo minha língua pela pele lisa da curva
superior de seus seios. “Você é magicamente deliciosa”.
“Ai meu Deus!”, ela ri. “Que brega!”
Eu a olho com diversão. “Eu avisei que não entendia muito de
romance”.
“Era mentira. Você é o cara mais romântico que eu já
namorei. Ainda não acredito que você pendurou aquelas toalhas da CrossTrainer
no seu banheiro”, ela empurra algumas mexas do meu cabelo para trás da minha
orelha.
“O que mais eu poderia fazer? E estava falando sério quando
disse que você me dá sorte” eu a beijo. “Eu estava tentando vender minha parte
na sociedade de um cassino em Milão. Essas rosas chegaram bem no momento em que
um comprador me ofereceu uma vinícola em Bordeaux em que eu estava de olho
fazia tempo. E você nem imagina qual é o nome dela... La Rose Noir”.
“Uma vinícola por um cassino, é? Então você continua no ramo
do sexo, dos vícios e da diversão”.
“Tudo pra satisfazer você, minha deusa do desejo, do prazer
e das falas ridículas de filmes”.
Suas mãos passeiam pelas laterais do meu corpo e seus dedos
se enfiam sob o elástico da minha cueca. “E quando é que eu vou experimentar
esse vinho?”
“Quando trabalhar comigo na campanha publicitária que vamos
fazer para ele”.
Eu não poderia pensar em mais ninguém para fazer isso. Eva
ainda irá trabalhar comigo. É só uma questão de tempo.
Ela suspira. “Você não desiste mesmo, né?”.
“Quando quero de verdade uma coisa, não
mesmo” me ajoelho para ajudá-la a se sentar. “E eu quero você. Muito. Demais”.
“Isso você já tem”, ela reproduz minhas
palavras.
“Eu já tenho o seu coração e o seu
corpo gostosíssimo. Agora quero o seu cérebro. Quero o pacote completo”.
“Eu preciso guardar alguma coisa só pra
mim”, murmura.
“Não. Você pode ficar comigo, se quiser”,
estendo a mão e agarro sua bunda gloriosa. “E, sinto muito informar, mas você
vai sair perdendo na troca”.
“Não é nada fácil negociar com você.”
“Giroux ficou feliz com a negociação.
Você também vai ficar, eu garanto”, comento.
“Giroux?” seus olhos se arregalam. “É
um parente da Corinne?”
“É o marido dela. Mas eles estão
separados, você sabe”, comento distraidamente.
“Qual é. Você tem negócios com o marido
dela?”
Abro um sorriso malicioso me lembrando
do quão fácil e rápida fora a nossa negociação. Gosto de negociar com pessoas
que sabem o que querem. “Não tinha, foi o primeiro. E provavelmente o único,
apesar de eu ter dito que estou envolvido com uma mulher especial... e que não
é a dele”.
“O problema é que ela é apaixonada por
você”, insiste.
“Ela nem me conhece” agarro sua nuca e
escorrego
meu nariz no seu e decido encerrar nossa conversa ali. “Vai
lá ligar pro Cary. Eu arrumo tudo aqui. Depois a gente pode dar uns amassos”.
“Safado”, diz ela se desvencilhando de
mim.
“Tarada”, tiro minhas mãos dela.
Relutantemente devo ressaltar.
Ela se vira para procurar o celular em
sua bolsa e meus olhos voam para sua cinta-liga. Sem que eu possa me conter,
puxo as tirar de renda e solto, fazendo o elástico ricochetear em sua pele alva
e sedosa. Eva pula de susto, mas posso ver como sua respiração muda.
Excitada,
meu anjo?
Ela sai de perto de mim com o telefone e segue em direção
aos balcões da cozinha já conversando com Cary.
Observo seu andar gracioso e sensual e minha boca saliva. É
altamente compreensível que eu não tenha vontade alguma de ficar longe dela.
Viro meu rosto para a TV ainda ligada para dar-lhe um pouco de privacidade, mas
não sei o que está passando. Minha cabeça está cheia de imagens de Eva e de
nossas aventuras debaixo do chuveiro mais cedo. É impressionante o quanto Eva
pode ser sensível e voraz ao mesmo tempo.
Estou um tanto distraído, mas meus olhos instintivamente
param em Eva, que agora tem uma expressão aflita no rosto enquanto me encara e
fala com Cary. Minha expressão endurece e imediatamente me levanto, recolhendo
as embalagens e os restos de comida e os jogando fora, tudo enquanto ouço
atentamente à conversa.
“Você disse alguma coisa pra ela?”, Eva pergunta em voz
baixa.
Ela para um segundo e prossegue. “O tipo de coisa que você
não gostaria de contar pra uma jornalista, porque é isso que ela é”.
Na mesma hora, meu semblante se fecha ainda mais. Eu estou
com raiva. Muita Raiva.
Maldita.
Deanna. Johnson.
Passo por ela para jogar o saco de papel no compactador de
lixo e retorno imediatamente, ficando do seu lado.
“Não, ela não é minha amiga. Não sei nem como ela conseguiu
o meu telefone, a não ser que ela estivesse ligando da recepção”, cruzo os
braços. Como aquela filha da mãe conseguiu o telefone da casa de Eva?
Cary deve ter perguntado o que a Johnson quer, porque Eva
começa a explicar as intenções dela em escrever uma matéria me difamando e o adverte
a não responder a nenhuma pergunta que ela faça, caso entrar em contato
novamente.
Os dois trocam mais algumas palavras e, em seguida, Eva
encerra a ligação.
“Deanna Johnson ligou na sua casa?”,
pergunto.
“Sim. E eu vou ligar pra ela”, responde.
“Não vai, não”, rebato. Esse assunto tem de ser resolvido
por mim.
“Pode parar com esse papo de troglodita. Não estou a fim
desse seu ‘mim Cross, você mulher de Cross’”, esbraveja. “Caso você já tenha se
esquecido, a gente fez um acordo. Eu sou sua, e você é meu. Só estou protegendo
o que é meu”.
Eu não preciso de proteção. Nunca precisei. “Eva, não queira
comprar as minhas brigas. Eu sei me cuidar sozinho”.
“Eu sei disso. Foi o que você fez a vida inteira. Mas agora
eu estou com você. Então pode deixar que eu cuido dessa”.
Suas palavras me tocam profundamente, remetendo aos dias que
passamos na Carolina do Norte, quando ela disse muito claramente que confia em
mim. Aquelas palavras significaram muito, mudaram minha vida. E agora, mesmo
estando com sua confiança em mim abalada, nada mudou. Sua voracidade em me
defender, como quando ela enfrentou minha mãe no clube, e bateu de frente com
Corinne e Terrence Lucas, continua tão forte quanto antes. Eva leva seu amor
por mim tão seriamente, que está disposta a enfrentar meus demônios com ou sem
minha permissão. Por outro lado, uma vez que ela tiver contato direto com eles,
o risco de perdê-la se torna mais palpável.
“Não quero expor você aos problemas do meu passado”,
argumento. Não posso afundá-la nisso. Ela pode até mostrar que é forte o
bastante para lidar com eles, mas até que ponto.
“Você cuidou do meu”, aponta.
“Não é a mesma coisa”.
Deanna é só uma jornalista de orgulho ferido que quer sua
vingança. Ela não é uma ameaça de alta periculosidade como Nathan.
“Uma ameaça é uma ameaça, garotão. Estamos nessa juntos. Ela
veio atrás de mim, então eu sou a sua melhor aliada pra descobrir o que ela
anda aprontando”, insiste.
Ergo minha mão, tentado a bater em alguma coisa, mas apenas
a passo pelos cabelos. Mulher teimosa do caralho. “Foda-se o que ela anda
aprontando Você sabe a verdade, e é isso o que importa”.
“Eu não vou ficar parada enquanto ela queima você na
imprensa, pode esquecer!” seus olhos se fecham em fendas.
“Ela só pode me atingir se atingir você, e talvez seja isso
que ela esteja tentando fazer”, a primeira regra da vingança é achar os pontos
fracos do algoz. E Deanna sabe muito bem disso, assim como sabe que Eva é o meu
ponto fraco.
“Isso nós só vamos saber quando eu falar com ela”, Eva pega
uma espécie de cartão de visita de sua bolsa e o celular.
“Puta que pariu, Eva!” esbravejo. Essa diaba sabe me tirar
do sério.
Depois de mexer no aparelho, ela o coloca sobre o balcão,
ligando o viva-voz.
“Deanna Johnson”,
ela atende no segundo toque.
“Deanna, é Eva Tramell”.
“Oi, Eva”, seu tom
de voz muda, como se estivesse falando com uma amiga de infância. “Como vai?”
“Vou bem, e você?” ela me encara, como se esperasse que eu
reagisse ao ouvir a voz de Deanna, mas tudo o que consigo pensar é em deitar
minha deliciosa namorada em meus joelhos e estapear tanto sua bunda empinada,
que ela seria incapaz de se sentar por uma semana.
“As coisas estão aparecendo. Na área em que trabalho, isso é sempre bom”.
“Então você está descobrindo o que queria”, Eva diz em tom
de deboche.
“Aliás, foi por isso que eu liguei. Uma fonte minha afirma
que Gideon flagrou você em um ménage com o seu colega de quarto e mais
um cara, e ficou furioso. O cara foi parar no hospital, e agora está abrindo um
processo. É verdade?”
Imediatamente sinto meu corpo retesar. Eva olha para mim em
estado de choque e tudo o que encontra é a habitual máscara de frieza em meu
rosto. Eu ia contar a Eva sobre Ian, mas a jornalista chegou na frente. E o
fato de ela saber algo sobre isso me faz pensar que eu não deveria estar tão
despreocupado com suas tentativas em acabar com minha imagem.
“Não, não é verdade”, Eva responde.
“Que parte?”
“Não tenho mais nada para dizer a você”.
“Também tenho um relato de uma testemunha ocular de
uma briga entre Gideon e Brett Kline, supostamente por
ter pegado você aos beijos com Kline. Isso é verdade?”
Eva aperta a beirada do balcão de pedra até
os seus dedos ficarem pálidos. E eu sinto como se tivesse levado um soco no
estomago ao me lembrar daquele dia.
“O seu colega de
quarto foi atacado recentemente”, Deanna continua. “Gideon teve alguma coisa a ver com isso?”
Franzo o cenho. Essa desgraçada estava
disposta a acabar comigo e não pouparia esforços para isso.
“Você
é maluca”, Eva rebate friamente.
“No vídeo da sua
discussão com Gideon no Bryant Park, ele tem uma atitude bastante agressiva,
inclusive fisicamente. Você tem uma relação violenta com Gideon Cross? Ele não
consegue controlar o próprio temperamento? Você tem medo dele, Eva?”
Chega.
Deanna Johnson tem que cair.
Se ela quer bater de frente comigo, ela irá. E vai pensar
duas vezes antes de sair vomitando histórias inverídicas e manipuladas ao meu
respeito.
Determinado, saio da cozinha, me desligando de qualquer
coisa que Eva e Deanna estejam falando. Vou para o escritório e pego o
headphone. Coloco-o e digito um número conhecido.
“Senhor Cross”, atende prontamente.
“Eu quero que você monitore todos os passos de Deanna
Johnson. Descubra tudo o que puder sobre ela, monitore todas as suas fontes de
comunicação: celular, tablet, computador. Faça uma varredura em seus emails.
Ficarei sabendo de tudo, absolutamente tudo o que ela souber”.
“Sim senhor”.
Ele diz mais algumas coisas, mas meu corpo me alerta para a
presença de Eva. Paro de andar pelo escritório e me viro para encará-la. Ela
parece meio pálida e bastante chateada. Prevejo uma conversa complicada entre
nós. Ela se afasta a tempo de eu dar mais algumas instruções antes de desligar.
Em seguida, ligo para meu advogado lhe dou ordens de ligar para o advogado de
Ian para marcar a reunião para a data mais próxima possível. Não darei tempo de
Deanna agir sobre isso.
Quando eu era indefeso, não havia ninguém que pudesse ouvir
meus pedidos de socorro, ninguém que simplesmente me pegasse no colo, me
salvasse e dissesse que tudo ficaria bem. E, quando resolvi gritar mais alto,
pensando que finalmente teria alguém para me proteger, acabei sendo rejeitado.
Pelo meu próprio sangue. A confiança no próximo, que já estava ruída pelo
suicídio de meu pai, fora quebrada ali.
Por isso não estou acostumado a ter alguém me defendendo. Eu
me conformei em passar a vida inteira por minha própria conta, lutando minhas
próprias batalhas e acabei me habituando a resolver meus problemas sem contar
com reforços. E isso me deixou mais forte. E cada vez mais solitário.
É difícil conceber a ideia de dividir a carga, por assim
dizer. Sei que Eva acha que tem que comprar minhas brigas, mas não consigo
ceder. Se por um lado eu ame a ideia de ser tão importante, e de significar
tanto para alguém, por outro, eu não quero que a coisa mais importante da minha
vida, a melhor parte dela, a única que vale a pena proteger com unhas e dentes,
seja atingida pelas consequências do meu passado.
Ao desligar com o advogado, retorno para a sala, mais
tranquilo, embora ainda tenso. Eva está sentada no sofá com meu tablet nas
mãos.
“Anjo”, digo.
Ela olha para mim, esperando que eu diga algo.
“A senha”, explico. “É anjo”.
Sua expressão mostra claramente seu cansaço. “Você
devia
ter
me contado sobre o processo, Gideon”.
“Na verdade ainda não é um processo, é só uma notificação
extrajudicial”, digo sem me alterar. “Ian Hager quer dinheiro, e eu quero
sigilo. Vamos nos sentar entre quatro paredes e resolver isso”.
Ando até Eva e observo atentamente suas reações. Mais do que
cansada, ela está chateada, e isso não me agrada em nada. Lá se vai nosso
momento de paz.
“Não me interessa se o processo ainda não está na justiça”,
rebate. “Você tinha que ter me contado”.
Cruzo os braços na defensiva. “Eu ia”.
“Você ia?” Ela se levanta. “Você viu como eu fiquei
porque a minha mãe fez uma coisa sem me contar, e mesmo assim não abriu a boca
pra falar dos seus segredos?”
Tento manter-me impassível, mas não consigo, não quando a
mágoa pelas atitudes de sua mãe vem à superfície.
“Porra”, solto entre dentes, “Eu vim pra casa mais cedo com
a intenção de conversar justamente sobre isso, mas aí você me contou sobre a
sua mãe, e imaginei que já era dor de cabeça demais pra um só dia”.
Eva senta pesadamente no sofá. “Não é assim que as coisas
funcionam em um
relacionamento, garotão”.
“Eu acabei de conseguir você de volta, Eva. Não quero passar
todo o nosso tempo juntos falando apenas sobre o que está errado e fodido na
nossa vida!”
Nossos momentos de privacidade e felicidade são tão raros
que faço da minha prioridade preservá-los. É tanta merda vindo de todos os
lados, tantas pessoas querendo nos derrubar, tentando destruir o que estamos
construindo.
Ela dá um tapinha na almofada ao seu lado, me convidando
para sentar, mas ao invés disso, sento na mesinha de centro e a envolvo com
minhas pernas abertas, pego suas mãos e as beijo carinhosamente. “Me desculpe”.
“Eu entendo você.
Mas, se tem alguma coisa pra me falar, é melhor dizer agora”, diz com a voz
mais branda, e eu sei que fui perdoado.
Olhando para seu belo rosto, tudo o que tenho em mente é o
amor infinito que sinto por essa mulher. Inclino-me para frente, puxando-a um
pouco para fora do sofá. Quando estamos com os rostos quase colados, eu
sussurro como se tivesse medo de alguém me escutasse. “Sou apaixonado por
você”.
Ela sorri, desvencilha suas mãos das minhas, e segura meu
rosto dos dois lados. Seus brilhantes olhos verde-acinzentados dizem claramente
que sou correspondido. Em seguida, ela me beija.
Momentos raros e especiais como este me dão a força que
preciso para lutar por nós. Em toda a minha
vida, tudo o que consegui, conquistei com muita luta. Confrontos não me
assustam. Se eu tiver que encarar tempestades e matar leões todos os dias para
ter Eva ao meu lado, que assim seja.
...
Narrador
O predador é um ser naturalmente dominante. Seu tamanho é
irrelevante, desde que ele use as habilidades certas para capturar sua preza. E
era assim que Deanna se sentia naquele momento, após Eva desligar o telefone em
sua cara.
Ela era uma predadora pronta para atacar a maior preza de
sua vida. A que mais desejara, e a que perseguira por anos a fio.
Eva era só uma isca, apesar de arredia, não era uma ameaça.
Não sabia lidar com situações em que se sentia pressionada. E percebeu isso
quando perguntou sobre a briga entre Gideon e Brett, a única de suas
especulações que ela não conseguiu negar. Poderia ladrar, mas não morder. E era
nítido que ainda era apaixonada por Gideon, mesmo depois do término.
Mas também, quem não se apaixonaria?
A própria Deanna não havia o esquecido. Perdera as contas
das noites em que acordara excitada após sonhar com aquele corpo volumoso e
espetacular se movimentando em cima do seu, suas mãos grandes percorrendo
cobiçosamente sua pele arrepiada e sensível, sua boca chupando avidamente seus
mamilos rijos e intumescidos, seu membro duro, grande e grosso roçando
precisamente seu clitóris inchado e necessitado.
Ela sentiu sua calcinha molhar de desejo ao se lembrar
desses sonhos. E se xingou por isso. Era sempre assim quando se tratava de
Gideon Cross: uma mistura de paixão e ódio. Mas o ódio tinha que prevalecer.
O que Deanna não imaginava é que não era a única a ter essa
sensação.
E que não era a única predadora no rastro de sua preza.
E aí? O que acharam? Mal posso esperar para ler os comentários de vocês!Então, vamos aos recadinhos!
1º) Só para deixar claro de uma vez por todas: SIM, EU VOU TERMINAR DE ESCREVER O PARA SEMPRE MINHA! Não é porque estou escrevendo as Outtakes do livro 4 que vou largar esta aqui. Muita gente tem me questionado sobre isso e eu tenho sempre que ficar esclarecendo que vou continuar a escrever. E eu venho avisando isso desde o fim de ‘Profundamente Minha’, lembram? Posso demorar com os capítulos, mas isso não significa que abandonei a história, ok?
2º) Aproveito este espaço para anunciar que acabei de lançar meu primeiro trabalho original na Amazon! Yes! Para quem estava me cobrando algo inédito, sim ele chegou! É um conto que escrevi para o concurso Brasil em Prosa, uma parecia da Amazon com o jornal O Globo e a Samsung. Chama-se ‘Um Dia’ e é diferente de tudo o que tenho feito. Não posso deixar um trecho dele nem nada, porque está nas regras, mas vou deixar a sinopse e o link de compra. Tá só por R$ 1,99. Significaria muito para mim se vocês pudessem adquiri-lo e, depois da leitura, votassem lá na página da Amazon sobre o que vocês acharam. Espero poder contar com minhas queridas leitoras nessa empreitada.
Sinopse: Todas as suas lembranças foram permanentemente apagadas. E ela é a única luz em meio à escuridão. Tudo o que sabia é que só a soltaria quando ela lhe soltasse.
Link para compra: http://www.amazon.com/dp/B012DIBV2WObrigada pelo carinho e apoio de sempre! Beijo grande e até a próxima!
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