NÃO PULEM ESSE AVISO, POR FAVOR! NÃO VOU EXPLICAR DE NOVO O QUE EU TIVER POSTO AQUI, OK?Oi gente! Voltei! E estou super recuperada! Obrigada pelas mensagens de melhora, e por entenderem. Vocês são sensacionais! Bom, eu prometi capítulo duplo e vou cumprir, só que como eu estava escrevendo dois capítulos ao mesmo tempo, coincidiu de eu terminar um antes do outro. Aí pensei: vai ficar um capítulo prontinho aqui dando sopa enquanto a mulherada se descabela pelo Gideon? Então lancei a pergunta lá no face: posto o capítulo pronto ou deixo para postar junto com o outro na quarta? Prevaleceu a vontade da maioria e aqui estou cumprindo a vontade de vosotros: eis o capítulo terminado no ar pra vocês. O próximo ainda está em andamento, mas já tá bem adiantado, então, don't worry!Sem mais delongas e falatórios, vamos ao que interessa! Boa leitura!
Viva intensamente cada dia com cautela, pois o seu futuro pode cobrar o seu passado.
— Eeinalva
Após Eva ir ao banheiro,
recebi a ligação de meu advogado, que queria que eu confirmasse os
detalhes do acordo proposto a Ian Hager para que ele finalmente saia do
meu pé. Com Deanna Johnson à espreita farejando qualquer podre que possa
usar contra mim levando-o a público, todo o cuidado é pouco. E é
exatamente por isso que, além da generosa quantia que pretendo pagar ao
amigo prostituto de Cary, vou fazê-lo assinar um acordo de sigilo sobre a
derradeira agressão ou sobre o acordo financeiro em si. A queixa também
será retirada. Eu me recusei a ter qualquer encontro com esse pedaço de
merda, então o acordo se dará a portas fechadas entre ele e nossos
advogados. O meu até tentou protestar por não concordar com certas
coisas que estavam sendo propostas, mas fui implacável. As coisas sempre
saem do meu jeito e ponto final. Se eu quisesse sugestões eu o
consultaria, e tudo o que fiz foi manda-lo fazer as coisas pelas quais o
pago. Mesmo insatisfeito, ele aceitou e começou a elaborar o acordo por
escrito.
Falar de assuntos
estressantes após uma noite e manhã incríveis com minha mulher é como
jogar um balde de água fria. Minha vida profissional já é cheia de
bombas com as quais tenho que lidar todos os dias. Eu sei lidar com
elas, pois estou na minha zona de conforto. Mas quando o tiro vem da
minha pessoal, mais precisamente do meu passado, as coisas se complicam.
E é nesse quesito que se encaixa Corinne, a mulher que, por pura
insistência e capricho não para de me perseguir. E eu até poderia lidar
com ela da forma como estou acostumado (ignorando suas ligações e
investidas, óbvio), mas eu simplesmente não podia.
Eu a usei como uma
distração para meus planos. Corinne foi o caminho mais fácil que
encontrei de trazer verdade para encenação que tive que fazer para
cobrir minha base para o assassinato de Nathan. Eu me aproveitei de seus
sentimentos e dei a entender que algo mais poderia acontecer entre nós,
que meus sentimentos não tinha se ido completamente, quando na verdade
eles eram inexistentes. Os sentimentos que ela diz ter por mim afloraram
ainda mais e, portanto, suas reações honestas aliadas à minha
capacidade de fingir muito bem criaram a situação perfeita para que
todos, especialmente a polícia, pensassem que eu não teria razões para
matar ex-meio-irmão de Eva sendo que eu sequer era realmente apaixonado
por ela.
Hoje sei que isso foi
errado, embora necessário. Usei Corinne pela segunda vez. Dei-lhe falsas
esperanças, e agora ela insiste que o que há entre nós é verdadeiro. E,
desta vez, temo que ela não vá desistir tão fácil. Ainda mais agora
que, para todos os efeitos, Eva e eu terminamos.
Mas, desde a noite em
que Eva descobriu a verdade sobre o assassinato de Nathan, eu venho
evitando atender as ligações de Corinne. Ela me manda mensagens cada vez
mais desesperadas e isso está começando a me deixar mais desconfortável
que o habitual.
Tento lidar da melhor
forma possível com a situação, mas está ficando difícil ignorá-la,
principalmente por causa do que fiz das consequências disso, como o fato
de ela estar chorando enquanto fala comigo ao telefone.
"Eu não entendo porque você tem me evitado tanto!" "Eu pensei que estivéssemos bem, mas você sumiu, não atende minhas ligações".
Agora sentado, olhando
para o tampo da mesa, fecho os olhos, tentando manter a calma. "Estou em
uma fase complicada do trabalho no momento, Corinne. São muitas coisas
para resolver, muitas coisas que dependem da minha atenção
incondicional. Você é casada com um empresário europeu de sucesso, e
sabe muito bem o quanto a vida de um homem de negócios é ocupada".
Ela fica em silêncio por alguns instantes. "Isso não significa que você não possa tirar um tempo para ao menos falar cinco minutos comigo", sussurra, escolhendo ignorar a menção a Giroux. "O que está acontecendo, Gideon? Você precisa de alguma coisa? Quer que eu vá? Estou tão preocupada com você".
"Agradeço a sua preocupação, mas não", falo em um tom de voz carinhoso porém firme.
"Então porque não posso ir?" diz com a voz embargada. "Ainda somos amigos, não somos?"
"Claro que somos amigos.
Você sabe por quê... Porque eu não posso te dar o que você quer de
mim", respondo, cansado de sempre ter que dizer a mesma coisa.
"Ah, não? Pois não foi o que pareceu!" rebate num tom petulante que me faz franzir a testa. "Você não está com ninguém agora, Gideon. Não há desculpas!"
"Pode parar", eu a corto friamente. "Nem pense em falar comigo nesse tom, Corinne".
Como ela se atreve a querer se impor assim? Como ela...
"Gideon", a voz
sussurrada e triste de Eva invade meus ouvidos. Fico ereto e, ao vê-la
escorada no portal, me levanto imediatamente.
Toda a tensão do
nervosismo pelas investidas insistentes de Corinne desaparecem e meu
instinto de proteção se aguça. Eva precisa de mim.
"Preciso desligar", falo para uma Corinne chorosa e falante de outro lado da linha.
Removo o headphone e saio detrás da mesa. "O que foi? Está passando mal?"
Eva corre até mim e no
segundo seguinte eu a envolvo em meus braços com carinho e extrema
preocupação. Ao olhar em seus olhos marejados e tristes, tudo o que se
referia a mim foi completamente esquecido. Eva é minha prioridade. Ela é
a única exceção entre tantas regras em minha vida. Ela é a única a se
encaixar com perfeição em meu abraço. Meu corpo inteiro foi feito para
amá-la e servi-la, da maneira que ela precisar.
"O meu pai descobriu tudo', murmura, pressionando o rosto contra o meu peito. "Ele está sabendo de tudo".
Eu a aperto ainda mais
em meus braços. Eva nunca tinha dito ao seu pai o que aconteceu por
temer sua reação. Se Monica, como consequência, desenvolveu tendências
de perseguição paranoicas, como Victor Reyes, sendo policial e pai, além
de um homem muito distinto e altamente perigoso em situações de
necessidade, poderia reagir ao saber que sua única filha havia sido
estuprada?
Meu telefone começa a tocar novamente.
"Porra", solto baixinho, levando Eva para fora do escritório.
No corredor, ouvimos seu celular vibrando insistentemente na mesinha de centro da sala.
"Vou ver se é alguma
coisa importante", falo, sabendo que o caos deve ter se instalado na
família Tramell e agora todos estão atrás de Eva. E ela não está em
condições de atender ninguém.
"É a minha mãe", diz
nervosa e agitada. "Tenho certeza de que o meu pai já ligou pra ela, ele
está furioso. Meu Deus, Gideon... Ele ficou arrasado".
"Eu entendo como ele se sente", murmuro levando-a para o quarto de hóspedes, para longe daquele inferno.
Fecho a porta, deito-a
na cama, pego o controle remoto de cima do criado-mudo, ligo a televisão
e ajusto o volume até encobrir todo o ruído ao redor. No entanto, o som
das vozes do aparelho são incapazes de encobrir o choro de Eva, que
soluça sem parar.
Ouvir esse som me parte o coração.
Sem hesitar, me
encaminho para a cama e me deito ao seu lado. Coloco-a em meus braços
novamente, e acaricio suas costas com as mãos. Vê-la se desfazer desta
forma me mata por dentro. A única coisa que consigo pensar é que eu
faria qualquer coisa para ela se sentir melhor. Eu seria o que ela
quisesse que eu fosse. Eu lhe daria tudo.
No momento, ela quer que eu a abrace e a console. E é isso o que faço. Em silêncio. Nenhuma palavra seria adequada no momento.
Após quase duas horas,
ela se acalma. Seus soluços cessam e as lágrimas param de cair. No
entanto, seu rosto ainda está estampado de dor, seu rosto e olhos
vermelhos e inchados. E, mesmo assim, Eva continua sendo a coisa mais
linda que já vi.
"Me diz o que eu posso fazer", digo finalmente.
"Ele está vindo pra cá. Pra Nova York' sussurra. "Ele vai tentar pegar um voo hoje mesmo, acho".
É claro que ele virá. Eu não esperaria outra atitude de Victor.
"Quando souber que horas ele chega, posso ir com você até o aeroporto".
"Você não pode..."
"Não o cacete", eu a corto sem pestanejar. Eu jamais a abandonaria nesse momento de necessidade.
Ela beija boca em meio a
um suspiro. "É melhor eu ir sozinha. Ele está chateado. Não vai querer
que ninguém o veja nessas condições".
Balanço a cabeça em compreensão. No lugar de Victor eu sentira o mesmo. "Então vai com o meu carro".
"Qual deles?"
"O DB9 do seu novo vizinho".
"Oi?" ela franze a testa.
Dou de ombros. "Você vai saber qual é assim que entrar na garagem".
"Estou com medo", murmura, enroscando suas pernas bambas ainda mais com as minhas.
Ao longo de nossa
conturbada relação Eva sempre mostrou a tendência de se deixar ser
cuidada em uma relação. Ela precisa de alguém forte, centrado e que tome
as decisões que não conseguiria. Quando nos afastamos, essa confiança
em mim depositada foi quebrada e, mesmo agora, ainda tenho medo de que
jamais seja recuperada. No entanto, aqui estamos nós, desta vez, eu
sendo sua rocha, dando-lhe o consolo necessário, me pondo como seu
alicerce, seu bote salva-vidas. E, saber que ainda temos esse tipo de
sentimento em relação ao outro (o de dependência mútua para recuperar a
sanidade e a serenidade em momentos tempestuosos), me dá esperança de
seguirmos em frente e conseguir superar esse trauma.
Passo os dedos pelos meus cabelos. "De quê?"
"As coisas entre mim e a
minha mãe já andam difíceis pra caralho. Se os meus pais resolverem
brigar, não vou querer ficar no meio. Você sabe como eles se comunicam
mal... principalmente a minha mãe. Eles são loucos um pelo outro".
Fico surpreso com esta revelação. "Eu não sabia disso".
"É porque você nunca viu
os dois juntos. Rola o maior clima", explica. "E o meu pai até
confessou que ainda é apaixonado por ela. Só de pensar nisso me bate uma
tristeza..."
"Por que eles não estão
juntos?" pergunto achando tudo isso muito curioso e estranho. Quer
dizer, se se amam tanto, porque seguir a vida separados?
"Pois é, porque não
somos uma família unida e feliz", completa. "Não dá pra imaginar como
eles conseguiram passar a vida inteira longe da pessoa que amam. Quando
eu perdi você..."
"Você nunca me perdeu", pontuo.
"Foi como se uma parte de mim tivesse morrido. Ficar com essa sensação pra sempre..."
Acaricio seu rosto com os dedos. "Deve ser um inferno", e sei bem do que estou falando.
Ficar sem Eva por quatro
dias – quando nos separamos por causa do meu primeiro pesadelo que ela
presenciou – eu fiquei um lixo. Mas não foi nada comparado à nossa
última separação. Passar tanto tempo sendo obrigado a me afastar da
única pessoa que eu queria ao meu lado pelo resto da vida foi brutal, e
somando o peso de ter tirado uma vida, ainda que necessário, tornou tudo
ainda pior. Se Eva tivesse me rejeitado depois do que fiz, eu não sei o
que seria de mim. Eu faria qualquer coisa por ela, e se eu tivesse que
cometer atrocidades no processo, eu não pensaria duas vezes. Mas também
teria que ser forte para aguentar as consequências que viriam a partir
disso. Se há uma coisa que aprendi com a morte de Nathan é que mesmo os
pecados cometidos em nome do amor são passíveis de cobranças. A culpa
por mata-lo ainda me atormenta, e sei que isso me seguirá enquanto eu
viver, mas ficar sem Eva é inconcebível para mim. Eu tinha que
libertá-la de seu inferno, mesmo que isso significasse que eu nunca
conseguiria sair do meu.
"Pode deixar que eu cuido da sua mãe", declaro, decidido a dar o próximo passo.
Ela pisca os olhos, um tanto atordoada e confusa. "Como?"
Curvo os lábios em um
pequeno sorriso torto. "Vou ligar pra ela e perguntar como você está, se
está bem. Dar início ao meu processo de reaproximação pública de você".
Eu não vou ficar mais
nenhum segundo sem Eva. E não vou mais me esconder. O perigo passou. Com
o resto podemos lidar, desde que estejamos juntos.
"Ela sabe que eu contei tudo pra você. Pode ser que dê um chilique", avisa.
"Antes comigo do que com
você", eu estava acostumado a lidar com mulheres histéricas. Monica
Stanton não me assusta nenhum pouco.
Há uma ameaça de sorriso em seus lábios. "Obrigada".
"Vou distrair um pouco a
cabeça dela, mudar o foco das coisas", ponho a mãos sobre a dela e mexo
no anel que lhe dei, deixando claro que estou falando de nosso
casamento.
Evito dizer a palavra em
voz alta, pois não quero que Eva se sinta pressionada ou fique ansiosa,
ainda mais agora, no estado em que está. Ela sabe que isso é real para
nós, que vai acontecer e que não há volta. Seu medo a impede de apreciar
a ideia de nos unirmos de forma tão permanente. Mas ela ainda teria um
tempo para se acostumar à ideia. Apesar de um pouco receoso sobre sua
reação à cerimônia que estou preparando, eu sei, em meu coração, que ela
dirá sim.
<<<>>>
Estou preocupado. Muito preocupado.
Eu já presenciei a
tristeza de Eva em muitos momentos, mas este em especial está me
matando. A ligação que ela tem com o pai é do tipo da que eu gostaria de
ter tido com o meu. Ela o ama tanto, que tentou poupá-lo no momento em
que precisava do apoio que seu pai oferecia sem hesitação. Mas ela
estava cansada de ver o quanto aquele assunto atingia as pessoas ao seu
redor. Sua mãe, que vive consumida pela culpa e pelo medo constante de
perder a filha; Cary, que foi violentamente espancado por Nathan como
retaliação por não ter conseguido o me subornar em troca de sigilo, até
mesmo Stanton, que usou de seu dinheiro e influência para não permitir
que a situação viesse à tona. E eu. Eu comprei a briga de Eva como se
fosse a minha própria, e resolvi a questão de uma vez por todas, e estou
pagando caro por isso.
Analisando tudo de forma
fria e seca, Victor tem toda a razão de estar magoado, triste e com
raiva. Magoado por ser o último a saber. Triste por não ter feito nada
para proteger sua única filha e com raiva do desgraçado que lhe fez
sofrer. Eu odiaria estar em seu lugar, saber que um segredo tão sombrio
do qual ele tinha direito de saber, lhe foi escondido.
E sei que Eva se sente
culpada por colocar seu pai. Não por não ter contado a ele. Talvez, se o
próprio Victor não tivesse procurado saber a verdade, havia uma grande
possiblidade de ele nunca tomar conhecimento dela. Sua culpa tem mais a
ver com a reação dele ao saber o que Nathan lhe fez.
Ela está abalada e
fragilizada, e precisa de mim. Entro em alerta máximo. Não querendo
sufoca-la ainda mais, procuro disfarçar minha preocupação. Mas acho que
não estou sendo bem sucedido. De qualquer forma, Eva não parece se
importar. Fico por perto, sempre vigilante e solicito, pronto para fazer
tudo o que ela quiser, suprir cada necessidade que ela venha a ter.
Eva vai ao banheiro. Dez
segundos depois, lá vou eu. Chego perto da porta fechada e ouço com
atenção a qualquer ruído suspeito. Mas quando ela sai, me encontra
sentado na cama mexendo disfarçadamente em meu notebook. Olho para ela
como quem não quer nada e lhe lanço um sorriso. Ela me encara, e sorri
fracamente para mim antes de sair. Aguardo vinte segundos, e saio do
quarto.
Eva está sentada no
sofá, assistindo TV. Fico perambulando como se estivesse ocupado, mas
não tiro meus olhos dela. E assim ficamos pela próxima hora. Aonde ela
vai eu vou. Invento vários pretextos para estar no mesmo cômodo que ela.
Em um determinado momento, ambos estamos sentados na sala. Enquanto
seus olhos estão grudados em uma série policial, estou sentado ao seu
lado, fingindo ler alguns relatórios em meu notebook. De repente, sua
barriga ronca alto, me fazendo olhar para ela. Seus bochechas coram de
forma adorável. Eu quero muito lambê-las, mas não é hora para isso.
Imediatamente, me levanto e vou até a cozinha providenciar nosso almoço:
sanduíches, um pacote de babatas fritas e uma salada de macarrão.
Comemos no balcão da
cozinha, e vejo com satisfação que ela está um pouco melhor. É visível
que meus cuidados a fizeram se sentir mais segura e calma. Eu quero
fazê-la se sentir assim para sempre. Eu quero cuidar dela para sempre.
"O que a Corinne queria?", pergunta de repente. "Além de você".
Fecho a cara,
lembrando-me da tensão que se estabeleceu entre mim e minha amiga e
pasmo por Eva pensar nela num momento como esse. "Não quero falar sobre
ela".
"Está tudo bem?" pergunta intrigada.
"O que foi que eu acabei de dizer?"
"Uma desculpa esfarrapada que eu preferi ignorar", arqueia a sobrancelha.
Bufo, frustrado por sua teimosia, mas não vou ficar escondendo nada dela. "Ela está chateada".
"Chateada de gritar e esbravejar ou de cair no choro?"
"E isso faz diferença?" Para mim é tudo a mesma coisa, depende do tipo de mulher apenas.
"Claro, uma coisa é ficar
puta da vida com um cara, e outra é estar na pior por causa dele. Por
exemplo: Deanna está puta e quer acabar com a sua reputação; eu estava
na pior por sua causa, mal conseguia levantar da cama todos os dias".
Suas palavras me acertam
forte no peito, fazendo meu coração se contrair pela culpa. "Minha
nossa, Eva", pego sua mão na minha. "Eu sinto muito".
"Já chega de pedir
desculpas! Você vai compensar tudo isso aguentando o chilique da minha
mãe. E então, Corinne estava puta ou na pior?"
"Ela estava chorando". Faço uma careta ao lembrar dos soluços de Corinne do outro lado da linha. "Estava descontrolada".
"Sinto muito por isso. Só tome cuidado pra não deixar que ela faça você se sentir culpado".
"Eu usei ela", digo baixinho, "pra proteger você".
Eva larga o sanduíche de lado e me olha. "Você disse ou não disse que só o que tinha a oferecer era sua amizade?"
"Você sabe que sim. Mas
também dei a entender que poderia rolar mais, pra despistar a imprensa e
a polícia. Ficou algo no ar. É por isso que eu me sinto culpado", e
envergonhado.
Eu agi exatamente como o perfeito canalha que fui ao longo dos anos e que prometi a mim mesmo que não seria nunca mais.
"Pois pode parar com
isso. Aquela vadia fez de tudo pra que eu pensasse que você estava
transando com ela", ela ergue dois dedos de sua mão, "duas vezes. Na
primeira vez, fiquei tão magoada que ainda não superei o trauma. Além
disso, ela é casada, porra. Não tem nada que ficar dando em cima do meu
namorado se tem marido em casa".
O quê?
"Espera um pouco. Que história é essa de fazer você pensar que eu estava transando com ela?" pergunto, completamente confuso.
"A primeira vez foi no
dia em que brigamos no seu escritório por causa da suposta mancha de
batom em seu colarinho. Corinne estava saindo do Crossfire toda
descabelada, com as bochechas vermelhas e com a roupa um pouco
desalinhada e amarrotada. Estava com o maior sorriso estampado naquela
cara de pau. Subi para te encontrar e vi seu escritório bagunçado, você
saindo vestindo outra roupa e, para coroar a mancha vermelha no
colarinho, que inclusive batia com a cor de batom que Corinne estava
usando. Qualquer uma em meu lugar pensaria exatamente a mesma coisa que
pensei: que vocês estavam trepando".
Fico parado, olhando
para Eva, completamente surpreso e indignado. Eu não posso acreditar que
Corinne, a mulher que acreditei ser minha amiga, apesar de seus óbvios
sentimentos por mim, a mulher com quem achei que queria me casar, seria
capaz de algo tão sórdido. Estou sem palavras.
"A segunda vez",
continua Eva diante de meu silêncio atordoado. "Foi no dia em que fiz
uma visitinha ao apartamento dela que, oh que surpresa, fica em um
prédio na mesma rua que o seu. Ela me fez esperar por vinte minutos na
portaria antes de liberar minha entrada e, quando abri a porta, ela
estava vestida apenas com um robe de seda, descabelada e com cara de
quem havia acabado de dar gostoso. E, oh que surpresa novamente, fingiu
que o cara que a havia comido era você".
Eu não fazia ideia de
que Corinne poderia ser tão mau-caráter assim. Ela piorou e muito minha
relação com Eva. O incidente da camisa foi uma infeliz coincidência. E
Eva claramente ainda sente o baque.
Eu não perdoaria Corinne por nenhum desses incidentes.
"Isso muda bastante as coisas", comento finalmente. "De fato não temos mais nada a dizer um pro outro".
"Obrigada", ela está claramente aliviada.
"Tudo isso vai passar, mais cedo ou mais tarde", digo, colocando uma mecha de seu cabelo para trás de sua orelha.
"E o que nós vamos fazer depois disso?", murmura.
"Ah, com certeza eu vou conseguir pensar em alguma coisa", murmuro de volta.
"Em sexo, né?" Ela sacode a cabeça. "Eu criei um monstro".
Não pensei exatamente
nisso, mas já que a questão foi colocada em pauta... Eu não me nego a
discuti-la e muito menos em colocá-la em prática.
"E tem também o trabalho... nossa parceria", lembro.
"Ai, meu Deus. Você não desiste", fala num tom exasperado.
Pego uma batatinha do
pacote e mordo um pedaço. "Depois do almoço, quero que você veja a nova
versão do site da Crossroads e das Indústrias Cross".
Ela limpa a boca com um guardanapo. "Sério? Que rápido. Fiquei impressionada".
"Dá uma olhada primeiro e depois me diz se ficou mesmo".
Terminamos de comer,
mantendo a conversa o mais amena possível, evitando assuntos mais
pesados. Lavo a pouca louça que sujamos enquanto Eva joga fora as
embalagens e os restos do almoço.
Em seguida, levo-a pela
mão até a sala e lhe passo o notebook que estava na mesinha de centro. O
trabalho ocupará sua cabeça. Eva ama o que faz e não há terapia melhor
do que fazer o que amamos quando estamos chateados. Deixo-a sentada no
sofá e aproveito para ir até o escritório ligar para minha sogra.
Conheço bem a dinâmica
de relacionamentos entre pessoas que pertencem à nata rica e
privilegiada. Um homem na minha posição só se reaproxima da mulher
desejada através de sua mãe, se tiver intenções com ela. E isso
significa muito para mães como Monica Stanton. Considerando o quando ela
deve me odiar agora por ter "rompido" com Eva, esse é o melhor e mais
acertado caminho. No fundo, ela sabe que sou o homem ideal para sua
filha, e irá reconsiderar sua opinião sobre mim, se eu lhe mostrar que
estou interessado em reaver nosso compromisso. E dizer isso diretamente a
ela fará uma grande diferença.
Disco o número de seu celular e aguardo.
"Olá", a voz ansiosa de Monica atende após o segundo toque.
"Bom dia, senhora
Stanton", apelo para a polidez, já que tecnicamente, perdi o direito de
chamá-la pelo primeiro nome. "Aqui é Gideon Cross".
"Gideon", ela parece momentaneamente surpresa, mas logo se recupera. "Como vai?"
"Bem, na medida do possível. E a senhora?"
"Poderia estar melhor", "Porque não deixamos as amenidades de lado e vamos direto à única razão pela qual você ligaria para mim?"
Vai com calma, Cross, penso. Seja humilde e carismático e vai ficar tudo bem.
Pigarreio. "Bom, eu
gostaria de perguntar sobre Eva. Há um tempo não tenho notícias dela e,
desde que eu soube da morte de Nathan, tenho ficado preocupado. Eu
pensei em entrar em contato diretamente, mas percebi que seria
inapropriado".
"Ah, claro. Eu soube
que você foi chamado para depor. E não, não seria nada apropriado.
Soaria como uma jogada muito suja usar tal pretexto para se reaproximar
dela, aproveitando-se de seu momento de fraqueza, quando você deveria
simplesmente assumir seus erros e pedir desculpas", rebate asperamente.
Uau. "Exatamente. Então, achei melhor ligar para a senhora e...".
"E tentar se reaproximar dela através de mim?" corta.
"Isso realmente foi uma jogada esperta de sua parte. Mas quero que
saiba que isso não muda o fato de que você foi um canalha inescrupuloso
com minha filha. E que eu não gostei nada disso, Cross. Não mesmo".
Puta merda! Ela acabou de me chamar de canalha inescrupuloso?
"Eu entendo sua posição,
senhora Stanton. E eu sinto muito pelo meu comportamento. Eva significa
tudo para mim, e eu me odiei por cada segundo em que a fiz sofrer".
"E você deve mesmo
lamentar. Minha filha merece mais do que isso. Você pode ser um dos
homens mais poderosos do mundo, mas isso não lhe dá direito algum de
humilhar minha filha publicamente da forma que você fez. E muito menos
de achar que pode tê-la a hora que bem entender. Ela não é uma
mulherzinha qualquer. Eva tem um nome, é uma herdeira de uma família tão
proeminente quanto a sua, e merece ser respeitada".
"Eu posso lhe garantir que nunca tive a intenção de humilhá-la. Foi apenas...".
"Suas intenções são irrelevantes visto que o resultado foi o oposto", ela me corta novamente. "Eu
acompanhei cada passo seu na imprensa desde o momento em que fiquei
sabendo que você e Eva estavam se envolvendo. Fiz muitas pesquisas – não
que eu já não soubesse tudo o que há para saber sobre você – mas você
estava saindo com a minha filha, então minhas buscas tinham que ser
menos... Superficiais, por assim dizer". Ela faz uma pausa. "Eu
estava feliz, Gideon. Feliz que minha filha tinha encontrado um homem
digno de tê-la. Um homem que lhe daria o mundo, que faria qualquer coisa
que ela quisesse. Eu já estava imaginando um futuro maravilhoso para
minha Eva... E então você me aparece nos tabloides com sua ex, em
momentos de visível intimidade", sua voz muda bruscamente. "Eu
fiquei muito chateada. E não, não foi porque minha filha tinha perdido
um bom partido, mas porque que você a magoou gratuitamente. Você teve a
audácia de acreditar, por um milésimo de segundo, que Eva não está à sua
altura".
Minha cabeça começa a latejar um pouco com sua fala rápida e hostil. Minha nossa!
"Se há uma coisa", ela prossegue sem me dar tempo de rebater,
"que nunca deixei de ensinar à minha filha é o valor que ela deve se
dar em primeiro lugar. Então, de agora em diante, se você realmente quer
ter Eva de volta à sua vida, nunca se esqueça do valor dela, pois eu
jamais permitirei que ela se esqueça. Além disso, há muitos outros
homens nesse mundo tão ricos e poderosos quanto você que, assim que
botarem os olhos em Eva, saberão lhe dar o valor devido", sua voz sai afiada como uma navalha.
O tom de ameaça em sua
voz me faz perceber o quanto subestimei Monica Stanton. Ela pode até ser
uma mulher frágil e um tanto fútil, mas não é do tipo que aceita ser
passada para trás. Claro, disso tudo eu já sabia. O que eu não contava
era que minha persuasão não iria vencê-la tão facilmente numa queda de
braço que envolve o bem mais precioso que ela possui: Eva. Monica
defende sua cria com unhas e dentes, faz o que for preciso. Qualquer
homem com o mínimo de esperteza saberia que é impossível dobrar uma
mulher assim sem antes sentir as consequências.
Recuperando-me do
bombardeio, tento organizar meus pensamentos e argumentar ao meu favor.
Preciso voltar a ter o controle sobre a situação.
"Isso nunca passou pela
minha cabeça, Monica", eu explico. "Eva é a mulher perfeita para mim.
Corinne e eu não tivemos nada, eu juro a você. Foi só um reencontro de
amigos. Sim, somos íntimos e sim, fomos noivos, mas não houve nada mais,
eu posso lhe garantir".
"Que intimidade estranha você possui com sua amiga ou seja lá o que for" retruca debochadamente. "Suas
palavras só valerão algo para mim quando acompanhadas de atitudes
correspondentes, Gideon. E, até o momento, elas não têm significado
algum para mim".
Suspiro. "Escute. Eu sei
que cometi erros com Eva e gostaria de ter uma segunda chance. Quero
poder consertar as coisas. Você sabe tão bem quanto eu o quanto a amo, e
eu já mostrei isso de muitas formas".
Ela fica em silêncio,
absorvendo minhas palavras, provavelmente se lembrando do que fiz por
Cary quando ele foi atacado, ou de como reagi ao saber do que Nathan
fizera a Eva. Não queria ter jogado estas cartas, mas não há outro
jeito.
"Não posso tomar nenhuma
atitude se não tenho espaço para tal" prossigo. "Preciso que acredite
no meu amor por ela, que acredite em mim quando digo que a quero de
volta, e me dê uma chance real de provar isso".
"E o que você pretende fazer?" pergunta cautelosamente depois prosseguir em silêncio por mais alguns segundos.
"Casar com Eva".
"Casar?" guincha.
"Sim. Eu percebi,
durante nosso rompimento, que a quero em minha vida de forma permanente.
Não somos mais adolescentes, senhora Stanton. Eu a quero ao meu lado
como minha esposa. Não nego meu passado. Tive sim várias mulheres,
dentre elas Corinne, de quem inclusive já fiquei noivo. Mas não consegui
imaginar nem ela, nem mulher alguma ocupando esse lugar. Eva é a única a
quem eu vou amar e querer desta forma. Não há mais ninguém para mim".
Um silêncio atordoado se
segue à minha declaração. E nesse momento, sei que estou no controle
novamente. Não há nada mais lisonjeiro para uma mulher vaidosa como
Monica do que ter um homem como eu completamente apaixonado por sua
filha, e se expondo sem a menor vergonha.
Ela suspira. "Bem, eu
já imaginava que isso fosse acontecer, não cedo, talvez em um ano, mas
depois do que houve entre vocês, tive minhas dúvidas".
"Nunca escondi o que sinto por ela, nunca nem mesmo fiz o menor esforço para isso".
"Homens como você nunca fazem nada pela metade, Gideon. Eu sei disso muito bem", comenta com um ar entendedor. "Sei
que Eva ainda sente algo por você, mesmo que tente disfarçar. Eu a
conheço. Mas ela está magoada, e se a quiser de volta, terá que fazer
melhor do que vem feito até aqui. Nem sempre o amor é suficiente para
sustentar uma relação. É preciso mais... muito mais", ela diz e sua
voz falha um pouco na última frase. Ela me parece um tanto... desolada.
Um flash de Eva me contando sobre o amor que seus pais sentem um pelo
outro mesmo estando separados me vêm à mente e esclarecem tudo.
Porém Monica logo descarta seu momento de tristeza e volta ao normal. "De qualquer forma, estamos falando de um casamento que deve ocorrer em breve, suponho?"
"Dentro de alguns meses,
no máximo. Apenas gostaria de sua autorização para seguir em frente nos
meus planos de me reaproximar dela. Desta vez não pretendo falhar,
senhora Stanton. Fazer de Eva a próxima senhora Cross é meu objetivo de
vida no momento".
"Eu não esperaria menos de você", "Desde
quando eu vi a forma como você olhava para minha filha no hospital,
quando passamos aquele susto horrível com Cary, eu percebi que você
faria qualquer coisa por ela, que você cuidaria dela e de todas as suas
necessidades. Eu sabia que ela estaria em boas mãos. Eu não estava
enganada de todo afinal".
"Agradeço sua confiança em mim, senhora Stanton", digo incapaz de esconder minha satisfação.
"Ora, você conseguiu tudo o que queria comigo, não acha? Pode voltar a me chamar de Monica, como sempre".
Sorrio de sua perspicácia. De fato, uma mulher que não pode ser subestimada.
"Obrigado, Monica. Seu apoio é muito importante para mim. Principalmente agora".
"Acho que esse é um
bom momento para você se aproximar. A coisa com o Nathan já passou de
qualquer forma. Ela ficou abalada no começo, mas agora está bem, na
medida do possível. Tem saído com amigos e feito todo o possível para
seguir em frente. Tenho orgulho da mulher corajosa que ela se tornou", diz com um toque de tristeza na voz, provavelmente por causa da briga entre as duas.
"Sim, ela é uma das mulheres mais fortes que já conheci. Esse é um dos vários motivos que me fazem amá-la tanto".
"É", suspira ainda mais triste.
"Você também foi muito
forte, Monica", digo condescendente. "Você teve que lidar com muitas
coisas em tão pouco tempo. A gravidez precoce, a... situação com Nathan.
Não é nada fácil, mas você conseguiu. Somos passíveis de erros mesmo
quando tentamos acertar, mesmo quando achamos que o que estamos fazendo é
certo. Você não desistiu de Eva, não deixou a situação acontecer, tomou
as providências necessárias, lutou por justiça. Nem todos são capazes
de tirar tamanha força em meio a tanta desgraça. E isso te faz uma
mulher admirável. Seja lá o que estiver acontecendo entre você e ela...
vocês vão se resolver".
Ela inala bruscamente. "Como você...".
"Seu tom de voz mudou.
Está mais triste. Presumi que algo tivesse acontecido entre vocês",
pensei rápido. Ela não pode nem imaginar que Eva e eu já estamos juntos.
"Eu contei a ela sobre o Rolex" diz com a voz embargada.
"O Rolex tinha um rastreador. E Eva ficou tão chateada, tão
decepcionada. Não sei se vamos conseguir superar isso. Não poder manter
contato direto com ela está me enlouquecendo".
"Dê a ela um tempo,
exatamente como eu fiz. Eva é muito passional e leva tudo ao limite.
Entendo que ela tenha se sentido sufocada; a confiança foi quebrada.
Aquele relógio significava muito para ela. Foi um golpe forte. Agora,
ela precisa de espaço. Deixe-a dar os próximos passos. E deixe o
fantasma de Nathan ir embora. Se Eva conseguiu superá-lo, você também
irá conseguir. Não baseie sua vida e sua relação com sua filha nesse
medo, ou vai acabar destruindo o que vocês têm. No final você vai
permitir que ele ganhe. Não deixe o Nathan ganhar, Monica".
Ela não diz nada, mas
escuto sua respiração pesada, provavelmente tentando segurar o choro.
Dou-lhe o tempo que ela necessitar para se recompor.
Após alguns minutos, Monica volta a se manifestar. "Sim, eu vou pensar nisso. Obrigada. Gideon. Você é realmente um homem íntegro e será um excelente marido para minha Eva".
"Farei tudo o que
estiver ao meu alcance para isso. Bom, eu não vou ocupar mais do seu
tempo. Obrigado por me escutar, Monica. E por me dar uma segunda chance.
Prometo que não vai se arrepender".
"Ah, querido,
imagine", ela sorri novamente. "Você tem alguém torcendo por você aqui.
Sei que não vou me arrepender. Raramente me engano com as pessoas. E
agora, mais do que nunca, sei que não estava errada a seu respeito.
Espero que nos vejamos em breve".
"Eu também. Tenha uma boa tarde".
"Você também, Gideon". E ela desliga.
Coloco o telefone de
volta no gancho e me sento pesadamente em minha cadeira. Eva não estava
brincando. A mulher é uma montanha-russa emocional quando está chateada.
Eu achava que estava lidando com uma versão mais velha de Eva, mas
estava redondamente enganado. A mãe é cem vezes pior que a filha.
Richard é um verdadeiro santo por aguentar tudo isso.
Eu nunca tive que me
esforçar tanto para agradar mulheres como ela. As mães no geral me
adoram, tanto pela beleza quanto pela minha conta bancária. Se bem que
minha aparência é só um bônus. Elas me adorariam mesmo se eu fosse feio
como um demônio. E não hesitariam em jogar suas filhas bem-nascidas e
bem-educadas em internatos nas minhas mãos, ou em se jogar. Tudo depende
do tipo de interesse que elas desenvolvem por mim. E mesmo que eu as
magoasse, mesmo que eu agisse como um completo canalha, elas ainda
viriam se arrastando, implorando por uma chance de fazer melhor, pois
acabam assumindo a culpa por uma situação que eu causei.
Monica Stanton, definitivamente, não se encaixa nessa categoria.
Ela sabe exatamente o
que quer e como fazer para conseguir que sua vontade prevaleça. Tive a
oportunidade de presenciar rapidamente a dinâmica de sua relação com
Richard e ficou nítido para mim quem é que manda: Ele é o provedor, mas é
ela quem põe as cartas na mesa. Ela o manipula ao seu bel-prazer,
consciente ou inconscientemente. Linda, sedutora, refinada, confiante,
inteligente e rica. Uma combinação fatal. Eva é tudo isso também, apesar
das não tão raras crises de insegurança. Agora entendo melhor a
fascinação que Stanton e os outros três ex-maridos por Monica. E,
principalmente, o porquê de Victor Reyes ainda ser apaixonado por ela.
Se eu e Eva estivéssemos em seus lugares, eu jamais conseguiria seguir
em frente. Eu nunca poderia esquecê-la.
A forma como Monica não
só me chamou de cretino sem o menor receio, como também se fez clara
como água ao dizer que eu é quem deveria me esforçar para me fazer digno
de sua filha, independente de quem sou ou da fortuna que tenho,
aumentou ainda mais meu respeito por ela. Ela me pôs no meu lugar e,
apesar de ter se rendido no final, não me deixou completar a caminhada
sem uma boa luta. Apesar de exaustivo, foi revigorante ser tratado dessa
forma. São pouquíssimas as pessoas que me enfrentam sem medo. E Monica
me rebaixou para, só depois, me tratar de igual para igual. E não teve
nenhum receio disso.
Ela tem muitos defeitos, mas ser uma mãe negligente não é e nunca poderia ser um deles.
Respiro fundo mais uma
vez, me levanto da cadeira de couro atrás da mesa, e me encaminho para a
sala, exausto. Monica é uma força da natureza sem dúvida. Eu não
deveria tê-la julgada de forma tão leviana.
Eva tira seus olhos do computador e me encara.
"Eu avisei", cantarola.
Ergo os braços para alongar o corpo e aliviar a tensão. "Ela vai ficar bem. É mais durona do que aparenta".
"Ela ficou feliz por você ter ligado, né? "
Não pude deixar de sorrir. Sim, foi uma batalha difícil, mas eu não sairia dela com nada menos que a vitória.
Eva revira os olhos. "Ela acha que eu preciso de um homem rico para cuidar de mim e me manter em segurança".
"E é isso que você tem", falo abaixando os braços.
"Só espero que não
esteja dizendo isso com a conotação que um homem das cavernas usaria",
ela deixa meu computador na mesinha de centro e se levanta. "Preciso ir
para casa me preparar para a visita do meu pai. Vou precisar dormir em
casa enquanto ele estiver aqui, e não acho uma boa ideia você aparecer
no meu apartamento. Se ele confundir você com um ladrão, a coisa vai
ficar feia".
"E também seria um tremendo desrespeito. Vou aproveitar esse tempo para marcar presença na minha cobertura".
"Certo", ela passa as mãos por seu rosto e seus olhos se voltam para o pulso enfeitado com o relógio que lhe dei.
"Pelo menos tenho esta
belezinha aqui para contar os minutos até a gente poder se ver de novo",
seu olhar é de puro contentamento e admiração.
Eva está visivelmente um
pouco mais relaxada. Contudo, a tensão pela visita de seu pai e a
situação com sua mãe ainda paira no ar. Caminho em sua direção e, assim
que nossos corpos estão quase colados, eu a pego pela nuca, e começo a
fazer movimentos circulares em seu pescoço com os polegares, numa
tentativa de deixa-la mais calma.
"Preciso saber que você está bem", ou eu não vou conseguir ficar em paz. Se Eva está bem, tudo fica bem no meu mundo.
Ela balança a cabeça.
"Já estou cansada dessa coisa de a minha vida girar sempre em torno de
Nathan. Preciso pôr uma pedra sobre esse assunto de uma vez por todas".
Eu, melhor do que
ninguém, entendo sua frustração. É difícil ver que seu passado ainda
governa seu futuro, mesmo que você faça de tudo para deixa-lo para trás.
Sempre haverá os rastros de destruição, a forma como a situação afeta
as pessoas ao seu redor, os traumas que são desenvolvidos, e não é fácil
se livrar de tudo isso. Durante o resto de nossas vidas, encontraremos
estilhaços, por menores que sejam, por todo o caminho que percorrermos.
Sou um dano colateral do
meu passado, um estilhaço vivo, e isso é irreversível. Nunca parei para
imaginar como seria minha vida se meu pai não tivesse feito o que fez,
ou se ele tivesse simplesmente sido preso. Seria tentar prever um futuro
que nunca existirá.
Olho para a mulher em
meus braços e percebo que isso não importa. Todos os caminhos que
percorri sozinho, longos e tortuosos, me levaram a ela. E isso é tudo o
que importa.
<<<>>>
Narrador
As pontas de seus dedos
batiam incessantemente no tampo da mesa, e o barulho cortava o silêncio
sepulcral na saleta. Esse gesto transmitia sua ansiedade por notícias. A
primeira fase do plano estava quase concluída. Foram necessárias
algumas modificações devido à reviravolta que pegou a todos de surpresa.
E, de fato, aquilo não poderia ter sido mais do que perfeito.
O toque estridente do telefone despertou-lhe de seus pensamentos. Apertou o botão "atender" e levou o aparelho à orelha.
"E então?", perguntou.
"Já está feito", a voz com sotaque carregado respondeu.
Um pequeno sorriso se desenhou em seus lábios.
"Sem deixar rastros".
"Você sabe que não sou dado a amadorismos".
"Sei. Mas, em se tratando da máfia, a polícia sempre fica mais atenta".
"Exatamente. E é isso
que torna o plano ainda melhor. O foco será desviado justamente porque a
polícia pensará que ele foi morto por seus próprios comparsas por
motivos pessoais", uma risada grossa e contida se faz ouvir. "Como não conseguirão farejar nada, o caso será arquivado e esquecido".
"Realmente, tudo saiu melhor do que o esperado", disse remexendo-se em seu assento. "Como acha que ele irá reagir a tudo?"
"Homens como Gideon Cross não deixam por menos. Com certeza ele desconfiará de nossa suposta ajuda e irá atrás da verdade".
"Acha que ele tem chances de descobrir?"
"Não me surpreenderia
se conseguisse. Mas não vamos antecipar as coisas. Tudo foi muito bem
arquitetado. Vamos apenas monitorar seus movimentos e aguardar o momento
certo para agir".
"Certo. Repassarei tudo para o pessoal e vou para casa. Quero, no mínimo, quinze horas de sono ininterrupta".
"Faça isso. Eu mal posso esperar para tomar um bom banho e ir para os braços de minha Brigitte".
"Aproveite bastante", disse com um sorriso enviesado. "Até amanhã".
"Até".
Após desligar o
telefone, fechou os olhos e respirou fundo. Tudo estava caminhando bem.
Mas não poderia relaxar completamente. Estava mais envolvido do que
todos naquele plano. A espera estava sendo longa e angustiante.
Pegou uma foto recortada
de uma revista que estava em cima de sua mesa. Tratava-se de Gideon
beijando Eva Tramell numa rua movimentada. Formavam um belo casal. A
mulher era linda e eles pareciam mais do que apaixonados. E ela deveria
valer mesmo a pena a ponto de um dos homens mais importantes do mundo
sujar as próprias mãos de sangue.
Fitou aquela imagem durante um longo tempo, completamente imerso em pensamentos.
Faltava pouco, muito pouco.
A detetive Graves é mais
esperta do que ele poderia supor. Sabia que ela desvendara o mistério,
mas não tinha como provar. E, depois de seu plano ter dado certo, agora
seria impossível acusar Gideon. Ninguém poderia atingi-lo novamente. Ele
não permitiria.
Assim que a detetive desse o caso por encerrado, tudo estaria resolvido.
E ele poderia ficar em paz.
...
Gideon
"Você tem certeza? ", pergunto, enquanto ando de um lado para o outro em meu escritório no Crossfire.
É hora do almoço e eu
até estava morrendo de fome. Mas agora, tudo o que consigo sentir são os
movimentos do meu estômago se revirando.
"Sim", responde meu advogado.
"Acabei de ser informado. Nem você nem Richard Stanton são suspeitos.
Com essas novas evidências, os detetives não têm outra escolha a não ser
encerrar o caso".
"Que tipo de evidências? Eles chegaram a mencionar algum nome? "
"Não. Como as provas
tiram a polícia do seu encalço, não há razão para falar sobre os
detalhes da investigação até que o inquérito seja concluído. No entanto,
deram a entender que Nathan estava se envolvendo com pessoas altamente
perigosas e, por esta razão, o foco da investigação deve mudar".
Suas palavras me deixam tanto intrigado quanto preocupado.
"O quão perigosas?"
"Pela forma como eles reagiram quando perguntei, meu palpite é tem duas palavras: máfia russa".
Meu sangue gela. Isso está ficando cada vez pior.
"Não acredito que ele chegasse a tanto? Como diabos aquele sujeito conheceria alguém da máfia?"
"Não faço ideia. Mas
já vi muitas coisas nesse mundo que julguei impossíveis. Não duvido de
mais nada. Porém fique tranquilo. Você saiu do rastro da polícia e é
isso o que importa. Está tudo bem".
Eu gostaria de acreditar nisso.
Conversamos sobre mais
alguns detalhes e, por fim, desligo. Arranco o headphone e o jogo sem
nenhum cuidado sobre a mesa. Sento pesadamente em minha cadeira e fecho
os olhos, respirando fundo.
Minha segunda-feira
começou corrida e tensa. A preocupação com Eva não diminuiu nenhum
milímetro sequer e tenho muito o que fazer no escritório. E, como se não
bastasse, mais essa notícia. Eu nunca quis tanto um analgésico em toda a
minha vida.
De repente, ficou pesado
demais lidar com isso sozinho. Eu preciso dividir isso com alguém. E,
por mais que eu saiba que Eva está preocupada com o pai, é melhor que eu
mesmo dê a notícia a ela antes da polícia.
Pego meu aparelho e disco o número do celular clandestino que dei a Eva para que conseguíssemos nos falar sem ser interceptados.
O celular toca agonizantemente umas quatro vezes antes de ela atender.
"Alô?".
"Meu anjo", respondo, acalentado pelo som de sua voz.
"Oi. Aconteceu alguma coisa?" ela parece surpresa pela minha ligação.
"O meu advogado acabou de me contar que a polícia está na pista de um suspeito", sou direto. Não adianta enrolar agora.
"Quê?" gincha, "Ai, meu Deus".
"E não sou eu", completo, na tentativa de que este pedaço de informação soe como uma boa notícia.
Eu só não sei se estou fazendo isso para acalmá-la, ou para tentar me convencer disso também.
*escritora com as mãos doendo de tanto escrever* EPAAAAA! que tenso, hein! Gentee esses dois não vão ter paz nunca! Minha nossa!
Capítulo gingantão, né nón? Compensou a espera? Espero que sim!
Bom, agora, a gente se vê na quarta, ok? E muuuuito obrigada a quem comprou meu conto na Amazon!! Vocês são demais! Para quem se interessar, o link tá no meu perfil!
Beijooo a todas e até mais :*
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