quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Para Sempre Minha: Capítulo 15 ― Cabo de Guerra (Parte II)


ATENÇÃO: PEÇO QUE LEIAM ATENTAMENTE AS MENSAGENS EM NEGRITO, POIS ELAS CONTÉM INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE AS POSTAGENS. NÃO RESPONDEREI A NENHUMA PERGUNTA SOBRE O QUE EU JÁ TIVER ESCRITO NELAS.
Eis o capítulo que não pude postar aqui por problemas técnicos.


Quando o amor enche o coração, não deixa nele lugar para mais nada. Nem para o ódio, nem para o rancor, nem para o orgulho.
José Mallorqui
Já se passou metade da manhã e parece que fiz muita coisa. Por causa da vida dupla que venho levando desde que Eva e eu voltamos a nos ver, além da agenda apertada, algumas de minhas reuniões com Ben, chefe de segurança do Crossfire, tiveram de ser canceladas. Apesar de ser absolutamente neurótico com segurança, não vi tantos problemas nesses cancelamentos, visto que confio plenamente nele e sua equipe para manter o Crossfire seguro. Seu treinamento antiterrorismo e suas altas recomendações vindas de seus antigos superiores me garantem isso. Porém fiz questão de fazer essa reunião, porque gosto de estar a par pessoalmente de tudo. Em seguida, tive a teleconferência. Os projetos no Arizona estão fluindo melhor do que o esperado, após minha intervenção.
Agora, eu preciso resolver outra questão: convidar Ireland para o lançamento do clipe dos Six-Ninths. Eva ficará muito feliz em nos ver juntos, pois ela acredita que minha irmã é a única pessoa da minha família que realmente me ama, e sou obrigado a concordar. A companhia dela é muito agradável. Na época em que meu anjo e eu ficamos separados, ela me deu muita força, conselhos maduros demais para sua idade e toda a inocência e sinceridade de seu amor. Na verdade não é apenas a Eva, eu também quero sua companhia. Além do mais, tê-la ao meu lado tornará aquela palhaçada toda menos insuportável.
Pego meu celular e procuro o número dela.
Ireland
Meu telefone toca, mas não é o suficiente para me tirar a atenção do dever de casa. Tenho que estudar mais esse ponto da matéria para manter minha média. Ainda com os olhos grudados no livro, atendo.
"Alô?"
"Oi, Ireland".
Meu coração dispara ao ouvir a voz do meu irmão. Sinto tanta falta dele! Apesar de trocarmos mensagens com frequência, ainda não é a mesma coisa. E também não é o bastante; não depois de termos passado tanto tempo juntos.
"Oi, Gideon! Que bom que ligou".
"Como vai?"
"Estou bem, e você?"
"Tudo bem. Eu te atrapalhei?"
Reviro os olhos. "Na verdade eu estava fechando uma fusão milionária agora a pouco, mas me dignei a atender seu telefonema".
"Sinto muito, ó grande mulher de negócios. Prometo que farei a interrupção valer a pena", brinca todo risonho.
Gargalho com vontade. Adoro quando ele fica tão descontraído. "Estou ouvindo".
Ele pigarreia. "Bem, eu queria saber se você gostaria de me acompanhar no lançamento do clipe do Six-Ninths amanhã".
"Sério?" pulo na minha cadeira, animada com seu convite. Eu adoro essa banda!
"Muito sério".
"Eu adoraria! A que horas nos encontramos?"
"Vou buscar você em casa às seis e meia, tudo bem?"
"Perfeito", então faço a grande pergunta. "E vem cá... A Eva vai?"
Ele faz uma pausa antes de responder. "Sim".
Nessa simples palavra, dá para notar a mudança em sua voz.
"Hum... E você pretende falar com ela?" Quanta sutileza, Ireland.
"Não sei se ela quer falar comigo".
"Espera ela dar uma abertura, oras. Tenho certeza que o amor não acabou. Não tem como. Ponha essa beleza a jogo e balance as estruturas. Mas seja educado e cauteloso. Não vai chegando como se fosse o rei do pedaço", eu aconselho.
"Vou manter isso em mente, com certeza", ele parece animado, apesar de contido.
"É claro que vai. Estou te dando a chave do sucesso de bandeja. Aproveita que é de graça".
Ele dá risada. "Certo. Bom, eu preciso ir. A gente se vê amanhã".
"Ok! Tchau!" desligo e começo a fazer uma dançinha ridícula em minha cadeira.
Eu vou ver aqueles gatos maravilhosos do Six-Ninths, mas nada supera o fato de passar mais um tempo com Gideon. Sinto que estamos cada vez mais próximos e, em breve, vou conseguir derrubar aquele muro gelado ao redor dele. Preciso agradecer a Eva. Sem ela, eu jamais teria conseguido me aproximar do meu irmão. E também, claro, dar uma forcinha para os dois, porque eu quero vê-los felizes.
Imediatamente procuro o número do trabalho de Eva. Está perto do almoço e acho que não vou atrapalhá-la. Aperto o botão "ligar" e espero.
"Escritório de Mark Gar...".
"Ai, meu Deus, Eva! Acabei de descobrir, a gente vai se ver no evento do SixNinths amanhã!" eu a interrompo, empolgada demais para me controlar.
"Ireland?"
"E quem mais podia ser? Eu adoro o Six-Ninths. Brett Kline é muito lindo. E Darrin Rumsfeld também. O baterista. Ele é um gato".
Ela ri. "E da música deles, você também gosta?"
"Pff. Claro", então eu paro de enrolar e vou direto ao ponto, "Olha, acho que você devia tentar falar com Gideon amanhã. Tipo dar um oi, como quem não quer nada. Se você der abertura, ele vai atrás de você, tenho certeza. Ele está sentindo muito a sua falta".
"Você acha mesmo?" Ela parece esperançosa e isso me instiga a continuar.
"Está na cara".
"Sério? Por que você acha isso?"
"Sei lá. Tipo, a voz dele muda quando fala de você. Eu não sei explicar, mas pode acreditar em mim, ele está louco pra vocês voltarem" explico. "Foi você que disse pra ele me convidar pro evento de amanhã, né?"
"Não exatamente...", tenta relevar.
"Ha! Eu sabia. Ele sempre faz o que você manda", sorrio. "Obrigada, aliás".
"Agradeça a ele. Eu só queria ver você de novo".
"Me promete que vai falar com ele", insisto, sem perder meu objetivo. "Você ainda é apaixonada por ele, né?"
"Mais do que nunca", responde ela sem hesitar.
Fico em silêncio, absorvendo suas palavras. Esses dois não podem ficar separados. Eles se amam, caramba!
"Ele mudou muito desde que conheceu você", comento, só para reforçar sua importância na vida dele.
"Também acho. Eu também mudei", ela se cala por um instante, e fala em seguida. "Preciso desligar agora, mas amanhã conversaremos melhor. E podemos combinar de fazer alguma coisa só nós duas".
Resolvo me despedir rápido para não atrapalhá-la. "Legal. Até mais!"
Desligo já com as engrenagens girando em minha cabeça. Eu vou ajudar a juntar esses dois. Eu os quero felizes. Eu os quero juntos. E, no que depender de mim, eles vão ficar.
Gideon
O almoço de negócios com Lewis sobre a compra de um resort nas Ilhas Gregas foi extremamente promissor. Conforme o esperado, tudo está na mais absoluta ordem. A conversa com Ireland fez meu animo se renovar, apesar do que terei que enfrentar amanhã.
Agora, estou aguardando Richard Stanton. Ele deve chegar daqui a vinte minutos.
Após conversar com Monica, o passo seguinte seria atualizar Stanton sobre minhas intenções. Ele não é o pai de Eva, mas tem sido o administrador de suas finanças. Foi por causa dele que a história de Nathan não vazou para a imprensa. Além disso, não faria sentido encher Victor Reyes com cláusulas de um contrato pré-nupcial; ele não é esse tipo de pessoa. Seria como esfregar minha riqueza na sua cara ou algo assim, e a última coisa que preciso é ser reprovado pelo único homem que Eva ama incondicionalmente além de mim. Ele já deve me odiar o suficiente no momento. A única coisa que lhe importa é que eu faça sua filha feliz da forma que ela merece. E é o que pretendo dizer a ele no momento oportuno.
O interfone toca. É Scott me avisando que Stanton acaba de chegar. Ajeito meu terno e sigo para a recepção. O padrasto de Eva se vira assim que me vê e toma sua pose imponente. Apesar de austero, seu rosto ainda conserva uma jovialidade pouco usual para homens em sua posição.
"Como vai, senhor Stanton? Obrigado por ter vindo", estendo-lhe minha mão.
Ele corresponde ao cumprimento. "Vou bem, obrigado. Pelo teor do que vamos tratar eu não poderia ter agido diferente".
"Por favor, me acompanhe", eu indico o caminho.
"E como vai a senhora Stanton?"
"Eu acho que você já deve imaginar como ela está, visto que conversaram com há poucos dias", responde com humor. "E vamos parar com esse negócio de senhor e senhora. Dadas as circunstâncias, esse tipo de formalidade é desnecessária".
"Como quiser Richard", dou um leve sorriso e abro a porta. "Por favor, fique à vontade".
O cômodo é bem parecido com uma sala de estar, apesar de ser minimalista, com três paredes brancas enfeitadas com quadros de arte abstrata e uma enorme janela com vista para a cidade. Há também alguns vasos de plantas decorativos. No canto esquerdo, há um frigobar e uma mesa com alguns petiscos, água, café, chá e conhaque. No canto direito, três poltronas, um sofá de três lugares (todos em tons de cinza) e uma mesinha de centro redonda de madeira clara.
Ofereço-lhe algo para beber, o que ele recusa; então nos sentamos.
"Muito bem, Gideon. Que tal irmos direto ao ponto?", diz sem rodeios.
"É claro. Monica com certeza comentou com você a conversa que tivemos".
"Sim. Eu ouvi muito sobre isso. Ela ficou muito satisfeita por você tê-la procurado. Foi uma estratégia louvável e inteligente, tenho que confessar".
"Eva e eu passamos por momentos complicados e acabei agindo em desacordo com o que ela realmente merecia. Procurá-la diretamente seria indelicado da minha parte", minto naturalmente.
"Eu ouvi sobre isso também", seu semblante fica sombrio. "E não gostei nada. Eva não é minha filha, mas tenho muito carinho e respeito por ela. Uma mulher rara, como a mãe. A situação foi humilhante e Monica, apesar de não ter dito nada à Eva, ficou furiosa, ultrajada. E com razão".
"Eva significa muito para mim", escolho tomar uma postura mais conciliatória. "Reconheço meus erros e farei o que for necessário para corrigi-los. Eu a quero feliz ao meu lado".
"Bem, você já conseguiu contornar a situação com Monica, e ela por si só não é fácil. Você já conversou com Eva?"
"Ainda não", minto novamente. "Mas planejo entrar em contato em breve. Já conversei com Monica, que obviamente conversou com ela sobre minha ligação. Não quero pressioná-la nem ser inconveniente".
"É uma boa estratégia" avalia. "Além disso, houve aquele... problema com Nathan", ele tenciona, assim como eu
"Eu soube. Não sou a favor de violência de nenhuma natureza, mas não vou ser hipócrita. Ele teve o que mereceu".
"Concordo. Recebi a ligação de meu advogado há três dias, dizendo que não sou mais um suspeito. Parece que há provas que apontam para outra pessoa".
"Meu advogado também me avisou que fui descartado. Imagina quem seja?" tento sondar.
"Não faço ideia, mas deve ser algo muito sério. O pai de Barker foi chamado a depor", essa informação me surpreende. "Meu advogado o viu saindo da sala de interrogatório, parecendo muito pálido. Ontem fiquei sabendo que ele foi embora do país. Acredito que Nathan estava envolvido em algum tipo de esquema, mas não posso confirmar nada. A polícia não deu detalhes do caso".
Balanço a cabeça, pensando se divido com ele as informações que meu advogado me passou, mas resolvo ficar em silêncio.
"Mas, voltando ao assunto", ele se ajeita no assento. "Gostaria de entender o porquê de você querer falar comigo. Fico feliz que tenha intenções de se casar com Eva num futuro breve, mas, como eu disse, não sou o pai dela. Victor Reyes já tem muitas turras comigo por eu ter me oferecido para pagar sua faculdade, ele não vai gostar nada de saber que você está pedindo a mão dela para mim".
"Você está certo. Eu tenho que pedir a mão de Eva a ele. E vou. Quero falar com você sobre o acordo pré-nupcial".
Assim que eu termino de falar, sua postura muda visivelmente. Richard Stanton, um dos executivos mais respeitados e temidos do mercado financeiro, aparece bem diante dos meus olhos, e não parece nada feliz.
Sem me alterar, pego o envelope pardo em cima da mesinha de centro e o estendo para ele.
"Antes de dizer qualquer coisa, leia-o".
Stanton me lança um olhar cortante de antes de pegar o envelope e abri-lo. Pega o contrato com cautela e me olha mais uma vez antes de começar a ler.
Ele parece extremamente compenetrado no contrato. Observo-o atentamente. Suas sobrancelhas se erguem de surpresa em muitos momentos, página por página, e sua expressão sisuda e metódica muda para absoluta descrença e surpresa em poucos segundos.
Quando ele finalmente termina, volta seus olhos um pouco arregalados para mim.
"Você tem certeza do que está escrito aqui?" pergunta com certo tom de incredulidade.
"Claro", respondo sem hesitar.
"E o que seu advogado disse?"
"Eu pago um salário acima da média para que ele cumpra mais que questione minhas ordens".
Stanton fica olhando para mim, como se eu fosse uma espécie de experimento científico. Eu o encaro de volta, de igual para igual.
"Você faria qualquer coisa por ela", murmura baixinho. Não foi uma pergunta. "Você a ama".
"Com todo o meu coração", afirmo veementemente.
"Minha nossa, Gideon. Isso é... Muito".
"É o que Eva merece".
"Sim, mas é o seu patrimônio. Bonificação por cada filho? Nenhuma penalidade em caso de infidelidade a não ser aconselhamento conjugal? E, se você trair, você vai pagar uma alta quantia?" seus olhos se arregalam ainda mais.
"Como eu disse, eu a quero em minha vida para sempre. Eu não desistirei dela, independente do que aconteça. Estou declarando, por esse contrato, o quanto eu amo, apesar de que para mim isso não é o suficiente para demonstrar algo tão grande".
"Você está entregando tudo nas mãos dela, Gideon. Tudo".
"Ela é o meu tudo".
Ele continua a me olhar, em silêncio. Em seguida, guarda o contrato dentro do envelope e o coloca de volta em cima da mesinha.
"Sei que esse contrato não diz nada para o pai de Eva. Isso não provará nada a ele, por estar envolvido emocionalmente. Mas eu vejo, eu vejo em termos práticos e emocionais. Victor seria um tolo se não te aprovasse. Não acho que ninguém poderia amar mais Eva do que você".
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"Acabei de receber a ligação do gerente do resort, senhor. Está tudo pronto para sua chegada. As roupas chegaram e já foram guardadas, incluindo o vestido", Scott confirma. "Toda a decoração para a cerimônia está de acordo com o que o senhor solicitou. O juiz de paz já chegou e está hospedado em uma das suítes presidenciais".
"Excelente, Scott", digo enquanto recoloco o paletó. "A assistente de Lewis irá enviar uma cópia digital do contrato de compra para você. Revise tudo e me reenvie o mais depressa possível".
"Sim, senhor".
"Pode ir se quiser. Boa noite", pego minha pasta e me encaminho para porta.
"Obrigado, senhor. Boa noite", ele responde atrás de mim.
Em cinco minutos, estou no carro, a caminho do consultório do Dr. Petersen. Penso no que Stanton disse sobre ninguém amar Eva mais do que eu. Se antes ele não acreditava nisso, consegui reverter o quadro com alto grau de sucesso hoje. Para homens como Richard Stanton, o patrimônio é algo fundamental. Fazer as concessões que estou fazendo nesse contrato, significa ou ser um grande estúpido, ou um homem loucamente apaixonado.
Eu jamais faria algo assim se eu não tivesse certeza do amor de Eva por mim. A minha fé nisso e no que sinto por ela é enorme. Mesmo com os obstáculos que temos pela frente. São muitos, são grandes, mas não intransponíveis.
Meu celular toca. O nome de Arnoldo aparece na tela.
"Ciaoamico", saúdo.
"Ciaostronzo", sua voz alegre me faz sorrir. "Como você está?"
"Bem, e você?"
"Curioso".
Franzo o cenho. "Por quê?"
"Porque Eva fez uma reserva no Tableau One para amanhã à noite, em seu nome".
Meu coração se aperta. "Sério?"
", mas o mais estranho é que essa reserva é apenas para dois. Tem alguma coisa que você queira me contar?"
Suspiro, já imaginando que Brett seria sua companhia.
Resolvo ser direto. "Brett Kline irá jantar com ela".
Ele fica em silencio por um instante. "Madre de Dio".
"Ele a convidou para o lançamento do clipe do Six-Ninths amanhã, e ao que parece, a convidou para jantar também", explico.
"Kline quer conquistá-la novamente".
"É", murmuro contendo a irritação.
"E o que você vai fazer? Quer dizer, ela marcou um jantar com outro homem, no seu nome!"
Ouvir isso dele torna tudo mais horrível ainda. "Vou fazer reservas no mesmo horário. Vou levar minha irmã para jantar".
"Ireland?" com certeza ele está sorrindo. Arnoldo adora minha irmã. "Que maravilha! Vou adorar cozinhar para ela. Que bom que vocês estão tão próximos".
"Pois é. Ela vai me acompanhar no evento, então não será nada estranho aparecer aí para jantar".
"Não mesmo", concorda. "Vou cuidar da reserva pessoalmente. Isso será interessante. Dois homens duelando pela mesma mulher".
Reviro os olhos. "Não vai ter nada demais. Minha irmã estará em cena. Não vou sair na porrada com o cara. Ainda mais na frente dela".
Ele suspira. "Você tem certeza disso, Gideon?"
Sei que sua pergunta não se refere ao jantar. "Eu a amo. Ela me ama. Ela vale o esforço. Nós fomos feitos um para o outro".
"Va benne cozi. Mas tome cuidado. Eva não me parece ser do tipo que tem certeza das coisas. Ela é volúvel. E achei um desaforo enorme ela querer jantar logo no Tableau One com esse Brett e ainda usar seu nome. Mas você é adulto e sabe o que faz. Boa sorte".
"Obrigado, amico", eu me limito a dizer, mas suas palavras me perfuram como lanças.
Sei que Eva escolheu o Tableau, provavelmente pensando que seria melhor que eles jantassem num território sobre o qual eu tivesse domínio. Mas claro que Arnoldo não poderia entender isso, porque para ele, assim como para todos, nós ainda estamos separados.
Angus chega ao consultório do Dr. Petersen e finalizo a ligação com Arnoldo. Saio do carro e me encaminho para o prédio.
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"Boa noite, senhor Cross", a secretária me cumprimenta assim que entro na recepção. "O Dr. Petersen já o está aguardando. Pode entrar".
"Obrigado", agradeço dando um aceno de cabeça e vou até o corredor.
A porta está aberta e ele está sentado em sua poltrona, fazendo anotações em seu inseparável tablet. Assim que me vê, abre um sorriso amigável.
"Gideon, como vai?", ele se levanta para me cumprimentar.
"Bem, obrigado", retribuo o cumprimento e me sento na cadeira estofada em frente à dele.
"Então, como está indo o tratamento com o remédio?"
Suspiro. "Como você disse, não é uma cura nem é totalmente eficaz. Ainda tenho pesadelos, mas estão menos frequentes".
"Isso é muito bom", afirma. "O tratamento é gradual. Se continuar tomando os remédios e fazendo a terapia, vai ficar cada vez mais fácil lidar com o problema. Falar sobre os pesadelos ajuda muito no processo".
Fecho a cara na hora. "Não estou pronto para falar disso".
"E quando vai estar?"
Olho para ele, impassível.
"Gideon, entendo seu receio" ele tira os óculos para me encarar. "Não é minha intenção aqui te obrigar a nada, mas você está aqui porque admitiu um problema e precisa de ajuda para lidar com ele. A sua escolha anterior foi fugir do problema, fugir das pessoas para que elas não vissem suas fragilidades. Você se privou de viver e jogou tudo para debaixo do tapete, como se não fosse nada. Agora, você está aqui para se curar de verdade; porém, quanto mais você se fecha, mais demorado é o processo de cicatrização. Seu passado está prejudicando seu presente e futuro. Você quer que isso continue a acontecer?"
Penso em tudo o que ele diz. Claro que ele está certo, como sempre. Como eu poderei dormir ao lado de Eva se não tenho coragem de me abrir? Isso faz parte. Não é esse o objetivo dessa coisa toda?
Estou cansado. Cansado de guardar tudo. Eu quero falar. Não tudo, mas aos poucos. Mas eu tenho que falar. Eu quero uma vida com Eva, quero me casar com ela e poder dormir ao seu lado todas as noites. Ninguém disse que seria fácil. E eu mesmo não disse que faria de tudo por nós.
Essa é minha prova de fogo.
Estou tenso, retraído, mas decidido. Respiro fundo antes de falar baixinho. "Eu não consigo distinguir a realidade do sonho".
O Dr. Petersen franze o cenho. "Como assim?"
"O que acontece no sonho. Eu não sei se é algo que aconteceu comigo ou se é só ficção, sabe? Coisa da minha cabeça. Situações que não existiram de fato".
Ele recoloca seus óculos e começa a digitar furiosamente em seu tablet. Minutos depois, ele olhar para mim novamente.
"A mente humana é uma mestre em pregar peças. É normal que uma situação traumática tome contornos exagerados e ângulos mais dramáticos nos sonhos. A realidade acaba se confundindo com o que não é real".
"Queria saber explicar melhor, mas", hesito e acabo retrocedendo, "ainda não consigo falar sobre o cunho dos pesadelos. Eu... não posso", eu murmuro e olho para minhas mãos, me sentindo um covarde.
"Não se preocupe, Gideon. Não precisamos fazer tudo de uma vez. Vamos com calma. Comecemos com o que você consegue falar, e veremos como a coisa se sai. Por ora, podemos falar de outra coisa, se quiser".
Respiro fundo, tentando acalmar as batidas frenéticas do meu coração. É sempre a mesma maldita reação de merda quando toco nesse assunto.
"Soube que um novo suspeito surgiu para o assassinato de Nathan", comenta, vendo minha apatia. Isso me acorda e olho de volta para ele.
"Sim. A polícia não detalhes. Meu advogado me ligou para avisar. Stanton e eu fomos retirados da lista de suspeitos".
"Isso é ótimo. Tem alguma notícia de Eva?"
Tenho vontade de rir. Eu tive muito mais do que alguma notícia de Eva.
"Eu liguei para Monica para saber dela. Parece que ela está bem".
"Como ela reagiu à sua ligação?"
"No início, foi bem hostil, como a boa mãe protetora que ela é. Mas conseguimos nos entender. Deixei claras as minhas intenções de não apenas reatar com Eva, mas me casar com ela em um futuro próximo".
O doutor arregala os olhos, surpreso. "Casamento?"
"Sim. Eu a amor, ela me ama. Não há porque negar algo que vai acontecer de qualquer forma".
Ele franze o cenho. "Você tem certeza, Gideon. Em uma das sessões deixou claro que não queria seu nome envolvido com dela por causa da situação com Nathan".
"Eu estava errado. Fui um idiota completo. Estava mais preocupado comigo do que com como Eva se sentia sobre tudo aquilo. Em toda a minha vida fui completamente alheio aos sentimentos dos outros e aos meus próprios a fim de me proteger. E esse lado egoísta meu veio à tona no pior momento possível. Quero consertar as coisas. Quero ser feliz ao lado dela. Não há outra mulher para mim".
"Você acha que ela vai te perdoar?" pergunta.
"Acredito que sim. Ela me ama também. Nós... nos encontramos muitas vezes por trabalharmos no mesmo local. Pelo que percebi... eu tenho chance. Eu sei".
"E você acha que ela vai aceitar se casar com você?"
Minha mente e coração entram em um embate. Cada um diz uma coisa. Mas a minha fé é inabalável.
"Não temos escolha, Dr. Eu tenho que pedir. E ela tem que dizer sim. Nós nunca seremos felizes estando separados".
<<<>>>
Após a consulta, peço que Angus me leve para a casa de Corinne. Suas ligações incessantes e bombardeios de mensagens estão me assustando. Ela está cada vez mais descontrolada. Não me parece ser apenas despeito ou um chilique. É mais sério. E isso tem que parar antes que acabe mal para nós dois.
Ligo para ela rapidamente para avisar que irei passar lá para conversarmos. Ela responde animadamente, apesar de eu ter sido seco.
Angus chega rapidamente ao prédio dela, que é na mesma rua que o meu. Ele dá a volta para abri a porta para mim. Saio, mas antes que eu possa dar um passo, ele me chama.
"Sim?" respondo.
"Vá com calma. Sei que ela não é um anjo de candura, mas ela está frágil. Não parece estar no controle de si mesma, entende? Tem alguma coisa acontecendo. Mantenha-a a distância, mas não seja muito duro. Procure saber o que ela tem".
Balanço a cabeça. "Eu também pensei isso. Não se preocupe, eu vou ter calma".
"Ótimo", ele bate no quepe com os dedos, fechando a porta do carro e retornando ao seu posto na direção.
O porteiro me reconhece na hora e permite minha entrada. Corinne ligou para avisar que eu chegaria.
Rapidamente o elevador chega ao andar dela. Vou até sua porta e toca campainha.
A porta se abre e... Puta que pariu.
Corinne está só com um robe de seda azul claro, da mesma cor de seus olhos, contrastando com o tom moreno de sua pele. Seus cabelos sedosos estão levemente bagunçados e seus olhos parecem vidrados.
Linda, mas não como Eva.
"Entra", sussurra num tom que era para ser sedutor.
Preocupado, atendo seu pedido, constrangido demais para falar qualquer coisa. De costas para a porta, ela a fecha. Seus olhos estão fixos em mim enquanto morde os lábios.
"Estou feliz que você tenha vindo", sussurra saindo da porta e caminhando na minha direção.
"Corinne, precisamos conversar", digo determinado. "Precisamos colocar um ponto final nesta história".
Ela continua a andar para perto de mim, e dou largos passos para trás.
Sua risada graciosa enche o ar. "O grande Gideon Cross com medo de mim?"
"Você está fora de si, Corinne. O que está acontecendo?"
"Você quer conversar?" murmura e para de andar. "Não acho que seja uma boa ideia. Por um ponto final? Péssima ideia. O que nós precisamos é que você me coma".
E antes que eu possa perceber ela desata o nó do robe e o tira, ficando completamente nua diante de mim.
Mas que porra!
Por reflexo, desvio o olhar e viro o rosto na direção da janela.
"Pare com isso, Corinne", esbravejo. "Se vista imediatamente".
"Por quê? Está com medo de não resistir?" ronrona.
"Mas o que tem de errado com você?" mantenho o rosto virado. "Eu já disse que nossa história acabou! O que mais eu preciso fazer para você entender isso?"
De repente, ela está perto e me agarra, apertando seus braços ao meu redor. Seus seios desnudos se colam contra meu peito e sua pélvis roça no meu pau.
"Você me deseja", geme. "Eu sei que sim. Não resista, Gideon. Olhe para mim. Olhe para esse corpo que sempre pertenceu a você. Me sinta. Sinta nosso desejo, nossa energia, nossa química. Se entrega".
Mas meu corpo é incapaz de reagir, porque ele simplesmente não reconhece aquela mulher. Ela não é Eva.
"Mas que merda, Corinne", sem pensar, eu a agarro pelos braços e me afasto dela violentamente. A força do meu empurrão a faz cair deitada no sofá. "Você enlouqueceu. Que merda você pensa que está fazendo?"
Olho para ela enjoado. Eu não consigo olhar de outra forma. Para mim, é só mais um corpo. Só mais um dos vários que já vi. Ele não me chama, não tem nada de especial.
Corinne me encara, chocada. Em seguida, vejo seus orbes azuis brilharem pelas lágrimas que se acumulam. Seu peito sobe e desce rapidamente.
"Me desculpe", peço sinceramente. "Eu não queria fazer isso. Você me assustou. Eu machuquei você?"
Ela se levanta em um pulo, sua expressão de tristeza logo se transformando em raiva.
"Agora você se preocupa com isso? Seu desgraçado. Eu jogo meu orgulho no lixo por você e é assim que você retribui? Insensível. Eu odeio você".
Ela vem com tudo para cima de mim, com os punhos cerrados, e começa a socar meu peito, gritando como louca, e me deixando ainda mais preocupado.
Tento segurar seus pulsos sem machucá-la, mas com força suficiente para fazê-la parar. Ela perde a força com o tempo e seus gritos se transformam em um choro descontrolado. Seu corpo tomba sobre o meu e eu a seguro. Coloco-a sentada sobre o sofá, pego seu robe e a cubro com ele.
Ela continua chorando por algumas horas, sem parar, até dormir. Eu apenas a seguro contra mim, acariciando seus cabelos, e pensando na porra da confusão em que fui me meter.
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Meu retorno para casa não poderia ter sido mais cansativo. O caso de Corinne é mais preocupante do que imaginei. Eu nunca havia visto alguém tão histérico assim. Realmente, ela estava completamente fora de si.
Felizmente, notando sua instabilidade, sua governanta ficou em casa, apenas para garantir sua segurança. Apenas coloquei Corinne na cama e pedi para que Bette cuidasse dela e ligasse para seus pais. Eles precisavam saber o que estava acontecendo com a filha, mas eu não queria me envolver diretamente nisso.
Saí de lá atordoado. Ao perceber meu estado de ânimo, Angus dirigiu em silêncio, se abstendo de fazer qualquer comentário.
Em seguida, recebi uma mensagem de Raul, avisando que a polícia havia ido ao prédio de Eva. Maravilha. Era só o que faltava para que meu dia, que começou muito bem, terminasse uma grande merda.
Passei na minha cobertura para tomar um banho e tirar o perfume de Corinne de mim. Esfreguei bem até minha pele ficar vermelha. Eu não queria a lembrança do que acontecera em seu apartamento. Já basta a situação caótica em si.
Eva jamais saberá o que aconteceu naquele apartamento. Para mim, morrerá ali.
Fizemos o mesmo esquema de troca de roupa e carros e fui dirigindo a BMW para o Upper West Side. Mal cheguei ao nosso apartamento, fui direto para o escritório para pegar meu laptop. Ao abri-lo, vejo que Scott me enviou o contrato de venda do resort nas Ilhas Gregas, e mais um monte de relatórios sobre a estrutura, avaliação de clientes, entre outros documentos. Suspirei. Seria uma longa noite.
Mas eu não quero nada disso. Eu só quero Eva. Sentir a sua pele na minha, o seu perfume, os seus seios colados ao meu peito. Só ela existe para mim. Por isso, acabo indo para seu apartamento. Cary não estará em casa durante a noite e Victor foi embora. O lugar estará livre para nós. Além disso, eu quero surpreendê-la. Sei que ela deve estar tensa pela visita da polícia, e quero que acalmá-la. Fazê-la sentir prazer após um dia de merda.
Resolvo me distrair com o trabalho enquanto ela não chega. Vou para seu quarto, fecho a porta e começo a trabalhar.
Nathan está diante de mim, sorrindo de forma demoníaca. O olhar em seu rosto é tão apavorante que me sinto um arrepio me subir pela espinha. Seu sorriso é a coisa mais nojenta que já vi. E ele quer pegá-la. Ele quer minha Eva. Mas não vou permitir. Eu estou aqui, agora. Eu irei protegê-la.
A imagem muda, e agora ele está em cima dela, a subjulgando, tentando violá-la novamente. Um grito de desespero e dor escapa dos meus lábios. Não, não, não! Imediatamente corro na direção deles e o pego pelo pescoço, o tirando de cima dela. Ele reage me dando um soco no nariz, que se desloca. Entramos em um embate corporal. Desfiro vários socos, enquanto ele tenta se defender inutilmente.
"Nunca mais", vocifero. "Você nunca mais vai por as mãos nela de novo".
As imagens são confusas. São várias. Ele apertando a mão em sua boca enquanto estoca violentamente nela. Ou a pegando por trás, puxando seus cabelos com força, enquanto ela grita por socorro.
Sua mão nojenta toca meu ombro, e me coloco em cima dele, imobilizando-o completamente. Estou com ódio. Muito ódio. Não há nenhum outro sentimento em mim além do ódio.
"Agora você vai sentir na pele o que fez", murmuro entre dentes.
Movimento minha pélvis contra a sua bruscamente. Ele se debate embaixo de mim, tenta beliscar meu bíceps, mas é em vão.
No entanto, algo me acerta forte no estômago, me fazendo arfar e rolar para o lado.
"Caralho", grito de dor. E percebo que estava sonhando. Porra. De novo não.
Meus olhos se abrem no mesmo instante. "Eva".
Ela volta a me encarar, já de pé, parecendo rígida, pronta para se defender.
Levanto-me da cama rapidamente, mas devido ao atordoamento, quase caio de joelhos antes de conseguir me equilibrar e endireitar o corpo.
"Desculpa. Eu peguei no sono... Pelo amor de Deus, me desculpa".
"Está tudo bem", fala, tentando se manter calma. "Relaxa".
Passo as mãos pelos meus cabelos ensopados de suor. Minha pele está febril e meu coração bate acelerado.
"Minha nossa".
"Você se lembra do sonho?" diz chegando perto de mim cautelosamente.
Engulo em seco antes sacudir em negação. Eu realmente não lembro de muita coisa.
"Mentira".
Sua acusação me enerva. "Puta que pariu. Você precisa...".
"Você estava sonhando com Nathan. Isso acontece com frequência?", ela pergunta pegando minha mão na sua.
"Não sei", não é como os outros sonhos. Eu sinto apenas a aflição, a dor, o peso, mas as imagens não são nítidas.
"Não mente pra mim", rebate.
"Não estou mentindo!", grito, frustrado com sua desconfiança. "Eu quase nunca me lembro dos meus sonhos".
Ainda segurando minha mão, ela me leva até o banheiro.
"A polícia veio aqui hoje falar comigo", muda de assunto.
"Eu sei", digo, ainda abalado com o que acabara de acontecer.
"Eles foram falar com você também?"
"Não. Mas andaram fazendo perguntas por aí."
Ela acende a luz e eu me detenho, segurando-a. Não acho que estamos prontos para estar tão perto um do outro.
"Eva", advirto.
"Pro chuveiro, garotão. A gente conversa depois que você tomar banho".
Pego seu rosto com as mãos, passando os polegares por suas bochechas.
"Você está apressando demais as coisas. Vamos com calma", eu não conseguia parar de pensar no que eu poderia ter feito se Eva não soubesse o que fazer para se defender.
"Eu não quero que cada pesadelo seu se transforme em um drama", murmura.
"Espera um pouco", peço, encostando minha testa contra a sua. "Eu assustei você. E eu também estou assustado. Espera um pouco".

Ela atende o meu pedido, e põe uma das mãos sobre meu coração disparado. Afundo o nariz em seus cabelos, aspirando seu aroma delicioso.
"Quero sentir o seu cheiro, meu anjo. O seu corpo. Dizer que sinto muito".
"Está tudo bem", tenta apaziguar.
"Não está tudo bem coisa nenhuma", rebato. "Eu devia ter esperado no nosso apartamento".
Ela encosta seu rosto no meu. "Fiquei olhando pro telefone a noite toda, esperando uma mensagem sua".
"Eu trabalhei até tarde hoje". Eu não falarei de Corinne, não é o momento. Enfio a mão por baixo de sua blusa, acariciando suas costas. "Vim pra cá pra fazer uma surpresa... fazer amor com você...".
"Acho que a gente está livre", sussurra, agarrando minha camiseta. "Os detetives... Acho que já está tudo certo".
Olho bem para ela. "Explica isso direito".
"Nathan tinha uma pulseira que sempre usava...".
"De safira. Bem feminina", completo.
Ela me encara de volta. "Sim".
"O que é que tem?"
"Ela foi encontrada no braço de um gângster morto. Um cara da máfia russa. Eles estão trabalhando com a hipótese de que era uma conspiração criminosa que deu errado".
Fico paralisado, tentando absorver essa informação. Estreito os olhos, relembrando o dia em que matei Nathan, focando na joia que brilhava em seu pulso esquerdo.
"Interessante". "Esquisito, isso sim. Eles falaram de fotos minhas, de tráfico de mulheres, umas coisas sem sentido...".
Eu a beijo, interrompendo sua fala. "Eu disse que era interessante porque essa pulseira estava no braço de Nathan naquela noite".
Seus olhos se arregalam. Ela entendeu exatamente o que quis dizer.
Beijo-a novamente. "Vamos. Preciso tomar um banho. Aí a gente conversa sobre isso".
Eva bem que tenta se infiltrar no chuveiro comigo, mas recuso. Eu não posso ter esse contato com ela agora. Lavo-me com movimentos mecânicos, tirando todo o suor causado por aqueles momentos de tensão. Eu não consigo visualizar o que Eva vê sempre que me vê nu, sempre que me toca. Nesse momento, me sinto um inútil pedaço de carne.
Sinto seu olhar sobre mim durante o banho e quando saio dele. Minha pele queima, meus pelos se arrepiam. É sempre assim. Acho que nunca vou me acostumar com a forma como reajo quando estou com ela.
Termino de me enxugar, me coloco atrás dela e beijo sua nuca. "Eu não tenho nenhuma ligação com o submundo", murmuro.
Eva, que estava escovando os dentes, termina de enxaguar a boca e me encara pelo espelho. "Você acha que precisa dizer isso pra mim?"
"Antes dizer do que ouvir você perguntar", dou de ombros.
"Alguém se arriscou um bocado pra proteger você". Ela se vira para mim. "Será que foi Angus?"
"Não" descarto imediatamente. Afinal, Angus esteve com Corinne e comigo depois que voltei para o evento da Kingsman. "Me conta como o tal mafioso morreu".
Ela passa seus dedos pelos músculos de meu abdome, que enrijecem no mesmo instante. "Foi assassinado por um comparsa. Como retaliação. Ele estava sob vigilância, então Graves tem uma prova documentada do crime".
"Então foi alguém de dentro. Com acesso aos mafiosos ou aos arquivos da polícia, ou então as duas coisas. Quem quer que seja, escolheu um cara já condenado, que poderia levar a culpa sem que isso fizesse a menor diferença", pondero, já pensando em mandar Raul investigar o fato.
"Não quero nem saber quem foi que fez isso, desde que você esteja a salvo", murmura.
Beijo sua testa carinhosamente. "Mas precisamos saber", digo baixinho. "Se a intenção era me proteger, então o responsável por tudo isso sabe o que eu fiz".
Seja lá quem for o homem eu o devo. Ele me livrou da culpa de um assassinato. E irá me cobrar, cedo ou tarde. Preciso saber o preço eu teria que pagar por isso.

Jesus! E essa paz que corre desses dois o tempo todo! SOS!E aí, gostaram? Espero que sim!
Esse é o último capítulo do ano! Obrigada a todos pelo apoio, paciência e carinho durante essa trajetória. 
Desejo a todos um ano novo cheio de amor, paz, felicidade e prosperidade!
Grande beijo e até ano que vem :*

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