sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Para Sempre Minha: Capítulo 16 ― Prova de Fogo

ATENÇÃO: PEÇO QUE LEIAM ATENTAMENTE AS MENSAGENS EM NEGRITO, POIS ELAS CONTÉM INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE AS POSTAGENS. NÃO RESPONDEREI A NENHUMA PERGUNTA SOBRE O QUE EU JÁ TIVER ESCRITO NELAS. 
FELIZ 2016 GENTEEEE! Como foram de festas? Como foram de férias? Espero que esteja tudo bem. 
Mas agoraaaaa.... 
HOJE! É HOJE!É HOJE! 
Não resisti, gente, foi mal! 
Preparadas para a nossa #Gideonterapia? 
A consulta de hoje está agitadíssima. Preparem os nervos porque esse capítulo tá bem grande e promete! 
Boa leitura! 


Amar é uma mistura de alegria e medo; de paz por um lado e ameaça de guerra pelo outro. É pensar que a felicidade tem nome e endereço. É temer não estar à altura. É sofrer tanto quanto querer.
― Bruno Campel
Chego ao trabalho sob extrema pressão. E não é para menos. Eva e eu faremos nossa primeira aparição pública no mesmo local desde nossa separação forçada. Para todos, estamos separados. E isso me mata, porque não poderemos ficar juntos. Estar no mesmo lugar, sentindo sua presença e vendo-a sem poder tocá-la será uma enorme tortura. O dia será muito pesado para nós dois, e não apenas por isso.
Brett Kline está na cidade e, com ele, a promessa de momentos turbulentos para nós dois.
Eu não podia culpá-la por aceitar seu convite, no entanto. Eva ainda está sangrando pelo que lhe fiz. Ainda dói e não acredito que essa dor irá embora tão cedo. Recuperar sua confiança será uma luta árdua. Mas, mais árdua ainda, será lutar para que Kline não a tire de mim. Existem sentimentos mal resolvidos entre eles. Uma atração intensa a qual, no fundo, duvido que Eva consiga resistir totalmente. Tudo o que peço é para não ver a cena do beijo no show se repetir. Não consigo nem mesmo suportar a memória daquele dia sem sentir uma pontada forte de dor no peito. Revivê-la me destruiria.
O que me dá mais raiva, é que ele poderá ficar por perto o tempo inteiro, pairando como uma assombração em cima dela, sem se preocupar com nada.
Assim como Corinne teve acesso a mim enquanto tive de ficar afastado de Eva.
A constatação disso me trás um gosto amargo na boca.
O fato de Eva ter menstruado novamente nos impediu de transar na noite passada. Ficamos abraçados, em sua cama por um bom tempo, evitando conversas tensas e estressantes, apenas assistindo TV, desfrutando mutuamente da companhia. Procuramos apenas ser o porto seguro um do outro naquele momento. Buscando, desesperadamente, uma única ligação que dissesse que estávamos juntos para o que desse e viesse independente do que fosse. É raro termos essa pausa em nossa vida conturbada, mas quando temos, é absolutamente prazeroso, tanto quanto o sexo.
No entanto, hoje foi impossível resistir. Eu tinha voltado para nosso apartamento para dormir. Eva veio me ver logo de manhã, bem cedo. Ela queria fazer amor comigo, apesar do receito de que eu não aceitasse pelo fato de ela ainda estar menstruada. Mas não dei a mínima para isso. Eu precisava dela com a mesma intensidade, acima de qualquer coisa. Ela estava louca, insaciável, carente e preocupada. Eu, idem.
As coisas sempre foram muito físicas para nós; o sexo é minha válvula de escape, assim como para Eva. Mas quando precisamos afirmar nosso amor, e estabelecer laços, estar dentro dela é ainda mais necessário, pois só assim nos sentimos seguros e tranquilos. É minha forma de mostrar que sempre cuidarei de Eva, e é a forma dela de se sentir protegida e amada.
Nossos respectivos abusos mudaram nossa forma de ver o sexo, e nosso contato físico, ao mesmo tempo em que é uma droga que nos fragiliza, é também uma cura para grande parte de nossas feridas. E o afastamento está sendo insuportável para ambos.
Nossa vida é uma tempestade que parece nunca ter fim. As turbulências vêm de todas as direções e, em momentos de insegurança, acabo me perguntando se Eva será capaz de enfrentar tudo isso ao meu lado. Para ela, casar agora é cedo demais. Para mim, esperar para casara é apenas adiar o inevitável. Se temos certeza de que não há ninguém para nós a não ser um ao outro, não há razão para esperar.
No entanto, para que esse casamento dê certo, preciso tirar todas as pedras do caminho. E, quando me refiro a pedras, falo dos restos dos muros que construí ao meu redor. Eva os quebrou, mas os resquícios ainda nos atrapalham. Como meus segredos.
Por isso, eu lhe disse que iria responder tudo o que quisesse me perguntar. Ela ficou com medo de que eu me sentisse pressionado, mas eu deixei claro que eu estava disposto a colaborar.

FLASHBACK
Nós estávamos abraçados, bem apertados, depois de uma transa que mexeu com nossas emoções. A proximidade não era o suficiente. Eu precisava de mais. Precisava estar em todos os aspectos de sua vida, tomar posse de cada parte de seu corpo. Senti-la toda e completamente rendida e entregue a mim.
"Eu estou pronto", olhei para ela, determinado. "E preciso que você esteja pronta. Porque não vai demorar muito pra eu fazer uma certa pergunta, Eva, e quero ouvir a resposta certa".
"Ainda é cedo demais", ela sussurrou com a voz embargada e tentou se afastar um pouco, mas a puxei de volta imediatamente. Eu não a deixaria escapar de mim. "Eu não sei se consigo".
"Mas você vai estar sempre ao meu lado", eu a lembrei do que ela tinha acabo de dizer. "E eu do seu. Por que adiar o inevitável?"
"Não é assim tão simples", ela tentou argumentar. "Nós ainda temos muitos traumas e questões pessoais a resolver. Se não tomarmos cuidado, um de nós pode se fechar, querer se afastar...".
"Pode me perguntar o que quiser, Eva", garanti. Eu não queria mais nada entre nós.
"Gideon...".
"Agora", eu a cortei.
Ela ficou em silêncio por um tempo antes de fazer a primeira pergunta: porque o Dr. Lucas mentiu para minha mãe.
Falar disso me incomodava, mas não mais que afastar Eva de mim. Cerrei os dentes e senti a frieza tomar conta de mim.
"Pra proteger o cunhado dele", murmurei.
Ela se assustou. "O irmão de Anne? A mulher com quem você dormia?"
"Com quem eu trepava", corrigi asperamente. "Todo mundo na família dela trabalha no ramo da saúde mental", enfatizei com toda a minha raiva e deboche. "Todos aqueles loucos. Ela é terapeuta. Isso não apareceu nas suas pesquisas no Google?"
Eva balança a cabeça em afirmação, ainda atordoada demais para falar.
"Na época eu não sabia", prossegui. "Não consegui entender por que Lucas mentiu. Ele é um pediatra, porra. Deveria se preocupar com o bem-estar das crianças".
"Mais que isso. Ele deveria ter um pingo de humanidade!" disse, enraivecida. "Não acredito que ele teve a coragem de olhar pra minha cara e dizer todos aqueles absurdos".
Ela falava sobre as coisas que Lucas disse sobre mim, no intuito de nos afastar.
"Só quando conheci você comecei a entender melhor", apertei, sua cintura com as mãos, a fim de acalmá-la. "Ele é apaixonado por Anne. Talvez tanto quanto eu sou por você. O suficiente pra perdoar a traição e proteger o cunhado pra ela não ter que encarar a verdade. Ou o vexame".
"Ele não devia nem ter permissão pra ser médico".
Eu concordava. No entanto, eu não poderia denunciá-lo sem me expor. Eu já era um mártir para a mídia no começo antes de conseguir fazer com que me respeitassem, apesar de ser filho de Geoffrey Cross. Se alguém descobrisse o que aconteceu, minha vida viraria um inferno. Assim como a de minha mãe e irmãos.
"E você ainda aluga um consultório pra ele em um dos seus prédios?" perguntou.
"Eu comprei aquele prédio justamente porque o consultório dele ficava lá" expliquei. "Assim posso ficar de olho nele, saber se a sua reputação continua em alta... ou não".
E não estava. Lucas andava tendo muitos problemas financeiros por conta das baixas em sua clientela. Minha influência me permitiu fazer com que alguns... Problemas acontecessem a ponto de seus pequenos pacientes serem encaminhados para outros médicos muito mais capazes.
"E o tal cunhado? Por onde anda?" ela quis saber.
Ergui o queixo e estreitei os olhos. Essa é uma das piores partes. "Os crimes cometidos contra mim já prescreveram, mas eu fui atrás dele e falei que, se continuasse na profissão ou voltasse a pôr as mãos em uma criança novamente, eu usaria todo o meu dinheiro pra abrir um processo cível e criminal contra ele em nome das vítimas. Logo depois disso, ele se matou", terminei, secamente.
Eva estremeceu. Passei a mão pelos seus braços, numa tentativa de aquecê-la, mas não a abracei. Eu não tinha esse direito naquele momento.
"Hugh era casado. Tinha um filho pequeno, um menino", e se por um lado eu me sentia aliviado por ele não existir, por outro, me sinto culpado por ter, de certa forma, tirado um pai de seu filho. Eu entendia isso como ninguém.
Eva me abraçou com força, captando exatamente meus sentimentos. "Gideon, o que Hugh fez ou deixou de fazer não é culpa sua. Você não pode ser responsabilizado pelas atitudes dele".
"Ah, não?", perguntei friamente.
"Não mesmo", ela me apertou ainda mais, tentando amolecer meu corpo rígido. "E o menino... A morte do pai pode ter impedido que ele passasse pelo mesmo sofrimento por que você passou. Já parou pra pensar nisso?"
Respirei fundo antes de responder. "Já pensei, sim. Mas ele mal conheceu o pai. Só sabe que ele morreu, tirou a própria vida, deixou o filho pra trás. Deve achar que não era importante o suficiente pra fazer seu pai continuar vivendo", porque foi exatamente como me senti.
Ela puxou minha cabeça para perto. "Amor, você não fez nada de errado".
"Preciso de você comigo, Eva", murmurei mais relaxado e retribuí o abraço. Só ela poderia me acalmar assim. "E você está resistindo. Isso está me enlouquecendo".
Ela balança seu corpo, como se me embalasse. "Só estou sendo cautelosa, porque você é importante demais pra mim".
"Eu sei que não é justo pedir pra você ficar comigo", falei, colocando a cabeça pra trás, "sendo que nem dormir juntos nós podemos, mas ninguém vai ser capaz de amar você como eu. Vou cuidar de você e da sua felicidade. Disso eu sei que sou capaz".
"Claro que é", afirmou, afastando meus cabelos para trás. "E quero que acredite que vou ficar do seu lado".
"Você está com medo", não era uma pergunta.
"Não de você", deixou bem claro e suspirou antes de continuar. "Eu não posso... A minha vida não pode ser só uma simples extensão da sua".
Era essa sua preocupação?
Minha expressão carregada se atenuou. "Eva. Eu não posso mudar quem eu sou, e não quero mudar quem você é. Quero que cada um continue sendo o que é... só que juntos".
Ela me beijou e eu apenas correspondi. Sabia que ela ainda tinha muitas dúvidas e receios sobre nós e não sabia o que dizer. Mas também não queria que eu pensasse que ela não ansiava por uma vida comigo. Só achava que era cedo demais.
"Gideon", ela murmurou, me beijando mais uma vez, longamente, e prosseguiu, ainda com os lábios sobre os meus. "Você e eu mal conseguimos lidar com nossos próprios problemas. Estamos progredindo, mas ainda falta muito. E não estou falando só dos pesadelos".
"Então me diz qual é o problema", insisti. Eu preciso saber o que a está a impedindo de aceitar o óbvio.
Ela deu de ombros. "Sei lá... Tudo. Não estou mais me sentindo à vontade com a ideia de Stanton pagar meu aluguel agora que Nathan não representa mais uma ameaça. Principalmente depois de os meus pais terem transado...".
Levantei as sobrancelhas ao ouvir aquilo e a cortei. "Como é?"
"Pois é. Puta coisa chata".
Por essa eu não esperava. Eva já havia me dito que seus pais ainda se amavam, mas eu não tinha ideia que a coisa estava feia assim. E eu sabia que aquilo a fazia sofrer porque, por mais que ela amasse seus pais, o que eles fizeram com Stanton não foi certo.
"Vamos morar juntos", propus, acariciando suas costas.
Começamos uma discussão frustrante sobre o assunto. Ela estava determinada a querer viver de forma livre e independente. Sair da superproteção dos Stanton era algo que significava muito para ela, e o rancor que ainda sente por ter sofrido tantas privações está a impedindo de seguir em frente comigo. Nós estamos discutindo sobre aluguéis, pelo amor de Deus!
Eu disse que não importava o lugar, se Cary estaria conosco ou não. Eu só queria ficar com ela. Era tão difícil assim entender?
"Você veio me ver assim que acordou", argumentei. "Também não gosta de ficar longe de mim. Pra que ficar se torturando? Viver sob o mesmo teto não vai piorar nossos problemas".
"Eu não quero estragar o que existe entre a gente", falou, acariciando meu peito com os dedos. "Eu preciso que a gente dê certo, Gideon".
Peguei sua mão e a posicionou sobre meu coração. "Eu também preciso, meu anjo. E também preciso de manhãs como as de hoje, e de noites como as de ontem".
"Não podemos nem contar pra ninguém que estamos juntos. Como podemos aparecer morando juntos, assim do nada?"
Expliquei que, como iria com Ireland ao lançamento do clipe, eu teria pretexto mais do que suficiente para chegar a ela e Cary. Para minha surpresa, Eva me contou que minha irmã havia ligado, lhe pedindo para falar comigo.
"Ela quer que a gente volte a namorar", disse.

"Menina esperta", sorri, orgulhoso da astúcia de Ireland. Eu definitivamente adoro essa garota. "Então podemos chegar perto um do outro, começar a conversar, eu posso ir cumprimentar Cary. A atração entre nós vai ficar

na cara. Amanhã eu convido você pra almoçar. O Bryant Park Grill é o lugar ideal pra isso. Pra mostrar pra todo mundo".
"Isso é seguro?"sussurrou.

"A pulseira de Nathan foi encontrada no braço de um mafioso" falei, determinado a retirar qualquer coisa que nos impedisse de continuar. "Isso é mais do

que suficiente pra me absolver de qualquer culpa. Não precisamos de mais nada".
Trocamos olhares cheios de esperança. Seus orbes verde-acinzentados brilhavam de pura alegria e contentamento. E isso para mim, foi uma vitória. Naquele exato momento, eu sabia que ela cederia. Ela diria sim.
Acariciei seu rosto e comentei sobre a reserva que ela fez no Tableau One pra mais tarde.
Ela confirmou que sim, pois Kline havia a convidado para jantar, e ela pensou que Tableau seria perfeito, pois eu me sentiria mais seguro, se ambos estivessem sob meus domínios. Eva não queria que eu me preocupasse.
"Ireland e eu temos reserva pra esse mesmo horário. Podemos jantar todos juntos", sugeri. Por mais que eu amasse Eva por se preocupar, eu preferia tê-los sob meu olhar pessoalmente.
Ela se remexeu, parecendo inquieta e apreensiva pela perspectiva de ter a mim e a seu ex no mesmo ambiente, mas seus movimentos só fizeram que meu membro endurecesse dentro dela. "Hã..."
Hora de mudar de assunto.
"Não se preocupa", murmurei sem me importar muito em continuar com o assunto anterior. "Vai ser divertido."
"Até parece", ofegou.
Eu a queria. De novo. Imediatamente.
Eu a posicionei sob o meu corpo. "Confie em mim".
E sem esperar por sua resposta, eu comecei a beijá-la e a fodê-la sem sentido.
E assim ficamos até a hora de nos arrumar para o trabalho.
FIM DO FLASHBACK

O dia se arrasta para mim. Tudo parece demorar além do necessário. Por mais que eu tentasse me concentrar no trabalho, e até conseguir, minha mente borbulhava, apenas pensando no evento de hoje, no fato de que eu estaria ao redor de Eva o tempo inteiro, mas não poderia sequer tocá-la como eu gostaria.
No entanto, há uma coisa que preciso resolver: a insistência do Corinne em querer falar comigo. Meu celular vibrou o dia todo. E isso estava me enlouquecendo, porque meu dia foi muito movimentado. Por volta das quatro, eu finalmente retornei sua ligação, após ler sua última mensagem de texto.
*Eu preciso de você. Preciso falar com você. Não me abandone. Não me deixe. Sinto muito pela última vez que nos vimos. Por favor, apenas fale comigo. Por favor.*

FLASHBACK
"Gideon", ela atendeu no primeiro toque.
"Olá, Corinne, como está?"
"Estou bem, agora. Mas absurdamente envergonhada pelo que fiz com você ontem. Eu sinto muito".
Aquilo me surpreendeu. "Você sente mesmo?"
"Mais do que você possa saber", respondeu com veemência. "Sei que você deve me achar uma vagabunda depois do que...".
"Pode parar", eu a interrompo suavemente. "Você não estava bem e eu vi isso. Eu não penso nem nunca pensaria algo tão repulsivo sobre você ou qualquer outra mulher. Até parece que você não me conhece".
"Eu não te conheço mais", sussurrou. "Você não é o Gideon que conheci. Embora esse seja o problema, eu não sei mais o que pensar de você e muito menos o que você vem pensando de mim".
Realmente, eu já não sou mais o Gideon de antes, mas isso não significa que meus valores mudaram.
"Você pode ter razão. Mas tenha a certeza de que eu jamais a julgaria assim. Isso não mudou, eu garanto".
"Obrigada", sua voz falha.
"Como você se sente hoje?"
"Um pouco perdida, mas bem. Vou descansar um pouco hoje".
"Perdida?" Achei sua escolha de palavra muito estranha.
"É, como se eu estivesse aérea, sabe? Sem saber muito o que fazer ou para onde ir. Acho que não tenho dormido direito".
"Você deve cuidar de sua saúde".
"Eu sei, e vou. Obrigada por se preocupar comigo".
"Não há o que agradecer".
"Eu preciso. Você é o único que realmente se importa com meu bem estar".
Franzi o cenho. "Isso não é verdade".
"Ah não? E onde meus pais estão agora?" perguntou em um tom de deboche. "Em um cruzeiro pelas Ilhas Maldivas, enquanto estou aqui, riste, sozinha e desolada".
A indiferença mal disfarçada dos pais de Corinne sempre a magoou. E, de certa forma, me identificava com ela, embora nossos casos sejam completamente diferentes.
"Você tem um marido que se preocupa com você", eu a lembrei de Giroux. Ela tem o péssimo habito de esquecer que é casada.
"Giroux não é nada para mim há muito tempo e você sabe disso", retorquiu.
"Mas ele é a única pessoa que pode dar o que você tanto quer" rebati. "Porque você reluta em dar uma chance a ele, quando sabe que nosso tempo passou? Giroux se preocupa com você de verdade, ele ama você, Corinne".
"E você?"
Suspirei, cansado daquela discussão sem fundamento. "Eu me preocupo com você, mas não te amo".
Ela ficou um silêncio por um tempo antes de responder. "Está bem, Gideon. Eu entendi. Obrigada por se preocupar".
"Corinne...".
"Adeus", e ela desligou, me deixando chocado e sem palavras.
FIM DO FLASHBACK

Talvez essa situação embaraçosa tenha servido para que ela revesse seus conceitos e percebesse que reatar nosso relacionamento é algo fora da realidade. Só pude lamentar o fato de que ela dava muito mais valor ao nosso passado do que a seu presente com Giroux e o futuro que poderiam ter se ela lhe desse uma chance. Por outro lado, eu entenderia se ela não quisesse continuar com ele, desde que não criasse expectativas a nosso respeito.
No fundo, entretanto, eu pressentia que algo não se encaixava naquela conversa, mas decidi ignorar e encarar o fato como uma coisa positiva.
Finalmente, às cinco da tarde, meu monitor apita. Eva acaba de desligar seu computador e está pronta para encerrar seu dia. Sabendo que ela vai direto para o lançamento do clipe, termino meus afazeres para ao menos vê-la antes da sessão de tortura que se aproxima. Visto meu paletó, recolho minhas coisas e saio do escritório, dando instruções para Scott antes de me encaminhar para o elevador.


   
Por fora, sou a personificação da calma e da frieza, mas por dentro estou enlouquecendo, com Eva na cabeça e no coração, mas sem poder estar ao seu lado. Agora, posso entender melhor como ela se sentiu durante minha ausência, quando me via aparecendo com Corinne nos tabloides. E embora eu tenha feito tudo o que fiz para protegê-la, não posso me deixar de sentir culpa por fazê-la passar por uma tortura como essa.
O barulho de elevador me desperta. As portas se abrem e saio, caminhando a passos ritmados pelo lobby, escaneando o ambiente com o olhar, a procura dela, mas não a vejo. No entanto, meus pelos da nuca se eriçam e meu coração aceleram no mesmo instante. Meu anjo está por perto. Mesmo com centenas de pessoas ao meu redor, meu corpo instintivamente reconhece sua presença. Sem olhar para ninguém, saio do Crossfire quando desço ao último degrau, eu vejo a razão de toda a confusão em meu corpo e mente.
E... Porra. Pela primeira vez desde que nos conhecemos, eu preferi não tê-la visto.
Lá está ela. Minha Eva. Nos braços deleDe novo. E seus lábios se roçam. Não dura sequer um segundo, mas é o suficiente para eu sentir como se uma adaga rasgasse meu coração ao meio. Exatamente como me senti quando eles se beijaram na noite do show. Mas o pior de tudo é que, desta vez, não posso fazer absolutamente nada a respeito. Eva percebe tarde demais, que ele tentou beijá-la, e vira seu rosto para o lado automaticamente. Então seus olhos se arregalam quando cruzam com os meus. Ela está corada de vergonha.
"Desculpe", consigo ler em seus lábios.
Posso ver o arrependimento e a dor estampada em seu olhar. Posso ver que ela sabe exatamente como estou me sentindo, porque ela sentiria o mesmo se me visse beijando Corinne sem poder reagir.
Ver e sentir a atração deles aqui, bem diante dos meus olhos, sem poder fazer nada, sem poder reclamá-la como minha... Puta merda!
Continuo a acompanhar Eva com o olhar, enquanto ela se vira novamente para Brett e troca algumas palavras com ele e Cary antes de entrar rapidamente na limusine. Cary entrou logo em seguida e Brett está prestes a entrar quando me vê. Suas sobrancelhas se levantam e um sorriso de irônico surge nos lábios do babaca. Apenas continuo a encará-lo, sem expressão. Em seguida, ele entra no veículo e se vai. Com a minha mulher.
Entro no carro, aquela imagem girando em minha mente, numa repetição incessante. Um pesadelo sem fim. Uma dor sem tamanho. Não importa quando ou como, Brett sempre consegue ter um pouco de Eva. Desgraçado!
Angus olha para mim de relance pelo espelho retrovisor. Seu cenho está franzido e ele parece preocupado, embora não diga uma única palavra. Sei que também viu a cena, já que estava parado do lado de fora do Bentley, para abrir a porta traseira para mim. Eu me viro para a janela e a encaro, colérico, triste e desolado. Sei que aquilo foi só uma prévia do que está por vir.
Meu sofrimento está apenas começando.
<<<>>>
Angus estaciona em frente à casa dos Vidal. Ireland ainda não está no portão, então tiro o celular do bolso, já o destravando, para lhe enviar uma mensagem. Só que acabo tirando o celular clandestino, por engano. E a tela brilha com um aviso: nova mensagem. Meu coração acelera ainda mais. Clico no botão e a frase que tem o poder de me fazer ficar de joelhos surge diante dos meus olhos.
*Eu te amo.*
Senti um solavanco no peito.
Eva...
Pela hora, ela me enviou quando nos encontramos fora do Crossfire. O celular deve ter vibrado, mas a raiva e a dor que me tomaram quando a vi com Brett me distraíram completamente.
Sei que ela não poderia me ligar ou mandar uma mensagem maior, porque Cary estaria por perto, mas entendo tudo o que ela quis dizer nesta pequena frase. Eva sempre me fala isso quando seus sentimentos são muito maiores do que pode suportar, quando precisa que eu saiba que sou o único dono de seu corpo, alma e coração. E tenho certeza de que ela jamais beijaria Brett deliberadamente ou faria qualquer gesto que pudesse ser mal interpretado. Estamos construindo nosso relacionamento aos poucos, pisando em ovos, fazendo todo o possível para restaurar a confiança construída outrora. Temos que ter cuidado sempre, pois o fio que nos une é frágil demais. Se ele se romper, nós nunca nos recuperaríamos.
A porta traseira se abre de repente, e coloco o celular clandestino rapidamente no bolso. Ireland entra e me dá um enorme sorriso.
"Oi Gideon", ela se estica e me dá um beijo no rosto, me deixando desconsertado.
"Olá", sorrio contido.
"Oi, Angus", ela se estica para beijar a bochecha de meu motorista, que coloca um sorriso permanente em seu rosto sempre que está perto de Ireland.
"Olá, querida".
Querida? Eu perdi alguma coisa?
Ela se senta no banco novamente e Angus dá partida no carro.
"Está pronta para a diversão?" pergunto.
"Você não tem ideia", guincha. "Eu amo o Six-Ninths e não vejo a hora de ver aqueles gatos de perto".
"Hum..." reviro os olhos.
"Além disso", adiciona. "Eva vai estar lá. Vai ser muito legal encontrar com ela".
Meu coração vacila ao ouvir o nome do meu anjo.
"Olha a cara de pateta que você faz só de escutar o nome dela". Dá risada. "É fofo e engraçado".
Eu a encaro sem expressão. "E você é uma comediante".
Ela ri de novo. "Não. Sou uma agente não tão secreta em uma missão: fazer você e Eva voltarem".
Eu quase caio na gargalhada. Quase. "Agente não tão secreta? De onde você tirou isso?"
Seus olhos se fecham em fendas. "Escuta só, já tenho tudo planejado. Faça tudo o que eu disser, e você terá sua chance".
O quê?
Começo a piscar, completamente atordoado. "Plano?"
Seu sorriso agora é grande. Grande e diabólico. "Gideon, você precisa saber que sua irmã caçula é uma pessoa muito determinada. Quando eu quero algo, faço o que for preciso para conseguir, não importa o que for. E eu quero que você e Eva reatem. E vocês vão reatar. Fim de papo", e ela diz isso com tamanha determinação, que fico divido entre abrir a boca em choque pela nossa estranha conversa e rolar de tanto rir de sua cara séria. Ela parece uma gatinha tentando ser um leão. É engraçado.
Por vias das dúvidas, eu apenas franzo o cenho. "Hum... Certo".
"Bom, olha só", diz olhando para um ponto qualquer à sua frente, em transe. "Eu vou chegar perto dela, pra quebrar o gelo, sabe? Não vai ser difícil porque a gente se adora. Você vai ficar colado comigo, porque ela terá que te cumprimentar também. Aí, você a chama pra conversar em um canto, e joga sua mágica poderosa em cima dela. Mas nada de pedantismo. Seja humilde", ela volta a olhar para mim e ri novamente. "Eu sou um gênio, né? Pode falar", cutuca meu ombro com o dedo indicador.
Olho de relance para o espelho retrovisor e vislumbro Angus apertando os lábios para segurar o riso. Seu rosto está tão vermelho e seu esforço parece ser tão grande, que me pergunto se ele vai mesmo conseguir se controlar.
Eu balanço a cabeça, perplexo e tentando não transparecer o quanto estou achando tudo isso muito cômico. "Realmente, eu não poderia ter pensado em nada melhor".
"Claro que não", faz uma cara de desprezo e balança a mão, como se estivesse me rechaçando. "Vocês homens são patéticos em assuntos do coração e relacionamentos. Ainda bem que você tem a mim pra te aconselhar".
Ireland tem razão. Ela foi meu porto seguro durante a ausência de Eva e me ajudou a enxergar claramente muitas coisas que eu via apenas superficialmente, ou que eu simplesmente não queria ver. Sinto até um pouco de culpa por não poder dizer-lhe que nós já estamos juntos e que nos casaremos neste fim de semana. Mas não posso arriscar. Para o resto do mundo, ainda estamos separados e terá de ser assim, por ora.
"Você está absolutamente certa", sorrio coquete, surpreendendo até a mim mesmo. "O que seria de mim sem você, irmãzinha?"
Seus olhos brilham de diversão e de algo mais, como admiração, o que me constrange. "Você sabe ser hilário quando quer, Cross. Ei, se a coisa das indústrias afundar, você pode fazer stand up comedy para sobreviver. E eu serei sua empresária. Até vou te fazer um desconto de família pelos meus serviços".
Balanço a cabeça. "Prometo que vou pensar no assunto. Agora, ponha o sinto e comporte-se".
"Sim, senhor", ela faz uma continência e se ajeita no banco. E quando seu tronco se endireita no encosto do banco...
Mas o que...
Estreito meus olhos. "Que blusa é essa?"
Ireland olha para mim, e em seguida para esse... pedaço de pano, já que sua barriga está quase toda de fora.
Seu cenho se franze. "Ué, é uma miniblusa. Está calor".
"E isso é motivo para andar por aí com tão pouca roupa?"
"Pouca roupa?" seus olhos se arregalam. "Estou usando uma saia enorme, Gideon!"
"E é uma pena que tanto pano não seja capaz de tampar sua barriga. Ela está quase toda aparecendo", repreendo.
"Já vi que a gente não pode ir à praia juntos. Você provavelmente vai querer me vestir com uma burca".
Não seria uma má ideia. Biquínis não são adequados para ela. Faço uma nota mental para lhe dar roupas de banho menos reveladoras como presente de Natal.
"Você só tem 17 anos. Estou apenas tentando te preservar".
"Não, você está tendo um ataque de ciúmes", solta uma gargalhada. "E está ficando com o rosto todo vermelho de raiva. Quem diria, não é? O grande Gideon Cross implicando com sua irmã adolescente por uma miniblusa".
Suas palavras finalmente me fazem perceber o quão ridículo estou sendo. Puta que pariu! Estou agindo como um... Como um...
Como um irmão mais velho ciumento, Cross. Dói tanto admitir isso em voz alta?
Rapidamente me recomponho, voltando à minha sobriedade habitual, e olho para a frente. "Sim... Hum... Desculpe por isso".
"Não, Gideon" sua voz está carregada de pânico, o que me faz voltar a encará-la. "Isso não me incomoda, mesmo! Quer dizer... é você se importando comigo do seu jeito, sabe? E eu gosto disso. De saber que você se importa", murmura baixinho.
Atenuo o semblante e toco sua pequena mão com a minha. "É claro que me importo com você, Ireland. Sempre. Eu só... não estou acostumado a lidar com... esse tipo de situação".
O pequeno sorriso que enfeita seu rosto me deixa tremendamente aliviado. "Bom, é melhor ir se acostumando. Você ainda não viu todas as minhas roupas".
"São todas curtas assim?" eu me afasto.
"Não", balança a cabeça com veemência.
Solto uma respiração que nem sabia que estava segurando.
"Não todas", dá uma piscadela.
Se Eva não me enfartar, Ireland com certeza vai.
<<<>>>
O evento está impecável. A equipe caprichou em tudo, como sempre. O mais surpreendente, foi a liderança de Christopher. O garoto tem talento. Se ele não passasse tanto tempo sendo invejoso e idiota, tentando competir em tudo comigo, eu teria lhe dado um abraço e o parabenizado.
A multidão está a postos, ensandecida, tanto para ver o clipe quanto para ver os integrantes da banda em pessoa. Mas tudo isso some quando os pelos da minha nuca se eriçaram.
"Olha lá", Ireland puxa a manga do meu paletó sem qualquer cerimônia. "É ela".
Sim. É ela.
Linda. Perfeita. E minha.
Eva e Cary estão conversando. Ele é o primeiro a nos notar indo na direção deles.
Ela o empurra e fala algo, mas não posso entender por causa do caos de fãs gritando histericamente.
"Eva!", Ireland gritou e saiu correndo, me deixando para trás na primeira oportunidade.
Fica colado comigo? Sério?
Adolescentes.
Elas se cumprimentam com um abraço e minha irmã se afasta, dizendo algo que não entendo.
Eva olha para mim, parecendo preocupada. Mantenho minha calma habitual e, ao chegar perto, eu a pego pelos braços e lhe dou um beijo de cada lado do rosto, embora esteja louco para lhe tascar o maior beijo na boca de todos os tempos.
"Olá, Eva", cumprimento educadamente. "Que bom ver você".
Ela pisca completamente deslumbrada com minha presença. "Hã, oi, Gideon".
"Ela não está linda", Ireland comenta, com toda a sua sutileza de elefante.
Eu apenas entro em seu jogo, me virando para respondê-la. "Como sempre. Eu queria roubar um minutinho do seu tempo. Eva".
"Claro", ela lança um olhar de pura perplexidade para Cary antes de me deixar conduzi-la até um canto da tenda. Ireland levanta seus dois polegares e abre um enorme sorriso de aprovação.
Ela deveria estar muito feliz de eu estar seguindo à risca seu "plano". Eu rio internamente de minha irmã. A garota é louca.
Assim que ficamos afastados o suficiente, Eva começa a falar. "Você está bravo? Por favor, me diz que não".
"Claro que estou", respondo sem me alterar. "Mas não com vocês dois". Na verdade, eu estou louco de ódio do Kline, mas, assim como todos, ele acredita que Eva não está mais comigo, e ela tem de mostrar isso para ele. É normal que o idiota se sinta incentivado apenas por ela estar "solteira".
"Ah, tá", deu para perceber a confusão dela. Foi então, que eu cedi.
Eu me viro para ela, passando a mão pelo cabelo. "Essa situação é
insuportável. Quando existia um motivo pra isso era até tolerável, mas agora...", assumo uma postura determinada. "Você é minha. E o mundo precisa saber disso".
"Eu já disse pro Brett que sou apaixonada por você. E pro Cary também. Pro meu pai. Pra Megumi. Nunca menti pra ninguém sobre como me sinto", ela diz.
"Eva!" o merda do Christopher nos interrompe e dá um beijo no rosto dela. "Que bom que Brett trouxe você. Eu não fazia a menor ideia de que vocês eram namorados".
Eva abre um sorriso forçado. "Isso foi há muito tempo".
"Nem tanto tempo assim", ele sorri calorosamente. "Afinal de contas, você está aqui, não?"
"Christopher", eu o cumprimento friamente. Eu sabia o que ele estava fazendo e na iria deixá-lo fazer com o que o dia de Eva ficasse pior.
"Gideon" ele manteve o sorriso aberto, apesar da expressão em seu rosto dizer o contrário. "Você não precisava ter vindo. Está tudo sob controle".
"Estou aqui por causa da Eva", digo ainda me mantendo indiferente, "não por causa do evento".
"Sério?" Christopher se vira para Eva. "Pensei que você e Brett estivessem se entendendo".
"Eu e Brett somos só amigos", ela responde.
"A vida pessoal dela não é da sua conta", intervenho. Ele não vai fazê-la se sentir acuada e desconfortável.
"E nem da sua, até onde eu sei". Christopher me encara com tamanha hostilidade, quem nem parece meu irmão. "O fato de 'Golden' ser baseada em uma história real e de Eva estar aqui com Brett é um marketing muito positivo tanto pra gravadora como pra banda".
"A música é sobre o fim dessa história", Eva deixa claro.
De repente, Christopher franze a testa, enfia a mão no bolso e saca o celular. Ele olha para a tela e depois olha para mim, fazendo uma careta de total desagrado.
"E vê se liga pra Corinne. Ela está maluca atrás de você".
"Eu conversei com ela faz uma hora", garanto. E parecia estar tudo bem entre nós. O que será que aconteceu?
"Então vê se para de ficar dando esperança pra ela", Christopher me repreende. "Se não quer mais nada, não devia ter ido até a casa dela ontem à noite".
Porra de filho da puta linguarudo!
Eva me olha, toda tensa e nervosa. Merda, isso não pode estar acontecendo.
Ela dá um passo para trás. "Com licença".
Eva", eu tento detê-la.
"Foi bom rever vocês dois", ela murmura e vira as costas, caminhando em direção a Cary, parecendo inabalável, mas triste e nervosa por dentro.
Sem nem olhar para Christopher, eu a alcanço em poucos passos e a seguro pelo cotovelo, murmurando em seu ouvido. "Ela estava me ligando toda hora. Eu precisava dar um jeito nisso".
"Você deveria ter me contado", protesta.
"A gente tinha coisas mais importantes pra conversar".
"Gideon", a voz insuportável de Christopher soa atrás de nós. "A nossa conversa ainda não terminou".
Eu lhe lanço um olhar cortante, carregado de hostilidade e raiva. "Se manda, Christopher. Se não quiser que isto aqui vire um escândalo e o evento vá por água abaixo", e eu estou falando muito sério. Eu não me importaria. Se a gravadora afundar, há vários outros negócios que me manterão rico. E Christopher só tinha a gravadora. Se ela se fosse, ele iria junto. Sabendo que eu não estou para brincadeiras, meu irmão sussurra um palavrão e se vira para ir quando Ireland o intercepta.
"Quer deixar os dois em paz?", ela fala, com as mãos na cintura, o olhando bem séria. "Eles precisam conversar pra se entender".
"Você não tem nada a ver com isso", ele diz, petulante.
Você é que não tem amigo, penso.
"Até parece." Ela franze a testa para ele. "Vem me mostrar onde vai ser o lançamento".
Christopher para e estreita os olhos antes se soltar um suspiro e sair de braços dados com ela. Ele parou e estreitou os olhos, antes de soltar um suspiro e sair de braço dado com Ireland.
Eu já disse o quanto adoro essa garota?
Eva os observa ir, parecendo melancólica. Toco seu rosto de forma amorosa e possessiva, trazendo sua atenção de volta para mim. Eu quero que todos vejam isso. Todos. Ela é minha e ponto final.
"Me diz que você sabe que não aconteceu nada entre mim e Corinne", murmuro. Não há necessidade de contar detalhes do que Corinne fez, até porque, da minha parte, não houve nada, e isso é o que importa.
Eva suspira. "Eu sei que você não quer nada com ela".
"Ótimo. Ela está perdendo a cabeça. Nunca vi alguém tão... Merda. Sei lá. Carente. Irracional".
"Desesperada?" arrisca.
"Talvez. Ela não ficou assim quando terminou nosso noivado".
Não. Ela parecia bem determinada, e certa de que eu iria implorar por uma segunda chance.
"Da outra vez foi ela que quis terminar tudo. Agora é você. É sempre mais difícil ser a pessoa abandonada", Eva intervém.
"Estou tentando dar um jeito nisso, mas você precisa me prometer que ela não
vai conseguir arruinar as coisas entre nós", eu peço.
"Isso eu não vou deixar acontecer. E você, nada de se preocupar com Brett".
Penso em tudo o que aconteceu. Eu tinha razões de sobra para me preocupar, mas não podia arruinar nossos planos.
"Me preocupar eu vou" repondo finalmente. "Mas pode deixar que consigo me controlar".
Então, me lembro de que preciso falar com o insosso do meu irmão. Eu não queria, de forma alguma, que ele expusesse Eva, e incentivasse uma reaproximação de Brett publicamente.
"Preciso falar com Christopher. Estamos conversados?"
Ela afirma, balançando a cabeça. "Por mim, estamos. E por você?".
"Desde que Kline mantenha distância da sua boca", e isso é uma ameaça, porque se esse projeto de roqueiro encostasse nos lábios dela novamente...
"O mesmo vale pra você", ela rebate.
"Se ele me beijar, vai levar porrada", brinco.
Ela dá risada. Uma linda risada. "Você sabe o que eu quis dizer".
Eu sei. Eva será a última mulher a beijar os meus. Pego sua mão e mexo em seu anel com os dedos. "Crossfire".
Seus olhos brilham. "Eu também te amo, garotão".
Anjo...
Eu te amo. Muito mais do que palavras, Muito mais que tudo.
Eva se vira para caminhar até Brett e eu, para procurar Christopher. Ele está conversando com Ireland e com um dos organizadores do evento.
"Ei", ela me vê primeiro, e os outros dois são, de repente, completamente desinteressantes para ela. "Como foi?" levantou as sobrancelhas.
"Foi ótimo. Muito produtivo", e é só o que pretendo dizer.
"Cadê os detalhes, Gideon", revira os olhos. "Eu quero detalhes".
"Que tal eu te falar sobre isso depois? Podemos almoçar juntos na próxima semana", negocio.
"Fechado", ela concorda sem hesitar. "Eu sabia que você era um bom negociante por alguma razão".
Abro um meio-sorriso. Nosso momento é quebrado por um Christopher rabugento.
"Podemos conversar agora, Gideon? Terminou de ficar cercando sua ex feito um cachorro?"
Dou-lhe um olhar mortal e travo o maxilar na hora. Esse pedaço de merda quer mesmo apanhar.
"Ei vocês dois?" Ireland intervém. "Dá para parar com essa cena ridícula? Isso aqui é um evento para lançar o clipe do Six-Ninths, não um concurso de quem mija mais longe!"
Ambos olhamos para ela. "Agora, eu vou sair e ficar perto da Eva e do Cary, e deixá-los conversar civilizadamente, como os profissionais e adultos que são. Você", ela aponta para mim, "não caia na pilha do Christopher. Lembre-se: você é um ser evoluído. Concentre-se no que realmente importa", e dá uma piscadela.
Eu sou um ser evoluído. Acho que ninguém nunca me descreveu assim.
Christopher está prestes a discutir quando é interrompido pelo dedo em riste de Ireland bem na sua cara. "E você! Deixa de ser infantil e para com esse ciúme patético. Você é o principal organizador disso tudo e está agindo como um garoto na puberdade querendo mostrar que tem um pênis maior. E para de se meter entre ele e Eva ou vai ter que se ver comigo".
Ele a olha de boca aberta, enquanto ela se vira, me dá um tapa no ombro e sai.
Ficamos em silêncio por alguns segundos antes de ele se virar para mim, com raiva no olhar.
"Conseguiu levá-la para o lado negro da força, não é? Até a atenção dela você quer roubar".
"Ah, tenha dó, Christopher, até com a Ireland você quer dar uma de irmão pobre coitado. Me poupe".
"Seu...".
"Escute bem o que vou dizer", eu o corto friamente. "Não tente usar Eva para promover o clipe ou para tentar fazer uma relação midiática acontecer. Ela é uma convidada especial, amiga do vocalista e só".
Ele solto uma alta gargalhada. "Amigos? Não foi isso o que pareceu. A tensão entre eles é palpável e Brett já me confessou que a quer de volta. E eu vou ajudá-lo no que eu puder".
Desgraçado.
Maldito.
O ódio finalmente borbulha e chega à superfície. Eu estou no meu limite e a apenas um passo de meter a porrada nesse merdinha. Um passo.
Meu rosto deve ter denunciado alguma coisa, pois Christopher fica branco na hora e dá um passo para trás.
"Escuta aqui, seu bosta", rosno. "Brett faz parte do passado de Eva e vice-versa. Ela vai voltar para mim. E está aqui apenas para apoiar seu ex, que também é seu amigo. Se você fizer qualquer coisa que o incentive a pensar o contrário, que incentive ao público pensar ao contrário, Eva vai se sentir desconfortável. Ela odeia a imprensa e eles irão infernizá-la. Se isso acontecer... eu vou destruir sua carreira. Você nunca mais vai ver a cor dos tapetes da Vidal Records. Eu vou tirar tudo de você. Tudo. E nem seu pai vai poder salvar sua bunda. Porque a gravadora é minha, e eu mando ali. Eu dito as regras do jogo. Você trabalha para mim, você é meu empregado. Se você tem algum dinheiro é porque eu pago seu salário. Salário esse que você com o qual você seus quartos de hotéis de luxo para comer as vagabundas que você pega em qualquer esquina. Não brinque comigo, seu lixo. Não faça nada diferente do que eu disser ou você está fora. Será que eu fui claro?"
"Foi" sussurrou forçadamente. Seu corpo treme, num misto de raiva, medo e humilhação.
"Ótimo. Agora, é melhor você ir ao banheiro antes que borre suas calças".
Eu me viro de costas e saio, sem olhar para trás.
Sou interceptado por um dos organizadores, avisando que lançamento vai começar em oito minutos. Apenas balanço a cabeça e continuo a andar.
Tenho que respirar fundo várias vezes para me acalmar. No entanto, com a visão de Eva e minha irmã conversando animadamente, eu não precisei mais. A cumplicidade das duas me fez sorrir imediatamente.
Assim como Cary, elas estão tão compenetradas em sua conversa, que não percebem minha aproximação.
"E você?", Eva pergunta. "Está namorando?"
Para meu total desgosto, ela está. Não ouvi sobre o garoto por parte da minha irmã, mas já descobri tudo o que preciso sobre ele.
"Estou", Ireland abre um sorriso malicioso. "Eu gosto muito dele, mas é uma
situação meio esquisita, porque os pais dele não podem saber".
"Por que não?"
Isso não é bom.
"Os avós dele perderam tudo o que tinham naquele esquema do pai do Gideon".
Sim, a família dele me odeia pelo que meu pai fez. E saber que minha irmã tem que se esconder por minha causa, me dói, apesar de não parecer. Os respingos das merdas da minha vida recaem sobre ela também.
"Isso não é culpa sua", Eva se revolta.
"Os pais do Rick acham 'coincidência demais' que Gideon seja tão rico hoje", Ireland murmura.
"Coincidência? O que eles querem dizer com isso?"
Chega, hora de mudar o assunto.
"Meu anjo", Eva se vira em minha direção na mesma hora, completamente surpresa.
"Que foi?"
Eu apenas a olho, sorrindo, no intuito de distraí-la, mas ela percebeu assim que se recuperou do choque.
"Nem tente me interromper", falou, estreitando os olhos, e se vira novamente para Ireland. "Mande os pais do Rick darem uma olhada no site da Fundação Crossfire".
"Já chega de ficar tomando as minhas dores", eu a interrompo, chegando tão perto o suficiente para que nossos corpos quase se colem um no outro, "o lançamento vai começar em cinco minutos".
Eva se vira para procurar Brett e, do palco, ele acena para ela.
Cary decide ficar conosco enquanto meu anjo se encaminha para o que promete ser um enorme pesadelo para mim.
Maravilha.
<<<>>>
Cary e Ireland começam a conversar animadamente sobre a banda, mas me desligo completamente. Só consigo me concentrar nela, ao lado dele no palco. Eva está bem entrosada com o restante da banda. Linda e radiante, apesar da tensão. E Brett, com seu sorrisinho de merda, parece um gigante vencedor de uma batalha, sem se arredar um segundo de perto dela.
Mal sabe ele que a guerra está longe de acabar.
O apresentador Pablo Nuñez acalma a plateia insana, e anuncia a estreia do vídeo. As luzes ao redor se apagam e o logotipo do "Evening Show" desaparece quando os primeiros acordes da música começam. A tela preta se ilumina quando a voz de Brett entoa os primeiros versos de "Golden".
Ele aparece exatamente como no show, sentado em um banquinho, sob o holofote. Tenho que dar o braço a torcer. O cara é muito bom no que faz. Seu talento como cantor e como compositor é inegável. As mulheres na plateia cantam junto, hipnotizadas com a imagem. Viro-me rapidamente para ver minha irmã e Cary da mesma forma. Reviro os olhos e volto a olhar para o telão.
Pela segunda vez no dia, eu gostaria de não ter visto algo.


   
A câmera se afastou de Brett e revelou uma pista em frente ao palco, onde uma multidão acompanhava o ritmo da música, dançando lentamente. Todos retratados em preto e branco, exceto por uma mulher loira, de cabelos cumpridos e que se destacava em cores vibrantes. Os closes só a mostram de costas e de perfil, mas...
O pânico e o horror se apoderam de mim, juntando-se à dor anteriormente adormecida pela mensagem de Eva, que desperta com força total. A dublê (e eu tenho que repetir isso várias vezes, porque a semelhança é assustadora), tem a altura de Eva, a mesma cor e tamanho dos cabelos de quando conheci Eva e a mesma forma curvilínea de seu corpo.
A música e o clipe são uma declaração de amor abertamente erótica. A voz de Brett é tão crua e apaixonada ao cantar cada verso, ao mesmo tempo em que os dublês dele e de Eva fazem todas as coisas que ele canta: ela se ajoelhando aos seus pés, numa clara, porém discreta menção a um boquete; os dois trocando beijos quentes e sensuais num banheiro asqueroso e sujo de um bar qualquer; ela cavalgando em seu colo em um carro antigo; ela se inclinado para acertar uma bola na mesa de bilhar, e o outro dublê bem atrás dela, segurando o taco e lhe dando um beijo na nuca.
Eu deveria ter ficado mais atento a essa divulgação. Está sendo tudo um milhão de vezes pior do que eu pensava. O vídeo foi um soco forte no meu estômago. E se antes eu estava sendo rasgado ao meio por aquele quase beijo na entrada no Crossfire, agora eu estou me partindo. Em milhões de pedaços que não sei se vou conseguir juntar.
Brett Kline é completamente apaixonado pelo meu anjo. E, se tudo o que apareceu no clipe foi uma retratação do que realmente aconteceu entre eles, Eva era igualmente apaixonada por ele. Um sentimento tão forte assim não acaba sem deixar resquícios. Agora, a sedução que os envolve sempre que ambos se encontram, se apresenta ainda mais ameaçadora do que eu poderia supor. Eva me ama e não tenho dúvida alguma disso. Mas será que ela ainda sente algo maior do que carinho por Brett?
As palavras de Arnoldo gritam em minha mente no mesmo instante, se sobressaindo totalmente do barulho ensurdecedor da música e do coro de vozes que a acompanha.
"Eva não me parece ser do tipo que tem certeza das coisas. Ela é volúvel".
As coisas sempre ficam nubladas e incertas entre nós quando Brett Kline está por perto. Ele coloca em xeque se o sentimento de Eva por mim é suficientemente forte para matar o carinho e a atração que ela claramente ainda tem por ele. Corinne não é uma ameaça. Eu nunca havia sentido nada por ela além de um carinho, que sequer chegava perto da sedução. Nem me lembro de muitas coisas sobre nosso relacionamento. Mas eu tenho certeza que Eva se lembra de cada momento que passou com Brett, de cada beijo, de cada transa, de cada momento louco e intenso que tiveram.
Eu quero correr até aquele palco e tomar Eva em meus braços. Quero beijá-la até que nos falte o ar, apertá-la em meus braços, penetrá-la fundo e forte, puxar seus cabelos, deixando-a rendida e totalmente entregue ao meu toque. E só largá-la até que não sobre mais nenhuma lembrança de Brett em seu corpo e mente.
E, por um breve segundo, eu me movimento para frente, para fazer exatamente isso, mas sou interrompido pelo meu celular, que vibra em meu bolso. Respiro fundo antes de pegá-lo e olho para a tela. E, para minha completa surpresa, é uma mensagem de texto de Magdalene.
*Gideon, precisamos nos falar com urgência. É sobre Corinne. Ela não está bem. Por favor, ligue-me assim que puder. Magdalene.*
Meu pulso acelera. Esse dia não poderia ficar pior. A coisa deveria mesmo estar ruim para Magdalene se dar ao trabalho de entrar em contato comigo, principalmente após nossa última conversa.
Corinne...
Verifico que há centenas de mensagens de texto não ouvidas, mensagens de voz não ouvidas, além de ligações não atendidas. Todas enviadas meia hora depois de nossa conversa. Eu senti o celular vibrar, mas ignorei tudo por estar concentrado demais na mensagem que Eva me enviara.
Minha ex está completamente fora de si. Seus pais ainda estão viajando e não responderam à minha mensagem. Sua governanta me avisara de que tentou entrar em contato com eles em vão. Eu havia conversado com ele antes de ir para o lançamento do clipe. Parecia que estava tudo bem. Mas eu deveria ter me atentado para meus instintos, que nunca falham. Havia mesmo algo de estranho nela. Algo muito errado.
Sei que ela está assim por minha culpa e meu coração se aperta. E se ela tiver feito alguma besteira? Sem seu marido ou sua negligente família por perto, Corinne está completamente sozinha. E eu sou o único responsável pelo seu estado. Preciso ligar para Magdalene para saber o que aconteceu. Preciso ir até o apartamento de Corinne.
Além disso, qualquer oportunidade de sair daqui é bem vinda, mesmo que não seja das melhores. Estou sufocado e não vou aguentar suportar essa merda até o fim. Viro-me para Ireland que, juntamente com Cary, me olha atentamente. Ele, assustado e curioso. Ela, com pesar. Eu odeio esse tipo de olhar. Christopher chega perto de nós, extremamente sorridente, deixando claro que adorou a provocação, já que ele viu o clipe e sabia exatamente como eu me sentiria assim que o visse. Imbecil.
Sem demonstrar a menor alteração, me viro para minha irmã. "Ireland, eu preciso ir. Surgiu um imprevisto que tenho de resolver com urgência. Me desculpe".
Ela sorri entristecida, me deixando ainda mais culpado.
"Compromisso logo agora?" a voz irritante do meu irmão mais novo interrompe. "Que pena Gideon. Seria tão bom ter você aqui até o fim de evento. Pensei que gostaria de conversar com Eva e Brett sobre o clipe. Tenho certeza que ela adorou".
Eu o encaro não fazendo questão de responder à sua provocação. "Você pode levar a Ireland pra casa, certo?"
"Claro que levo", revira os olhos. "Uma pena que o momento de união dos irmãos não durou muito".
Ireland o fuzila com o olhar. "Não se preocupe com nada, Gideon", ela volta a me encarar. "Eu entendo. A gente se fala depois".
"Com toda a certeza", dou um beijo rápido em sua testa, e vejo a máscara sorridente de Christopher se contorcer em uma careta quando Ireland me abraça.
Eu a solto e me volto para cumprimentar Cary, que se manteve um pouco afastado durante nossa "troca familiar".
"Ela deve ter ficado tão surpresa quanto eu e você. Confie em mim", murmura baixinho.
"Eu sei", murmuro e, sem sequer dar outra olhada para o palco, vou embora.       

Ai, gente. Sério? Esses dois precisam tomar banho de sal grosso, porque sangue do Cordeiro... Não tá fácil. 
É o Brett safadão, é o Christopher merda de cavalo (que tomou uma que eu adoreiiii), é a Cobrinne pancada das ideias... eita tumulto do caramba! 
Aliás, porque será que Maggie Tereza de Calcutá, que estava querendo ficar longe do Gideon, tá querendo agora ao falar da Cobrinne, hein? O que essa badarosca aprontou? Saberemos semana que vem! 
Mas a  Ireland lacradora zerou nossa vida com esse show de fofura. Tenho que confessar que as partes que ela interage com Gideon interagem são as minhas favoritas de escrever! É muito amor <3 
Então é isso, gente. Na próxima sexta tem mais, nesta mesma hora, neste mesmo canal u.u 
Se quiserem ficar por dentro de tuuudo mesmo, não se esqueçam de me seguir nas redes, ok? Facebook (grupo e página), Twitter, Instagram, Snapchat, é tudo Tammy Kesher. 
Um grande beijo e até a próxima sexta! :)

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