sábado, 3 de setembro de 2016

Para Sempre Minha: Capítulo 17 ― Apagando incêndios

Foi mal o atraso. A chuva repentina (porém necessária nesse calorão) me deixou seminternet! Mas... Preparem-se para mais uma semana da #Gideonterapia!
Só um aviso: preparem para odiar Cobrinne ainda mais hahaha
Boa leitura!!!


Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis.
― René Descartes
Após ligar para Angus e avisá-lo para ficar a postos, antes que eu possa colocar meu celular de volta no bolso, ele vibra. Olho para a tela e o nome de Corinne pisca incessantemente. Porra, o que há de errado com ela? Penso na mensagem que Magdalene me enviou agora a pouco e resolvo atender.
"Corinne".
"Gideon!" sua voz estridente e nada usual me faz arregalar os olhos.
"O que houve?"
"Estou desesperada" diz com a voz embargada. "Eu não consigo mais fazer isso, eu não consigo", e começa a chorar alto.
"Pelo amor de Deus, Corinne. Acalme-se",
"Estou ficando maluca. Estou me sentindo destroçada. Não sei mais quanto tempo vou aguentar isso. Não sei", e continua a chorar.
Sinto um solavanco no peito ao ouvir isso. Ela não pode... Não, ela não pode estar pensando nisso.
"Escute, estou indo para sua casa agora, tudo bem? Vamos conversar e você me conta o que está acontecendo".
"Tu-tudo bem", soluça. "Eu v-vou deixar o p-porteito avisado".
"Certo. Eu vou desligar agora, mas logo vou estar aí. Não se preocupe".
Avisto Angus, que já está do lado de fora, com a porta aberta. Meu rosto deve ter denunciado toda a minha perturbação interna, porque sua expressão passiva se torna preocupada.
"O que aconteceu?"
"Vamos até a casa de Corinne. Agora. O mais rápido que você puder".
"Eu vou fazer o meu melhor".
Entro no carro. Enquanto meu motorista fecha a porta e volta para seu lugar na direção, ligo para Magdalene.
"Sim?" responde no terceiro toque.
"Oi Maggie, como vai?"
Ela suspira. "Eu poderia estar melhor. E você?"
"Eu digo o mesmo. Recebi sua mensagem e, logo em seguida, uma ligação histérica de Corinne. O que houve?"
"Corinne tem me ligado há dias, atrás de você, como de costume. Mas desta vez ela tem ligado várias vezes no mesmo dia. Eu disse que não tinha noticias suas, mas ela não acreditou. E hoje, ela me ligou novamente, igualmente histérica".
Minha nossa.
"Eu fiquei assustada com seu tom de voz", continua Maggie, "com sua falta de controle, porque Corinne nunca grita, mas ela estava... estranha, sabe? Eu fiquei preocupada, então fui até seu apartamento. Mas não tive tempo de falar nada. Ela praticamente me enxotou porta afora, dizendo que eu sou uma invejosa que ainda espera ter uma chance com você e que nunca mais irá me olhar na cara. Então resolvi te ligar, já que você é o único a quem ela escutaria".
Fecho os olhos e passo a mão pelos cabelos, muito nervoso e incrédulo. Corinne é completamente avessa a escândalos. O que está acontecendo com ela?
"Eu sinto muito por isso".
"Ah, para com essa mania de ser o mártir do mundo, Gideon", repreende. "É óbvio que Corinne não está bem de suas faculdades mentais. Em todos esses anos que nos conhecemos, eu nunca a vi assim antes. Foi apavorante".
"Foi exatamente o que pensei quando conversamos agora a pouco", digo, cansado. Decido poupá-la do ataque que Corinne deu ontem. "Estou indo para lá agora".
"Ela precisa procurar ajuda profissional. Essas alterações de humor não são normais e vão acabar com a saúde dela".
Esfrego a mão no rosto. "Eu vou tentar convencê-la disso".
"Espero que você consiga".
"Eu também", bufo.
Ouço um barulho de teclas sendo digitadas e papeis sendo virados. "Bom, eu tenho que ir. Preciso remarcar minha viagem para amanhã logo cedo".
"Eu pensei que você já tinha ido", essa mudança de tópico me ajuda a ficar mais calmo.
"Eu precisava resolver alguns assuntos antes. Esse fim de semana coincidiu como sendo o melhor momento para ir".
"Ok. Boa viagem. E divirta-se", penso na viagem que farei com Eva no fim de semana e o quanto eu quero que esse momento chegue logo.
"Pode deixar".
"E obrigado por me ligar", ela não precisava ter aguentado tudo isso.
"Estou pensando seriamente em adotar essa coisa do Arnoldo de te mandar calar a boca e desligar o telefone na sua cara quando você me agradece. Costuma funcionar", brinca, numa tentativa de quebrar o clima pesado. Algo muito típico dela e de Arnoldo.
Dou um meio sorriso. "Não me surpreenderia. Vocês, espanhóis e italianos, são dramáticos demais".
"E você é chato pra caralho", murmura secamente. "Agora me deixa marcar logo minha viagem. Estou louca pra torrar sob o sol de um resort de luxo no Caribe".
Minhas sobrancelhas sobem de surpresa pela coincidência. "Vai se hospedar no meu concorrente?" sondo, por precaução.
"Vou. E sem remorso algum, veja só você".
"Traidora", suspiro dramaticamente, embora esteja aliviado. "Fazer o quê? Se eu sou a nuvem tampando seu sol, eu me retiro".
Ela ri. "Tchau, Gideon".
"Tchau, Maggie".
Desligo e, por um breve instante, penso em nossa conversa. Magdalene exala confiança e uma alegria implícitas no seu tom de voz, e ambos não têm absolutamente nada a ver comigo. Ela não falou mais do que o necessário, ainda mantendo a distância entre nós. Fui eu quem esticou a conversa, algo que ela era quem fazia. E, mesmo depois de tudo o que sofreu, Maggie ainda se preocupou com a saúde de Corinne. Em outras épocas, ela teria se aproveitado da situação para se aproximar de mim, o que não foi o caso. Isso me deixa feliz. Feliz porque ela está conseguindo seguir em frente. Feliz, porque ela está feliz.
"Senhor Cross", a voz de Angus me chama para o presente. "Vamos demorar um pouco mais que o normal para chegar à casa da senhora Giroux. O trânsito foi deslocado por conta do evento, então as ruas estão tumultuadas".
Praguejo baixinho.
O evento. É claro. A porra do evento no qual eu deveria ter prestado mais atenção. Eu só queria esquecer aquela porcaria. No entanto, isso me faz lembrar que preciso falar com Arnoldo.
Aproveitando o tempo que ainda temos, ligo para ele. Três toques e a voz carregada de sotaque italiano se faz ouvir do outro lado da linha.
"Ciao, stronzo!" responde alegremente.
"Preciso de um favor", digo sem rodeios.
"O que houve?" ele deve ter captado meu humor porque seu tom de voz muda.
"Corinne está descontrolada em seu apartamento. Vou até lá para falar com ela, ver o que está acontecendo".
"Você está tentando voltar para Eva ao mesmo tempo em que mantém uma amizade com Corinne? Está maluco?"
Explico rapidamente o que aconteceu ontem à noite no apartamento de Corinne, quando ela tentou me seduzir ficando completamente nua diante de mim, falo sobre a ligação de mais cedo e a de agora, e o que aconteceu com Magdalene.
Arnoldo fica chocado e muito assustado com meu relato. "Dio mio! Ela não está nada bem".
"Exato. Tentei contato com os pais dela, mas eles estão viajando. O marido covarde dela está há dias dizendo que vai vir, mas não deu notícias também. Maggie não pode fazer nada. Nós não estamos mais juntos, Arnoldo, e sei que isso poderá me trazer problemas, mas Corinne é importante para mim também. Não posso simplesmente lhe virar as costas".
Ele suspira. "Você tem razão. Pode ser que ela esteja depressiva ou algo assim. Já parou para pensar que suas atitudes podem ser reações a algum medicamento?"
Penso um pouco antes de responder. "Mas ela não disse nada sobre isso".
"Considerando que ela apenas se jogou para cima de você completamente nua, não acredito que houvesse condições suficientes para ela dizer algo coerente", ironiza.
"Arnoldo...", advirto, sem ânimo algum para piadas.
"Acolto (escuta), o que estou tentando dizer é que suas mudanças bruscas de comportamento podem ser efeito de algum remédio. Minha mãe começou a tomar antidepressivos depois da morte de meus nonni (avós) e ficou muito alterada. O médico teve que diminuir a dosagem da medicação e tudo se resolveu".
O que ele diz faz muito sentido. "Vou ver isso com ela".
"Attenzione (Fique atento). Não aborde o assunto assim, sem anestesia. Seja educado e compreensivo. Ela não está nada bem".
"Eu jamais iria tratá-la mal", protesto, indignado.
"Eu não falei isso, stupido. Estou dizendo para não sair perguntando logo de cara, como você sempre faz. Ser direto não é a solução. Isso pode fazê-la se sentir pressionada e nervosa. Dê a ela seu tempo. E, se for dar um fora nela, caso seja necessário, faça isso delicadamente. Se ela se sentir ferida de alguma forma, pode acabar fazendo alguma besteira".
Sua última frase me faz encolher. Essa possibilidade está me corroendo desde ontem à noite. Ela não seria capaz, seria?
"Você está com medo, não é?" a voz de Arnoldo me tira de minha dormência momentânea.
"O quê?" pergunto, não entendendo o que ele quer dizer.
"Está com medo de ela cometer suicídio. Por isso está indo atrás dela".
Sinto meu coração falhar. "Ela não faria isso, não é? É ridículo pensar assim".
"Ela não vai fazer isso. Mantenere la calma (Fique calmo)", ele tenta apaziguar, mas a verdade é que ele está remoendo a mesma possibilidade.
"Olha, de qualquer forma, não foi só para isso que te liguei", mudo de assunto.
"Foi para pedir alguma coisa, né? Eu sabia que você não iria me ligar só para dizer que me ama", ele pega minha deixa e volta a ser o Arnoldo de sempre.
Eu sorrio. "Para de ser ridículo. Escuta, eu não vou poder ir ao Tableau One hoje. Queria te pedir para cancelar a reserva e...".
"Ficar de olho em Brett Kline. Deixa comigo. Será um prazer ser a babá da sua bella ragazza (linda garota)", diz com seu jeito todo empolgado, o que me faz rir.
"Não comente nada sobre mim, certo?"
"Come? Você acha que sou uma velha fofoqueira, por acaso, seu babaca?" esbraveja.
"Apenas no caso de ela perguntar por mim, seu idiota. Eu a encontrei no evento e comentei que iria jantar no Tableau com Ireland hoje", minto.
"Minha boca é um túmulo e você sabe disso", ele parece realmente ofendido.
"Me desculpe. Eu só... vê-la hoje foi... demais. E o Brett ficou perto dela o tempo todo...", foi horrível. Eu não quero passar por isso nunca mais.
"Eu imagino. Honestamente, eu torcia muito por vocês dois. Agora, eu só torço pra que você seja feliz. E, se sua felicidade for com ela, vá em frente. Vou te ajudar no que puder".
Arnoldo não está confiante dos sentimentos dela por mim depois do beijo entre ela e Kline. Entendo seu receio, até porque eu fiquei exatamente assim quando seu coração foi partido.
"Não se preocupe, Arnoldo. Sei bem o que estou fazendo".
"Eu espero que você saiba mesmo", murmura seriamente.
O carro para de se movimentar, finalmente. "Chegamos, senhor Cross", anuncia Angus.
"Certo", respondo-lhe e volto a falar com Arnoldo. "Acabei de chegar ao prédio de Corinne. Preciso desligar".
"Va benne. Me mande notícias e diga a ela que mandei um beijo".
"Claro".
Desligo o celular após me despedir dele, dou algumas instruções para Angus e saio do carro, me preparando para o que vem a seguir.
O porteiro me reconhece e me deixa entrar sem problemas. Corinne tinha me colocado na lista de visitas liberadas, o que é uma boa coisa no momento. Pego o elevador e, em minutos, estou batendo a campainha de seu apartamento.
A porta se abre e... Meu Deus!
Eu só posso estar vendo coisas.
Corinne está... mal. Muito mal.
Seu cabelo liso está desgrenhado, suas roupas amassadas, seus olhos fundos e vermelhos. Seu semblante está carregado como eu nunca vi. Meu coração se aperta ao vê-la assim e uma angústia sufocante se instala na boca do meu estômago.

Silenciosamente ela me dá espaço e entro.
"Corinne...".
"Você voltou pra ela, não foi?" Sussurrou com a voz embargada, ainda de costas para mim.
"Corinne, por favor...".
"Não minta pra mim", berra ao mesmo tempo em que fecha a porta com força, me fazendo dar um passo para trás de susto.
Ela se vira e me encara. "Aquela jornalista de quinta categoria que você comeu e largou veio me deleitar com imagens suas e daquela vadia loira, tiradas hoje cedo".
Fico instantaneamente tenso. Tanto por saber que a maldita Deanna Johnson esteve aqui como por ouvir Corinne se referir a Eva de forma tão baixa e nojenta. "Escute, eu entendo que você não esteja bem, e só por isto, vou relevar suas palavras...".
"Eu não quero da sua pena", rebate. "Não preciso que você releve nada! Eu disse o que disse e não vou voltar atrás. Eu digo o que quero! Essa é a minha casa! VADIA LOIRA", berra novamente, mais alto. "VADIA! Tão vadia que beijou outro homem enquanto estava com você! Gostou de ter levado um par de chifres, Cross? Finalmente achou alguém que não tem medo de te substituir? Você diz que eu não tenho amor próprio, mas onde está o seu? Quem é você pra me julgar, hã?"
Suas palavras são uma sucessão de tapas em meu rosto. Fico completamente chocado, incapaz de falar.
"Eu te deixei sem palavras, meu amor?" Dá um sorriso cínico e seus olhos ficam vidrados, me deixando ainda mais assustado com suas mudanças bruscas de humor. "Sim, a Deanna me contou isso também. Ela me perguntou se eu estava te consolando depois do beijo que houve entre aquela mulher e o roqueiro. E, honestamente? Eu adorei que você tenha passado por isso. Adorei cada segundo! Eu me deleitei nisso, me senti vingada!"
Franzo o cenho, sentindo uma imensa dor dentro do mim, mas por fora, apenas mostrando toda minha consternação. Arnoldo me pediu para ser paciente, pois ela não está bem. Tento ao máximo me segurar e deixo que ela fale.
"É duro, não é?" Continua. "Não ter a certeza de ser amado pela pessoa amada. Correr o constante risco de perdê-la para outra pessoa. Sabe o que foi aquele beijo, Gideon? Foi um aviso de que você não é tão amado assim. De que você pode ser substituído a qualquer hora. Que nunca a terá por inteiro, porque você, por si só, não é o suficiente para mantê-la ao seu lado. É triste, não é?" E começa a chorar desconsoladamente. "Eu entendo sua dor, porque eu sei como é se rastejar pela pessoa que se ama. Irônico, não é? Eu me rastejo por você e você se rasteja por ela!" Ela cai ajoelhada e seus soluços altos fazem seu corpo inteiro tremer.
Sem dizer uma única palavra, eu me ajoelho diante dela e estico meu braço até que minha mão alcança seu cabelo e começo a acariciá-la. Seu choro se intensifica, mas não paro o que estou fazendo.
E assim ficamos por um longo tempo.
<<<>>>
Quando Corinne finalmente se acalma, retiro minha mão de sua cabeça e me movo para ajudá-la a se erguer. Ela levanta a cabeça bruscamente e me encara, mais calma.
"Estou confusa", murmura.
Agora quem está confuso sou eu. "Como assim?"
"Não sei. É como se houvesse um enorme espaço vazio na minha mente. As ideias, os fatos, as coisas que tenho que fazer, está tudo ali, mas ficam girando em torno de um grande e enorme nada. Faz sentido pra você?"
"É claro", respondo suavemente. "Eu me sinto assim quando estou cansado".
"Eu estou cansada" sussurra. "Eu mal consigo me mover".
"Deixe-me ajudá-la", pego-a pelos braços e a levanto devagar.
Corinne escora suas mãos em meu peito, mas não há segundas intenções em seu toque. Ela só quer se apoiar em mim.
Guio-a para o sofá e a faço se sentar. Nos soltamos um do outro e eu me sento na mesinha de centro, ficando frente a frente com ela. Eu a observo atentamente.
"Gostaria de um copo d'água?" pergunto.
"Sim, por favor. Minha garganta está seca".
Vou até a cozinha e em minutos volto com um copo de água e um cobertor que encontrei jogado em uma das espreguiçadeiras de sua varanda.
"Tome", passo-lhe o copo.
Ela agradece com um aceno de cabeça e o bebe em pequenos goles. Coloco o cobertor ao seu lado e volto a me sentar no mesmo lugar de antes.
"Sente-se melhor?" falo quando vejo que ela termina de tomar a água.
"Mais ou menos. Ainda estou meio tonta", ela me entrega o copo e se enrola no cobertor. "Onde pegou isso?"
"Estava na sua varanda", respondo colocando o copo vazio ao meu lado.
Ela acena com a cabeça novamente, em silêncio.
"Corinne", chamo sua atenção, me preparando para fazer-lhe perguntas sem ser rude. "O que está acontecendo? Eu, Magdalene e Arnoldo estamos muito preocupados com você".
"Magdalene veio aqui para sentir o gostinho de me ver na pior", resmunga. "Ela sempre foi uma invejosa, falsa, que se fazia de amiga só para tentar te tirar de mim".
"Ei", chamo sua atenção suavemente. "Pode parar com isso! Magdalene está realmente preocupada. Por isso ela veio até aqui. Ela poderia muito bem não ter nem se dado ao trabalho, mas fez mesmo assim. E me mandou uma mensagem antes de você me ligar".
"Mentirosa! Ela me disse que vocês nem estavam mais mantendo contato", rosna.
"E não estamos mesmo! Há dias não falava com Maggie. Ela só me ligou para avisar sobre você, me pediu para vir falar com você".
"E você só veio porque ela pediu?"
Não gosto nada de seu tom. "Não. Eu vim porque gosto de você. Porque sou seu amigo. E se ela me pediu para vir, foi pelo mesmo motivo".
"Ela gostar de mim? Eu duvido muito", zomba.
"Mas mesmo assim ela ligou. Para com essa implicância com Maggie. Ela estava tentando te ajudar".
"Ela estava arrumando motivos para falar com você".
Respiro fundo, evitando que a impaciência dê vazão. "Você não sabe o que está dizendo. Maggie está com outra pessoa. Está seguindo em frente. E fico feliz por ela".
"E você acreditou? Ela está usando algum desavisado para te fazer ciúmes. Isso é bem a cara dela".
"Você não a conhece mais do que eu", digo sério. "E não sabe das coisas que sei. Não vou ficar aqui escutando você falar mal da minha amiga assim. Você está sendo muito ingrata".
"Não precisa ficar bravo por...".
"Corinne, por favor", esfrego as pálpebras com os dedos. "Você começou isso, bombardeando a Magdalene de ligações. E não só ela como o Christopher também. Com certeza deve ter feito o mesmo com minha mãe e meu padrasto. Porque está fazendo isso?"
"Você não queria me atender. Eu fiquei desesperada", choraminga.
"E para que você quer falar comigo? Para ouvir o que já sabe que eu vou dizer? Quantas vezes nós tivemos essa discussão? Quantas vezes mais teremos que ficar girando em torno disso?"
"Aquela jornalista veio aqui tirar chacota de mim, Gideon! Ela insinuou que eu não era nada mais que seu prêmio de consolação. Disse que aquela loira e o tal vocalista se beijaram, que você brigou com ele, de saírem no tapa, e mesmo depois de tudo isso, você a perdoou. E depois de vocês terem terminado, você ainda foi atrás dela. Tem noção de como eu me senti?"
Eu quero matar Deanna Johnson.
"E você acreditou nela?" minto, me fazendo de indignado. "Deanna estava querendo de provocar deliberadamente. Ela queria tirar de você alguma coisa sobre mim. Ela está querendo cavar minha vida, querendo achar algo para me difamar e está fazendo de tudo para conseguir o mínimo que puder usar contra mim. E você caiu no jogo dela".
Ela me encara, estupefata.
"Você me conhece melhor do que isso, Corinne. Acha mesmo que eu iria me atracar com alguém em um local público? Não teve beijo nenhum, nem briga. Eva e Brett são ex-namorados, mas são apenas amigos, assim como nós. Não há absolutamente mais nada entre eles".
"É, você tem razão. Realmente, não faz o menor sentido", ela parece acreditar bem na minha mentira, o que me deixa aliviado. "Desculpe por isso. Mas a forma como ela pintou esse quadro me pareceu tão real que... E teve as fotos também. Ela disse que foram tiradas hoje. Elas são uma montagem?"
O resquício de esperança na sua voz e o brilho nos seus olhos me traz um aperto no peito. Eu apenas devolvo seu olhar, sem dizer uma única palavra.
Sua expressão muda assim que percebe que a resposta não é a que ela esperava. "Então... vocês...".
"Sim. Eva e eu estamos nos reaproximando. Ambos manifestamos o desejo de continuar de onde paramos".
Corinne fecha os olhos e duas lágrimas escorrem. Ela é a imagem da desolação.
"Eu já tinha lhe dito várias vezes, Corinne. Eva é a mulher a quem eu...".
"Não diga essa palavra" sussurra. "Não diga isso, por favor. Se você ainda tem algum respeito pelo meu bem-estar, não fale isso".
"Não vou dizer uma palavra, mas não por esta razão, e sim porque apenas insiste em ignorar o óbvio. Eu já te disse tudo o que tinha para dizer sobre esse assunto. E não vou mais tocar nele. Você vai ter que aceitar".
Ela abre os olhos novamente. "Eu nunca vou aceitar isso. Nunca. Você também tem o hábito de ignorar o óbvio, ao que parece. Eu vou continuar insistindo, quer você queira ou não".
"E o que você pretende fazer?" minha paciência vai para o espaço. "Aparecer no meu trabalho e tentar me beijar contra a minha vontade? Ligar para minha família e meus amigos, pra me pressionarem a atender seus telefonemas? Ficar nua e se jogar em cima de mim como uma vadia?" eu digo antes que possa me refrear.
Ela arfa. Seu rosto empalidece no mesmo instante e seus olhos marejam. Merda! Puta que pariu!
"É isso que você pensa de mim?" sussurra quase sem voz. "Que sou uma vadia? Eu pedi desculpas para você pelo que fiz, Gideon. Eu me arrependo muito disso. Não precisava ter jogado isso na minha cara. Eu já estou envergonhada o suficiente".
Eu me ajoelho diante dela. "Me desculpe. Me desculpe, por favor. Eu não quis dizer isso. Foi nojento e injusto da minha parte. Me perdoe. Eu só fiquei nervoso".
"Você nunca falou desse jeito comigo", acusa. "Nem mesmo quando meus pais fizeram aquele jantar de noivado com sua família sem te consultar".
Isso me faz sentir ainda mais culpado. "Eu sei. Eu fui injusto e eu sinto muito, mais do que você jamais saberá. Eu só... Essa situação está me matando. Ver você assim está me matando. Você também não está sendo a mesma ultimamente".
"O que quer dizer?"
"Todas as suas atitudes, desde o dia em que você apareceu de surpresa no Crossfire, não condizem com a sua pessoa. Seus humores estão se alterando, seu comportamento está atípico e você mesma diz estar cansada, desorientada...", sondo.
Corinne olha para baixo e fica em silêncio. Seu cenho se franze como se estivesse tentando processar o que acabei de dizer. Após um tempo que me parece muito longo, ela me encara.
"Eu... não sei explicar... Você me falando isso agora, eu... Consigo perceber. Eu nem sequer me dei conta de que isso era anormal para mim nem nada. Foi só quando fiz... Aquilo ontem, que fiquei envergonhada, mas não a ponto de achar que tinha feito algo... Ruim ou fora da linha. Pra mim, foi só algo embaraçoso. Mas agora...", suspira. "Eu não sei o que está acontecendo comigo".
"Você tem comido algo diferente, feito alguma dieta ou...".
"Não disso! Eu tenho comido bem como sempre e nada de diferente".
"Tem tomado algum remédio?" finalmente chego ao cerne da questão.
Ela desvia o olhar. "Na verdade, eu comecei a tomar alguns antidepressivos há mais ou menos duas semanas. Foram receitados pela minha psiquiatra".
Bingo!
"Quantos exatamente?"
"Dois. Um ansiolítico* para tomar de manhã, e um calmante para dormir".
"A médica não explicou sobre algum efeito colateral?"
"Na verdade ela me disse que eu me sentiria mais calma, mas é completamente o contrário. Eu nem sei dizer como me sinto", franze a testa.
"Talvez a dosagem esteja afetando seus humores e seu comportamento. A mãe de Arnoldo também passou por isso", explico rapidamente o que ele me contou.
Ela escuta em silêncio.
"Seria uma boa ideia se você fosse até sua médica amanhã e falasse com ela sobre isso", sugiro.
"Eu vou", concorda rapidamente. "Não posso deixar isso continuar. Até eu estou com medo de mim agora. Lamento fazer você passar por isso".
"Não foi culpa sua, ok? Eu sei que não era você ali. Vamos virar essa página e esquecer. Só isso. Você vai cuidar de sua saúde, fazer seu tratamento corretamente e tudo vai ficar bem".
"Certo. Obrigada".
"De nada. Como se sente?"
"Agora que sei o que está acontecendo comigo, me sinto melhor".
"Ótimo. Bom, está ficando tarde, e eu preciso ir".
Seu olhar é de pura tristeza. "Tudo bem. Obrigada por ter vindo".
"Não por isso".
"Posso te ligar caso eu precise?"
Respiro fundo antes de responder. "Não, Corinne. Desta vez, você vai ligar para o seu marido. Ele é quem tem que cuidar de você. Não posso me responsabilizar por isso. Eu ainda não me esqueci das coisas que você fez para me prejudicar com Eva. Eu confiei em você e fui apunhalado".
Ela desvia os olhos novamente. "Então nem amigos poderemos ser mais?"
"Não. Eu quis ser seu amigo, mas você nunca quis só minha amizade. E nunca vai se contentar com isso. Então é melhor que nos mantenhamos afastados".
Seus olhos de água marinha se voltam para mim. "Eu nunca vou me afastar, Gideon. Mesmo que você se afaste. Nada mudou. Eu não vou mais perturbar sua família, nem agir como venho agido, mas ainda vou lutar por você. Até o fim. Você não sabe desistir do que quero. Eu também não".
<<<>>>
Saio do prédio de Corinne, com o telefone em punho.
"Oui (Alô)?" a voz grossa soa do outro lado.
"Onde diabos você está?" esbravejo. Angus abre a porta imediatamente.
"Mas o que...".
"A sua mulher está fazendo uso de remédios", eu o corto bruscamente, entrando no carro. "Antidepressivos fortes, e você não faz absolutamente nada? Ela está surtando, Giroux!"
"Antidepressivos? Do que diabos você está falando?", pergunta asperamente.
"Há, nem disso você sabia? Aliás, o que você sabe da sua mulher, não é?" ironizo. "Ela irá ao médico amanhã. Você precisa estar aqui para apoiá-la. Seus digníssimos sogros viajaram e a governanta não pode fazer muita coisa. Adiante sua viagem. Largue as pendências que tiver, e venha resolver esta, que é infinitamente mais importante. Corinne é sua esposa, logo, sua responsabilidade. É você quem tem que ser homem, deixar esse orgulho patético de lado e vir cuidar dela". E desligo antes que ele possa retrucar.
Recosto-me no encosto do banco e solto um longo e pesado suspiro. Que dia infernal! Nem acredito que acabou. Estou exausto, péssimo, abalado física e emocionalmente. Brett, Deanna e Corinne, um atrás do outro, sem pausa!
Abro o celular para ver se há alguma mensagem. No aparelho que uso normalmente, há uma mensagem de voz de Arnoldo.
"Ciao, stronzo! Sua bella ragazza foi devidamente protegida. Como vocês americanos dizem, chovi no desfile dele" solta uma risada. "Se quiser, te conto os detalhes, mas o plano deu certo. Me mande notícias de como foi a conversa com Corinne o mais rápido que puder, capisco (entendeu)? Fiquei realmente preocupado. Arivederci (Tchau)!"
Eu sou muito grato ao meu amigo pelo que fez, mas suas palavras não me acalmam nem me animam, apesar de eu tentar acreditar que elas têm esse poder.
Essa jornalista vai me pagar caro pela bagunça que anda fazendo. Ela não perde por esperar!
Estou péssimo pelo que houve na casa de Corinne. Ela estava... Minha nossa! Apesar de ela ter concordado em procurar seu médico para mudar a medicação, não gosto de pensar que ela está passando por isso tudo sozinha. Seus pais são absurdamente relapsos e seu marido idiota... Sem comentários. Mesmo eu, que era meio desligado do nosso relacionamento, e fazia tudo no automático, cuidava dela muito melhor do que esses três incompetentes juntos.
Sua insistência latente em me ter de volta é outra coisa que me preocupa. Eu não a quero sabotando minha relação com Eva. Meu anjo é tudo para mim, a única mulher da minha vida. E Corinne simplesmente não aceita isso. Parte disso é minha culpa, eu sei. Mas não vou usar isso como desculpa para perdoá-la por suas atitudes. Agora as coisas mudaram. Somos adultos, e ela terá de lidar com isso.
Mas o que ela disse sobre Eva e Kline me deixou ainda pior do que eu estava depois do que vi naquele lançamento. Jogar o beijo deles na minha cara foi um golpe baixo. Ao saber daquilo por intermédio daquela jornalista traiçoeira, ela teve seu momento de glória. Talvez até a própria Deanna tenha se sentido vingada.
Não posso ignorar o fato de que Corinne tem razão no que disse. Estou me rastejando, me pondo na sarjeta, por uma mulher que virou completamente minha cabeça. Uma mulher por quem eu seria capaz de desistir de tudo, da minha riqueza, até de mim mesmo. Mas Eva jamais me machucaria deliberadamente. Ela me ama tanto quanto a amo. Precisa de mim tanto quanto preciso dela. E, se eu permitisse, ela se arriscaria por mim tanto quanto eu me arrisco por ela. E foi confiando nesse sentimento, que tomei as decisões que tomei e que sigo fazendo o que faço. Porque desistir de nós dois significaria minha morte.
Brett está firme em seu propósito de retomar o que tivera com Eva. E cada segundo que ela passa sem estar casada comigo, é um segundo a mais que ele tem para tentar reconquistá-la. Felizmente, isso será resolvido nesse fim de semana. Pensar que, em breve, ela estará tão entrelaçada à minha vida a ponto de não conseguir se soltar facilmente, me dá a segurança de que preciso. Ele não terá a menor chance. Eu não vou permitir isso, ainda mais depois daquele maldito clipe. Aliás, minha prioridade após esse fim de semana, será seguir de perto o andamento da repercussão do clipe e os planos que a gravadora tem de explorá-lo na mídia.
Na próxima semana, Eva e eu retomaremos nosso relacionamento publicamente. Sei que provavelmente ela não vá querer que todos saibam do casamento logo de cara, pois vai querer uma segunda cerimônia com sua família e amigos. Mas haverá um anúncio indireto de um noivado. Eu quero que isso estampe a capa de cada tabloide desse país. Que inventem o que for desde que a única verdade imutável seja que estaremos a um passo do altar.
Brett é um empecilho grande, mas não o bastante para que eu não consiga derrubá-lo. Ele tem o passado deles, o carinho de Eva e a forte atração entre eles ao seu favor. Eu a tenho. Eu a possuo. De corpo, alma e coração. E isso para mim é o suficiente.
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*Ansiolíticos: são drogas, sintéticas ou não, usadas para diminuir a e a tensão. Em pequenas doses recomendadas por médicos, não causam danos físicos ou mentais. Afetam áreas do que controlam a ansiedade e o estado de alerta relaxando os músculos.
Dados da Wikipédia.
...
Gente! Que mala essa Cobrinne! Fiquei até com dó do lance dos antidepressivos, mas olha... a mulher é uma vaca mesmo!
A Maggie Tereza de Calcutá no fim só quis ajudar, né? Amei a participação dela aqui! E vocês?
E o Poderoso Chefão Arnoldo, gente? Quem não ia querer esse empata foda na vida? Ai ai...
Semana que vem tem mais!!
Tchau!!

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