sábado, 3 de setembro de 2016

Para Sempre Minha: Capítulo 20 ― Irrevogavelmente (Parte I)

PEÇO QUE SEMPRE LEIAM AS NOTAS EM NEGRITO, POIS COLOCO INFORMAÇÕES IMPORTANTES REFERENTE AS POSTAGENS. NÃO VOU RESPONDER A NENHUMA PERGUNTA SOBRE O QUE EU JÁ TIVER ESCRITO NELAS. 
Oi pessoal! Após uma semana de pausa, estamos de volta para a segunda temporada da #Gideonteparia! Isso mesmo! Toda sexta, um capítulo inédito! Quer dizer, não é exatamente sexta, rs, mas a internet lenta atrapalhou a postagem! Desculpem! 
Bom, sem mais delongas, preparem as becas e os lencinhos, porque temos um casamento para assistir! Espero que gostem!A #Gideonterapia recomeça agora!Boa leitura!


Carrego seu coração comigo / Eu o carrego no meu coração/ Nunca estou sem ele / Onde eu for você vai, minha querida /Não temo o destino / Você é meu destino (...).
― E.E. Cummings
Sinto uma carícia suave em meus cabelos. Mantenho os olhos fechados, apenas absorvendo o cheiro forte de sexo e me deleitando nesse carinho. Minha cabeça repousa sobre um corpo quente e macio. Devagar, vou recobrando a ciência dos últimos acontecimentos... Fico tenso ao me lembrar do que fizemos; do quanto fomos longe.
"Meu amor?" a voz suave de Eva me chama.
Respiro fundo antes de levantar meu rosto e encará-la, incapaz de não fazê-lo. Seu olhar sobre mim é um misto de doçura e cautela.
"Sim?" minha voz sai mais grossa que o normal, por conta do sono.
"O piloto acabou de anunciar que vamos pousar em uma hora", ela continua a acarinhar meus cabelos. "Que tal uma ducha?"
"É uma boa ideia", murmuro. "Pode ir primeiro, se quiser".
É notável a decepção em seus olhos, embora tente disfarçar. "Tudo bem", dá um sorriso forçado. "Eu não demoro".
Eu a solto. Ela rola para o lado, sai da cama e se encaminha rapidamente ao banheiro sem nem mesmo me dirigir o olhar.
Praguejo baixinho por tê-la magoado com minha recusa.
Não é que eu não queira estar com ela, mas preciso de um tempo para processar o que aconteceu. Preciso pensar no que será de nós a partir de agora.
Eu sequer consigo lembrar daquilo sem sentir meu corpo inteiro se arrepiar. Não de pavor, mas sim de desejo, de excitação. Juntos, derrubamos uma barreira que, até algumas horas atrás, era intransponível para mim.
Eva me mostrou o tamanho de sua força. Ela pode me enlouquecer na cama como nenhuma outra mulher, mas hoje... Foi inexplicável. Sua vontade em me fazer lutar contra as memórias horríveis do meu passado me fez entender o tamanho de seu amor por mim. Ela não me fez descer ao inferno sozinho. Ela esteve ali, o tempo todo, me conduzindo.
Foi mais do que sexo. Foi mais do que fazer amor.
Juntos, combatemos o medo que ainda me ditava, mesmo que eu tentasse negar. Ela me desafiou a enfrentá-lo. Mostrou-me luz onde eu só via trevas.
Ela foi a minha luz. Meu anjo. Meu milagre.
Ainda me sinto vulnerável e atordoado. As lembranças do meu abuso foram tão nítidas, que era como se eu tivesse revivendo tudo novamente. É óbvio que o único dedo que Eva usou para me penetrar não seria o suficiente para me fazer sentir tamanha dor. Eu tinha voltado a ser aquela criança humilhada e subjulgada, completamente indefesa diante dos ataques bruscos e ferozes de um monstro depravado.
Quando ela me entregou seu corpo, para que eu fizesse o mesmo, Confesso que me aproveitei de sua atitude de se colocar na mesma posição que eu para descontar o inevitável resquício de ressentimento por ser forçado a fazer algo para o qual eu não estava preparado. Odeio quando as coisas saem do meu controle. Punindo-a com o prazer, eu tentava, de certa forma, recuperá-lo. Além disso, queria lhe mostrar o quanto estava me machucando, o quanto estava exigindo de mim. Ainda assim, ela foi em frente. E, mesmo quando eu havia lhe implorado para que parasse, no fundo, eu sentia a necessidade de ir mais longe, de ser tão corajoso como Eva foi quando invadi seu corpo. De confiar nela da mesma forma que ela confiou em mim para apagar a memória de Nathan. E eu não estava errado ao lhe ceder o controle.
Eva sabia que eu seria incapaz de fazer aquilo sozinho, e por isso se ofereceu. Ela viveu todos os horrores que eu vivi, provou as sensações de impotência, insignificância e culpa que se impregnam em uma pessoa que passa anos sendo abusada. Naquele momento, nós derrubamos todas as limitações que nos impediam de desfrutar um do outro. Os grilhões que nos prendiam a uma vida sexual superficial, enganosa e vazia não existem mais. Fomos apenas nós dois. Lutando contra o mundo, lutando contra nossos demônios. Ela me mostrou que juntos, somos muito mais fortes. Somos iguais em tantos níveis e mutuamente dependentes. Ninguém poderia nos compreender melhor que nós mesmos. Sua alma e a minha são uma só.
E eu quero isso para sempre.
O que me atormenta agora é: será que ela irá querer o mesmo?
O barulho da porta do banheiro se abrindo me desperta dos meus pensamentos, e eu volto meu olhar para a bela figura do meu anjo enrolado em uma toalha e com os cabelos molhados. Meu coração dispara com a visão. Eu não posso suportar a ideia de não ter isso todos os dias.
Eva parece desconfortável diante do meu escrutínio deliberado, o que me faz tencionar novamente.
"Está tudo bem?" ela pergunta baixinho.
Minha garganta se aperta ao vê-la tão... Quieta e vulnerável.
Ciente de que eu seria incapaz de falar, respondo que sim com um aceno de cabeça, me levanto calmamente, vou até ela, dou-lhe um beijo suave na testa e entro no banheiro.
A água quente cai como um bálsamo sobre meu corpo, ou assim quero acreditar. Fecho os olhos e aperto as pálpebras, tentando conter as lágrimas que ameaçam sair e passo a mão pelos cabelos já ensopados pela ducha. Minha mente não para e isso, juntamente com o temor, não me ajuda a relaxar.
Ambos fomos ao limite da dor e do prazer.
Agora, nenhum de nós sabe o que fazer com a calmaria após a tempestade.
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O resto de nossa viagem foi feito no mais absoluto silêncio. Um silêncio carregado de tensão. Ficamos um pouco distantes um do outro, completamente imersos em nós mesmo, sem deixarmos de nos tocar. O contato físico foi um acordo mútuo e silencioso que estabelecemos inconscientemente para suprir a falta de palavras.
A tensão perdura na aterrissagem. Nossos passaportes são carimbados e seguimos para a limusine que nos levará até o resort. Apesar de nossas mãos estarem entrelaçadas, nós quase não falamos, nem um com o outro, nem com as pessoas à nossa volta. Procuro me manter impassível e calmo durante todo o tempo.
Já na limusine, não me faço de rogado e logo me sirvo de uma bebida, a qual Eva recusa quando ofereço. Eu me sento ao seu lado, passando um braço por seus ombros e ela se debruça sobre mim, colocando as pernas em meu colo.
Ela me pergunta se está tudo bem e eu respondo que sim depois de lhe dar um beijo na testa.
"Eu te amo", murmura.
Suas palavras mexem ainda mais com minhas emoções. "Eu sei", e viro a bebida num só gole.
Passamos o resto do caminho até o resort em silêncio.
Ao chegar à área de desembarque do hotel, somos recebidos por Claude, o gerente, que não consegue conter sua satisfação por estar em minha presença e por eu simplesmente saber seu nome. Ele nos acompanha para dentro, falando animadamente, como um bom anfitrião.
O Crosswinds é um dos empreendimentos dos quais mais me orgulho. Sendo um homem rico, acostumado ao luxo e ao lazer de primeira qualidade, eu sabia exatamente o que deveria oferecer aos meus clientes. Este resort foi projetado para ser um paraíso na terra. O lugar perfeito para se esquecer dos problemas. Um descanso para almas e mentes inquietas. Rodeado por águas muito azuis, que transmitem paz e calma a quem procura. A fauna é tão colorida, simples e, ao mesmo tempo, majestosa, que é impossível não se encantar, não querer se perder no meio dela. As partes externas e internas do resort seguem a mesma linha. A natureza está nos ornamentos, com plantas e flores belíssimas e exóticas, e nos acabamentos em madeira. Mesmo estando do lado de dentro, é impossível se desconectar da paisagem do lado de fora.
Eva e eu não nos separamos. Desde que chegamos, percebo que ela não está se sentindo muito confortável com sua aparência. Seu vestido está um pouco amassado, seu cabelo meio desarrumado depois de ter secado e sua maquiagem impecável havia saído durante o banho, deixando evidente seu esgotamento físico.
Assim que entramos na suíte, sem dizer uma palavra, ponho a mão na base de suas costas, pra que ela saiba que seu desalinho não me impedia em nada de desejá-la. Eu a amo de qualquer maneira.
E, claro, adoro vê-la desalinhada.
Mas odeio quando isso a afeta de forma negativa, como agora.
E, com minha linguagem corporal fria e possessiva, deixo claro o lugar de honra que ela possui em minha vida.
Libero Eva para que caminhe pelo cômodo para se familiarizar, e continuo a falar com o gerente, porém toda a minha atenção está voltada para ela. Após acertamos alguns detalhes, eu o instruo a pedir o serviço de quarto uma refeição leve que eu costumo pedir sempre que venho.
"É um prazer tê-lo aqui novamente, senhor Cross", aperta minha mão.
"Obrigado, Claude", seu sorriso se alarga e ele pede licença.
Vou procurá-la pelo quarto e a encontro na suíte principal, parada na porta da varanda. O vento soprava em seu rosto, balançando levemente seus cabelos.
Uma visão etérea. A coisa mais bela que já vi.
"Gostou?", pergunto baixinho.
Ela se vira para me olhar. "É maravilhoso".
Aceno com a cabeça, sabendo que ela está dizendo a verdade. "Pedi para servirem o jantar aqui mesmo. Tilápia, arroz, frutas frescas e queijo".
"Que ótimo. Estou morrendo de fome".
Estou odiando essa conversa educada. O oceano está lá fora, mas parece que ele se pôs entre nós.
"Tem roupas pra você no armário e nas gavetas. E biquínis também, mas a piscina e a praia são privativas, então você só precisa usar se quiser. Se estiver faltando alguma coisa, é só me dizer que eu providencio", continuo.
O olhar que Eva me dá em resposta está repleto de dor e de lágrimas.
"Gideon..." ela estende a mão para mim. "Me diz se eu exagerei na dose. Se estraguei alguma coisa entre nós".
"Meu anjo", suspiro, me sentindo culpado. Eu não quero que ela pense que eu a estou rejeitando.
Venço a distância entre nós e pego sua mão antes de beijar seus lábios levemente, evitando olhá-la. Eva me conhece melhor do que ninguém e, com certeza, conseguirá ver através de mim. Eu não posso deixá-la perceber que estou escondendo algo dela, e que estou com medo de sua reação quando descobrir.
"Crossfire", sussurro baixinho, dizendo talvez mais para mim do que pra ela, como um lembrete. 
Sem pensar, eu a envolvo em meus braços e a beijo com mais força.
"Garotão" ela fica na ponta dos pés e agarra minha nuca, retribuindo meu beijo com vontade.
Eu vou desmoronar na frente dela. Posso sentir. Estou a um passo de dizer sobre o casamento. Mas não vou fazer isso ainda. Então, me desvencilho dela rapidamente e sugiro que troquemos nossas roupas antes que a comida chegue.
Ela se afasta relutantemente, e vou para o quarto adjacente, a fim de colocar algo mais confortável. O terno está me sufocando, tanto quanto a situação na qual nos encontramos.
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Nosso jantar, que foi servido no terraço, é carregado de silêncio. Dou algumas garfadas, mas não consigo comer tudo. Eu não paro de remoer o fato de que sou um perfeito covarde por não ter dito nada a Eva ainda. Um covarde que bebeu umas quatro taças de vinho branco.
Eva fica de cabeça baixa o tempo todo, concentrada em sua comida. Sua posição frágil faz meu estômago se contorcer de raiva de mim mesmo.
Ouço Eva respirar fundo e isso chama minha atenção.
"Desculpa. Eu não devia... Eu não..." ela engole em seco. "Desculpa, amor", sussurra.
Antes que eu possa processar suas palavras, meu sangue gela ao vê-la arrastar a cadeira para trás e sair correndo em direção à praia.
Empurro forte a cadeira, que acaba tombando ao chão e saio correndo atrás dela. "Eva! Espera".
Não, não, não. Ela está fugindo de mim de novo.
Vejo-a tirando o vestido e entrando no mar. Em seguida ela se afasta por alguns metros antes de mergulhar até a cabeça, fazendo que somente seus cabelos ficassem visíveis na superfície. Entro na água de calça mesmo e, assim que a alcanço, uso os dois braços para puxar seu corpo para fora d'água.
Eva sai cuspindo e tossindo água. Eu a ajeito em meus braços e olho bem para seu rosto, para seus olhos vermelhos. Ela está chorando.
"Meu anjo", tomo seus lábios com desespero enquanto saímos do mar em direção à praia.
Eu a levo até a cabana no meio da areia, que foi inspirada no sonho que tive de nós dois fazendo amor na praia, deito-lhe sobre a espreguiçadeira e coloco meu corpo por cima do seu.
Antes que eu perca a coragem, eu peço. "Casa comigo".
"Sim", responde.
Sim. Ela acabou de dizer sim. Ela aceitou.
Sem me conter, eu a beijo com ferocidade e avidez, como um sedento provando do oásis no deserto. Seus lábios me correspondem numa intensidade menor, mas totalmente entregues.
Sentindo o fôlego se esvair de mim, eu interrompo o beijo e acaricio seu rosto, roçando a barba por fazer em sua pele.
"Amanhã", completo.
Sua resposta pode até ter sido positiva, mas o fato é que não estamos pensando na mesma data. E eu não posso mais esperar.
"Eu...".
"É só dizer sim, Eva", ergo o corpo o suficiente para encará-la. "É uma

palavra bem simples... Sim".

Ela engole em seco. "A gente não pode casar amanhã".
"Claro que pode", digo com convicção, "não só pode como vai. Eu preciso disso, Eva. Dos votos, da certidão em papel passado... Vou enlouquecer se não tiver tudo isso com você".
"É cedo demais", protesta.
O quê?
"Como você pode me dizer isso depois do que aconteceu no avião?", rebato. "Você tomou posse de mim, Eva. E agora eu preciso fazer o mesmo".
"Não estou conseguindo respirar", ela resfolega, parecendo estar à beira de um ataque de pânico.
Rolo para o lado, puxando-lhe para cima e lhe abraço. "É isso que você quer", insisto. "Você me ama".
"É verdade". Ela recosta a cabeça sobre o meu peito. "Mas você está apressando as...".
"Você acha que eu decidi fazer o pedido assim do nada?", eu a interrompo. "Pelo amor de Deus, Eva, você me conhece. Estou planejando isso faz semanas. Só penso nisso há um tempão".
Ela tenta argumentar mais uma vez, dizendo que não podemos casar sem nossa família e amigos por perto.
"Podemos fazer uma cerimônia só pra eles. Isso também está nos meus planos". Afasto sua franja molhada do rosto. "Quero fotos nossas nos jornais,

nas revistas... Em todos os lugares. Mas isso vai demorar meses, e eu não posso esperar tanto assim. Vamos fazer isso agora, só nós dois. Não precisamos contar pra ninguém se você não quiser. Podemos dizer que ficamos noivos. Vai ser o nosso segredo".

Ela apenas me encara, sem saber o que dizer.
Não vou deixá-la fugir desta vez. Eu sei que ela quer isso, mas está deixando que seus medos e receios a dominem. Está deixando que eles sejam maiores do que nosso amor.
"Eu pedi a permissão do seu pai", continuo. "Ele não fez nenhuma...".
"Quê?" pergunta em estado de choque. "Quando?"
"Quando ele estava em Nova York. Surgiu a oportunidade, e eu falei com ele".
"Ele não me disse nada", amua.
"Porque eu pedi pra ele não dizer. Falei que a ideia era que não fosse tão já. Eu ainda estava preocupado em saber se você ia me aceitar de volta. Tenho tudo gravado, então você pode ouvir a conversa se não acreditar em mim".
Ela pisca várias vezes, completamente confusa. "Você gravou a conversa?"
"Não queria deixar nada na mão do acaso", justifico sem a menor vergonha.
"Você disse que não seria tão já. Ou seja, mentiu pra ele".
Abro um sorriso. "Não menti não. Já se passaram vários dias".
Seus olhos arregalam. "Ai, meu Deus. Você é maluco".
"Provavelmente. Mas foi você que me deixou assim", dou um beijo estalado e seu rosto. "Não consigo viver sem você, Eva. Não consigo nem imaginar isso. Só de pensar, já fico à beira da loucura".
"Essa sua ideia é uma loucura", contesta.
"Por quê?" franzo a testa, meio irritado com sua relutância. "Nós somos feitos um pro outro, então por que esperar?"
Seus olhos ficam desfocados e sei que ela está pensando em uma série de empecilhos. Mas, desta vez, não haverá fuga. De nenhuma das partes.
"Você não tem opção", digo com veemência, abraçando-a e a levantando da espreguiçadeira. "Nós vamos fazer isso, Eva. Aproveite bem os seus últimos momentos como uma mulher solteira".
E, ali, na cama da suíte principal, fizemos amor pela última vez como um casal de namorados. A forma como Eva se entregou com vontade, me mostrou que ela estava mais do que de acordo em se casar comigo.
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Não consegui dormir direito. Minha mente esteve (e ainda está) a pleno vapor, repassando aleatoriamente todos os dias desde que Eva entrou em minha vida, com uma enorme riqueza de detalhes. Nós estamos a poucas horas do momento mais importante de nossas vidas.
Meu anjo ainda está dormindo pacificamente, com sua cabeça repousada em meu peito. Dou um beijo leve em seus cabelos, afasto-lhe devagar e me levanto para tomar um banho demorado, lavando cuidadosamente os cabelos, e ensaboando cada parte do meu corpo com zelo. É o meu grande dia e eu quero estar bem para minha futura esposa.
Após me dar por satisfeito, desligo o chuveiro, pego a toalha pendurada no gancho no lado de fora do box e me seco. Já no quarto, coloco uma calça jeans e ligo para o serviço de quarto pedindo o café da manhã.
Em vinte minutos, a bandeja com o café chega. Deixo um robe de seda branco para Eva em cima do encosto da cadeira, uma rosa vermelha de caule longo em um vaso branco e, sob ele, uma cópia do contrato pré-nupcial, entre os talheres e guardanapos. Em seguida, me encaminho para o quarto adjacente, mas não antes de voltar à suíte principal para dar uma boa olhada em minha futura esposa, que agora está esparramada na cama, com o lençol tampando somente da cintura para baixo. Sua pele parece mais bronzeada pelo reflexo da claridade.
Olhar para Eva é como olhar para um céu azul de um ensolarado dia de verão.
Suspiro, completamente apaixonado e, relutante, desvio o olhar, e saio do quarto, determinado a não aparecer até que Eva leia o contrato. Assim, ela terá consciência da real extensão do que estou propondo com nossa união. E, óbvio, lhe dar tempo para digerir tudo, porque com certeza quando visse o documento, sua mente condicionada irá enchê-la de insegurança e tristeza, que só acabarão quando ela tomar ciência do conteúdo do contrato.
Stanton me disse, no dia em que nos vimos pra conversar sobre o contrato pré-nupcial (e no qual ele me cedeu gentilmente uma planilha detalhada dos bens e das finanças de Eva) que eu estaria dando tudo a ela. E realmente estou. Nenhum homem na minha posição faria isso em sã consciência. A questão é que nada disso importa pra mim. Foram só manobras legais que encontrei para manter Eva ao meu lado, dificultando um possível processo de separação. O que tenho de mais precioso, meu anjo tomou para si no momento em que pus meus olhos nela: meu coração.
Nunca me permiti dá-lo a ninguém. Eva o possuiu sem me pedir. E eu, incapaz de lutar, deixei-lhe tomá-lo. Não tinha outra escolha. Ela é a melhor parte de mim. A única que vale a pena. Viver sem tê-la ao meu lado não seria viver. Seria suicídio.
Encosto a porta do quarto, deixando apenas uma fresta aberta, sento-me na cama, me recostando à cabeceira e, enquanto aguardo, me perco na lembrança da conversa que tive com Victor.
Flashback
Victor Reyes tentava disfarçar, mas era evidente o seu desconforto por estar dentro do meu carro. É muito luxo em um espaço tão pequeno. Talvez ele estivesse se sentindo quase claustrofóbico. No entanto, sua filha é mais importante do que qualquer coisa. Quando o veículo parou em uma rua mais calma, Angus saiu e ficou esperando do lado de fora, de costas para nós.
Ambos estávamos lado a lado no banco de trás e eu podia sentir a tensão agressiva que emanava dele. E estava direcionada para mim. Se ele fosse um homem descontrolado, com certeza iria dar um murro certeiro na minha cara.
"Senhor, em primeiro lugar, eu gostaria que soubesse que pretendo gravar essa conversa, para que Eva tenha acesso a tudo o que iremos conversar quando ela tomar ciência do nosso encontro".
"Ela não sabe que estamos aqui e você não quer contar ainda", não foi uma pergunta.
"Exatamente".
"Ela não me disse que ainda mantinha contato com você".
"Não mantemos", menti. "Eu conversei com a Sra. Stanton primeiro, para saber como ela estava. Não achei de bom tom me aproximar bruscamente. Eu não quero que ela se sinta desconfortável com a minha presença. Mas teremos oportunidade de nos falar em breve. Pelo menos é o que eu espero".
Notei que ele ficou ainda mais tenso com a menção de minha sogra.
"E então? Sobre o que é tudo isso?" ele me questionou, lançando-me um olhar feroz. O mesmo olhar de Eva quando está irritada com algo ou alguém.
Calmamente, respirei fundo antes de começar. "Senhor Reyes, eu entendo perfeitamente suas reservas em relação a mim...".
"Eu não tenho nada contra você, Cross", me cortou. "Meu único problema é ver você envolvido com a minha filha".
Puta merda.
"E eu aprecio muito sua preocupação com ela, mas quero que saiba que não tenho intenção alguma em machucá-la".
"Mais do que você já machucou, você quer dizer?" disse com ironia.
"Eu sei que errei com ela de muitas maneiras, e quero me redimir".
"Sei. E o que você pretende fazer? Comprar um anel de diamantes?" debochou. "Você também acredita que não há melhor amigo para uma mulher?"
"Na verdade, não. Eu pretendo dar a ela, em um futuro próximo, o mesmo anel que meu pai deu à minha mãe quando a pediu em casamento".
Victor recuou. Seus olhos se arregalaram e a sua boca se abriu. Ele não esperava por essa. Decidi ser honesto com ele. Não adiantaria usar os mesmos termos que usei com Monica.
"Senhor Reyes, eu não tenho uma vasta experiência com relacionamentos. E, apesar de, inclusive, já ter ficado noivo, nada do que tive no passado pode sequer se comparar com o que tenho com Eva".
Ele tombou a cabeça de lado, me analisando atentamente, sem desfazer seu semblante de surpresa. "E quanto àquela moça com quem você foi visto recentemente? Ela é sua ex-noiva, certo?"
"Sim", aceno com a cabeça. "Nós nos mantemos amigos mesmo depois que nossa relação acabou e ela se casou com outra pessoa. Nunca houve nada demais entre nós, apesar de parecer que houvesse. Fomos muito íntimos e, talvez por isso, todos julgassem nossa interação com segundas intenções".
Ele estreitou os olhos para mim. "Não interessa se ela é sua amiga. Quando se está em um relacionamento onde sua atual não se sente nada confortável com a aproximação de uma ex, o certo é evitar ao máximo. Eu duvido que você gostaria de ver Eva na mesma posição com algum ex-namorado", suas palavras me fizeram lembrar que eu a veria acompanhada de Brett Kline no lançamento do clipe, e o meu sangue ferveu pelo ciúme. "Eu vi minha filha sofrer por causa daquilo, Cross. E eu não gostei nada".
"Eu sei, e eu me odeio cada segundo por isso. Mas ficar me lamentando não irá consertar as coisas. Nossa separação foi dolorosa para mim também, acredite. Eva me mudou completamente, de dentro para fora, de forma irreversível", eu o encarei sem medo, disposto a me abrir. "No começo, não aceitei isso muito bem. Eu queria fugir. Fugir para me proteger. Passei minha vida inteira fugindo. E não quero mais isso. Eu finalmente sei o que é amar alguém e ser amado de volta na mesma intensidade. E não vou desistir disso, mesmo que todas as probabilidades apontem o contrário".
Ele pareceu compreender o que eu disse e sua expressão se amenizou. "O término com sua ex-noiva deve ter sido bem traumático".
"Não" engoli em seco, pois eu tocaria em um assunto que não me agradava nada trazer a tona. "Não foi por causa dela. Foi por causa do meu pai".
Como todas as pessoas no país e no mundo, e com o agravante de ser policial, ele obviamente sabia do que Geoffrey tinha feito.
Victor soltou um profundo suspiro e olhou para frente. Eu fiz o mesmo. Ficamos um tempo em silêncio antes de ele quebrá-lo. "Eu lembro bem de quando essa notícia estourou. Foi... Um caos. Não consigo sequer imaginar o que você passou. Quando me disseram que aquele... Bem que ele tinha um filho pequeno e uma esposa e sequer pensou duas vezes antes de se matar, eu o odiei. A família é a coisa mais valiosa e sagrada que um homem pode ter". Sua voz saiu em um sussurro nessa última frase, e então eu vi a mistura de tristeza e ressentimento que ele guarda por ter sido privado de acompanhar crescimento de sua filha e de ficar ao lado da mulher que amava.
Ele voltou a olhar rapidamente para mim, mais refeito de suas emoções e prosseguiu. "Eu sinto muito que você tenha passado por tudo aquilo sendo tão jovem. Ninguém merece carregar um peso tão grande, principalmente uma criança".
"Obrigado", desviei o olhar, surpreso por estar me sentindo encabulado.
"Você foi muito forte, Gideon", ele me chamou pelo primeiro nome pela primeira vez, o que me assustou e me fez encará-lo novamente. "Muitas pessoas não aguentariam a barra e seguiriam em frente como você fez. Eu só posso expressar minha profunda admiração por um homem assim".
"Eu não sou digno de nenhuma admiração, senhor. Eu só fiz o que eu precisava fazer".
"Então esse foi o problema? Você achar que não é digno do amor da minha filha? Foi isso que te fez se afastar dela e magoá-la?" ele riu quando o encarei, estupefato com sua suposição quase certeira, embora aliviado que ele tenha associado meu afastamento de Eva a esse fato da minha vida. "Rapaz, eu sou bem vivido e sou pai. Além do mais, você disse que passou a vida inteira fugindo para não sofrer. Você amava seu pai e confiava nele. E, de repente, ele não estava mais lá. Você cresceu achando que não era o bastante para que ele parasse de enganar as pessoas, ou pelo menos para que se mantivesse vivo e pagasse por seus erros. Ele deixou tudo cair em cima de você e de sua mãe e se foi sem olhar para trás. Isso foi um golpe cruel".
Ele pôs a mão em meu ombro. De forma extremamente... Paternal. "Não quero ficar aqui te crucificando com essas lembranças. O que estou tentando dizer é que eu entendo. Não é fácil confiar e se abrir para outras pessoas uma vez que fomos tão machucados", seu tom de voz me dizia que ele entendia porque havia passado pela mesma situação com a mãe de Eva. "E é ainda pior quando isso acontece sem que a gente perceba. Assimilamos isso como um sinal de fraqueza. E ninguém quer ficar exposto a um perigo em potencial. É como estar andando na rua, sem nenhuma proteção e acabar sendo baleado. Para que a cena não volte a se repetir, nós nos armamos, nos colocamos em uma redoma, levantamos muros e nos cingimos da mais absoluta frieza, porque achamos que assim tudo será evitado. E não é verdade. Não tem como escapar. Prova disso é que estamos aqui, e você está me pedindo permissão para casar com minha filha. Você está assumindo um risco, independente das consequências".
Uma coisa que aprendi naquele momento é que Victor Reyes é um homem sábio. E eu lhe devia o meu mais profundo e sincero respeito.
Por outro lado, não me sinto nada confortável em ficar em uma situação tão reveladora.
"Senhor, não quero que pense que estou me aproveitando disso para conseguir sua empatia. Nada justifica o que a fiz passar e estou disposto a consertar isso. Não consigo sequer imaginar passar o resto da minha vida com alguém que não seja sua filha. Eu quero muito me casar com ela...".
"E você tem a minha benção", me corta calmamente.
Franzo o cenho. "O senhor... concorda?"
Ele sorri. "Sabia que ela nunca tinha me apresentado nenhum namorado? Ela era uma menina rebelde, problemática, mas muito doce. E a diferença entre o que ela era e que ela é agora, é visível. Eu a vi sofrendo muito por sua causa, mas a maneira como os olhos dela brilham quando você aparece ou quando apenas falam seu nome... É o suficiente para mim". Deu de ombros. "E, se ela disser sim, quem sou eu para dizer não?"
Aceno com a cabeça. "Eu agradeço sua confiança, senhor Reyes. Eu prometo que farei de tudo para que Eva seja muito feliz ao meu lado".
Ele ergue uma das sobrancelhas. "Não, você não tem a minha confiança ainda, Cross. Eu estou te dando o benefício da dúvida. Esta é sua segunda e última chance. Faça minha filha sofrer de novo e eu vou me certificar de que você tenha todos os ossos de seu corpo devidamente quebrados. E, caso você seja tão bom em lutar corporal quanto eu, lembre-se de que eu tenho uma arma".
Eu tinha acabado de ser ameaçado de morte por meu sogro. E, estranhamente, eu me senti confortável e bem com aquilo.
"Eu não pretendo esquecer, senhor".
"Excelente. Acredito que terminamos aqui? Ficar nesse espaço confinado está me sufocando".
"Claro", eu sabia que ele estava acostumado a passar horas dentro de uma viatura, que era ainda menor que o meu carro, mas eu não disse nada.
Porém antes que ele abrisse a porta do carro, ele voltou a me encarar. Seus olhos cheios de dor. "Você se encontrou com Nathan, não é?"
Sua pergunta abrupta me confundiu. "Como assim?"
"Você sabia que ele estava aqui, rondando Eva".
"Sim".
"E você não parece surpreso pelo fato de eu saber do que houve".
"Eu imaginei que o senhor iria procurar saber da história após a visita dos detetives naquela noite".
"Eva não queria que eu sofresse ou fizesse algo", sua voz pingava raiva e amargura. "Eu sou o pai dela. Eu deveria saber".
"O senhor significa muito para Eva. Eu podia ver isso. Quando ela se mudou para sua casa, ela estava em busca de paz e segurança. É o que todo filho espera de seu pai. Talvez, se o senhor soubesse de tudo na época, a relação de vocês não seria a mesma, assim como a relação entre ela e a mãe não foi. Acredite em mim quando digo que o senhor foi o que Eva mais precisava. E ainda é. O fato de você não poder fazer nada agora não significa que não está fazendo seu papel de pai. Você está aqui agora e, para ela, isso é suficiente. Sempre foi. Só continue fazendo o que está fazendo e tudo vai ficar bem".
Ele deu um sorriso de lado, mas que não representava em nada seu estado de humor. "Você tem uma lábia boa, Cross... Obrigado. Contanto que você cumpra sua promessa de fazê-la feliz, tudo vai ficar bem pra mim", diz abrindo a porta do veículo.
"Eu vou".
Ele deu um último aceno de cabeça e saiu.
Fim do Flashback
Eu tinha feito certo ao falar com ele. Eu queria sua aprovação. Sei que ainda tenho muito para provar. E terei tempo de sobra pra isso.
Escuto os passos de Eva na sala da suíte e fico alerta imediatamente. Levanto da cama num pulo e me ponho a observá-la pela fresta. Ela já está vestida com o robe, mas sua mão estendida na direção do bule de café está paralisada no ar. Olho para seu rosto, que está diretamente voltado para o contrato. Seu semblante está fechado. Magoado. Fico angustiado e, por um breve instante, quase saio correndo para lhe explicar, mas me contenho. Eva vai ter que confiar em mim.
No entanto, ela se vira e volta para o quarto. E demora. Provavelmente está tomando um banho. Sento-me no chão, de pernas cruzadas e aguardo pacientemente. Quase meia hora depois, ela retorna, usando um vestido leve e com os cabelos curtos presos em um rabo de cavalo. Ela se serve de uma xícara de café, acrescenta creme e adoçante, e pega o documento, ainda o olhando com rancor, e se encaminha para a varanda. Espero alguns segundos antes de me levantar, ir até o telefone e pedir o meu café, deixando instruções claras de que só deveria ser servido quanto eu estivesse sentado na varanda da suíte principal, que é pra onde vou assim que encerro a ligação. Saio do quarto adjacente sem fazer nenhum ruído e vou até a suíte, onde me posiciono em um canto escondido.
Ela está de pé, olhando para a praia, onde a equipe já começa a preparar a cerimônia.
Tive que escolher a praia como cenário para nossa união. Esse ambiente me trás sempre as melhores recordações, como os momentos em que ficava com meu pai, construindo castelos de areia, e como nossa viagem para Carolina do Norte, onde passamos um fim de semana inteiro completamente concentrados um no outro.
Por fim, Eva se senta de costas para a praia, como se a visão de lá a incomodasse.
Só depois de tomar uns bons goles de café, é que ela começa a ler o contrato.
Conforme ela passa as páginas, sua postura muda, bem como suas feições: choque, surpresa, descrença, esperança e... Amor. Muito amor. Um amor que transborda em seus olhos e desce em forma de lágrimas. Sinto-me impelido a ir até ela, mas me forço a aguardar mais um pouco.
Quando ela chega à última página, resolvo entrar em cena e apareço na varanda.
"Bom dia garotão", ela limpa suas lágrimas com uma casualidade fingida.
"Bom dia, meu anjo", eu me curvo para lhe dar um beijo na bochecha e sento ao seu lado.
Um funcionário do hotel aparece com o café da manhã, o serve sobre a mesa e some sem dizer uma única palavra.
Eva volta para a primeira pagina, e põe a mão sobre o contrato.
"Não existe nada nesse documento que me obrigue a ficar casada com você", fala.
Respiro fundo, sentindo o baque de suas palavras. "Então vamos reformular algumas coisas. Pode falar quais são suas exigências".
"Eu não quero seu dinheiro. O que eu quero é isto", faz um gesto apontando

para o meu corpo. "E principalmente isto", põe a mão sobre o meu coração. "Você é
a única coisa capaz de me segurar, Gideon".

"Isso eu não sei como fazer, Eva", seguro sua mão em meu peito "Eu vou estragar tudo. E você vai querer fugir".
"Eu não faço mais isso. Você não percebeu?"
"Percebi que você saiu correndo pro mar ontem à noite e afundou como uma

pedra!" me inclino para frente e a encaro. "É besteira recusar o acordo só
por uma questão de princípios. Se não existe nada aí que não seja inaceitável pra você, então assine. Por mim".

Ela se recosta na cadeira. "Nós dois ainda temos um longo caminho pela

frente", fala baixinho. "Não é um documento que vai fazer com que a gente acredite
um no outro. Estamos falando de confiança, Gideon".

Bom argumento. Um preocupante argumento. "Bom, nesse caso..." hesito antes de continuar. "Eu acho que mais cedo ou mais tarde posso

acabar estragando tudo, e você não acredita que é tudo o que eu preciso. Mas um
no outro a gente confia. Quanto ao resto, podemos resolver tudo juntos".

"Tudo bem", sua concordância sem relutância me alegra. Muito. "Só tenho uma objeção".
"Pode falar.
"A questão do nome".
"Isso não é negociável", rebato imediatamente fazendo um gesto com a mão.
Ela levanta uma sobrancelha. "Não vem dar uma de troglodita pra cima de

mim. Quero ter o nome do meu pai também. Ele queria isso e é algo que o
incomodou durante toda a minha vida. E agora eu tenho a chance de reparar essa
injustiça".

Franzo o cenho. "Então seu nome vai ser Eva Lauren Reyes Cross?"
"Eva Lauren Tramell Reyes Cross".
Nossa.
"Isso é nome que não acaba mais, meu anjo", resmungo, "mas se deixa

você feliz... Pra mim está ótimo".

"O que me faz feliz é você", ela diz se inclinando para frente, oferecendo seus lábios para mim.
Eu os beijo de leve. "Vamos oficializar tudo, então".
<<<>>>
Angus está bem ao meu lado, enquanto aguardo minha noiva. Fiz questão de que meu motorista estivesse presente. Tê-lo ao meu lado é como ter um pai. Nunca admiti isso para ninguém, mas eu sei que ele sabe disso.
Ele veste uma camisa de botões branca e uma calça social cinza. É muito raro vê-lo vestido tão casualmente, mas eu não queria que ele usasse seu uniforme. Não faria o menor sentido. O gerente do hotel, Claude, está vestido da mesma forma. Ele ficou mais do que honrado quando o convidei para ser nossa segunda testemunha.
Optei por uma camisa branca de mangas longas e uma calça larga na cor grafite e descalço. Eu não queria nada muito apertado ou formal demais. É para ser uma cerimônia simples, onde só nosso amor e afeição genuínos tenham posição de destaque. Esse é o casamento que eu aceito como sendo o oficial, não só porque casaremos no civil também, mas porque é o único que me importo. Seremos apenas nós dois.
O som do piano, tocado por um dos músicos que trabalha no hotel, chama minha atenção. Olho imediatamente e sinto meu coração parar antes de voltar a bater. Com força.
Eu nunca irei esquecer essa visão enquanto eu viver.
Eva sai da varanda e segue o caminho do corredor feito com tiras de cetim. Em minha direção. Direto para os meus braços. O vestido ficou perfeito nela, como eu já sabia que ficaria. Seus cabelos estão presos em um coque enfeitado com uma rosa vermelha. Sorrio com esse detalhe. Sua maquiagem está leve e natural. E ela segura um buquê de jasmins brancos, cortesia do hotel.
Quanto mais ela chega perto de mim, mais o seu sorriso se abre. Sua beleza é hipnotizante. E sou incapaz de tirar meus olhos dela.
Esse corredor parece grande demais.
Quando está a dois passos da nave, ela estende uma de suas mãos na minha direção e eu apreço em pegá-la, puxando-a para mais perto. Eu a beijo e nos viramos para o juiz, que começa a cerimônia.
Ele diz algumas palavras antes de fazer-nos a tradicional pergunta.
"Gideon Geoffrey Cross, você aceita Eva Lauren Tramell como sua legítima esposa?"
"Aceito", digo com firmeza.
"Eva Lauren Tramell, você aceita Gideon Geoffrey Cross como seu legítimo esposo?"
"Aceito", ela diz sem hesitar e eu sorrio largamente.
A meu pedido, o juiz evitou perguntar se há alguém contra nosso matrimônio. Sim, há. Mas isso não importa. Elas não estão aqui mesmo. Também não ficamos presos à questão da aliança. Não ainda.
Então o juiz apenas pede para que recitemos os votos. Ele pede que Eva comece.
Ela suspira antes de começar, sem nem ao menos tirar os olhos de mim. "Eu passei uma boa parte da minha vida tentando procurar minha felicidade em lugares que eu sabia que ela não estaria, mas era teimosa demais para admitir. Eu sempre me decepcionava, mas não parava de procurar. Porque se eu não fizesse isso, eu pararia para pensar no quão horrível e miserável era minha vida", seus olhos se enchem de lágrimas e um nó se forma em minha garganta. "Com o tempo, eu simplesmente parei de procurar. Parei de acreditar que essa felicidade existia. Não valia a pena correr atrás de algo que eu julgava não merecer. E, numa situação completamente inesperada, meus olhos cruzaram com os seus e, mesmo que eu não tivesse percebido na hora, eu já tinha encontrado meu lar, a minha casa e o homem que seria capaz de me trazer de volta do vórtice de infelicidade no qual eu me encontrava. Mesmo que as circunstâncias digam que é difícil e improvável, não há nada mais que eu queira do que passar o resto da minha vida lutando ao seu lado. Eu prometo lutar todos os dias por nós dois. Eu prometo te ser fiel, companheira e protetora nos bons e ruins. Porque simplesmente não há nada que eu não faria por você e por nós. Eu te amo, Gideon".
Respiro fundo para segurar a emoção e o impacto de suas palavras em mim. Os cantos dos meus olhos estão ardendo e eu os sinto marejar.
Estou maravilhado.
Ela me ama. Demais.
"Gideon. É sua vez", o juiz anuncia.
Engulo em seco o bolo em minha garganta e pigarreio antes de começar a falar. "Eu sempre achei minha vida fácil. Sem complicações. Sem preocupações. Sem nenhum apego. Sem nada. E é exatamente isso que era: um enorme vazio. E, para mim, isso era completamente normal. Eu achava que não precisava de nada. Mas na verdade, eu estava preso a uma existência sem sentido algum, sem razão aparente. Eu era uma caverna escura e tenebrosa. E então você apareceu, como uma luz, e de repente, eu vi tudo. Vi o quão sozinho e solitário eu era. E vi que não queria viver mais nenhum segundo assim. E tem sido assim desde então", sorrio e limpo limpos suas lágrimas. "Você é o meu tudo. O meu ar, o meu milagre e o meu mundo inteiro. Eu não posso e quero imaginar uma vida sem você. Mesmo que as circunstâncias digam que é difícil e improvável, não há nada mais que eu queira do que passar o resto da minha vida lutando ao seu lado. Eu prometo lutar todos os dias por nós dois. Eu prometo te ser fiel, companheira e protetora nos bons e ruins. Porque simplesmente não há nada que eu não faria por você e por nós. Eu te amo, Eva", repito a última parte de seus votos, apenas substituindo meu nome pelo dela.
As lágrimas não param de cair dos seus olhos e eu uso minhas duas mãos para tentar secá-las. Percebo que ela sente falta de nossa família e amigos presentes, apesar de estar feliz. O juiz permite que eu beije a noiva, e eu o faço com o maior prazer.
"Nós podemos fazer isso de novo. Quantas vezes você quiser", murmuro, e ela sorri levemente.
Angus se aproxima de nós e eu me afasto um pouco para que ele possa cumprimentar Eva. Ele dá dois beijos em seu rosto. "Que bom que vocês dois estão felizes".
"Obrigada, Angus. Você cuidou muito bem dele".
Ele sorri e seus olhos se voltam para mim, brilhantes de orgulho.
"Meus parabéns, Gideon. Você escolheu muito bem", ele diz em seu carregado sotaque escocês. "Faça-me um favor e seja muito feliz. Você merece ser o homem mais feliz do mundo, meu filho".
É assim que ele me chamava quando eu era pequeno. Meu filho.
Nós apertamos nossas mãos, num um gesto aparentemente educado para quem está de fora. Mas ambos sabemos o que significa e isso basta.
"Obrigado, athair*", sussurro para que só Angus ouça.
Seu sorriso luminoso e seus olhos marejados me dizem o suficiente.
No fim das contas, Victor estava errado.
Geoffrey não tinha ido embora sem olhar para trás. Ele me deixou alguém que pudesse ocupar o seu lugar.
E eu não poderia ter um pai melhor.
Volto a encarar minha noiva, que está olhando para nós dois e sorrio para ela.
Estou feliz. Estou em casa.
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*Athair: pai em gaélico.
Gente, eu confesso que chorei um pouquinho com essa cena do Angus e do Gideon, viu? Esses dois são muito maravilhosos! 
E o casamento? Gostaram do ponto da minha interpretação? Odiaram? Acham que tá faltando alguma coisa? Curiosa para ler os comentários de vocês! Aliás, obrigada pelos comentários massivos na semana passada, bem como os votos nessas e em outras fanfics! 
Estou nas nuvens com tanto carinho! Beijo grande e até semana que vem!

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