sábado, 3 de setembro de 2016

Para Sempre Minha: Capítulo 23 ― O passado que condena

ATENÇÃO: RELEIAM O CAPÍTULO 21 ANTES DE LEREM ESSE, POIS ACRESCENTEI OUTRAS COISAS AO FINAL. INDIQUEI LÁ MESMO NO CAPÍTULO A PARTE ONDE OS ACRÉSCIMOS COMEÇAM, ENTÃO NÃO VAI SER NECESSÁRIO RELER TUDO. É IMPRESCINDÍVEL QUE VOCÊS SE ATUALIZEM, PARA NÃO FICAR FALTANDO INFORMAÇÃO. 
Oi, gente! Tudo bem?Hoje é dia da mentira, mas o capítulo é de verdade e promete! Podem ir preparando o psicológico! Tenho que dizer que esse foi um dos meus melhores momentos da fanfic no quesito escrita fluida. Tô bem animada!Espero que gostem! 
A #Gideonterapia está no ar!

Somos nossos próprios demônios e fazemos deste mundo nosso próprio inferno.
― Oscar Wilde
Consegui chegar ao hospital sem cometer nenhum delito ou causar um acidente, apesar de me sentir completamente entorpecido. Eu sabia aonde precisava ir e os caminhos que teria que cortar para chegar o mais rápido que eu pudesse. Mantive-me focado e distante. Desmoronar não era uma opção, mesmo que minha cabeça estivesse girando em torno de um único pensamento.
Corinne tentou se matar.
Eu não a amo. Disso tenho toda a certeza. Mas eu jamais poderia negar a importância dela para mim. Estivemos na vida um do outro por muitos anos e isso não poderia ser simplesmente ignorado.
Ela foi a primeira mulher que conseguiu despertar em mim alguma atração genuína. Minha amiga era doce, meiga, educada e linda. Como eu poderia não querê-la? Como eu poderia não desejá-la? Ela foi a primeira pessoa com quem tive uma relação sexual consensual depois do que me aconteceu. Foi muito significativo para mim. Naquele momento, descobri que poderia tomar posse do meu corpo novamente, que nunca mais seria obrigado a fazer algo que eu não quisesse, pois tinha todo o controle. Tivemos noites maravilhosas, é verdade. Ela sabia como seduzir um homem. Ela havia me seduzido. Mesmo que tudo estivesse apenas no âmbito sexual, pois meu coração estava completamente lacrado.
Suas crises me preocuparam. A ideia de que minha ex-noiva pudesse cometer suicídio passou pela minha cabeça várias vezes, mas me recusei a acreditar. Eu não queria acreditar. Tentei me segurar às palavras de Arnoldo, de que ela não chegaria a esses extremos. Mas a ilusão na qual insisti em me apegar não passava disso. Ilusão. Corinne não tinha falado com seu médico sobre a medicação? Estava tão fora de si que sequer percebera o que estava fazendo consigo mesma? Algum gatilho poderia ter provocado uma reação tão violenta assim?
Eu não sabia dizer. Mas saberia assim que tivesse mais informações sobre o que acontecera.
Raúl já estava nos aguardando quando chegamos ao hospital. Eu havia lhe mandado uma mensagem no caminho. Ele abriu a porta para Eva e passou para o lado do motorista. Desci, entreguei-lhe a chave e dei a volta em direção às portas automáticas do hospital. Senti um toque morno em minha mão direita, a única sensação reconfortante que fui capaz de distinguir em meio a todo aquele caos. Eu sabia que meu anjo estava bem ali; eu podia sentir seu apoio e seu amor. Mas havia um tornado na minha cabeça que não me deixava alcançá-la plenamente. Essa sensação ficou ainda pior quando me dei conta de que tínhamos entrado na sala de espera da ala privativa e Elizabeth vinha em nossa direção. Ela me abraçou assim que seus braços podiam me alcançar o suficiente, mas fui incapaz de corresponder. A presença de Eva se tornou mais forte para mim e apertei sua mão com força. Ela era a única capaz de afastar a recorrente sensação de abandono que me invade quando estou diante de minha mãe.
Elizabeth apontou para os pais de Corinne, que estavam visivelmente desolados. Ela me puxou até eles e me soltei de Eva. Eu tinha muitas coisas para dizer àqueles dois, mas sabia que não era o momento, e principalmente, que não cabia a mim dizer. Cumprimentei o pai dela com um aceno de cabeça silencioso e me agachei, pegando as mãos de sua mãe entre as minhas.
"Nós jantamos juntos no domingo", ela sussurrava. "Conversamos com tanta sinceridade sobre nossa distância e agora...", se interrompeu ao segurar um soluço. "E se ela... E se nossa filha se for?"
"Danielle, não pense nisso", apertei suas mãos. "Se tivesse acontecido algo, já teríamos sido alertados. Logo teremos mais informações. É importante que vocês mantenham a calma".
"Eu me sinto tão culpada", disse chorosa. "Corinne tomou um rumo totalmente diferente do que esperávamos e não ficamos atentos. Ela estava se autodestruindo e não vimos nada".
"Desde que se casou com Giroux, nossa filha não é mais a mesma", Glenn se pronunciou. "Vivia deprimida, triste e magoada. Eu a alertei tanto para não fazer isso", balançou a cabeça. "E, ao invés de apoiá-la, fiquei decepcionado. Que tipo de pai eu sou?", ele estava visivelmente abalado, apesar de tentar conter-se ao máximo.
"Mas vocês terão a oportunidade de remediar isso", olhei para meu ex-sogro. "Corinne é uma mulher forte, e este é o melhor hospital privado de Nova York. Ela está em excelentes mãos".
"Você foi sempre tão preocupado e protetor em relação a ela", Danielle sorriu fracamente. "Nós adoraríamos ter tido você em nossa família".
Seu comentário me deixa bastante desconfortável. Felizmente, não precisei respondê-lo já que uma voz feminina chamou por Giroux atrás de mim. Até então, não tinha me dado conta de que ele estava ali. Todos olharam para a médica loira, com alguns fios grisalhos e olhos azuis acolhedores, que entrou na sala.
Ele deu um passo à frente. "Oui".
"Sou a Dra. Steinberg. Estou cuidando do tratamento da sua esposa. Podemos conversar em particular um momentinho?"
"Nós somos a família dela", Glenn se levantou.
A médica olhou para ele e abriu um sorriso educado. "Eu entendo. Mas é com o marido dela que eu preciso falar. Só posso adiantar que Corinne vai ficar bem depois de alguns dias de repouso".
Ela estava viva.
Ela não corre mais risco de morrer.
O pior tinha passado.
O alívio ao ouvir a notícia não poderia ser descrito em palavras. Mas também não era suficiente para não me preocupar com a razão que levara à médica a conduzir Giroux para fora da sala.
O que ela tinha a lhe dizer que não podia ser dito para todos? Sim, ele é o marido de Corinne, mas os pais dela também estavam ali e mereciam uma explicação. Seria perfeitamente compreensível se eles fossem incluídos naquela conversa.
O que quer que tivesse acontecido, ia muito além do que sabíamos. E isso não me soou nada bem.
Eu me levantei e me coloquei ao lado de minha mãe. Não podíamos ouvir o que estava sendo dito, então apenas assistimos, tensos e curiosos, à cena que se desenrolava do outro lado da divisória de vidro.
...
Narrador
A Dra. Steinberg guiou Jean-François até a sala anexa à de visitas. Ambas eram separadas por uma divisória de vidro. O empresário francês estava deveras intrigado com o pedido da médica para que conversassem a sós. Se por um lado, havia soltado uma pesada respiração, que nem se dera conta de que estava segurando, por saber que sua esposa iria ficar bem, por outro, havia certa apreensão pela parte que ainda estava pendente sobre a saúde de Corinne. O que poderia ser?
Assim que fechou a porta, a Dra. Steinberg se dirigiu ao marido aflito de sua paciente. "Sr. Giroux, em primeiro lugar, quero que saiba que sua esposa está fora de perigo. Como eu disse, ela apenas precisará repousar por alguns dias".
Ele assentiu sem nada dizer.
"No entanto, houve algumas complicações".
Seu cenho se franziu. "O que isso significa?"
O semblante tranquilo da médica deu lugar a uma expressão fatalmente séria. "Veja bem, Sr. Giroux. Como eu havia explicado anteriormente, sua esposa teve uma overdose medicamentosa, devido à ingestão excessiva de antidepressivos. Qualquer remédio, se consumido em uma quantidade maior do que o organismo pode aguentar, acarreta em uma série de consequências a curto ou longo prazo. O senhor a trouxe a tempo de ser tratada, caso contrário, ela poderia vir a óbito".
Jean-François sentiu seu peito queimar de susto ao pensar na possibilidade de perder Corinne.
"O senhor tinha conhecimento da gravidez?"
Ele congelou.
Gravidez?
Corinne estava carregando um filho seu?
Tudo o que pôde fazer foi olhar para a médica, completamente desnorteado e sussurrar. "Grávida?"
"De dezesseis semanas", ela confirmou. "Pelo que vi em sua ficha médica e psiquiátrica, a dosagem dos antidepressivos tinha sido diminuída devido às mudanças drásticas de humor que a acometiam. Talvez por isso a gravidez não tenha sido detectada à princípio".
"E como está o bebê?" Perguntou ansioso.
A doutora respirou fundo antes de chegar ao que ela considerava a parte mais difícil de seu trabalho. Quando Jean-François viu a pequena mão pousar sobre seu braço, ele soube.
"A Sra. Giroux fui submetida a um tratamento específico para overdoses desta natureza", a Dra. Steinberg explicou. "O grau de agressividade do tratamento depende do nível de concentração do princípio ativo no organismo. Dada a severidade da desintoxicação, ela acabou sofrendo um aborto. Eu lamento muito".
A doutora se afastou e observou as reações do homem à sua frente que, em contrapartida, permanecia imóvel, olhando para o chão. Sua postura normalmente ereta se encontrava curvada, em uma clara posição de derrota. O peso que outrora havia sido tirado pela notícia da recuperação de Corinne voltou com força total. O céu que estava sobre seus ombros se converteu no mundo inteiro.
Seu coração estava em pedaços. Pela quase morte de sua esposa e pela perda de seu filho. Um filho tão almejado, por ambos, apesar dos problemas no matrimônio. Seu sonho de ter uma pequena criatura de olhos azuis deslizou como areia por entre seus dedos. Sua família estava desfeita.
Giroux não estava apenas ferido. Estava com raiva. Muita raiva. Todo aquele sofrimento tinha um único culpado. E este estava sendo tratado como o marido de sua esposa. Dando vazão para que o sofrimento e o ódio raiassem para superfície, ele não hesitou quando viu Gideon Cross adentrando o cômodo onde estava. A pobre Dra. Steinberg assistiu, estarrecida, dois gigantes colidirem violentamente entre si.
...
Gideon
Foi tudo muito rápido. Em um instante, eu estava entrando no cômodo onde Giroux conversava com a médica e, no outro, sentia meu corpo se chocar fortemente contra a grossa divisória de vidro. A médica soltou um grito, se afastando de nós. Eu me concentrei apenas no homem que estava tentando me atacar e consegui deter seu primeiro golpe. Em seguida, tive que me abaixar para não ser atingido diretamente no rosto.
Em francês, Giroux berrava coisas que, para ouvidos menos apurados, não fariam o menor sentido, mas que me atingiram como uma lança atravessando meu peito.
Corinne était enceinte! Il est de votre faute!
Corinne estava grávida! A culpa é sua!
"Eu contei a ela que você vai se casar", ele continuava gritando em francês enquanto tentava me acertar. "Ela se recusou a acreditar a princípio, mas depois se trancou no quarto dizendo que queria privacidade. Corinne chorou por você como nunca havia chorado na vida e depois se calou. Eu derrubei a porta e a encontrei deitada na banheira, desacordada!"
Não, meu Deus. Não é possível! Isso só poderia ser um pesadelo. O pior de todos! Mas não tive muito tempo para processar o que eu tinha ouvido. Ele avançou mais uma vez e eu apenas o empurrei, sem a menor intenção de atacá-lo. Nesse momento, o pai de Corinne entrou juntamente com os seguranças, que traziam consigo máquinas de choque.
"Elle a perdu notre enfant à cause de vous! (Ela perdeu nosso filho por sua causa!)" bradou enquanto, assim como eu, era contido pelos seguranças. "Corinne sofreu um aborto por causa do tratamento. Ele tinha quatro meses!"
Fomos levados para os elevadores de serviço. Nesse momento, olhei rapidamente pela divisória e vi que Angus estava ao lado de Eva. Enquanto Giroux conversava com a médica, enviei-lhe uma mensagem para que viesse buscá-la. Eu nunca esqueceria a expressão perdida e magoada em seu rosto. Ela queria ficar ali, ao meu lado, mas eu não podia arrastá-la para aquele inferno junto comigo. Não mais fundo do que já a havia arrastado, pelo menos.
Giroux ainda se debatia, tentando se desvencilhar dos corpulentos seguranças, mas sem sucesso. Então, ele simplesmente continuava gritando, me culpando pela perda de seu filho. Da minha parte, me mantive impassível, sem lutar contra os dois homens que estavam me segurando, um em cada lado do braço. Por dentro, eu estava um caos emocional. Eu não matei o filho deles, matei? Qual foi o meu crime? Seguir em frente com minha vida? Tentar escrever uma nova história para mim?
Fomos levados em elevadores diferentes, mas tanto minha mãe quanto os pais de Corinne vieram comigo. A tensão preenchia o ar daquele espaço confinado de tal forma que ninguém foi capaz de dizer uma palavra sequer.
As portas se abriram minutos depois e adentramos um local que parecia ser um anexo da sala de segurança do hospital.
"Podem me soltar. Eu não pretendia nem pretendo agredi-lo. Já estou indo embora de qualquer forma", eu disse. "Vou ligar para o meu motorista".
"O senhor Giroux foi levado para outro local", um homem que parecia ser o chefe da segurança veio até nós. "Podem liberá-lo".
Os dois homens me largaram e imediatamente e se afastaram.
"Ah, meu filho. Você está bem? Ele machucou você?" minha mãe chegou mais perto de mim com as mãos estendidas, e dei um passo para trás, lançando-lhe um olhar de aviso.
Ela ficou mortificada com minha atitude e abaixou os braços.
Saquei o celular e mandei uma mensagem para que Raúl fosse me buscar. Angus ainda não tinha se manifestado. Ele estava levando Eva para casa.
"Gideon, eu sinto muito pelo comportamento inaceitável daquele homem", Danielle falou próxima a mim. "Ele está completamente fora de si".
E eu estava cansado de toda aquela palhaçada. Cansado do comportamento daquelas pessoas, me colocando em um lugar que pertence a outro.
"Vocês precisam parar com isso", eu disse friamente, guardando meu celular.
"Parar com o quê?" Glenn franziu o cenho.
"Em primeiro lugar, senhora Adams, aquele homem se chama Jean-François Giroux e ele é o marido de sua filha. Você tem que parar de ignorá-lo, como se ele nunca tivesse existido. Corinne se casou com ele. Conforme-se com isso", encarei a cada um deles. "Todos vocês têm de se conformar com isso. Não sou o genro de vocês e nunca vou ser".
Os dois me encararam, completamente desconsertados. Minha mãe se colocou na frente deles, com as duas mãos na cintura. "Mas que indelicadeza é essa, Gideon? Eles estão sofrendo. A filha deles está hospitalizada, com a saúde e o psicológico frágeis. E até onde me lembro, vocês e Corinne são muito amigos. Foi por isso que te liguei. Você não precisava trazer aquela...".
"Não venha com essa conversa quando suas intenções são outras" eu a cortei, antes que eu perdesse a cabeça ao ouvi-la se referir à minha esposa daquela forma. "Você sempre tratou Corinne como se fosse sua nora. Sempre lhe deu esperanças baseadas em suposições que tirou de sua própria cabeça. Se realmente nos considerasse como amigos, você não isolaria Giroux em um canto qualquer como os pais dela fizeram. Eu lamento muito, mas não vou alimentar suas fantasias quanto a isso. Corinne e eu nunca ficaremos juntos novamente. Eva é a mulher que amo e é com ela que pretendo ficar". Olhei novamente para os pais dela. "Sua filha estava grávida de quatro meses e perdeu o bebê durante o tratamento. Um bebê que também era de Jean-François".
Danielle ofegou, colocando as duas mãos sobre a boca. Glenn segurou seus ombros com as duas mãos e parecia completamente chocado. Minha mãe arregalou os olhos.
"Como vocês sabem, Corinne e Giroux passaram anos tentando ter um filho. Algo que, mesmo que tivesse me casado com ela, eu jamais lhe daria", fui sincero. "Sinto muito, mas não vou me envolver mais nisso. Seu genro contou a ela que eu havia reatado meu relacionamento com Eva Tramell, numa tentativa de convencê-la a voltar para a França e a reação dela foi tentar se matar. O que mais ela vai fazer se continuar acreditando que podemos ter alguma coisa?"
"Ela tentou suicídio por sua causa?" Glenn perguntou. "E mesmo assim você irá rejeitá-la?"
"Foi Corinne quem terminou nosso noivado", lembrei. "Ela disse sim ao pedido de Giroux. Ninguém a obrigou a nada. Não me culpe por querer seguir em frente com outra pessoa".
"Mas ela tentou se matar por saber que te perdeu pra sempre", argumentou sua mãe. "Ela entendeu que cometeu um erro ao te deixar e, mais ainda, por ter se casado, e está arrependida. Vocês ficaram tanto tempo juntos. Não é possível que você tenha a esquecido tão rápido. Ela nunca amou Giroux, e nós nunca gostamos dele. Eles podem ser divorciar e...".
"Eu vou encarar suas palavras como as de uma mãe desesperada para salvar a vida de sua filha a qualquer custo, senhora Adams", eu a interrompi. "Mas não tenho nenhuma obrigação para com ela, nem para com vocês. Eu vim porque somos amigos. Não pensem que estou menosprezando nossa história. Corinne significa muito para mim. Mas não confundam minha preocupação com seu bem-estar com amor". Minha mãe abriu a boca para começar a falar, mas não permiti. "Além disso, estão perdendo o foco aqui. Corinne acabou de perder o filho, assim como Giroux. E vocês perderam um neto. Concentrem-se neles e na dor deles. Concentrem-se em se reconectar com ela. Esse é um bom momento para mostrarem seu apoio após tanto tempo de ausência", lancei-lhes um olhar significativo. Os dois se encolheram.
Senti meu celular vibrar no bolso e o peguei com o coração a mil. Havia uma mensagem de Angus.
*A Sra. Cross já está em casa, em segurança. Ficarei aqui até o senhor chegar.*
Minha cabeça latejava só de pensar no que me aguardava quando eu chegasse em casa.
"Eu vou voltar ", disse Glenn. "Quero ficar ao lado da minha filha. Fomos negligentes o suficiente. Vamos Danielle", ele pegou a mão da esposa para levá-la até o elevador, mas ela não se moveu.
"Você vem conosco, Gideon? Corinne gostaria muito de vê-lo", pediu com os olhos cheios de lágrimas.
"Não", me esquivei. "Quem tem de estar ao lado dela nesse momento é Giroux. Eles tiveram uma grande perda e vão precisar se apoiar um no outro para superar isso. Mas vou ligar para saber notícias. Digam que mandei um abraço e desejei melhoras".
Ela fechou os olhos e suspirou completamente derrotada. "Entendo. Obrigada por vir".
"Não tem de quê", meu celular vibrou novamente. Era uma mensagem de Raúl avisando que já estava me esperando. "Preciso ir, agora. Tenham uma boa noite".
Eu me virei e fui até o chefe de segurança, que estava em uma espécie de guarita a prova de som. Pedi informações sobre como sair do hospital a partir daquele local, que eu nem fazia ideia de que existia. Ele disse que eu poderia usar uma das saídas utilizadas exclusivamente pela equipe de segurança.
Ser um doador generoso tem suas vantagens.
Os pais de Corinne e minha mãe foram acompanhados até o elevador de serviço que usamos para chegar ali. Quando Elizabeth olhou para mim, havia uma mistura de tristeza e decepção estampada em seu rosto. Nada que conseguisse me comover, no entanto.
Revidei seu olhar com toda a minha frieza antes de ir embora.
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Eu estava abalado física e emocionalmente. Não conseguia parar de pensar na tentativa de suicídio de Corinne e muito menos de compará-la ao suicídio de meu pai. Será que as pessoas à minha volta estavam sempre fadadas a isso? Ela sabia, mesmo que nunca tenhamos trocado uma única palavra sobre isso, que a morte do meu pai é um ponto delicado da minha vida. Algo que me entristece e me envergonha ao mesmo tempo.
Eu queria e precisava muito acreditar que Corinne fez isso sem medir as consequências. Que não tinha feito isso para me atacar diretamente. E ainda tinha o bebê. Será que ela sabia da gravidez? Será que tinha ciência dos riscos ao qual se expôs ao tomar uma atitude irresponsável como aquela?
O pensamento de que ela tentou tirar a própria vida sem pensar na que carregava dentro de si me dava calafrios.
Raúl estacionou na entrada do prédio do prédio de Eva. Antes de processar qualquer coisa sobre o que acontecera, eu precisava falar com meu anjo e esclarecer as coisas. Porém todos os meus planos foram por água abaixo quando a vi, parada no saguão, olhando diretamente para mim.
"Boa noite, senhor Cross. É um prazer vê-lo novamente", Deanna Johnson abriu um sorriso falso.
Estreitei os olhos. "O que está fazendo aqui?"
Ela soltou um suspiro de forma bem teatral. "Estou apenas seguindo algumas pistas. E não é que dei sorte?"
Olhei bem para ela. Seus olhos são castanhos e perspicazes, seu cabelo castanho caía em ondas ao redor de seu rosto e em suas costas. A maquiagem estava leve e bem feita. Ela usava um vestido rosa chá, um pouco acima do joelho, que envolvia com perfeição suas curvas longilíneas. Suas pernas pareciam ainda mais longas com os saltos de cor bege. Uma delicada bolsa da mesma cor pendia de seu ombro. Não pude negar. Ela estava estonteante.
Pensei rapidamente em minhas opções. Eu poderia me livrar dela, e proibir sua entrada no prédio. E isso aumentaria sua ânsia em tentar me difamar. Ela continuaria perseguindo Eva e quem quer que fosse para conseguir o que quer.
A situação de Corinne me veio à mente e descartei a ideia.
Deanna quer destruir minha reputação por que eu a usei. Eu a tratei como uma vagabunda e não me importei com seus sentimentos. Ela estava se consumindo de ódio por minha causa. E estava na hora de consertar isso.
"Certo" eu disse. "Que tal irmos tomar um drinque?"
Suas sobrancelhas se ergueram e seus olhos se arregalaram um pouco. Minhas palavras a pegaram totalmente de surpresa.
"Você está falando sério?" ela perguntou depois de um tempo em silêncio.
"É claro que sim. Vamos?" peguei o celular no bolso e mandei uma mensagem para que Raúl ficasse de prontidão novamente.
"Porque está fazendo isso?" franziu o cenho.
"Você veio até aqui para conseguir respostas", dei ombros. "Seria muito indelicado de minha parte mandá-la embora. Então, vou falar com você. A menos que tenha mudado de ideia".
"Não", falou rapidamente. "Eu não mudei de ideia".
"Ótimo". Dei um passo para o lado e estendi o braço, como um perfeito cavalheiro. "Por favor".
Mesmo se mostrando chocada e desconfiada, ela pegou a dica e se encaminhou para a saída. Eu a segui a uma distância segura.
Raúl abriu a porta traseira assim que nos viu e entramos.
"Vanguard Wine Bar, na Amsterdam Ave", informei a ele assim que o carro começou a se mover. "Tudo bem?" perguntei para Deanna.
"Sim".
O caminho até lá foi feito todo em silêncio. Aproveitei para repassar o que havia acontecido entre nós no meu antigo quarto de hotel. Eu tinha que mostrar a Deanna que me lembrava daquela noite e que sabia exatamente pelo que estava me desculpando.
Quando chegamos ao bar, escolhi uma mesa mais reservada para nós. Puxei a cadeira para Deanna, que se sentou, ainda demonstrando surpresa. Dei a volta e me acomodei na outra cadeira. O garçom rapidamente veio tomar nossos pedidos.
"Então, senhor Cross", Deanna disse assim que ficamos sozinhos. "Você me trouxe até aqui, nesse pitoresco bar de vinhos, foi educado, até puxou a cadeira para mim. Diga-me", ela se inclinou para frente, abrindo um sorrisinho cínico. "Você está tentando aliviar sua barra para que eu pare de investigar sobre a sua vida? Está com medo que eu acabe descobrindo seus segredinhos sujos?"
"Não", eu a encarei firmemente. "Eu te trouxe aqui porque quero me desculpar pelo que fiz a você".
Ela se afastou bruscamente, com a descrença estampada por todo o seu rosto.
...
Narrador
Flashback
Ela estava apenas cobrindo mais um tedioso evento de caridade. Torcia para  que algum daqueles magnatas protagonizasse um escândalo digno de primeira página e, se desse sorte, conseguisse tirar fotos que pudessem ser vendidas na casa dos cinco dígitos ou mais.
Deanna Johnson era uma mulher determinada, que não tinha medo de correr atrás do que queria. Afinal, era linda, sedutora, com uma lábia envolvente e um pulso firme. Seria impossível não conseguir tudo o que quisesse. E sempre acreditou nisso, até seu caminho cruzar com o de Gideon Cross naquela noite.
Seu jeito misterioso e taciturno sempre a intrigou. Sua beleza era sobrenatural e absolutamente desconcertante. Sem mencionar, claro, que ele é rico, muito rico. E solteiro. Era impossível não se sentir tragada por aquele vórtice de sensualidade.
Em um átimo, decidiu que o queria em sua cama. Não que pensasse que fosse conseguir alguma coisa, mas não custaria nada se mostrar disponível, ainda que sutilmente. Também não queria parecer uma piranha tarada por sexo. E, quando ele lhe lançou um olhar carregado de luxúria e promessas, dentre tantas belíssimas socialites que não hesitariam em lhe abrir as pernas na primeira oportunidade, ela se sentiu poderosa, por ter sido capaz de atrair a atenção de um homem de seu porte.
Ciente de que nunca teria outra chance de tê-lo, se jogou de cabeça. Deixou-se envolver por suas poucas e eficientes palavras, pelo som rouco e potente de sua voz e pelo toque quente, suave, porém firme que lhe causava deliciosos arrepios. Seus instintos a alertaram de que estava caindo em uma armadilha. Mas, pela primeira vez, não quis escutá-los. Quer dizer, era com ela que Gideon Cross queria passar a noite, certo? Quantas mulheres têm essa sorte? Não poderia abrir mão daquela oportunidade, mesmo se quisesse.
Ainda faltava um bom tempo para o evento terminar, quando foram para aquele quarto de hotel. Que se danasse tudo! Ela iria transar com Gideon Cross. O que mais poderia querer?
Em sua limusine, a caminho do hotel, ele se manteve do outro lado do banco, olhando para a janela o tempo todo. Não levou aquilo como ofensa porque homens ricos costumam ser excêntricos. Pelo menos era isso que dizia a si mesma. Naquele momento, sua excitação era muito maior que sua razão.
Entraram no quarto em silêncio, exatamente como ficaram no caminho até o hotel. Gideon trancou a porta atrás de si, e avançou na direção de Deanna, jogando-lhe na cama com selvageria.
Ela gostou daquilo. Muito.
Ele retirou o blaser, a gravata e desabotoou a blusa, tudo em tempo recorde. A jornalista não podia acreditar no que via. Seu torço era  musculoso e definido. Nunca foi muito fã de homens peludos, mas não podia negar que aquela pele morena com pelos escuros lhe conferia uma beleza ainda mais extraordinária. Sem tirar as calças, ele se pôs em cima dela, colocando um joelho de cada lado de seu corpo e levantou seu vestido com as duas mãos, até que ficasse totalmente descoberta da cintura para baixo. Não conseguiu conter um gemido quando sua pequena e frágil calcinha de renda preta foi rasgada, sendo reduzida a um mero pedaço de retalho.
Arriscou olhar para baixo a tempo de vê-lo tirar suas pernas do meio das dele, colocá-las por cima dos ombros e enfiar a cabeça por entre suas coxas. A primeira lambida da língua áspera por toda a extensão de sua fenda encharcada a tirou de órbita. O ritmo era implacável. Seus quadris começaram a rebolar sem sentido, esfolando ainda mais sua boceta necessitada contra aquela boca faminta. A visão da cabeça coberta de cabelos pretos e lisos que iam até a metade da nuca, se movendo entre suas pernas, triplicou seu tesão. Sentia-se molhar cada vez mais e mais, não só pela saliva dele, mas também por sua lubrificação que não parava descer. Cross segurou firmemente sua cintura com as duas mãos e enfiou a língua em seu canal apertado, alcançando cada canto de seu interior, se deslocando em várias direções, tocando cada tecido sensível. O ventre de Deanna se contraiu com força. Estava chegando ao clímax.
Sentiu-se frustrada quando Gideon retirou a língua de dentro dela. Mas por pouco tempo. Ele agarrou sua bunda, apertando as nádegas com força, e começou a sugar, com avidez, seu latejante clitóris. E ali, Deanna perdeu totalmente a noção das coisas ao seu redor. Seu corpo foi tomado por um prazer devastador. Ela tremia violentamente, sentindo cada terminação nervosa de seu corpo chegar ao limite. Seus ouvidos pulsavam, acompanhando as batidas aceleradas de seu coração. Uma sensação tão poderosa que a fez perder o fôlego. Gideon continuou chupando todo gozo que saía de seu sexo, prolongando seu orgasmo. A jovem não tinha ideia de quanto tempo aquilo durou, e nem se importava. Só queria que nunca acabasse.
Quando, finalmente, seu corpo se acalmou, Gideon parou de chupá-la, e ela fechou os olhos. Sentia-se mole, entorpecida e muito satisfeita. Aquele tinha sido o maior e mais intenso orgasmo de sua vida. E sequer tinha sido penetrada com seu pênis. Estremeceu ao pensar no que sentiria quando ele metesse forte nela com seu membro magnífico.
Ao abrir os olhos viu, teve que piscar várias vezes. Gideon Cross estava completamente nu. E seu pau era enorme. Longo, grosso e estava pronto para a ação.
Puta que pariu, pensou. Ele vai me rasgar.
"Senta", ele mandou.
Ela ficou espantada e desnorteada ao ouvir sua voz. Era a primeira vez que dizia algo desde que saíram da festa.
"O quê?"
"Senta", repetiu.
Ela obedeceu ainda meio tonta pelo orgasmo recém-alcançado.
Cross subiu na cama novamente e, ao chegar mais perto, pegou a saia do vestido que estava enrolada em sua cintura e a ergueu, fazendo menção de tirá-la. Deanna levantou os braços para que ele terminasse o serviço. O vestido foi parar em algum lugar do quarto, se juntando à sua falecida calcinha. Estava nua, pois seu vestido dispensava o uso de sutiã.
Ele a deitou novamente, e colocou seus braços para cima.
"Segura a cabeceira", Cross ordenou. "E não solte até eu terminar".
"Com prazer", sussurrou.
Assim que segurou a grade da enorme cama de casal, sentiu uma mordida suave no pescoço, que a fez gemer mais uma vez. Em seguida, a boca do empresário começou a explorar cada centímetro de sua pele.
Os bicos escuros de seus seios foram castigados por mordidas, beliscões e sucções. Estavam muito sensíveis. Um caminho tortuoso de lambidas se seguiu até sua pélvis. Suas pernas foram abertas novamente. Cross se ergueu até alcançar a primeira gaveta do criado mudo, de onde tirou um pacote de camisinha.
Com habilidade e rapidez, ele cobriu o membro. Em seguida, passou dois  dedos em sua entrada, como se quisesse garantir que estava molhada o suficiente. O gesto mexeu um pouco com suas emoções. Ele estava demonstrando que se importava com seu bem-estar.
Os dedos estavam ensopados quando ele os tirou de sua vagina. Cross os estendeu para que ela chupasse a umidade. E foi exatamente o que fez, mas não conseguiu apreciar seu gosto misturado ao dele, pois logo em seguida, o membro imponente a penetrava com força, fazendo-lhe saltar da cama.
Nunca alguém tinha a preenchido daquela forma. Sentiu-se completa.
Cross a segurou pela cintura novamente e investiu pesado contra seu sexo, fazendo com que até mesmo a cama se movece. Queria por as mãos nele, arranhar as costas musculosas, sentir o peito forte contra seus seios, e o atrito de seus mamilos contra os pelos. Mas sabia que poderia estragar tudo se o desobedecesse, então simplesmente fechou os olhos e se entregou àquele homem, como nunca fizera antes.
Em algum momento, ouviu uma espécie de música, mas não sabia se era fruto de sua imaginação. Resolveu ignorar. Gideon Cross estava em cima dela, lhe fodendo com força. Não iria parar por causa de uma idiotice. No entanto, a música ficou mais alta, e se deu conta de que se tratava de um toque de celular.
As sensações gloriosas que invadiam seu corpo pararam abruptamente. Ela não sentia mais aqueles movimentos dentro de si. Na verdade, não havia mais nada dentro dela. Abriu os olhos e viu que estava ali deitada, segurando fortemente a cabeceira da cama, de pernas abertas, com seu sexo pulsando, enquanto o homem que há pouco lhe proporcionava o melhor dos prazeres, estava sentado na beirada do colchão, com o telefone na orelha.
Devia ser um assunto urgente. Não era possível que ele fosse deixá-la daquele jeito por nada. Quando a névoa de excitação passou, começou a se concentrar no que ele falava. Era algo sobre a inspeção de uma de suas propriedades. Bom, era de fato importante. Gideon é dono de metade de Manhattan. Seria perfeitamente razoável que desse atenção a isso, porque tudo em seu mundo é movido por dinheiro.
Resolveu esperar. Sabia que valeria a pena.
ContudoDeanna não contava que, no meio da conversa, o magnata fosse se virar para ela e dizer, com tamanha frieza, as três palavras que nunca mais esqueceria.
"Pode ir embora".
Aquilo marcou Deanna a ponto de ela  nunca mais conseguir ser a mesma.
Fim do Flashback
Gideon lhe tinha reduzido a uma prostituta, sem mais nem menos. Por muito tempo, se perguntou o que havia feito de errado, até chegar à conclusão de que se tratava de um tremendo cretino por natureza. Desde então, vinha se empenhando em derrubá-lo. Tentava a todo custo, desmistificar o mito que ele era no mundo dos negócios e, para isso, focou-se totalmente em sua vida pessoal.
Procurou por algumas das mulheres com quem o empresário já apareceu na mídia, mas todas se recusavam a dizer coisas ruins sobre ele. Na verdade, elas o descreviam como um perfeito cavalheiro. Não fazia promessas, não repetia a dose, mas também nunca as tratou mal. E aquilo a enfureceu. Porque com ela havia sido diferente?
Tudo mudou, no entanto, quando Eva Tramell apareceu. Cross nunca tinha assumido nenhum relacionamento sério após o rompimento do noivado com Corinne Giroux. Descobriu que a única herdeira de uma das famílias mais ricas do país, era sua mina de ouro. E as coisas só melhoraram com o surgimento de Brett Kline, ex de Eva e contratado da Vidal Records, e o retorno de Corinne à Manhattan. Deanna tinha uma história quente ali e iria basear sua matéria de difamação em todas as provas que pudesse juntar.
E então, do nada, o homem a quem não tem poupado esforços para derrubar, estava bem à sua frente, querendo lhe pedir desculpas. Por quê? Porque justo naquele momento, quando tinha nas mãos o maior trunfo de sua carreira?
Seus pensamentos foram interrompidos quando o garçom chegou com as duas taças e o vinho. Após servi-los, ele se retirou.
"O que fiz a você foi de uma indelicadeza impossível de ser descrita", Cross continuou, pegando sua mão e dando um leve aperto. "Eu a tratei de uma maneira que nenhuma mulher merece ser tratada e lamento profundamente por isso. De verdade. Me desculpe, Deanna".
A jornalista não sabia o que dizer. Ele a olhava fixamente nos olhos, e parecia estar sendo sincero. Devagar, retirou a mão da dela. Sentiu falta imediatamente do calor que emanava da pele dele.
Cross a machucou muito, mas estava ali, mostrando-se muito arrependido e, poderia até mesmo ousar dizer, envergonhado. Nunca pensou que ele fosse capaz de algo assim.
Resolveu dar um gole em sua bebida antes de respondê-lo. "Bem, eu suponho que esteja fazendo isso para tentar se proteger".
"Não", ele refutou. "Estou fazendo isso porque estou disposto a acertar as contas pendentes que ignorei. Desde que reapareceu em minha vida, tenho sentido a necessidade de corrigir os erros que cometi com você. Não faria o menor sentido me expor desse jeito para tentar te amolecer e, assim, evitar uma possível campanha difamatória, sendo que tenho um assessor competente e um time com os melhores advogados que meu dinheiro pode pagar".
Nisso ele tinha razão, teve de admitir. Mas não baixou a guarda. "Sei. E acha que me pedindo desculpas, sua dívida está paga?"
"Estou pedindo desculpas porque é o que você merece".
Suas palavras mexeram ainda mais com ela. Que tipo de homem faria isso? Ainda mais um tão poderoso? Se quisesse, Gideon poderia esmagá-la como uma barata insignificante, mas não. Ele saiu de seu pedestal para pedir seu perdão, e ainda lhe pagou um drinque.
Como poderia ser indiferente àquilo?
Deanna deu mais um gole em seu vinho e fez de tudo para não parecer afetada. "Essa jogada foi surpreendente, senhor Cross. Sem dúvida, o senhor sabe virar as situações ao seu favor", bateu os dedos em sua taça antes de continuar. "Considerando que você deve ter reunido até a última gota de seu orgulho e humanidade para isso, vou decidir perdoá-lo pelo que me fez".
Ele acenou com a cabeça, deu um charmoso sorriso de lado e ergueu sua taça em sua direção. Seu peito deu uma fisgada forte diante daquele gesto, mas conseguiu manter sua reação para si. Apenas abriu o sorriso mais sedutor de que era capaz e também ergueu sua taça, batendo na dele.
Durante o silêncio que se seguiu por alguns minutos, no qual ambos apreciavam o vinho, Deanna resolveu revelar o porquê de ter ido até o prédio de Eva. Inicialmente, sua intenção era confrontar a própria, sem dar muitos detalhes, mas seus planos mudaram quando Gideon apareceu. E, depois do pedido de desculpas, sua imparcialidade foi para o buraco.
"Você conhece Sam Yimara"? Ela perguntou.
...
Gideon
A pergunta de Deanna me surpreendeu. "O nome não me é estranho", tomei mais um pouco do vinho.
"Ele se diz cinegrafista da banda que integrou recentemente o cast de sua gravadora. A Six-Ninths".
Por sorte, eu já tinha colocado a taça na mesa ou a teria derrubado. Eu já tinha ouvido falar dele em uma reunião. E também porque seu nome aparecia nos créditos do vídeo de 'Golden'. O que isso tinha a ver comigo? Pior: o que tinha a ver com Eva? Porque era óbvio que aquilo a envolvia.
"Sim, eu lembro agora. O que tem ele?" me mantive o mais tranquilo e impassível que pude.
"Ele instalou algumas câmeras escondidas nos bastidores para conseguir imagens exclusivas da banda. Imagens que renderiam um bom dinheiro caso eles viessem a ficar famosos", ela balançou sua taça. "E uma das câmeras captou um momento um pouco indiscreto que, no início da carreira deles, não era nada, mas que agora, pode valer até milhões de dólares".
Senti meu sangue gelar. "E do que se trata?"
Ela esvaziou seu copo em um gole antes de responder. "A câmera flagrou uma transa entre Eva e Brett Kline. E foi a partir disso que Yimara recriou o vídeo de 'Golden'".
Eu não sentia mais o chão sob meus pés. Perdi totalmente a noção de tudo. Raiva, dor, aflição, tristeza e angústia. Todos esses sentimentos se apoderaram de mim de uma vez só. Eu queria quebrar alguma coisa, queria bater em alguém. As palavras de Deanna se impregnaram na minha cabeça.
Havia um vídeo de Eva transando com Brett Kline.
E aquele maldito clipe tinha sido baseado nele.
Se as imagens originais caíssem na internet, seria um inferno. E, aparentemente, algumas pessoas já tinham conhecimento delas, assim como Deanna.
"Como ficou sabendo disso?" eu a inquiri.
"Yimara entrou em contato com alguns tabloides e jornalistas, dentre eles eu, e alegou que tinha o vídeo. Explicou sobre ter baseado o clipe da banda nele. Isso deixou todos alvoroçados, é claro. Então ele anunciou que está o leiloando, e o valor mínimo é de sessenta mil dólares. Se não conseguir vendê-lo pelo maior preço que puder, irá licenciá-lo e jogá-lo na rede".
Meu estômago se contorceu ao pensar nessas imagens sendo expostas.
"No início, eu achava que ele estava blefando e exigi que me mostrasse o vídeo" prosseguiu. "Então, marcamos uma reunião privada em um quarto de hotel aqui em Nova York, e eu assistir tudo diretamente de seu laptop. As imagens me pareciam bem legítimas".
O pânico me dominou. Se alguém comprasse os direitos sobre o vídeo e o expusessem, eu não poderia fazer nada judicialmente para impedir.
Se essa sextape fosse vazada, seria o fim. Ninguém iria parar de falar nisso. Os tabloides e os sites de fofocas fariam uma festa. O mundo inteiro poderia assistir. A imagem de Eva seria arruinada. Sua vida viraria ao avesso. Os paparazzi não a deixariam em paz. Ela seria massacrada pela mídia.
Eu precisava impedir isso o mais rápido possível. Eu tinha que protegê-la.
"Onde Yimara está agora?" franzi o cenho, já pensando em tudo o que tinha que fazer assim que saísse dali.
"Voltou para San Diego esta manhã", ela cruzou os braços. "Ele ainda mora lá. Até agora ninguém de Nova York manifestou interesse por duvidarem da existência do vídeo e, claro, por medo de você. Mas sei que Yimara pretende se reunir com mais alguns jornalistas amanhã. E você sabe como a imprensa de celebridades é na Califórnia. Eles matariam a própria mãe por um escândalo sexual".
Eu não tinha muito tempo.
"Deanna, preste atenção. Ninguém, absolutamente ninguém mais pode saber da existência desse vídeo, entendeu?"
Ela ergueu uma sobrancelha. "E porque eu faria isso? A simples ideia de alguém saber que existe uma sextape da namorada de Gideon Cross com um contratado de sua gravadora, que por acaso é Brett Kline, seria o suficiente para causar um enorme alvoroço. Seria questão de tempo até o vídeo vazar".
Tive que pensar rápido. "Se você guardar segredo, eu te dou uma exclusividade de quarenta e oito horas na divulgação de meu casamento com Eva, que vai acontecer no fim desse ano".
Ela ficou estática por alguns instantes. "V-você e ela estão noivos?"
"Sim, e iremos anunciar ainda esta semana. Mas você não pode conta isso para ninguém e, menos ainda, abrir o bico sobre o vídeo. E você sabe muito bem que uma foto de nosso casamento valerá muito dinheiro".
"Não mais do que o vídeo", rebateu.
"Mas pretendo comprar os direitos sobre ele assim que sair daqui. Desta forma, sua nota não passaria de mera especulação, pois você não teria nenhuma prova, e ficaria desacreditada. Nós sabemos que você vai se dar muito bem com o que estou lhe oferecendo".
Deanna olhou para sua taça vazia por um tempo, antes de voltar a me encarar. "Então, o magnata mulherengo Gideon Cross, ficará fora do mercado de forma permanente, hein?" disse com um leve tom de desapontamento.
"E você vai ganhar muito com isso".
Ela balançou a cabeça. "Você sabe negociar, Cross. Não é a toa que é tão rico", em seguida abriu um sorriso bem alegre. "Tudo bem, eu aceito. Silêncio total sobre o vídeo e sobre o noivado em troca da exclusividade de seu casamento".
"Excelente", retirei a carteira do bolso, pego uma nota de cinquenta e deixo sobre a mesa. "Eu preciso ir agora".
"Tem mesmo", ela não parecia chateada. "Pegue seu jatinho e vá direto para a Califórnia. Yimara deve sair para almoçar com esses jornalistas".
"Certo, obrigado por me avisar".
"Não tem de quê. Se não se importa. Vou aproveitar sua imensa generosidade e pegar outra taça de vinho".
Acenei com a cabeça. "Aproveite".
Saí apressado do bar, com o telefone na mão.
"Para a cobertura. E rápido", avisei a Raúl quando ele abriu a porta para mim.
"Pode deixar".
Em segundos, estávamos no trânsito. Eu não poderia voltar ao prédio de Eva e correr o risco de ela me ver em nosso apartamento. Eu precisava arrumar minha mala. Durante o trajeto, acordei todos os meus advogados e os coloquei para trabalhar, assim como Scott e também mandei que preparassem um dos jatinhos da frota. Eu não tinha tempo a perder. Também liguei para Angus, e pedi para que ele tomasse conta de Eva. Raúl iria comigo.
Agora, estou a caminho da Califórnia, com meu laptop em mãos, lendo tudo o que meu secretário me mandou sobre Sam Yimara.
Assim que eu por os pés em San Diego, uma nova batalha será travada.
E só sairei dela ganhando.
...
Caramba! Que confusão, hein? Coitado do Gideon, sofrendo pressão de todos os lados! E o pior de tudo é que esse inferno está só começando!Ah, e quem aí entender de medicina, pode me dizer se minha explicação sobre a overdose da Corinne está certa? Pesquisei muito sobre o assunto e escrevi da forma mais simples possível, mas se puderem acrescentar ou corrigir alguma coisa, eu agradeço! 
E aí? Vocês gostaram? Qual foi a parte favorita de vocês? Quero saber tudo! Não sei se estou notando, mas tenho dedicado cada capítulo ao pessoal que vota e/ou comenta. É meio que uma forma mais "concreta" de agradecer por todo carinho que recebo :) 
E genteeeeee! O lançamento de 'Todo Seu' tá chegando! Quem tá ansioso? Meu pai de misericórdia, eu vou ter que me cuidar pra não ter um infarto no miocárdio até dia 5! 
Um grande beijo e até semana que vem (se eu estiver viva, mas vou fazer o possível pra estar)!

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