sábado, 3 de setembro de 2016

Para Sempre Minha: Capítulo 24 ― Guardado a sete chaves (Bônus)

ATENÇÃO: PEÇO A TODOS QUE, POR FAVOR, LEIAM AS NOTAS INICIAIS E FINAIS, POIS NELAS COLOCO INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE AS POSTAGENS. NÃO VOU RESPONDER A NENHUMA PERGUNTA SOBRE O QUE EU JÁ TIVER AVISADO. 
Oi gente, tudo bem? 
Chegamos ao fim de mais uma #Gideonterapia. 
Desculpem o atraso, mas tive problemas de cunho pessoal que não me permitiram postar nem entrar em contato, como de costume. E essas mesmas razões não me permitiram terminar de escrever o capítulo correspondente ao spoiler que deixei nas redes sociais. Ele não ficou do jeito que eu queria, e eu não tive cabeça para melhorá-lo. Então, decidi fazer o ponto de vista de outro personagem, e hoje, atendendo a alguns pedidos, vocês vão conhecer a história de Monica, a mãe de Eva. 
O que será que ela tem a dizer? Só lendo para descobrir. 
Boa leitura!

A única coisa mais impossível do que ficar, é ir embora.
― Comer, Rezar, Amar, de Elizabeth Gilbert

Narrado por Monica Tramell Barker Mitchell Stanton
Nicholas Barker foi o primeiro homem com quem me casei. Ele era rico, bonito, viúvo, viajava muito a trabalho e tinha um filho pequeno, que precisava de uma figura materna para suprir a ausência de ambos os pais, já que sua mãe biológica, Celine, havia morrido alguns anos antes.
Eu precisava dar estabilidade e um ambiente familiar à filha que me recusei a abortar. Para mim, foi mais uma negociação do que qualquer outra coisa. Mas para Nicholas, eu era o prêmio da loteria, a esposa perfeita, a mãe ideal para auxiliá-lo a criar seu herdeiro e uma mulher jovem a quem ele poderia ter em sua cama. Ele também era perfeito para mim. Seu nome e seu dinheiro me dariam toda a segurança que eu precisava para criar Eva, que não ficaria sem uma figura paterna significativa. O pai biológico dela era... Inadequado e completamente destoante do mundo em que eu vivia e do futuro que eu planejava para ela.
Quando conheci Nathan, meu enteado, um inexplicável frio na espinha me fez tremer dos pés à cabeça. De início, eu pensava que era apenas o nervosismo. Eu queria que tivéssemos um relacionamento no mínimo agradável. Nunca foi minha intenção ocupar o lugar de sua mãe. Apesar de ser educado, o pequeno Nathan me olhava como se eu fosse uma intrusa no ninho. Achei que, tendo Eva como meia-irmã, ele ficaria mais à vontade e até mesmo feliz por sua família ter crescido.
Após o casamento, esse sentimento passou. Ou era isso o que eu dizia a mim mesma. Procurava ao máximo ignorar a forma como Nathan me encarava. Só queria ter prestado mais atenção no jeito que ele olhava para Eva.
Além de tentar estabelecer uma relação saudável com Nathan, eu estava muito ocupada indo a eventos de caridade, e acompanhando meu marido em jantares formais e festas de gala.
Para mim, tudo estava bem. Eu podia frequentar a sociedade novamente, mostrando a todos que tinha fisgado um bom marido, mesmo tendo sido mãe solteira no começo. A minha beleza e charme estavam no fato de que eu saber o meu valor, e não me contentar com nada menos do que mereço, e isso é algo que sempre fez parte da minha personalidade. Eu era confiante e frágil nas horas certas e isso deixava os homens loucos, embora a maioria deles não estivesse exatamente interessada em aceitar e muito menos adotar minha filha "bastarda".
No entanto, em algum momento que não sei bem definir, as coisas ficaram estranhas. Eva, que era um poço inesgotável de energia, passou a ficar mais quieta. Nossa relação continuava a mesma, mas havia algo que não estava ali antes. Algo em seu comportamento. Algo que não estava me contando. E após dois anos assim, ela começou a se agitar novamente, sempre me olhando de soslaio, como se quisesse prestes a me dizer algo.
Mas tudo voltou a ficar na mesma quando seu gato de estimação morreu. Minha menina chorou por dias, mas não falou muito sobre o ocorrido. Apenas implorou para que nós o enterrássemos no jardim. Durante o "funeral", Nathan esteve lá, segurando firmemente sua mão, dizendo que estava tudo bem, que ele sempre estaria ali, que nunca a abandonaria e que cuidaria dela. Em minha ignorância, pensei estar vendo uma típica cena de dois irmãos que dividiam um momento de tristeza.
O sentido real de suas palavras naquele dia apareceu assim que eu soube da verdade.
...
"Mamãe!" Eva me chamou das escadas. Eu estava cuidando dos preparativos de um jantar que Nicholas ofereceria em casa. Queria ser a anfitriã perfeita.
"Sim, querida?" eu ainda estava olhando para os guardanapos de mesa, pensando na paleta de cores ideal para o ambiente.
"Mamãe, por favor! Eu preciso de você! Rápido!" ela gritou e minha pulsação acelerou.
Eva estava em uma fase horrível, cortesia da puberdade. Em alguns dias, estava quieta, quase muda. Em outros, simplesmente ficava de cara emburrada e não queria olhar na cara de ninguém e, quando muito, gritava conosco. Não posso reclamar, no entanto. Eu era até pior do que ela quando tinha quatorze anos.
Mas aquele grito... Foi diferente. Ela estava desesperada. Como eu nunca vi.
Quando cheguei ao quarto dela, meu sangue gelou. A calça de Eva estava ensopada de sangue, que respingava aos montes no chão acarpetado do quarto.
"Veio muito nesse mês". Ela me disse, com o rosto contorcido de dor e com os dois braços em volta da barriga. "É normal?"
Não. Não era normal. Era sangue demais para uma simples menstruação.
Mas o suficiente para um princípio de hemorragia.
...
Eva foi devidamente atendida assim que chegamos ao pronto-socorro. Ela se recusou a ser tocada pelo enfermeiro e por qualquer outro médico do sexo masculino. Essa atitude me fez relembrar coisas que... Que eu não queria acreditar que tinham acontecido com minha filha.
A Dra. Ellen Reeves assumiu a função, juntamente com uma equipe de enfermeiras. Fiquei na sala de espera privativa, remoendo a atitude de Eva, remoendo o fato de que ela estava sofrendo e eu sequer havia me dado conta disso.
Nicholas chegou algum tempo depois e ficou ali comigo. Por fim, a médica veio até nós e, após eu pedir que meu marido me acompanhasse, ela nos conduziu até seu consultório.
Assim que nos acomodamos, a Dra. Reeves olhou para nós. "Em primeiro lugar, quero que saibam que Eva está bem e fora de perigo".
Respiramos aliviados, mas eu sabia que havia muito mais para saber.
"Eu também devo avisar que, em casos como o dela, acionamos o protocolo de queixa ao Conselho Tutelar".
Quase saltei da cadeira de susto e apertei a mão de Nicholas na minha.
"Conselho Tutelar?" ele perguntou espantado, tirando as palavras da minha boca. "Que história é essa? Eva não foi maltratada em nossa casa. Nunca. Do que está tentando nos acusar?"
"Senhor e senhora Barker, por favor, acalmem-se". Pediu a médica.
"Como você quer que nos acalmemos?" consegui falar. "Você está aqui, nos acusando de maus tratos. Será que o desespero não é óbvio?"
"Eu não estou acusando vocês de nada, senhora Barker. O que acontece é que sua filha teve um sangramento incomum para sua idade. Quando fomos tratá-la, descobrimos que ela estava sofrendo um aborto espontâneo".
Meu queixo caiu e meus olhos se arregalaram. "O quê? Como assim? Minha filha tem só quatorze anos, não tem a menor possibilidade de ter ficado grávida".
Não. Não pode ser. Minha filha não pode ter...
"Aborto espontâneo?" Nicholas estava tão chocado quanto eu.
"Sim senhor. Acionamos a divisão de Vítimas Especiais da Polícia no mesmo instante. Eles estão aqui e provavelmente irão querer falar com vocês, mas pedi para fazer isso depois de eu atualizá-los sobre o estado de Eva. Ela terá de fazer um exame de corpo de delito para que eles possam providenciar o boletim de ocorrência".
"Minha filha foi estuprada?" perguntei em um fio de voz.
Ela me olhou com pesar. "Sim, senhora Barker. E não foi apenas uma vez. Foram várias vezes. Por anos".
Eu não me lembro do que aconteceu depois. O mundo escureceu diante dos meus olhos.
...
Eva contou tudo aos investigadores. Eu estava ali, segurando firmemente sua mão enquanto a assistia ser tão corajosa. Tudo o que eu conseguia sentir era culpa. Ela passou quatro anos sofrendo nas mãos do meu enteado. Aquele monstro degenerado. Os sinais apareciam de tempos em tempos, mas eu não via, porque estava preocupada demais em me manter casada e mais rica.
O que as pessoas iriam dizer de uma jovem grávida, sem marido e renegada pela família? Que segurança eu poderia dar à minha filha sem o dinheiro? Que pai eu poderia ter dado a ela? Victor? Com seu salário de mecânico? Viver com ele em sua casinha minúscula na periferia?
Tudo isso era tão pequeno se comparado ao que minha filha tinha passado naquela casa imensa. De que adiantou me casar com um milionário? O dinheiro não foi capaz de protegê-la anos de abuso sexual do garoto que deveria ser seu irmão.
Acompanhei Eva no exame do corpo de delito e tive que me controlar muito para não me encolher em um canto e chorar. Aquele desgraçado machucou minha filha de formas inimagináveis. A policial tirava fotos, a enfermeira recolhia amostras, e a médica ia me explicando tudo, passo a passo. A cada palavra que ela proferia, eu sentia que um membro do meu corpo era arrancado. Meus pulmões pareciam sacos de areia. Eu ofegava forte, mas não alto o suficiente para que Eva escutasse. Eu tinha que ser forte por ela. Mas era tão difícil.
Àquela altura, Nicholas já sabia de tudo, pois fora interrogado pela polícia logo após Eva dar seu depoimento. Ele ficou fora de si. Tanto que chegou a dizer que queria Nathan morto. Ver um pai desejar a morte do próprio filho é horrível, mas eu não poderia julgá-lo. Nem queria estar em sua pele. A minha vida e a da minha filha nunca mais seria a mesma, mas amamos uma a outra incondicionalmente e estaríamos sempre juntas. Ele teria que conviver para o resto da vida com o fardo de ter gerado um monstro.
Quando o exame terminou, Eva foi liberada para ir ao quarto, e disse que queria dormir. Só depois que ela pegou no sono, saí do quarto para conversar com os policiais e a assistente social, exigindo que tudo corresse em segredo de justiça. A imprensa faria um estardalhaço com a história e a última coisa que eu queria era que minha filha menor de idade ficasse exposta.
Pegando meu telefone, me afastei do grupo para contatar meu advogado de confiança para nos representar e para garantir que o sigilo estivesse em vigor durante o processo. Nisso, encontrei Nicholas, que estava a caminho de casa, onde os policiais interrogariam Nathan, que tinha chegado lá algumas horas depois de eu ter levado Eva para o hospital. Ele mal conseguia olhar para mim tamanha sua vergonha. Mas não tinha tempo para sentir pena dele.
Antes que dissesse qualquer coisa, me manifestei. "Eu quero o divórcio".
...
O corpo de delito, a queixa ao conselho tutelar, as investigações e os depoimentos do processo correram em segredo de justiça. Saímos com sete milhões, sendo dois correspondentes ao que me cabia do acordo pré-nupcial e os outros cinco milhões determinados pela justiça como indenização, já que o advogado de Nathan conseguiu provar que ele sofria de doenças mentais. Ele foi condenado a ficar internado em uma clínica psiquiátrica. Embora a separação tenha sido um baque para Nicholas, ele concordou que seria impossível manter nosso matrimônio naquelas circunstâncias. Por mais que nossa convivência tenha sido confortável, agradável e respeitosa, eu jamais poderia dormir e acordar na mesma cama que o pai do monstro que destruiu a infância da minha filha.
Dois anos após me divorciar de Nicholas, eu me casei com Graham Mitchell, meu segundo marido. Depois do que aconteceu, passei a ficar mais cautelosa em relação aos homens com quem escolhia me relacionar, e tinha preferência pelos que, ou tinham filhos adultos que moravam fora, ou que não tinham nenhum, como era o caso dele. Ainda assim, minha vigilância não cessou. Eu precisava ter certeza de que eu e minha filha estávamos seguras.
Felizmente, Graham se mostrou um bom homem, e melhor ainda como pai, respeitando a distância que Eva impunha. Posso parecer uma insensível em querer me casar novamente, mas eu não tinha escolha. Claro que não posso negar que sempre gostei de ser rica, de poder ter o que quiser quando eu quiser sem precisar contar centavos e abrir mãos de algumas coisas. Mas o dinheiro também era uma necessidade. Uma necessidade da qual eu não poderia me dar ao luxo de abrir mão.
Graham seria perfeito em todos os sentidos, não fosse seu vício em jogos. Pôquer, Blackjack, Roda da Fortuna. Os tipos de jogos que só atraem tubarões. E tubarões que apostam alto. Joias, obras e artefatos de colecionador, imóveis, iates, carros de luxo, helicópteros, ações de empresas, títulos de posse e dinheiro, muito dinheiro. Com o tempo, seu vício ficou mais e mais incontrolável. Estávamos brigando muito por isso. Eu queria que ele parasse de jogar antes que ficássemos pobres. Ele queria que eu parasse de me meter em sua vida. Afinal, ele já era um jogador quando o conheci e não iria fazer questão alguma de mudar por minha causa.
"Eu já sustento sua vida glamorosa e ainda banco o papaizinho pra sua filha bastarda e esquisita. Quem precisa de quem aqui?"
Naquele momento, entendi que aquilo não era mais para mim. E então, pedi o divórcio. Não sem antes lhe dar um forte tapa em seu rosto por se referir à minha Eva de forma tão baixa.
...
"Você está grávida?"
"Sim", eu tinha que contar a ele. "Eu devo dar à luz em breve".
Ele parou por um instante, como se refletisse sobre o que lhe disse.
"E você me diz só agora?" havia uma pitada de irritação em sua voz.
"Eu não tinha certeza se iria te contar. Estive sofrendo pressão de toda a família para abortar e...".
"Abortar? Que tipo de monstro eles são?"
A família de Victor era muito católica. Para eles, e mesmo para mim, que não sou tão religiosa, aborto equivalia-se a assassinato.
"Victor, eu sou uma adolescente grávida, e mesmo sendo rica, ainda sou sustentada pelos meus pais. Claro que me neguei a abortar, mas eles estavam preocupados...".
"Com o que os amiguinhos grã-finos deles iam pensar da menininha de ouro deles tendo um filho de um pobretão?" me cortou secamente.
"Eles se preocuparam com a minha saúde também".
"O que não descarta o motivo anterior".
"Não torne as coisas mais difíceis", suspirei.
"Eu quero vê-lo", falou. "Quero acompanhar o nascimento. Quero dar meu sobrenome a ele ou ela".
"Não" eu quase gritei. "Meu filho terá apenas o meu sobrenome, e isso já está decidido".
"Você não pode estar falando sério", esbraveja.
Respirei fundo e me muni de toda a calma e frieza de que era capaz. "Estou falando muito sério. Seu sobrenome não tem peso, nem tradição, nem influência. Meu filho seria a chacota da sociedade. Porque você acha que me recusei a dizer, a todos de fora da minha família, a identidade do pai do meu bebê? Como eu poderia dizer a todos que se trata de um mecânico latino e pobretão da periferia da Califórnia? Eu colocarei você como pai na certidão de nascimento, mas meu bebê não terá seu sobrenome, e a imprensa nunca saberá sobre você. Disso eu não abro mão, nem meus pais".
Uma longa pausa se seguiu. Até pensei que a ligação tinha caído, até que a voz rouca e arrastada de Victor quebrou o silêncio. "Você tem vergonha de mim! Tanta, que quer me afastar do meu filho! Minha mãe tinha razão! Vocês ricaços são todos iguais! Um bando de aproveitadores, sem caráter, egocêntricos e metidos a donos do mundo!" Ele já estava berrando. "Engraçado porque, enquanto você estava dando pra mim, não deu a mínima pra minha origem! Só queria gemer e abrir as pernas, me implorando pra meter mais forte!"
Suas palavras foram como um tapa na minha cara e meus olhos se encheram de lágrimas. "Seu porco! Eu era virgem e inexperiente. Eu me doei pra você como nunca fiz pra ninguém e agora vai ficar jogando isso na minha cara como se eu fosse uma puta?"
"E quem é você pra me julgar? Ou se esqueceu de como me humilhou quando te pedi em casamento? Quer dizer que vossa alteza é a única que pode fazer alguém se sentir um lixo, mas ninguém pode retribuir o favor?", escarneceu.
"Eu fui honesta com você", chorei. "Como uma história como a nossa poderia ter dado certo? Somos de mundos diferentes, tivemos criações diferentes, temos objetivos de vida diferentes. Há uma discrepância enorme entre nós. Isso nunca teria dado certo", tentei controlar choro antes de continuar. "Olhe, me desculpe pelo que eu disse. É que, tendo meu sobrenome, nosso bebê terá muito mais chances na vida, muito mais oportunidades de portas abertas. A mídia e a alta sociedade são cruéis, eu senti isso na pele. E eu não quero que nosso filho passe por isso. Ele merece mais. Nós dois sabemos que ele ficará sob a minha guarda e que você não teria condição alguma de sustentá-lo. Então, ter meu sobrenome, é a coisa mais lógica".
Eu podia ouvi-lo ofegar pelo telefone, tentando conter sua fúria. Eu sabia o quão passional e dramático Victor poderia ser.
"Você não vai me proibir de vê-lo, nunca. Quando ele nascer, quero ser avisado e terei o direito de visitá-lo. Do contrário, custe o que custar, vou fazer um escândalo na imprensa, e sua família ficará tão manchada que você terá vergonha de dizer que é uma Tramell".
"Eu nunca planejei te tirar da vida do bebê", protestei.
"E, se for menina", ele me ignorou. "Eu quero que tenha o nome da minha mãe. Essas são as minhas condições. É melhor aceitar, ou já sabe".
"Tudo bem, Victor", concordei, resignada.
"Eu não vou perguntar se você precisa de algo, porque sua família já deve ter providenciado tudo. E também, o que eu poderia te oferecer que valesse a pena, não é?" Riu com amargura. "Acho que nos só falaremos novamente quando o bebê tiver nascido. Mas antes, quero que saiba de duas coisas. Primeiro: estou fazendo essas concessões pelo bebê e não por sua causa e de sua maldita família. E segundo: eu nunca vou perdoá-la por isso, Monica. Nunca". Ele desligou.
E eu chorei.
...
Meu terceiro marido foi Richard Stanton, a quem conheci em um evento de caridade. Naquele dia eu estava disposta a fisgar um marido. E já tinha me decidido que seria ele. Rico, distinto, respeitado, honesto, solteiro, sem filhos, sem vícios e cerca de vinte anos mais velho do que eu. Mas isso não desmerecia em nada sua beleza e elegância. Nenhum rapazinho, por mais lindo que pudesse ser, conseguiria se equiparar àquele homem.
Nós já nos conhecíamos, é claro. Mas ficamos ainda mais íntimos depois da festa. Quando as coisas ficaram sérias entre nós, seu fiel escudeiro, chofer e segurança, Ben Clancy, virou minha vida de cabeça para baixo, descobrindo tudo o que podia. Coisas que ninguém nunca ficou sabendo, mas que não tive mais como esconder. Contei-lhe absolutamente tudo e, a partir das informações que coletou sobre mim e do meu próprio relato, ele decidiu que seu patrão não precisava saber de nada e esse foi nosso segredo. Sabia que poderia confidenciar tudo a ele, então eu lhe pedi um último favor. Um favor que só deveria ser cumprido após a minha morte.
Eu me casei. Sem medo. Sem receio. Sem pensar duas vezes. Ele era o homem certo para mim e para minha filha. E foi por isso que lhe revelei sobre o abuso que Eva sofrera. Ele surgiu como um cavalheiro reluzente ao assumir a situação para si, reforçando todas as medidas cabíveis para que a história não vazasse para a imprensa. Foram dezenas de acordos de confidencialidade assinados, milhares de dólares gastos para silenciar algumas pessoas e alguns favores cobrados. Mas ele conseguiu.
Nunca senti por Richard uma fração mínima do que sento por Victor. Mas, por gratidão, prometi a mim mesma que faria com louvor o meu papel de esposa amorosa e devotada, e o faria feliz de todas as formas que eu pudesse.
...
Eva foi embora.
De todas as universidades prestigiadas que poderia ir, ela escolheu a Universidade Estadual de San Diego. Por quê?
"Eu não aguento mais essa vida sufocante que eu levo com você" berrou. "Não posso sair sem o capanga do Stanton, tenho que ficar aturando suas perguntas infinitas. Quase não tive amigos na escola por sua causa! Eu não te aguento mais! Quero que você saia do meu pé! Eu quero morar com meu pai!"
Ela idolatrava o pai. Podia passar horas com ele no telefone, se seu trabalho como policial permitisse. Seu respeito por ele era muito maior do que por mim. Na verdade, eu podia jurar que ela o amava mais. Os dois sempre tiveram uma conexão que eu invejava. Desde quando Victor foi vê-la pela primeira vez, após o nascimento. Eva estava chorando e nada a fazia parar. Mas assim que a coloquei nos braços de Victor, o choro cessou. Ele a olhava maravilhado e lhe sussurrava alguma coisa em espanhol. Senti meu peito se apertar naquele momento. Como eu queria que a situação fosse diferente, e nós pudéssemos ser uma família.
Mas nada na vida é do jeito que queremos.
Richard se dispôs a pagar pelos estudos dela, mas Victor se recusou terminantemente. Ele abrira mão de muitas coisas, mas não iria ceder. Nós bem que tentamos demovê-lo da ideia, mas o pai de Eva estava irredutível. Confesso que meu coração bateu um pouco mais forte por ele.
Minha filha havia se tornado uma cópia exata de mim. A mesma cor de cabelo, a mesma beleza clássica. Sua pele era branca como a minha também, mas puxava mais para o bronzeado. Quem não nos conhecia, juravam que éramos irmãs. Mas, ao mesmo tempo, ela não poderia ser mais diferente. Eu era um pouco mais alta e longilínea, enquanto Eva era baixinha e com curvas bem acentuadas, com seios fartos e quadris largos, herança de sua família paterna. E, claro, ela tinha os olhos fatais de seu Victor. Ela era uma mistura perfeita de mim e de Victor. Sua origem latina não poderia ter favorecido mais para tornar minha filha uma mulher absurdamente atraente e interessante.
Quem dera nossa afinidade não se resumisse apenas à aparência.
Eu sabia que estava sendo obsessiva com a segurança de Eva, mas não podia evitar. A culpa por não tê-la salvado ainda me corroía. Richard até tentou me convencer de que seria bom que Eva fosse morar com o pai, para ter a oportunidade de vivenciar novas experiências, criar responsabilidade. Quem poderia ser mais disciplinador do que um pai policial?
E meu marido tinha razão. Nas poucas vezes que Eva passou férias comigo, era notória a sua mudança. Ela estava vendo um novo terapeuta, arranjado por seu pai, e o tratamento estava indo bem. Suas notas na universidade estavam acima da média e ela se formou com honras.
Mas meu coração de mãe não se aquietou, principalmente quando ela disse que voltaria para Nova York. Eu sabia que minha superproteção a incomodava, portanto, resolvi monitorá-la às escondidas. E foi com essa intenção oculta que eu e Richard lhe demos um Rolex dourado como presente de formatura, o qual ela adorou.
Fiquei arrasada mentir para minha filha, mas não havia outra alternativa.
...
Eu amava Cary Taylor. Esse menino conquistou meu coração no momento em que pus os olhos nele. Sua história sofrida me comoveu e aumentou ainda mais meu amor por ele. Era como ter um filho que nunca tive. E adorei a notícia de que ele se mudaria com Eva para Nova York. E ela parecia mais feliz ao lado dele também. Os dois iriam morar juntos.
Ela, no entanto, bateu o pé quanto a conseguir tudo por seu próprio mérito. Era orgulhosa como o pai. Conseguiu um emprego como secretária de um publicitário nível júnior. Onde já se viu? Com seu potencial e sua posição social privilegiada, ela poderia trabalhar onde quisesse, inclusive junto a Richard. Ao invés de discutir e nos afastar ainda mais, segui a dica de meu marido: aceitar sua condição, desde que ela nos deixasse alugar um apartamento seguro e luxuoso no Upper West Side.
"Isso trará certa paz de espírito à sua mãe. Pense em como ela ficaria se você não morasse em um local seguro". Richard falou. "Além disso, os valores para um apartamento no mínimo decente em Manhattan são caríssimos. Duvido que apenas seu salário como secretária e o cachê de Cary, que recebe por trabalho, cobririam os gastos".
Mas foi só depois de Cary manifestar sua alegria em finalmente morar em um lar de verdade, diferente dos buracos e dos becos onde teve de viver, que Eva cedeu.
...
Eu, Eva e a adorável Megumi, sua colega de trabalho, estávamos voltando para o Crossfire depois de um almoço maravilhoso. O assunto permeou uma área da qual eu era uma vasta conhecedora: homens. Megumi praticamente implorava por conselhos, que eu dei sem o menor problema. A pobrezinha parecia mais perdida do que eu em meu closet exclusivo para sapatos, sem contar sua baixa alto-estima desnecessária, já que seus traços orientais eram belíssimos e charmosos. Com as habilidades adequadas, ela saberia lidar com qualquer homem em qualquer situação. E, claro, meu genro em potencial, não poderia ficar de fora de nossa conversa. Minha filha está namorando Gideon Cross. Um jovem extraordinariamente lindo, atencioso e bilionário. O tipo perfeito de homem que eu sempre sonhei para ela. Eva parecia louca por ele, e a recíproca era verdadeira, principalmente quando me disse que havia lhe contado sobre Nathan.
Qualquer homem, em outra situação, teria corrido, mas não ele. Seu instinto protetor se aguçou ainda mais. Gideon era apaixonado pela minha filha e isso é inegável. Ele a mantinha feliz como nunca, e isso me bastava.
Falar sobre o que houve era sempre um pesadelo para mim. A culpa por tudo aquilo me corroeria pelo resto dos meus dias. Nunca consegui me conformar com o que houve. Principalmente porque não era a primeira vez que alguém que eu amava com todo o meu coração se machucava sem que eu pudesse impedir.
Ao sairmos do café, quando deu a hora de as duas voltarem para o trabalho, decidimos voltar andando para o Crossfire. O tempo estava bom e eu queria passar mais um tempinho ao lado de minha filha. As calçadas estavam cheias, mas isso não me abalava. Conforme eu passava, os homens me davam espaço, como bons cavalheiros, e aproveitavam para me observar. Apenas rolei os olhos. No fim, são todos iguais.
Eu estava me sentindo tranquila, fresca e confortável, apesar do intenso calor nova-iorquino. No entanto, algo me fez parar abruptamente. Tanto que Eva e Megumi trombaram em mim, quase me lançando ao chão. Mas não consegui me ater a isso. Meu mundo começou a girar diante daquela visão. Ali, do outro lado da rua, em frente ao Crossfire, estava Nathan Barker.
"Meu Deus, mãe", Eva me pegou pelo braço e me afastou do fluxo de pedestres. "Você está branca. É por causa do calor? Está passando mal?"
"Quê?" pus a mão na garganta, tentando conter o nó que ali se formava. Eu não podia dizer uma única palavra.
Nathan estava em Nova York. E eu tinha a mais absoluta certeza de que estava atrás de Eva. Mas eu não poderia colocá-la em pânico. Não poderia dizer uma única palavra sobre o que eu estava vendo, até porque eu nem tinha ideia se aquilo era alguma peça de mal gosto que minha mente estava pregando.
Megumi disse algo atrás de mim, mas não consegui ouvir direito. Meus ouvidos estavam pulsando.
"Senhora Stanton", Clancy, que nos seguia de carro há uma distância discreta, porém, segura, apareceu em minha frente do nada. "Está tudo bem?"
"Você viu...?"perguntei, finalmente encarando para meu segurança.
Rapidamente, ele se voltou para a direção que eu estava olhando com sua vista perspicaz. E soube que exatamente que o que eu estava vendo era real, porque sua expressão preocupada deu lugar à frieza implacável que lhe era característica nessas situações.
"Viu o quê?", Eva perguntou, ainda sem saber do que tudo aquilo se tratava, pelo que eu estava grata.
"Levo vocês até lá", Clancy disse, num tom que não permitia discussões.
Ao chegarmos à entrada do Crossfire, Nathan já não estava lá. Havia se embrenhado por entre a multidão e desaparecido, como se nunca tivesse estado ali.
Somente quando Eva e Megumi adentraram o prédio, consegui respirar novamente, antes de quase ter uma crise de pânico. Saquei meu celular da bolsa, com as mãos trementes e liguei imediatamente para Richard. Quando ouvi sua voz calma e comedida, dei vazão às lágrimas.
"Ele estava lá, Richard. Ele estava tão próximo dela", solucei.
"Monica, acalme-se", ele me pediu, desesperado. "Do que você está falando, querida? O que houve?"
"Nathan", sussurrei, sem coragem de dizer aquele nome em voz alta. "Nathan Barker está em Nova York".
"O quê?" ele guinchou. Um tom nada característico de sua personalidade. "Onde você o viu?"
"No Crossfire. Eu estava voltando do almoço com Eva quando eu o vi em frente ao prédio", eu não parava de tremer. Já Clancy dirigia com toda a calma, habilidade e segurança para os quais era treinado.
Ele respirou fundo. "Eva o viu? Ele viu vocês?"
"Eu não sei dizer se ele nos viu, mas eu o reconheci. Ele estava parado, olhando para frente. Eva não o viu, graças a Deus. Ela achou estranha a minha reação, me questionou, mas eu estava abalada demais, então desistiu de me confrontar. Até sentei na frente com o Clancy, para evitá-la".
"Vocês já estão indo para casa?"
"Sim".
"Ótimo. Peça a Clancy para passar aqui. Vou embora com vocês".
Quando chegamos em casa, Clancy e Richard foram direto para o escritório para ajeitar a situação. Meu marido, vendo meu estado, mandou que um banho me fosse preparado, assim como um chá calmante. Na adiantou, mas eu não poderia ignorar seus cuidados para comigo. Eu precisava me controlar. Precisava pensar em minha filha. Só de lembrar em tudo o que ela passou nas mãos daquele monstro... E eu não estive lá para socorrê-la!
...
Desde que vi Nathan em frente ao Crossfire, nossa vida tem sido uma tensão absurda. Ter de fingir que estava tudo bem era algo que em que tinha me especializado durante a vida, mas quando se tratava de Eva, eu me desestabilizava completamente. Se eu não tivesse meu marido para me segurar, e o Dr. Lyle Petersen com quem desabafar, eu já teria perdido a cabeça.
Em um dia, Richard chegou em casa parecendo mais pálido que o normal. Ele chegou até mim e, calmamente, me levou ao nosso quarto. Seus gestos pareciam cautelosos e até mesmo temerosos, o que estava me assustando. Ele costumava sempre ser deliciado comigo, mas naquele momento, parecia com medo até de me tocar.
"Preciso te contar uma coisa", ele disse sério. "Mas você tem de me prometer que vai confiar em mim".
Por um brevíssimo instante, eu pensei que tivesse sido traída.
"Me prometa?"
Engoli em seco e assenti.
"Nathan Barker apareceu em meu escritório para me chantagear".
Senti o chão se mover sob os meus pés e o mundo girar. Eu preferia que ele tivesse dito que estava me traindo. Pelo menos saberia lidar com isso. Mas... Eu não esperava por essa. E porque chantagem? Eu estava confusa e apavorada com a ideia de ele ter algo... Não. Eu tinha que ter certeza.
"Chantagear você? C-com o quê?"
Richard respirou fundo, apertou minhas mãos nas suas e me olhou bem nos olhos. "Ele queria que eu lhe pagasse dois milhões de dólares. Ele tem... Fotos e vídeos das atrocidades que fez com Eva. E irá expor na internet se não tiver o dinheiro".
Fiquei em total estado de choque ao ouvir tudo aquilo. Nathan estava novamente no controle de nossas vidas, no controle da vida da minha filha. E faria de tudo para nos destruir. E eu sabia muito bem como a chantagem funcionava. Ele não ia parar de extorquir mais dinheiro de nós, porque sabia que não o denunciaríamos. A última coisa de que precisávamos era desse tipo de exposição na mídia, ainda mais agora que Eva estava namorando um homem como Cross. Isso destruiria os dois e o pouco que vinham construindo. O futuro dela estaria completamente arruinado.
Sem consegui mais manter a calma e a compostura, eu desabei em um choro sofrido nos braços de Richard. Pela segunda vez, eu não tinha conseguido proteger minha filha.
...
Nathan Barker estava morto.
Em um dia, ele estava ali, cercando o Crossfire.
No outro, aparecia no escritório de Richard exigindo dois milhões de dólares para não divulgar os... Os vídeos e as fotos do que fizera com a minha filha.
E então, aparecia morto. Assim, de repente.
Muitas pessoas do nosso círculo tinham motivação e meios para matá-lo.
A caça às bruxas tinha começado.
No dia seguinte ao seu assassinato, os detetives apareceram para nos interrogar. Eu só conseguia pensar em Eva e que ela seria a próxima. E ficaria sabendo de tudo.
Por isso fui à casa dela, para tentar amenizar os impactos, mas a polícia já tinha ido lá na noite anterior para interrogá-la e, a princípio, ela me parecia bem. Foi inevitável que eu lhe contasse sobre a chantagem. Sua reação partiu meu coração em milhões de pedaços. Eu apenas fiquei lá, lhe acalentando, mostrando que nunca a abandonaria.
Após o tão necessário desabafo, nós passamos um bom momento juntas, e acabei me distraindo com seu closet. Minha filha precisava de auxílio em sua busca por um estilo pessoal e eu estava mais do que disposta a guiá-la por esse caminho. Eu não sabia se era algo da minha cabeça, mas em algumas vezes parecia que ela queria que eu fosse embora, mas eu queria estar ali.
"Obrigada. Mas acho que precisa ir, não é? Não quero ficar segurando você aqui", disse depois de eu ter a ajudado com uma combinação de roupas.
Franzi a testa. "Não estou com pressa".
"E Stanton? A cabeça dele deve estar fervilhando por causa disso. E hoje é sábado... ele sempre reserva os fins de semana pra você. Stanton também precisa da sua companhia".
"Sua cabeça também está fervilhando por causa disso", eu argumentei. Afinal ela tinha sido vítima de Nathan. "Quero ficar aqui com você, Eva. Quero oferecer meu apoio".
"Está tudo bem", ela disse com a voz embargada. "Vou ficar bem. E, sinceramente, me sentiria mal de tirar você de Stanton depois de tudo o que ele fez por nós. Você é a recompensa dele, um pedacinho do céu ao fim de uma semana de trabalho interminável".
Abri um sorriso, encantada com a capacidade que Eva tinha de pensar nos outros em um momento em que deveria se preocupar consigo mesma e seus sentimentos. Ela era muito mais forte do que eu.
"É muito amável da sua parte".
Ela suspirou e me deu um abraço. "Sua visita... era o que eu precisava, mãe. Rir, chorar e ficar com você. Nada poderia ter me feito tão bem. Obrigada".
"Ah, é?" Eu retribuí seu carinho com força. "Pensei que estava deixando você louca".
Ela se inclinou para trás e sorriu. "Acho que por um instante, sim, mas você me ajudou a me recuperar. E Stanton é um ótimo sujeito. Sou muito grata pelo que fez por nós. Por favor, diga isso pra ele".
Eu diria. Ele ficaria muito feliz.
Demos o braço uma à outra, ela pegou minha bolsa na sua cama e saímos em direção à porta da sala. Eu a abracei de novo, acariciando suas costas. "Me ligue hoje à noite e amanhã também. Quero saber se está tudo bem".
"Certo", concordou prontamente.
Mas não era o suficiente. Não pra mim. "E vamos marcar um dia de spa na semana que vem. Se o médico de Cary não permitir que ele vá, podemos marcar uma sessão aqui mesmo. Seria bom para todo mundo um pouquinho de mordomia e cuidados com a aparência".
Cary tinha sido espancado quase até a morte, mas estava se recuperando bem. Por pouco não tive um infarto ao receber a ligação do hospital, já que eu era um dos contatos de emergência dele. Vê-lo tão machucado acabou comigo. Ele era como um filho para mim.
"Gostei da sua maneira de dizer que estou um caco", Eva ironizou. "Mas você tem razão... vai ser bom pra nós e vai melhorar bastante o astral de Cary, mesmo se ele só puder fazer as unhas".
"Vou providenciar tudo. Mal posso esperar!" sorri largamente, animada com aqueles planos. Um tratamento de beleza completo nunca é demais.
Nesse instante, a porta se abriu e nos viramos para ver quem era. E meu mundo parou.
...
Victor Reyes era o homem mais lindo no qual eu já tinha posto os olhos. Um moreno alto, corpulento, com olhos verde-acinzentados pelos quais qualquer mulher morreria. Incluindo eu. Ele falava pouco, mas dizia muito só com o olhar. Seu charme de garoto latino era irresistível, tanto quanto a química entre nós. Ele poderia estalar seus dedos e eu já estaria de joelhos. Nenhum daqueles engomadinhos da alta sociedade tinha esse poder sobre mim. Geralmente, eles sempre estavam em minhas mãos. Victor também estava, mas eu não ficava atrás. Tanto, que a primeira vez em que me entreguei a alguém, foi a ele.
Em seus braços fortes, vivi os melhores momentos da minha vida. No meio de todo esse turbilhão sexual, me apaixonei perdidamente por ele. E a recíproca era verdadeira. Eu sabia que estava me metendo em problemas, mas não me importava, contanto que ele continuasse a me fazer sentir daquela forma que ninguém nunca mais foi capaz de fazer.
Victor queria que ficássemos mais sérios. Tanto que chegou a me apresentar à sua família. Sua mãe, Eva Yolanda Reyes, de quem ele havia puxado a cor dos olhos, me encarou de cima abaixo com uma desaprovação visível. No fundo, ela sabia que eu iria quebrar o coração de seu filho. E ela não estava errada. Eu era um peixe fora d'água, um diamante em meio ao pedregulho. Uma beldade rica e educada ao lado de um homem pobre e rude. Isso nunca iria dar certo.
Tudo no mundo dele era simples demais, limitado demais e eu nunca poderia me acostumar com aquilo. A sensação de não ter poder - e dinheiro é poder - me incomodava. E, por mais que eu amasse Victor, havia coisas que eu amava ainda mais, e que estavam muito acima de mim, e uma delas era a gravidez, fruto de nossas intensas e ardentes noites de amor.
Quando Victor me mediu em casamento, eu recusei, deixando claro que passar o resto da minha vida ao lado dele nunca tinha sido minha intenção. Havia certeza em minha mente e em minha voz, mas não no meu coração.
Ele estava sangrando demais para tomar qualquer partido.
...
O único homem que poderia fazer meu coração bater mais forte e mais rápido estava bem ali diante dos meus olhos. A figura alta, máscula e imponente de Victor, que ficou ainda melhor com a idade, me abalou profundamente. Sua pele parecia ainda mais bronzeada, seu corpo ainda mais definido. Eu não podia parar de olhar para seu peito musculoso coberto de suor. E seus olhos... Nossa, eu conhecia aquele tom escurecido em sua íris dilatada. Eu me sentia nua diante de seu escrutínio. Fui tomada por um desejo selvagem de pular nele e lamber cada centímetro de sua pele salgada.
"Monica", seu tom de voz grave e rouco, junto com seu sedutor sotaque latino, me deixou instantânea e inapropriadamente molhada.
"Victor", eu respirava pesadamente. "O que está fazendo aqui?"
Ele ergueu uma das sobrancelhas. "Estou visitando nossa filha".
"Mamãe já está indo embora", Eva deu a deixa atrás de mim. "Ligo pra você mais tarde mãe".
Victor não se moveu um centímetro. Apenas me encarava de cima abaixo. Meus joelhos estavam fraquejando. Eu estava fraquejando. Então ele soltou um suspiro e abriu caminho para que eu passasse.
Saí pelo corredor a caminho do elevador, mas me detive, e voltei atrás. Eu precisava tocá-lo, ao menos uma vez. Eu precisava sentir sua pele firme sob meus dedos e seu gosto em meus lábios. Pus a mão espalmada sobre o peito de Victor, fiquei na ponta dos pés e beijei seu rosto de um lado e depois do outro.
"Tchauzinho". Sussurrei antes de ir até o elevador, a passos um pouco vacilantes e apertar o botão.
Não tive coragem de me virar. Mas eu podia sentir seu olhar queimando minhas costas. Minha calcinha estava ainda mais molhada. Só quando as portas de aço se fecharam atrás de mim, eu me senti segura novamente. E monstruosamente culpada. Meu marido estava passando um inferno com a polícia, e eu estava entrando em combustão pelo pai da minha filha.
...
Naquele dia, eu havia levado para Eva e Cary, que já estava quase cem por cento, roupas de gala para que me acompanhassem em um evento beneficente. Ela e Gideon tinham terminado e eu queria lhe proporcionar um momento de distração. Além disso, Cary tinha me contado sobre o cara com quem Eva estava saindo. Um cara que ele não conhecia e do qual ela não fazia questão nenhuma de falar sobre. E isso me preocupou. Muito. Tentei especular mais sobre esse homem, já que o microfone que Clancy instalou no pó compacto dela estava desativado.
Pela forma como ela me confrontou, eu sabia que ela tinha descoberto. E acabei tendo que revelar sobre o rastreador em seu Rolex. Eu sabia que ela adorava aquele relógio. Ela sempre o usava. E eu sempre saberia seu paradeiro.Eva me olhou com verdadeiro horror, cambaleou para trás e agarrou com a mão direita o relógio que repousava em seu pulso esquerdo, antes de tirá-lo e jogá-lo no chão. Ela não escondeu o quanto ficou furiosa e decepcionada. Nem minhas justificativas adiantaram. Ela até mesmo ameaçou chamar a polícia e me processar por invasão de privacidade.
"Eu volto mais tarde", virou as costas e caminhou até a porta da sala, me deixando histérica.
"Você não pode ir embora assim!" Gritei. Eu podia sentir o desespero ultrapassando a borda da minha sanidade.
"Deixa Monica", Cary me disse em tom conciliatório. "Eva precisa de um tempo para esfriar a cabeça. Falar com ela agora não vai adiantar em nada".
Meu filho adotivo passou um bom tempo me consolando, me acalmando, mas por dentro eu estava um turbilhão emocional. Eu só queria protegê-la.E no processo, acabei falhando novamente.
Não era mais questão de segurança, mas de confiança.
Nós até conversamos depois desse dia, mas foi tudo muito cheio de drama e constrangimento. Na maioria das vezes ela evitava meus telefonemas e ignorava minhas mensagens. Aquilo estava acabando comigo.
Eu temia que nossa relação nunca mais fosse ser a mesma.
...
"Como você pode esconder isso de mim?" Victor esbravejava no telefone.
"Eva não queria que você soubesse. Por favor, entenda. Ela só queria esquecer o que aconteceu".
"Isso não importa! Era sua obrigação contar para mim! Eu tinha que estar lá para protegê-la!" Ele ofegava. "De que adiantou casar com um homem rico, Monica? O dinheiro não a protegeu de ser estuprada!"
"Mas cobriu os rastros para que ninguém descobrisse" guinchei. "Richard cuidou de tudo. Ele...".
"Ele fez isso por você e por ele, não pela nossa filha! Ele não é o pai dela. Eu sou. Eu deveria ter sido o primeiro a saber, Monica! Essa foi a segunda vez, porra!"
"Me desculpe", eu estava chorando.
"E onde você estava quando tudo isso aconteceu? Hein? Ocupada com algum jantar de gala? Organizando um chá com suas amiguinhas cheias da grana?" debochou. "Bancando a esposa perfeita e alinhada pro seu marido sair exibindo nesses jantares beneficentes? Como pode ser tão displicente? Eva deveria ser sua prioridade. Era sua obrigação mantê-la segura, já que se recusou até mesmo a lhe dar meu sobrenome".
"Você acha que eu não me culpo o suficiente por isso? Acha que eu não me martirizo todo dia ao pensar no que ela passou?"
"Isso não muda nada! Estou indo para Nova York para visitar Eva. Eu quero ver com meus próprios olhos se ela está bem. Não confio em você", ele fez uma pausa. "Antes ela ficado sob a minha guarda. Mesmo com uma vida humilde, eu jamais permitiria que algo assim acontecesse".
Eu já estava soluçando, mal conseguindo falar. Nem vi quando Richard pegou o telefone da minha mão e começou a assumir a conversa com Victor. Estava imersa demais em minha própria dor pra notar.
Eu magoei o homem que eu amava pela terceira vez.
...
Eu tinha acabado de tomar um banho, no qual, por um bom tempo, fiquei tentando tirar o cheiro de sexo que eu ainda podia sentir em minha pele. Uma parte de mim queria permanecer com a lembrança física do que havia feito. A outra, mais racional, não só discordava de sua rival, como gritava freneticamente que eu tinha cometido um erro colossal. Um erro que me perseguiria enquanto eu vivesse.
Já vestida com uma das roupas de Eva, me encarei fixamente no espelho de sua suíte, me deixando ser tomada por todo o cansaço, todo o peso dos meus segredos e o remorso. Eu estava descabelada, pálida e parecia ter envelhecido dez anos.
Prometi a mim mesma que jamais cederia. Afinal, foi por isso que mantive a distância entre nós. Victor era o tipo indesejado: um homem de origem latina e pobre. O que poderia me oferecer? Como poderia manter o padrão de vida ao qual eu estava acostumada? Eu tinha que ser sensata. Amor não põe comida de qualidade na mesa, não compra roupas de grife nem constrói uma mansão em um bairro luxuoso.
Mas, ao vê-lo ali, no apartamento de nossa filha pela segunda vez, no auge de sua beleza e virilidade, eu não consegui resistir. A tensão sexual entre nós era tão forte como sempre fora. Nada tinha mudado e esse era meu maior medo. Mas eu estava cansada de ser forte. Cansada de sustentar a figura de socialite elegante, sedutora, rica e fútil que tive que mostrar ao mundo durante todos esses anos. Eu só queria ser uma mulher sendo amada por um homem que não desejava mais nada a não ser a mim. Minha origem não importava para ele. Meu nome não importava pra ele. Só eu. Meu corpo, minha alma e meu coração.
Suas mãos calejadas me tocaram com a mesma reverência de anos atrás. Sua boca cantava louvores ao meu nome. Seu corpo era um servo devoto. Eu era sua santa e o amor dele por mim, sua religião. Seu membro longo e grosso me preenchendo foi como um sopro muito necessário em meus pulmões. Seus movimentos ritmados e implacáveis me deixavam sem fôlego. A voz em minha cabeça, que me dizia que aquilo era uma péssima ideia, fora silenciada. Tudo o que eu podia ouvir eram meus gemidos de prazer e os dele. Eu me entreguei completamente sem pensar no depois.
O clímax me rasgou ao meio. Foi mais intenso e mais devastador do que a primeira vez. Uma sensação única. Incomparável. E da qual eu sabia que jamais poderia desfrutar novamente.
Foram horas inebriantes em que nada que não dizia respeito a nós dois existia. Seu corpo continuava tão gostoso quanto antes, talvez até mais. Mas eu reconhecia cada pedaço de pele que eu tocava, cada músculo que se contraía ante minhas carícias. Eu ainda me lembrava do que fazer para deixá-lo louco, como arranhar sua nuca, morder o lóbulo de sua orelha, lamber as linhas do V em direção à sua pélvis, apertar sua bunda com os calcanhares, enquanto ele ia fundo dentro de mim. Fizemos tudo isso, relembrando os velhos tempos, sendo fantásticos juntos como costumávamos ser.
Eu só tinha ido até lá para acertar as coisas e tentar me desculpar. Eu devia isso a ele. Mas o que começou com uma briga, carregada de mágoas do passado, terminou em uma explosão de desejo reprimido. Nossos corpos se encaixavam com perfeição. Como eu poderia resistir?
Porém, quando tudo acabou, ambos estávamos com lágrimas nos olhos, ofegantes, satisfeitos e terrivelmente culpados. Tínhamos cedido ao desejo, no apartamento de nossa filha, cujo aluguel era pago pelo meu atual marido. O mesmo que fez de tudo para nos proteger de Nathan.
Corri para o quarto de Eva e me escondi lá, completamente em pânico.
Eu traí Richard. Traí o homem a quem jurei devoção e respeito.
Agi como uma adolescente inconsequente por uma experiência passageira.
E o pior de tudo foi ver a forma como minha filha me encarava ao perceber o que se passou. Eu estava com as roupas dela, usando até mesmo sua maquiagem . Eu mal conseguia olhá-las nos olhos.
Antes de sair, contudo, eu me atrevi a olhar para ela e mal pude lidar com o que encontrei.
Sua expressão de desgosto rivalizava com a culpa estampada em meu rosto.
...
Ainda posso sentir o gosto de Victor na minha boca, seu toque, seu membro entrando e saindo com força de mim. Só não consigo entender como encontrei força e coragem para continuar minha vida com Richard como se nada tivesse acontecido. Acho que o acordo no qual minha mente e meu coração entraram ajudou. Eu tirei do meu sistema anos de desejo e amor acumulados por Victor. Não adiantaria nada continuar correndo dele de qualquer forma. Sempre teríamos de nos encontrar, ainda mais agora que Eva e Gideon se acertaram novamente. E, pelo que ele me dissera ao telefone, quando resolveu se reportar a mim em primeiro lugar para se reaproximar dela, eles estariam a caminho do altar em breve.
Passarei o resto dos meus dias tentando compensar Richard pela traição. Ele nunca saberá e eu farei questão de que deslizes como esse não se repitam.
Quanto à Eva, caberá a mim, reconquistar sua confiança. Foi com esse intuito, que marquei um almoço entre nós duas. Será a primeira vez que nos falamos depois... Da minha infidelidade.
Fui buscá-la no Crossfire, mas não prestei muita atenção aos detalhes. Ficamos bem introspectivas no caminho até o bistrô onde agora nos encontrávamos frente à frente.
"Que relógio bonito", comento olhando para o seu pulso, onde antes ficava o Rolex.
"Obrigada", ela o esconde de mim instintivamente com a outra mão, como se eu não tivesse o direito de vê-lo. "Foi Gideon que me deu".
"Não vai me dizer que contou para ele do rastreador?" pergunto horrorizada. Minha nossa, eles nem voltaram a se relacionar direito!
"Eu conto tudo pra ele, mãe. Nós não temos segredos um com o outro".
"Talvez você não tenha. Mas e ele?"
"Nós estamos bem", diz parecendo bem confiante. "E melhorando a cada dia".
"Ah" Balanço a cabeça, resolvendo ceder. Não quero transformar isso em uma briga. "Isso... Isso é maravilhoso, Eva. Ele vai saber cuidar muito bem de você".
"Ele já faz isso, e da maneira que eu mais preciso, que aliás não tem nada a ver com dinheiro".
Comprimo os lábios diante de sua indireta. "Não despreze o dinheiro desse jeito, Eva. Você nunca sabe quando vai precisar".
"Não é isso" rebate. "Só não trato o dinheiro como a coisa mais importante da minha vida. E, antes que você venha com o papo de que pra mim é fácil dizer isso, se Gideon perdesse tudo o que tem, eu ainda assim ficaria com ele".
"Ele é inteligente demais pra perder tudo o que tem", respondo toda tensa. Essa é uma área bastante delicada para nós duas porque temos pontos de vista muito divergentes. "E, se você tiver sorte, vai fazer de tudo pra evitar problemas financeiros durante a vida".
Ela suspira resignada. "A gente nunca vai concordar a esse respeito, você sabe disso".
Começo a batucar as unhas nos talheres, sentindo a costumeira agitação que me acomete sempre quando fico nervosa.
"Você anda tão irritada comigo...".
"Você sabe que o meu pai é apaixonado por você, não é?" diz em tom acusatório. "A ponto de não conseguir seguir em frente. Acho que ele nunca vai se casar novamente. Vai acabar morrendo sem ter uma mulher pra cuidar dele".
Engulo em seco o nó em minha garganta, mas sou incapaz de segurar uma lágrima que escapole de meus olhos. As minhas escolhas trouxeram grandes consequências para mim e para as pessoas que amo. E eu simplesmente terei de lidar com elas por toda a vida. Mas ouvir da boca de Eva o quanto destruí a vida de seu pai... É devastadoramente doloroso.
"Não me venha com choradeira", ela me ataca, se inclinando para a frente. "A vítima aqui não é você".
"Eu não tenho nem o direito de sofrer?", rebato duramente. Ela não sabe de nada sobre mim e dos sacrifícios que fui obrigada a fazer. "Não tenho o direito de chorar pelo meu coração partido? Eu também amo o seu pai. Faria de tudo para que ele fosse feliz".
"Pelo jeito seu amor não é suficiente", ironiza.
"Tudo o que eu fiz foi por amor. Tudo", solto uma risada nervosa. "Minha nossa... Não sei nem como você ainda me suporta, se me considera dessa forma tão ruim".
Uma das consequências de minhas escolhas é saber que minha própria filha me considera uma vadia fútil e sem consideração.
"Você é minha mãe, e sempre fez de tudo por mim. Está sempre tentando me proteger, mesmo quando faz isso da pior maneira. Eu amo vocês dois da mesma maneira. O meu pai é uma ótima pessoa, e merece ser feliz".
Sim, ele merece ser feliz. Merece ter ao seu lado alguém que seja livre para amá-lo sem reservas ou limites.
Com a mão trêmula, pego meu copo e dou um gole na água. "Se não fosse por você, eu preferia nunca ter conhecido o seu pai. Nós dois seríamos mais felizes se nunca tivéssemos nos encontrado. E não tem nada que eu possa fazer a respeito".
"Você podia ter ficado com ele. Não existe outra mulher capaz de fazê-lo feliz".
"Impossível", sussurro.
"Por quê? Porque ele não é rico?" me encara com uma sobrancelha arqueada.
Tenho que me segurar para não despejar toda a verdade entalada em minha garganta. "Exatamente", ponho mão em meu pescoço. "Porque ele não é rico".
E ainda assim, mesmo que ele seguisse em frente, nenhuma mulher seria capaz de amá-lo como eu, assim como muitas pessoas não teriam coragem de abrir mão de si mesmas e de seus sentimentos em prol de algo maior. E foi exatamente o que fiz.
"Mas você é. Isso não basta?"
"Não", respondo simplesmente; sua resposta é seu olhar incrédulo para mim.
"Você não entende", desvio de seus olhos, tão parecidos com os de Victor. Ele me encarou do mesmo jeito quando lhe falei o porquê de não poder aceitar seu pedido de casamento.
"Então me explica, mãe. Por favor", diz suplicante.
"Talvez um dia" volto a encará-la. "Quando você não estiver tão chateada comigo".
Enquanto eu viver, nada disso pode vir à tona.
Ela se recostou em sua cadeira. "Tudo bem. Estou chateada porque não entendo, e você não quer me explicar porque estou chateada. A gente está se entendendo muito bem mesmo".
"Desculpa, querida", suplico. "O que aconteceu entre seu pai e eu...".
"Victor. Por que não diz o nome dele?"
Porque dói. "Quanto mais você quer me castigar?", pergunto baixinho.
"Não estou querendo castigar você. Só não consigo entender".
Resolvo não dizer mais nada que possa prolongar a conversa. Como estamos em um local publico, Eva evitará ao máximo fazer uma cena. Percebendo minha estratégia, ela bufa.
"Escuta só. Cary e eu vamos sair do apartamento, vamos alugar um lugar pra nós", despeja de repente, me deixando paralisada e chocada.
"Quê? Como assim? Não faça isso, Eva! Você não tem por que...".
"Tenho sim" me corta. "Nathan está morto. E Gideon e eu queremos passar mais tempo juntos".
"E precisa se mudar por causa disso?" Sinto meus olhos marejarem. Ela está mesmo com raiva. "Eu sinto muito, Eva. O que mais posso dizer?"
"O problema não é você, mãe", ela põe o cabelo atrás da orelha nervosamente. "Tudo bem, sendo bem sincera, não me sinto mais à vontade morando num lugar pago por Stanton depois do que vocês fizeram lá", sinto a culpa dar mais uma pontada em meu estômago. "Além disso, Gideon e eu queremos morar juntos. Vai ser melhor pra nós começar tudo do zero, num lugar novo".
Todos os meus outros pensamentos vão para o espaço.
Minha filha perdeu as estribeiras de vez.
"Morar juntos? Antes de casar? Não, Eva. Isso seria um erro terrível. E Cary? Foi você que o trouxe para morar em Nova York".
"Ele vai continuar morando comigo. Vamos morar os três juntos".
"Você não pode morar com um homem como Gideon Cross se não for casada com ele", me inclino para frente. "Confie em mim. Espere para fazer isso com uma aliança no dedo".
Uma mulher na posição de Eva precisa de garantias. Gideon pode ser o melhor partido que uma mãe pode ter, mas ele não morará com a minha filha sem a estabilidade de um casamento de papel passado.
"Eu não estou com pressa pra casar".
O quê?
"Ai, meu Deus". Sacudo a cabeça incrédula. "Como assim? Você não é apaixonada por ele?"
"Não tem por que apressar as coisas. Eu sou nova demais".
"Você tem vinte e quatro anos. É a idade ideal", digo, convicta. "Eu não vou deixar você estragar tudo, Eva".
"Mãe...".
"Não", e neste momento, volto ao normal. O futuro dela está em jogo e eu irei lutar com unhas e dentes assim como lutei pelo meu. "Acredite em mim, e tire um pouco o pé do acelerador. Pode deixar que eu cuido disso".
Organizar o casamento deles será uma forma perfeita de eu me reaproximar de Eva. E quem sabe, esquecer um pouco toda aquela confusão que eu mesma tinha causado.
Nathan está morto. Richard está livre das acusações. Victor entendeu que, apesar do amor que ainda sentimos um pelo outro, nunca poderíamos ficar juntos. Minha filha e eu... Bem, nós vamos encontrar nosso caminho.
Gideon Cross quer casar com Eva.
E, no que depender de mim, ele vai.

E eis aqui minha interpretação sobre Monica Stanton. E então? Vocês gostaram? Me deixem saber nos comentários, por favor. Desculpe não poder interagir muito com vocês dessa vez, mas realmente não estou bem.Só lembrando que o segredo que ela guarda é revelado em 'Todo Seu'. Então peço para quem já leu para que não dê spoiler, em respeito aos demais que ainda não leram. 
O último capítulo de 'Para Sempre Minha' será postado na próxima sexta (sem atrasos) e o Epílogo, no domingo, certo? Então, preparem os lencinhos porque estamos em clima de despedida :'( 
Muito obrigada pelo apoio, pelos votos, pelos comentários e pela compreensão de sempre! 
Um grande beijo e até semana que vem!

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